Por que a
virgindade feminina é tão valorizada?
Brasileira leiloa sua primeira noite de sexo
e lances ultrapassam meio milhão de reais, enquanto homem que participa do
mesmo projeto tem proposta máxima de R$ 3 mil
Uma brasileira de 20 anos ganhou as manchetes
quando veio à tona o curioso projeto do qual está participando. Catarina
Migliorini está leiloando a sua virgindade através de uma produtora
australiana, para um documentário intitulado “Virgins Wanted”. Além de
Catarina, também participa do projeto o russo Alexander Stepanov, de 21 anos.
Enquanto interessados por uma noite com Catarina se propõem a pagar o
equivalente a mais de meio milhão de reais, os lances feitos pela virgindade de
Alexander não ultrapassavam R$ 3 mil. Por que os valores são tão diferentes?
A antropóloga Mirian Goldenberg acredita que
o simbolismo da virgindade feminina tem ainda forte influência na sociedade. “O
homem, quando desvirginado, não perde nada. A mulher perde, mesmo que seja um
pedaço minúsculo de pele. Esse pedaço simboliza algo importante, o fato dela
nunca ter sido possuída por ninguém”, afirma.
Historicamente a virgindade feminina sempre
teve um valor alto, não necessariamente monetário. Há não muito tempo, se a
mulher não fosse mais virgem, não servia para casar e poderia até perder o
convívio com a família. Mesmo em muitas sociedades que avançaram no conceito de
igualdade entre homens e mulheres, a virgindade feminina mantém seu status de
preciosidade.
“Vivemos em uma cultura patriarcal que está
perdendo suas bases, mas ainda existe. A questão da virgindade sempre foi usada
como se fosse algo precioso e ainda é vista dessa maneira por muita gente”, diz
a psicanalista e escritora, autora de “O Livro do Amor” (Ed. Best Seller)
Regina Navarro Lins.
Ao contrário da brasileira que concordou em
colocar um preço na sua virgindade, a funkeira Valesca Popozuda, conhecida por
cantar letras eróticas e afirmativas do prazer feminino, acredita que é
impossível chegar a um valor. “A virgindade é importante para quem tem. Não tem
preço”.
“O escolhido”
Mesmo que a importância da virgindade
feminina seja um consenso entre especialistas, um aspecto do leilão não pode
ser ignorado: a participação ativa da mídia em divulgar o valor da transa a
cada lance dado. “Será que alguém pagaria R$ 500 mil para desvirginar uma
mulher se não fosse um evento público, disseminado nas redes sociais? Alguém
pagaria isso se apenas o homem e a mulher soubessem? A resposta provavelmente
seria ‘não’”, afirma a sexóloga Walkíria Fernandes.
O desejo do homem de tirar a virgindade de
uma mulher também pode ser impulsionado por motivos bem mais práticos. “Transar
com uma virgem pode significar que esse homem está isento de ter o seu
desempenho sexual comparado ao de outros homens, já que ela, por ser virgem,
não tem nenhuma referência da atuação sexual de outro homem. Além disso, ser o
primeiro homem na vida sexual de uma mulher faz com que ele se sinta privilegiado
por ter sido ‘o escolhido’”, completa Walkíria.
Se para a mulher a virgindade não é motivo de
constrangimento, para o homem é diferente. A diferença entre os valores pelo
mesmo “produto” no leilão de virgindade nada mais é do que um reflexo do que se
espera dos dois gêneros entre quatro paredes.
De acordo com Walkíria, vivemos um duplo
padrão de educação sexual. “O homem é educado para ser o garanhão e a mulher para
ser apenas de um ou de poucos homens. Quanto mais a mulher se resguardar, mais
será valorizada. Quanto mais experiências sexuais um homem tiver, mais macho
ele será.”
“Se a mulher é valorizada pelo não
conhecimento de uma vida sexual, o homem é muito mais cobiçado pela experiência
que tem e não pela falta dela. Quantas mulheres gostariam de transar com um
virgem?”, indaga a terapeuta sexual Luciane Secco.
Valesca se exclui. “Não tenho essa tara de
ensinar. Acho que a transa deve ser como ir a um parque de diversões e isso só
pode acontecer se os dois tiverem experiência”, diz.
Críticas
Enfrentando críticas severas, principalmente
em grupos de discussão em redes sociais, a brasileira parece determinada a
fechar negócio. Nem todos aceitam que a virgindade possa ser tratada como um
“produto”, conferindo a seu dono a liberdade de vender ou dar para quem
desejar. “Por mais que as mentalidades mudem ao longo do tempo, sexo ainda é
tabu. O moralismo existe. As mulheres foram condicionadas a ver sexo só
acompanhado de amor”, aponta Regina.
“Ainda existe essa ideia de que para as
mulheres sexo e amor são coisas inseparáveis. Você não vende sexo, é como você
se vender por inteira. Enquanto que para os homens é possível pensar que sexo e
amor são coisas separadas. Quando eles traem, podem alegar que foi só sexo, mas
como sabem que as mulheres pensam de outra forma, não aceitam a mesma
justificativa quando elas a usam”, explica Mirian Goldenberg.
http://delas.ig.com.br/comportamento/2012-10-10/por-que-a-virgindade-feminina-e-tao-valorizada.html