sábado, 28 de dezembro de 2013

Devanear...


Leia o primeiro capítulo de "Cinquenta Tons de Liberdade", o terceiro livro da trilogia

A versão online do livro "Cinquenta Tons de Liberdade", terceiro volume da saga "Cinquenta Tons de Cinza", já está disponível com desconto no Iba.com.br.

Quando a ingênua Anastasia Steele conheceu o jovem empresário Christian Grey, teve início um sensual caso de amor que mudou a vida dos dois irrevogavelmente. Chocada, intrigada e, por fim, repelida pelas estranhas exigências sexuais de Christian, Ana exige um comprometimento mais profundo. Determinado a não perdê-la, ele concorda. Agora, Ana e Christian têm tudo: amor, paixão, intimidade, riqueza e um mundo de possibilidades a sua frente.

Mas Ana sabe que o relacionamento não será fácil, e a vida a dois reserva desafios que nenhum deles seria capaz de imaginar. Ana precisa se ajustar ao mundo de opulência de Grey sem sacrificar sua identidade. E ele precisa aprender a dominar seu impulso controlador e se livrar do que o atormentava no passado. Quando parece que a força dessa união vai vencer qualquer obstáculo, a malícia, o infortúnio e o destino conspiram para transformar os piores medos de Ana em realidade.

Leia o primeiro capítulo na íntegra:
Prólogo:


Mamãe! Mamãe! Mamãe está dormindo no chão. Ela já está dormindo há muito tempo. Penteio seu cabelo, porque ela gosta. Ela não acorda.
Dou uma sacudida nela. Mamãe! Minha barriga está doendo. É fome.Ele não está aqui. Estou com sede. Na cozinha, puxo uma cadeira até a pia e tomo um pouco d’água. A água respinga no meu suéter azul. Mamãe ainda está dormindo.
Mamãe, acorde! Ela continua quieta. Está fria. Apanho meu cobertor preferido, cubro a mamãe e me deito ao lado dela no tapete verde pegajoso. Mamãe ainda está dormindo. Tenho dois carrinhos de brinquedo. Faço-os apostar corrida no chão onde mamãe dorme. Acho que ela está doente. Procuro alguma coisa para comer. 

Encontro ervilhas no congelador. Estão geladas. Como devagar. Elas fazem minha barriga doer. Durmo perto da mamãe. As ervilhas acabaram. Encontro outra coisa na geladeira. Tem um cheiro esquisito. Dou uma lambida e minha língua fica grudada. Como devagar. O gosto é horrível. Bebo mais água. Brinco com meus carrinhos e durmo do lado da mamãe. Mamãe está muito fria e não quer acordar. A porta se abre com força. Cubro mamãe com meu cobertor. É ele.

Porra. O que foi que aconteceu aqui, cacete? Ah, essa maluca dessa puta de merda. Merda. Caralho. Sai do meu caminho, seu merdinha. Ele me chuta e eu bato com a cabeça no chão. Minha cabeça dói. Ele liga para alguém e vai embora. Tranca a porta. Eu me deito ao lado da mamãe. Minha cabeça dói. Chega a policial. Não. Não. Não. Não toque em mim. Não toque em mim. Não toque em mim. Fico ao lado da mamãe. Não. Fique longe de mim. A policial pega meu cobertor e me agarra. Eu grito. Mamãe! Mamãe! Eu quero a minha mãe. As palavras fugiram. Não consigo falar. Mamãe não me escuta. Não consigo falar.

Christian! Christian! — A voz dela é aflita e o arranca das profundezas de seu pesadelo, das profundezas de seu desespero. — Estou aqui. Estou aqui. Ele acorda e a vê inclinada sobre si, segurando seus ombros e o sacudindo, o rosto marcado pela angústia, os olhos azuis arregalados e lágrimas transbordando.

