As bruxas de Besalú
Senta que lá vem história
Dizem que as cadeiras penduradas nas paredes em Besalú, a 134 km de Barcelona, na região da Catalunha, servem para espantar bruxas, seguindo uma tradição medieval. Na Idade das Trevas, muitas mulheres sentaram na “cadeira das bruxas”, instrumento de tortura onde a pessoa era posicionada de cabeça para baixo com os tornozelos amarrados onde deveria ser o encosto, acusadas de feitiçaria.
Hoje, cadeiras não assustam bruxas, afinal, muitas delas trabalham em escritórios. E as enigmáticas as cadeiras de Besalu, ao invés de espantar bruxas, atraem turistas, dando um nó na cabeça de quem para para observá-las. Meu pensamento foi longe quando as notei. Imaginei um filme de Guillermo Del Toro, com bruxas retorcidas escalando paredes, fugindo ou sendo atraídas involuntariamente por cadeiras encantadas.
Mas não há nada de bruxaria nas cadeiras de Besalú. Elas foram feitas pela artista plástica Ester Baulida, em 1994, durante um intercâmbio de jovens artistas entre a província de Girona, da qual Besalú faz parte, e Frosinone, na Itália. Segundo Baulida (parece nome de bruxa, né?), as cadeiras representam a dificuldade das pessoas em resolver certos problemas cotidianos.
Se existe alguma bruxa em Besalú, com certeza ela trabalha disfarçada na cozinha do restaurante da praça onde almocei. Não lembro o nome do lugar, mas era o melhor localizado ali, com mesas ao ar livre, ao lado da Igreja de Sant Pere, de 1003.
Eu havia pedido um filé de vaca, fritas, arroz e um suflê de espinafre. Como sobremesa, uma mousse de limão. O bife veio duro e meio cru, o suflê era um tijolinho verde ressecado, as batatas estavam encharcadas e a mousse estava mofada. Um pouco medieval demais para o meu gosto. Foi azar. A bruxa estava à solta. A comida espanhola é maravilhosa e comi bem em todos os outros lugares onde fui.
O almoço foi o único senão da visita à cidadezinha de mil habitantes, que arrebata pela ponte sobre o rio Fluvià, pelo portão de entrada que remete a filmes de capa e espada e por todo o conjunto arquitetônico. É como voltar no tempo.