Família:
não apenas um grupo, mas um fenômeno social
As famílias são consideradas grupos primários, nos quais as
relações entre os indivíduos são pautadas na subjetividade dos sentimentos
entre as pessoas.
Na Família que se dá início ao processo de socialização, educação e
formação para o mundo
Considerando-se que a vida social é algo fundamental à existência e
sobrevivência dos seres humanos enquanto indivíduos, é na família que se dá
início ao processo de socialização, educação e formação para o mundo. Os grupos
familiares caracterizam-se por vínculos biológicos, mas sua constituição ao
longo da história em todos os agrupamentos humanos não se limitou apenas ao
aspecto da procriação e preservação da espécie, mas tornou-se um fenômeno
social.
As famílias são consideradas grupos primários, nos quais as
relações entre os indivíduos são pautadas na subjetividade dos sentimentos
entre as pessoas, fato que justifica, muitas vezes, o amor existente entre pais
e filhos adotivos, logo sem relação consanguínea. Assim, os laços que unem os
indivíduos em família não se sustem pela lógica da troca, da conveniência do
relacionamento a partir de um cálculo racional como que em um contrato no mundo
dos negócios em que cada parte vê vantagem na relação existente, constituindo
um grupo formal. Ao contrário, a família é um grupo informal, no qual as
pessoas estão ligadas por afeto e afinidade, e que por conta deste sentimento
criam vínculos que garantem a convivência (em um mesmo local de residência, por
exemplo), além da cooperação econômica.
Mas o que dizer dos inúmeros problemas familiares que tanto se ouve
falar ou mesmo que se pode enfrentar no dia a dia? As respostas para esta
pergunta são várias, assim como o grau de complexidade de cada uma pode variar.
Porém, de maneira muito simplista, até certo ponto, é possível afirmar que a
gênese dos conflitos familiares está no momento em que as bases da união (que
justifica o tipo de relacionamento e de ligação) deste grupo começam a ser
minadas pelo despontar das personalidades, das opiniões diferentes, da individualidade
de cada membro, o qual não abre mão daquilo que lhe é particular (enquanto
indivíduo) em nome da família. Para ilustrar, basta pensar nos conflitos
existentes em famílias com jovens adolescentes os quais, neste momento em que
deixam a infância para entrarem na vida adulta, tornam-se muito mais críticos
aos valores dos adultos que o cercam, muitas vezes cogitando até mesmo, de
forma impulsiva, abandonar o lar. Logo, nada mais natural do que os choques de
geração e conflitos entre pais e filhos neste sentido, o que não significa uma
desestabilização definitiva da família. Assim, a despeito disso, os vínculos
construídos para além do biológico permanecem.
Mesmo que por motivos quaisquer os indivíduos venham a se separar,
não mais residindo no mesmo local, obviamente continuam a constituir uma
família, principalmente no aspecto legal. Por isso mesmo, embora se tenha dito
aqui ser a família um grupo informal, é fato que com a complexalização da
sociedade (principalmente a sociedade ocidental) ocorreu uma espécie de
formalização dos vínculos familiares. O Estado passou a regulamentá-los,
criando um aparato legal que rege não apena as relações entre conjugues, mas
também entre pais e filhos. Isso se torna evidente principalmente quando se
trata de questões ligadas a direitos sobre heranças, patrimônios, tutela de
menores, pensões, entre outros casos, bem como na expedição de documentos como
certidões de casamento (formalizam o vínculo) e nascimento (formalizam a
paternidade).
Embora um fenômeno social presente em todas as culturas, obviamente
os grupos familiares e as relações de parentesco não possuem as mesmas regras e
convenções, manifestando-se de formas peculiares a depender dos costumes de um
determinado povo ou sociedade. Logo, há uma relação direta entre padrões
familiares de comportamento (expectativa de papel social de cada indivíduo,
pai, mãe, filhos, avós, etc.) e os códigos morais vigentes, os quais também são
construídos socialmente ao longo do tempo. Um exemplo claro está na forma
diferente como monogamia e bigamia são vistas mundo a fora. Da mesma forma, o
padrão cultural vigente vai determinar as relações de poder existentes entre os
membros familiares, variando-se os tipos de autoridades existentes entre
patriarcal (quando os pais de família exercem o poder de mando e controle),
matriarcal (quando as mães assumem o mando) ou paternal (quando a autoridade é
mais equilibrada entre os conjugues).
Além disso, é importante considerar que ao longo do tempo a
estrutura de organização da família pode sofrer alterações dentro de uma mesma
cultura, uma vez que as transformações nos padrões familiares são consequência
direta das transformações sociais, econômicas e políticas. Prova disso estaria
no desenvolvimento do modo de produção capitalista, pois com a necessidade de
mão de obra, criaram-se condições para a inclusão da mulher no mercado de
trabalho, fato que contribuiria para mudanças em seu papel social.
Assim, há uma questão que se coloca na contemporaneidade: Diante de
tantos divórcios, casamentos tardios e pessoas mais velhas morando ainda com os
pais, ou mesmo vários casamentos ao longo da vida unindo-se filhos de
relacionamentos anteriores, a família enquanto instituição estaria
desaparecendo? Na tentativa de esboçar uma resposta, talvez possamos afirmar
que, obviamente, aquele sentido mais tradicional da palavra estaria sim em
extinção. Porém, tomando a família enquanto grupo e fenômeno social, é possível
dizer que ela passa por uma forte reestruturação.
O que está em declínio é a ideia de uma família composta por um
casal heterossexual na qual, enquanto a mulher se restringe à esfera privada
dedicando-se exclusivamente aos afazeres domésticos, ao homem cabe a esfera
pública, da rua, do mundo do trabalho. Neste padrão tradicional de família, a
união entre os conjugues era marcada, predominantemente, pela cerimônia
religiosa do casamento, independentemente da religião, fato que contrasta com
as uniões muito frequentes e pouco duradoras de agora, consequência direta do
temor em relação ao compromisso mais sério, principalmente pelos jovens. Também
como sinal dessa reformulação dos padrões e arranjos familiares estão as
famílias que se iniciam com casais homossexuais, o que acaba por gerar polêmica
não apenas pelo fato da união em si (dados o preconceito e a intolerância
existentes), mas também quando se cogita a adoção de crianças por eles, uma vez
que no imaginário de boa parte das pessoas prevalece a ideia de uma família na
qual os pais têm sexos diferentes. Nestes novos padrões familiares, além da
conquista de uma maior independência pelas mulheres (em vários aspectos), elas
casam-se e tornam-se mães agora com mais idade, além de terem um número de
filhos extremamente reduzido quando comparado aos níveis de décadas passadas.
Dessa maneira, é importante considerar que, se a família é a base
ou início do processo de socialização dos indivíduos, o que se torna
fundamental é que ela seja estruturada de tal forma que o relacionamento entre os
integrantes seja pautado na harmonia e respeito entre os pares, dada a
importância e influência que tal grupo exerce na vida de cada um. Logo, ao
pensar na família enquanto grupo não se trata aqui de fazer uma apologia ao
modelo do passado ou ao do presente, mas de propor a reflexão quanto aos
desdobramentos de sua conformação e de suas transformações, uma vez que suas
características refletem a sociedade de seu tempo, o que faz dela (da família)
um fenômeno social.
http://www.brasilescola.com/sociologia/familia-nao-apenas-um-grupo-mas-um-fenomeno-social.htm