— Ana. — A voz dele é um sussurro aflito, o gosto do medo enchendo sua boca. — Você está aqui.— É claro que eu estou aqui. — Eu tive um pesadelo… — Eu sei. Mas eu estou aqui. Estou aqui. — Ana. — Ele murmura o nome dela, um talismã contra o pânico negro e asfixiante que percorre seu corpo. — Shhh, estou aqui.Ela se enrosca nele, braços e pernas o envolvendo, seu calor aquecendo o corpo dele, afastando a escuridão, afastando o medo. Ela é um raio de sol, é iluminada… ela é dele.

Por favor, não vamos brigar. — A voz dele soa rouca, e ele a abraça. Está bem. Os votos. Nada de obediência. Eu consigo. Vamos encontrar uma maneira. As palavras saem apressadas de sua boca, em um misto de emoção, confusão e ansiedade. Vamos, sim. Vamos sempre encontrar uma maneira — diz ela, e cola os lábios nos dele, silenciando-o, trazendo-o de volta para o presente.


Capítulo Um

Olho para cima, pelas brechas do guarda-sol verde, para o mais azul dos céus: um azul de verão, um azul mediterrâneo, e solto um suspiro de satisfação. Christian está ao meu lado, estirado sobre uma espreguiçadeira de praia. Meu marido — meu belo e sensual marido, sem camisa e usando uma bermuda feita de calça jeans cortada — está concentrado em um livro que prevê o colapso do sistema bancário ocidental. Pelo que todos comentam, é viciante de se ler.

Eu nunca o tinha visto tão quieto assim, nunca. Mais parece um estudante do que o bem-sucedido CEO de uma das maiores empresas privadas dos Estados Unidos. Estamos no final da nossa lua de mel, aproveitando o sol da tarde na praia do Beach Plaza Monte Carlo — um nome bem apropriado —, em Mônaco, embora na verdade não estejamos nesse hotel. Abro os olhos e fito o Fair Lady, ancorado no porto.

Naturalmente, estamos hospedados a bordo de um luxuoso iate. Construído em 1928, o Fair Lady flutua majestosamente sobre as águas, soberano em relação a todos os outros iates do porto. Parece um brinquedo de dar corda. Christian o adora; suspeito até de que ele esteja tentado a comprá-lo. Francamente… homens e seus brinquedos.

Recostando-me confortavelmente, escuto a lista de Christian Grey no meu iPod novo e cochilo sob o sol de fim de tarde, relembrando o pedido de casamento. Ah, um pedido dos sonhos, no ancoradouro… Quase consigo sentir o aroma das flores do campo…

Podemos nos casar amanhã? — murmura Christian suavemente no meu ouvido. Estou languidamente recostada no peito dele, na cobertura florida do ancoradouro, satisfeita depois de fazermos amor apaixonadamente.— Hmm. — Isso é um sim? — Capto expectativa na voz dele. — Hmm. — Um não? Hmm. Sinto seu sorriso. — Srta. Steele, você está sendo incoerente? Sorrio também. Hmm.

Ele ri e me abraça apertado, beijando o alto da minha cabeça. Então está combinado. Vegas amanhã. Meio dormindo, levanto a cabeça. — Acho que meus pais não ficariam muito felizes com isso. Ele passa os dedos pelas minhas costas nuas, para cima e para baixo, acariciando-me ternamente. O que você quer, Anastasia? Vegas? Um casamento grande, com tudo a que
tem direito? Vamos, diga.
Grande não… Só os amigos e a família. Ergo o olhar para ele, enternecida pela súplica silenciosa em seus brilhantes olhos cinzentos. O que ele quer? — Tudo bem — concorda ele. — Onde?
Dou de ombros. — Pode ser aqui? — pergunta Christian, hesitante. Na casa dos seus pais? Eles não vão se importar? Ele resmunga.

Minha mãe ficaria no sétimo céu. Aqui, então. Tenho certeza de que minha mãe e meu pai vão preferir. Ele acaricia meu cabelo. Eu não poderia estar mais feliz. Bom, já resolvemos onde; agora vamos definir quando. Você tem que perguntar para a sua mãe, é claro.

