RECEITA DE
EQUILIBRIO
DOMINAR A TENSÃO E O ESTRESSE E AUMENTAR A
CONCENTRAÇÃO NO TRÂNSITO EVITA PROBLEMAS E ACIDENTES
O cansaço do congestionamento pesado, o
filho chorando no banco de trás, uma distração causada pelo celular... São
todas situações que podem terminar numa briga de trânsito ou, pior, num
acidente. No entanto, isso pode ser evitado com procedimentos simples e
práticos que são ensinados até em cursos específicos que trabalham o que se
chama hoje de "direção emocional". Confira a seguir as dicas
elaboradas por especialistas que o ensinam a manter a concentração e o
autocontrole mesmo nas situações mais críticas ao volante.
Planejamento
Ficar ou não nervosa no trânsito começa com a preparação do compromisso que
você tem a cumprir. Um exemplo: você tem uma importantíssima entrevista de emprego
às 8h e não pode se atrasar. O percurso é de no máximo 10 km, que normalmente
você cumpre em uns 20 minutos. A que horas você sairá de casa? Que tal 1 hora e
meia antes? Parece exagerado? Não é? Veja as variáveis: pode haver
engarrafamento, acidente (com outro veículo ou com o seu), problema mecânico ou
pneu furado. "Eu aprendi que, nesse caso, talvez optasse por ir de táxi,
pois, se houver um problema, é só sair e pegar outro", diz o administrador
Augusto Cesar Lacerda, que mudou sua atitude no trânsito depois de fazer um
curso específico de direção emocional. Ele se diz uma pessoa muito estressada
no trânsito, a ponto de às vezes ter vontade de "passar por cima" dos
outros motoristas. "Ou bater no outro carro a ponto de fazê-lo dar um giro
de 180 graus, como nos filmes." Após o curso, ele disse que passou a ficar
mais tranquilo no trânsito, mais paciente. "Hoje fico com dó de quem
começa a correr e fechar todo mundo."
Dê passagem
Quem nunca andou ao lado do motorista e disse: "Olha, esse carro vai entrar
na sua frente. Não deixa, não deixa!"? É o que Giuseppe Calabro Filho,
instrutor de curso de direção emocional, costuma chamar de "a diferença
entre ser gentil e ser trouxa". Qual é o problema em dar passagem?
Cordialmente, dê passagem, sorria, mas depois retome sua trajetória. Foi o que
aprendeu Augusto depois do curso. "Outro dia vi que se aproximava um carro
fechando todo mundo e que iria me ultrapassar pela direita. Normalmente, eu
fecharia a passagem. Resolvi deixar quieto. Não que eu ache certo. Mas pensei
que talvez ele estivesse com algum problema."
Nada de choro
Outra situação que pode gerar altas doses de estresse no trânsito e simples de
ser contornada: criança pequena chorando no banco de trás enquanto você tenta
fazer uma manobra. Nesse momento, respire fundo e concentre-se no volante e nos
obstáculos à frente. Resolva o problema de seu filho depois. Ignore-o por
alguns minutos. Muita gente bate na coluna do estacionamento do prédio por
perder a calma nessa hora.
Desconfiar sempre
Provavelmente todo mundo já ouviu do pai ou da mãe aquela frase: "Em você
eu confio, o problema são os outros"? Aja da mesma maneira ao volante,
pois há variáveis no trânsito que estão fora de nosso controle. Antecipe a
mudança de faixa do veículo vacilante à frente, precavenha-se do pedestre que
pode sair repentinamente de trás de um ônibus e, principalmente, desconfie que
outro motorista possa furar o sinal que está vermelho para ele, ainda mais à
noite. A capacidade de prestar atenção e se antecipar aos outros ajuda até em
caso de roubo. Especialistas em segurança afirmam que assaltantes fazem dos
distraídos suas vítimas preferenciais, em vez daqueles que parecem estar
atentos do que acontece a sua volta.
Monotarefa
O ser humano não é multitarefa, não consegue fazer várias coisas ao mesmo tempo
sem perder eficiência. Estar com um veículo de quase duas toneladas nas mãos
requer atenção total. Por isso não se deve dirigir falando ao celular. Se for
preciso, compre um viva-voz - além de ser uma infração, claro. O telefone está
longe do seu alcance? Não se desespere. Deixe tocar e assim que houver uma
folga ligue de volta. O grande perigo é quando a ligação ou mensagem de texto é
tão importante que ganha do nosso cérebro prioridade maior que o ato de
dirigir. Por isso o melhor é parar em um local seguro quando receber uma
ligação.
Mantenha distância
Uma fórmula conhecida para se precaver de acidentes, mas nem sempre seguida, é
manter sempre no mínimo 2 segundos de distância do veículo da frente, sobretudo
em rodo- vias. Espero o veículo passar por um placa de referência e conte esse
tempo para ver se você não está muito perto. Essa distância vai lhe dar tempo
caso haja uma freada brusca ou mudança de trajetória do veículo à frente. Se
deixou de ver os pneus traseiros do outro carro, é sinal de que está muito
perto.
Sem preferências
Muitas vezes, quem tem a preferencial em um cruzamento simplesmente passa
direto ou, no máximo, dá uma olhada. Não faça isso. Nunca se sabe quando haverá
alguém apressado no mesmo cruzamento. O mesmo vale para a regra da rotatória,
em que a preferencial é sempre de quem já está fazendo o contorno. Depois que
acontece o acidente, pode ser tarde demais para reivindicar a razão. "Não
adianta mais discutir de quem é a culpa", afirma Calabro Filho.
Calma sob pressão
Não dê atenção a quem buzina para você. "Quem faz isso é porque em geral
não tem condições de sair sozinho de uma situação", diz o instrutor de
direção defensiva Luiz Fonseca. Se alguém começa a diminuir a velocidade na sua
frente e, sem dar seta, decide parar ou fazer uma conversão, não perca a calma.
Siga em frente. Ou, no jargão dos instrutores, tome a providência de sair da
situação. Lembre-se: você também pode errar e alguém pode fazer o famoso gesto
do dedo em riste para você. Não dê atenção, não revide. Você não conhece o
temperamento do outro motorista nem sabe se ele está armado. "Se a gente
vai gerar ou não mais violência, é decisão nossa", afirma Calabro.
Cuca fresca
O mercado oferece cursos que ajudam o motorista a manter o controle. São
classificados, em geral, como de direção defensiva ou evasiva, mas também
ensinam técnicas para prevenir ou escapar de situações-limite. "Pode-se
contratar só o de técnicas que ensinem como lidar com o estresse", afirma
a instrutora Cecília Bellina. Há casos em que o psicólogo sai com o aluno para
conferir seu comportamento ao volante. Já a Porto Seguro oferece um curso
dedicado ao tema para seus clientes.