Chegada
do primeiro filho é prova de fogo para o casamento
Conheça as oito razões que mais afastam os
casais após a chegada do bebê.
Prioridade: a prioridade passa a ser a
criança. O lazer, o descanso e a vida em casal ficam em segundo, terceiro,
quarto plano e, em muitos casos, se extinguem. Não é raro que o sexo vire tabu.
É comum a mulher colocar a criança para dormir na cama do casal para evitar a
aproximação do marido.
Muitos casais sonham em ter um filho. Porém,
no sonho, tudo costuma ser bem mais fácil. Na realidade, a chegada do bebê é um
acontecimento de grande impacto no relacionamento, em alguns casos motivo até
de separação.
"Ainda que a gravidez tenha sido
desejada e planejada, as expectativas não costumam corresponder às reais
dificuldades que os pais terão que lidar com a chegada de um novo membro na
família", explica a psicóloga Mara Lúcia Madureira, especialista em
psicoterapia cognitivo-comportamental, de São José do Rio Preto (SP).
Diferentes estudos, realizados desde a década
de 1950 até os dias atuais, chegaram às mesmas conclusões: a vinda do primeiro
filho aumenta os conflitos e a insatisfação na vida do casal. Os índices de
separação são maiores no período que vai até cinco anos após o nascimento do
bebê.
A pesquisa do professor e subchefe do
Departamento de Fundamentos da Psicologia da UERJ (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro) José Augusto Evangelho Hernandez, com mulheres gaúchas antes e
após o parto, finalizada em 2007, corroborou com os estudos anteriores.
"Depois do bebê, em comparação ao início da gravidez, houve um
enfraquecimento enorme da satisfação conjugal entre as mulheres", relata.
Hernandez explica que, apesar de toda a
alegria que uma criança geralmente traz, é necessário um processo de adaptação
no casamento para evitar os desgastes da transição para a parentalidade.
"Antes, a dedicação era só para o cônjuge, com o bebê existem muitas
necessidades que precisam ser satisfeitas e que dão muito trabalho",
afirma.
Fantasia
x realidade
Quando pensam em aumentar a família, os
casais tendem a prestar atenção apenas nos aspectos mais positivos da situação.
E é claro que eles existem e são vários. Mas, para Mara Lúcia, as fantasias em
relação ao primeiro filho partem da inexperiência e da visão de apenas um lado
da história, como o desejo de perpetuar os genes e de brindar os pais com a
presença de netos.
"Essas expectativas correspondem mais a
um mundo utópico do que à realidade da procriação, que é gestar, cuidar,
educar, amar e passar o resto da vida alternando sentimentos de medo, prazer,
frustração, gratificação, angústia, orgulho e raiva", afirma a psicóloga,
sem receio de jogar um balde de água fria nos mais românticos.
Os dois especialistas concordam que o melhor
caminho para minimizar os problemas nesta fase é a preparação e a reflexão
realista sobre a decisão de ter um filho.
"Quando o casal está mais preparado,
enfrenta melhor as dificuldades, com menos estresse e mais alegria",
afirma José Hernandez. O professor da UERJ também acredita que programas
preventivos poderiam ajudar. "Trata-se dos cuidados durante a gestação, da
amamentação, mas faltam discussões sobre o relacionamento, sobre as mudanças
drásticas no casamento. E os homens também raramente participam desse processo".
Falta
de sexo e atenção
As mudanças no cotidiano do casal depois da
chegada do bebê são inevitáveis, porém nem todos conseguem conviver com essas
transformações. A enfermeira D. T. P., 36 anos, que mora em São Carlos e
trabalha em São Paulo, está passando por uma crise no casamento relacionada à
interferência dos filhos na vida conjugal.
Desde dezembro do ano passado, ela está
separada do marido, que, segundo ela, "não deu conta das crianças".
Ela tem dois filhos, um menino de 4 anos e uma menina de 2 anos. "Ele
reclamava que eu só dava atenção para eles e foi se afastando", diz.
O afastamento levou a uma traição, que acabou
em separação. A enfermeira diz que o marido nunca teve um desejo forte de ser
pai e que gostava do relacionamento quando existiam apenas os dois. Por causa
das crianças, a frequência sexual diminuiu, assim como a atenção dedicada ao
marido. "Confesso que não dei muito espaço para ele, mas ele também não
fez nenhum esforço, foi apenas se distanciando".
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jeito de ser para conquistar um amor. Por Heloísa Noronha, do UOL, em São Paulo
Lumi Mae/UOL
O psicólogo José Hernandez diz que é comum
que as mulheres se apeguem de tal forma aos filhos que, mesmo sem querer,
acabem excluindo o marido dessa relação. "Mas o marido às vezes reforça
esse comportamento quando passa a ver o bebê como rival".
Ele fala que é importante que a mulher,
apesar das demandas naturais da maternidade, não demore muito para resgatar sua
vida conjugal e sexual. "O homem que participa [da divisão de tarefas] e
se envolve terá mais chances de entusiasmar a mulher, de ajudá-la para que ela
possa se voltar à vida a dois", sugere Hernandez.
A teoria do professor da UERJ parece
funcionar na prática. Desde a separação, o marido de D.T.P. passou a cuidar
mais dos filhos e os dois estão até passando mais tempo juntos. Mas a prova de
fogo ainda não terminou: a enfermeira está em dúvida, mas não descarta uma
volta no casamento. Analisando a experiência, ela acredita que faltou
comunicação e equilíbrio entre a vida de mãe e amante. "Eu poderia ter
dividido melhor o tempo, que fez falta para ele".