Hmm. — O sorriso dele desaparece. — Posso dar a ela um mês, no máximo. Quero muito você, não posso esperar mais que isso. Christian, eu já sou sua. Faz um bom tempo. Mas tudo bem: um mês está bom. Eu beijo seu peito, um beijo suave e casto, e sorrio.

Você vai se queimar muito — sussurra Christian em meu ouvido, tirando-me do meu cochilo. Você me faz incendiar por dentro. — Abro meu sorriso mais doce. O sol do fim de tarde mudou de posição, de forma que os raios fortes incidem diretamente sobre mim. Ele sorri maliciosamente e, com um movimento rápido, puxa minha espreguiçadeira de volta para a sombra do guarda-sol.

Agora está protegida do sol do Mediterrâneo, Sra. Grey. Obrigada por seu altruísmo, Sr. Grey.
O prazer é todo meu, Sra. Grey, e não estou sendo nem um pouco altruísta. Se você se queimar demais, não vou conseguir tocá-la. — Ele ergue uma sobrancelha, seus olhos brilhando de jovialidade, e meu coração se derrete. — Mas suspeito que você já saiba disso, e está rindo de mim.

Será? — digo, com um suspiro, fingindo inocência.
Sim, você vive rindo de mim. É uma das muitas coisas que amo em você. Ele se abaixa e me beija, mordendo de leve meu lábio inferior. Eu esperava que você me lambuzasse com mais protetor solar — digo, fazendo beicinho e colando os lábios nos dele.

Sra. Grey, esse é um trabalho sujo… mas uma oferta que não posso recusar. Sente-se — ordena ele, a voz áspera. Obedeço, e, com toques lentos e meticulosos de seus dedos fortes e dóceis, ele me cobre de protetor solar.

Você é realmente linda. Sou um homem de sorte — murmura enquanto seus dedos deslizam sobre meus seios, espalhando a loção. Um homem de sorte, com certeza, Sr. Grey. Fito-o recatadamente, piscando para fazer charme.

Seu nome é modéstia, Sra. Grey. Vire-se. Vou passar nas suas costas. Sorrindo, eu me viro, e ele desamarra o laço do meu biquíni escandalosamente caro. Como você se sentiria se eu fizesse topless, que nem as outras mulheres da praia? — pergunto.
Incomodado — diz ele, sem hesitar. — Já não estou muito feliz em ver você usando tão pouca roupa agora. — Ele se inclina e sussurra em meu ouvido: —Não abuse da sorte. É uma ameaça, Sr. Grey? Não. É uma afirmação, Sra. Grey. Solto um suspiro e balanço a cabeça. Ah, Christian… meu Christian possessivo, ciumento e maníaco por controle. Quando acaba, ele dá uma palmada na minha bunda.

Pronto, lindeza. O BlackBerry dele, onipresente e sempre ativo, toca. Olho-o com desaprovação
e ele sorri maliciosamente. É confidencial, Sra. Grey. Ele ergue uma sobrancelha, brincalhão me dá mais uma palmada e se acomoda na espreguiçadeira para atender à ligação.

Minha deusa interior ronrona. Hoje à noite talvez nós duas possamos fazer algum espetáculo exclusivo para ele. Ela sorri com malícia e astúcia, levantando a sobrancelha.

Eu sorrio só de pensar nisso, e mergulho novamente em minha siesta vespertina. Mam’selle? Un Perrier pour moi, un Coca-Cola Diet pour ma femme, s’il vous plaît. Et quelque chose à manger… laissez-moi voir la carte. Humm… O francês fluente de Christian me acorda. Meus cílios tremem à luz ofuscante do sol e percebo que ele me observa enquanto uma jovem uniformizada se afasta, a bandeja erguida, o comprido rabo de cavalo louro balançando provocativamente.

Com sede? — pergunta ele. — Sim — murmuro, sonolenta. Eu podia ficar apreciando você o dia inteiro. Cansada? Fico vermelha. — Não dormi muito na noite passada. Nem eu. Ele sorri, pousa o BlackBerry na espreguiçadeira e se levanta. Sua bermuda abaixa um pouco… deixando visível o calção de banho. Christian tira a bermuda e o chinelo. Perco o fio do pensamento.

Venha nadar comigo. — Ele oferece a mão e eu o fito, entorpecida. — Nadar? — repete ele, pendendo a cabeça para o lado com uma expressão de quem está achando graça. Quando não respondo, ele balança a cabeça lentamente. — Acho que você precisa de um toque de despertar.

De súbito, ele se lança sobre mim e me ergue nos braços. Eu solto um grito agudo, mais de surpresa do que de medo. — Christian! Me ponha no chão! — exclamo. Ele dá uma risadinha. Só na água, baby. Na praia, vários banhistas observam, com um misto de perplexidade e desinteresse que agora percebo ser típico dos franceses, Christian me carregar para o mar, rindo, e entrar na água. Agarro o pescoço dele.

Você não faria isso — digo, sem fôlego, tentando abafar o riso. Ele sorri. Ah, Ana, meu amor, você não aprendeu nada sobre mim no curto espaço de tempo desde que nos conhecemos? Cinquenta tons de liberdade 15. Ele me beija, e eu aproveito a oportunidade para deslizar os dedos por seu cabelo, agarrando duas mechas e retribuindo o beijo, invadindo a boca dele com minha língua. Ele inspira forte e se inclina para trás, os olhos embaçados, mas atentos.

Conheço o seu jogo — sussurra ele, e vagarosamente avança na água límpida e gelada, levando-me junto enquanto nossos lábios se grudam de novo. O frio do mar Mediterrâneo logo foge de minha mente quando me enrosco ao redor do meu marido.

Pensei que você quisesse nadar — murmuro contra sua boca. Você me distrai muito. — Ele roça os dentes no meu lábio inferior. — Mas não sei se quero que a boa gente de Monte Carlo veja minha mulher nos espasmos da paixão. Passo os dentes pelo pescoço dele, sua barba por fazer pinicando minha língua; não dou a mínima para a boa gente de Monte Carlo.

Ana — geme ele. Christian enrola meu rabo de cavalo em volta de sua mão e puxa gentilmente, fazendo minha cabeça pender para trás, expondo meu pescoço. Ele salpica beijos desde a minha orelha até a base da clavícula. Posso trepar com você no mar? — pergunta ele, arquejando. Deve — sussurro.

Christian afasta o torso e me encara, os olhos ternos, desejosos e cheios de humor. Sra. Grey, você é insaciável, e tão atrevida! Que tipo de monstro eu criei?  Um monstro sob medida para você. Você iria me querer de outra maneira? — Eu iria querer você de qualquer maneira, você sabe. Mas não agora. Não com plateia. — Ele vira a cabeça em direção à areia. O quê?

De fato, vários banhistas abandonaram a indiferença e agora nos olham interessados. De repente, Christian me pega pela cintura e me lança no ar, deixando--me cair na água e afundar até bater na areia macia por baixo das ondas. Volto para a superfície tossindo, engasgando e rindo. Christian! — repreendo-o, encarando-o com o olhar firme. Pensei que fôssemos fazer amor no mar… mais uma primeira vez. Ele morde o lábio inferior, contendo seu divertimento. Jogo água nele, que revida jogando em mim.

Temos a noite inteira — diz ele, rindo como um bobo. — Mais tarde, baby. Ele então mergulha, emergindo a um metro de distância; depois, em um estilo fluido e gracioso, nada para longe da praia, para longe de mim. Rá! Meu Cinquenta Tons provocante e brincalhão! Protejo os olhos do sol vendo-o se afastar. Ele adora me provocar… O que posso fazer para trazê-lo de volta? À medida que nado retornando para a praia, avalio minhas opções. Nas espreguiçadeiras, as bebidas que ele pediu esperam por nós, e tomo um gole rápido da Coca Diet. Christian é uma manchinha ao longe.

Hum… Eu me deito de bruços e, atrapalhando-me um pouco, tiro a parte de cima do biquíni e a jogo despreocupadamente sobre a espreguiçadeira de Christian. Prontinho… vamos ver como eu posso ser atrevida, Sr. Grey. Engula essa. Fecho os olhos e deixo o sol aquecer minha pele… aquecer meus ossos, e começo a divagar sob o calor, meus pensamentos voltando para o dia do meu casamento.

Pode beijar a noiva — anuncia o reverendo Walsh.
Sorrio para o meu marido. — Finalmente você é minha — sussurra ele, puxando-me para seus braços e me beijando castamente na boca. Estou casada. Sou a Sra. Christian Grey. Estou tonta de alegria. — Você está maravilhosa, Ana — murmura ele, e sorri, o olhar brilhando de amor… e de algo mais escuro, mais picante. — Não deixe ninguém tirar esse vestido; só eu, entendeu?

Seu sorriso aquece a quase quarenta graus quando as pontas de seus dedos percorrem meu rosto, fazendo meu sangue ferver. Ai, meu Deus… Como ele consegue fazer isso, mesmo aqui com todas essas pessoas olhando para nós? Concordo em silêncio. Nossa, espero que ninguém nos ouça. Por sorte, o reverendo Walsh discretamente deu um passo para trás. Dou uma olhada para o grupo reunido em elegantes trajes de casamento: minha mãe, Ray, Bob e os Grey estão aplaudindo — até Kate, minha dama de honra, que está linda em um vestido cor-de-rosa claro, ao lado de Elliot, irmão e padrinho de Christian. Quem diria que até Elliot pudesse se arrumar tão bem? Todos exibem sorrisos enormes e radiantes — menos Grace, que chora graciosamente em um delicado lenço branco.

Pronta para festejar, Sra. Grey? — murmura Christian, abrindo um sorriso tímido para mim.
Eu derreto. Ele está divino em um smoking preto e simples com gravata e faixa prateadas. Está… estonteante. Mais do que nunca — respondo, com um sorriso bobo no rosto. Mais tarde, a festa de casamento está a todo vapor… Carrick e Grace foram até a cidade. Eles reinstalaram o toldo e o decoraram lindamente em tons de cor-de--rosa claro, prateado e marfim, aberto dos lados e dando para a baía. Felizmente o tempo está bom, e o sol de fim de tarde brilha sobre a água. Há uma pista de dança em uma ponta da grande tenda, e um farto bufê na outra. 

Cinquenta tons de liberdade 17
Ray e minha mãe estão dançando e rindo juntos. Tenho um sentimento dúbio vendo-os assim próximos. Espero que meu casamento com Christian dure mais. Não sei o que eu faria se ele me deixasse. Quem casa a correr, toda a vida tem para se arrepender. O provérbio é um fantasma a me assombrar. Kate está ao meu lado, linda no seu vestido longo de seda. Ela me fita e franze o cenho.

— Ei, este deveria ser o dia mais feliz da sua vida — repreende-me ela. E é sussurro.  Ah, Ana, o que há com você? Está pensando em sua mãe com Ray? Admito tristemente. Eles estão felizes. Só porque se separaram. Você está com dúvidas? — pergunta Kate, preocupada. Não, de jeito nenhum. É só que… eu amo tanto o Christian. — Fico travada; não consigo, ou talvez eu não deseje, articular meus temores.
Ana, está na cara que ele adora você. Sei que foi um início pouco convencional para um relacionamento, mas eu vi como vocês passaram felizes esse último mês. — Ela pega minhas mãos e as aperta com carinho. — Além disso, agora é tarde — acrescenta, com um sorriso bem-humorado. Dou uma risadinha. Ninguém melhor do que Kate para apontar o óbvio. Ela me puxa para um Abraço Especial de Katherine Kavanagh.

Ana, vai dar tudo certo. E se ele tocar em um fio do seu cabelo, vai se ver comigo. — Ela me solta e sorri para alguém atrás de mim. Oi, baby. — Christian me abraça de surpresa e me beija na têmpora. — Kate ele a cumprimenta. Ainda age friamente com ela mesmo depois de seis semanas. Olá novamente, Christian. Vou procurar o seu padrinho.

E, sorrindo para nós dois, ela se dirige até Elliot, que está bebendo com o irmão dela, Ethan, e nosso amigo José. Hora de irmos — murmura Christian. Já? Esta é a primeira festa em que eu não ligo de ser o centro das atenções. Giro em seus braços para fitá-lo. Você merece. Está deslumbrante, Anastasia.
— Você também. Ele sorri, e sua expressão torna-se mais quente. Este lindo vestido ficou perfeito em você. Este pedaço de pano velho? Coro e puxo o delicado acabamento de renda do vestido de casamento, simples e bem-cortado, desenhado para mim pela mãe de Kate. Adoro o fato de a renda deixar apenas os ombros descobertos recatado mas sedutor, espero.

Ele se inclina e me beija. Vamos. Não quero mais dividir você com essa gente toda.  Podemos ir embora da nossa própria festa de casamento? A festa é nossa, baby, podemos fazer o que quisermos. Já cortamos o bolo.
E agora eu quero tirar você daqui e tê-la só para mim. Dou uma risadinha. — Você me tem para a vida toda, Sr. Grey. — Fico muito feliz de ouvir isso, Sra. Grey. — Ah, aqui estão vocês! Os dois pombinhos. Dou um gemido de desgosto por dentro… A mãe de Grace nos encontrou.
Christian, querido: mais uma dança com a sua avó? Ele contorce os lábios. É claro, vovó. — E você, linda Anastasia, vá e faça um velho feliz: dance com o Theo.  O Theo, Sra. Trevelyan? — Vovô Trevelyan. E acho que você já pode me chamar de vovó. Agora, de verdade, vocês dois têm que começar a trabalhar para me darem bisnetos. Não vou durar muito mais tempo. — Ela nos lança um sorriso afetado.

Christian a olha horrorizado. — Venha, vovó — diz, rapidamente pegando a mão dela e levando-a até a pista de dança. Ao se afastar, ele olha para mim, quase fazendo bico por ter sido contrariado, e revira os olhos. — Até mais, baby. Ao me encaminhar na direção do Sr. Trevelyan, sou abordada por José. — Não vou pedir outra dança. Acho que já monopolizei muito do seu tempo na pista… Estou feliz de vê-la feliz, Ana, mas é sério: eu estarei aqui… se precisar de mim.

Obrigada, José. Você é um bom amigo. Pode contar comigo. — Seus olhos escuros brilham com sinceridade. Eu sei. Obrigada, José. Agora, se me der licença, tenho um encontro marcado
com um senhor de idade. Ele faz uma expressão confusa. — O avô do Christian — esclareço. Ele sorri.— Boa sorte, Ana. Boa sorte com tudo. — Obrigada, José. Depois de dançar com o eternamente encantador avô de Christian, posto-me diante das portas francesas e fico apreciando o sol, que mergulha lentamente sobre Seattle, lançando sombras azul-claras e alaranjadas sobre a baía.


Vamos embora — Christian me chama, apressado.
Tenho que trocar de roupa. Pego a mão dele, com a intenção de puxá-lo pelas portas francesas e levá-lo para cima comigo. Ele franze as sobrancelhas, sem compreender, e puxa minha mão de leve, para me deter.— Pensei que você quisesse tirar o meu vestido — explico.
Seu semblante se ilumina. — Correto — diz ele, e abre um sorriso lascivo. — Mas não vou tirar sua roupa aqui, senão só iríamos embora depois de… Sei lá… — Gesticulando a mão comprida, ele deixa a frase incompleta, mas está bastante claro o que quer dizer.

Fico vermelha e solto sua mão. E também não solte o cabelo — murmura ele, com ar sério.  Mas…, nada de “mas”, Anastasia. Você está linda. E quero que seja eu a tirar o seu vestido. Ah. Faço um ar de desagrado. — Guarde as roupas que você separou para sair daqui — ordena ele. — Vai precisar delas. Taylor já pegou a sua mala. — Tudo bem. O que foi que ele planejou? Christian não me contou para onde vamos. Na verdade, acho que ninguém sabe nosso destino. Nem Mia nem Kate conseguiram extrair a informação dele. Aproximo-me de minha mãe e de Kate, que estão circulando ali por perto.

Não vou me trocar. O quê? — diz minha mãe. — Christian não quer que eu tire o vestido. Dou de ombros, como se isso explicasse tudo. Ela franze a testa por um breve instante. — Você não deve obediência a ele — diz ela, com tato. Kate resmunga ao ouvir isso, e tenta disfarçar com uma tosse fingida. Olho para ela com desaprovação. Nenhuma das duas tem ideia da briga que Christian e eu tivemos sobre isso. Não quero retomar a discussão. Nossa, meu Cinquenta Tons pode ficar bravo… e ter pesadelos. As lembranças me deixam tensa. — Eu sei, mãe, mas ele gosta desse vestido e eu quero agradar meu marido.

Sua expressão fica mais leve. Kate revira os olhos e discretamente se retira para nos deixar sozinhas. Você está tão linda, querida. — Carla afasta gentilmente uma pequena mecha do meu cabelo e acaricia meu queixo. — Estou tão orgulhosa de você, meu amor. Christian será um homem muito feliz a seu lado. — Ela me puxa para um abraço. Ah, mãe!

É incrível como você parece adulta agora. Começando uma vida nova… Lembre-se apenas de que os homens são de outro planeta e tudo vai ficar bem. Dou uma risada. Christian é de outro universo; ah, se ela soubesse… Obrigada, mãe. Ray se junta a nós, sorrindo com doçura para nós duas. — Você criou uma menina linda, Carla — diz ele, os olhos brilhando de orgulho. Ray está muito elegante nesse smoking preto com a faixa de um tom pálido de cor-de-rosa. Sinto as lágrimas surgirem no fundo dos meus olhos. Ah, não… até agora eu consegui não chorar.

— E você cuidou dela e a ajudou a crescer, Ray. — A voz de Carla é nostálgica. — Cada minuto foi maravilhoso para mim. Você está me saindo uma noiva fantástica, Annie. — Ele pega a mesma mecha solta de cabelo e coloca-a atrás da  minha orelha. Ah, pai Sufoco um soluço, e ele me abraça daquele seu jeito apressado e desconfortável. E também vai se sair uma esposa fantástica — sussurra ele, a voz rouca. Quando Ray me solta, vejo Christian novamente ao meu lado. Eles dão um aperto de mãos caloroso. Cuide da minha menina, Christian.


É o que farei, Ray. Carla. — Ele cumprimenta meu padrasto com a cabeça e dá um beijo em minha mãe. O resto dos convidados formou um comprido arco humano que nos conduzirá até a frente da casa. Pronta? — pergunta Christian. — Sim. Ele pega minha mão e me guia por baixo dos braços esticados, enquanto nossos convidados gritam boa sorte e parabéns e jogam arroz sobre nós dois. Esperando--nos com sorrisos e abraços no final do túnel estão Grace e Carrick. Eles se revezam para nos cumprimentar. Grace se emociona novamente quando nos despedimos apressadamente.

Taylor está à nossa espera para nos levar dali no Audi SUV. Christian segura a porta do carro aberta para mim, e jogo meu buquê de rosas brancas e cor-de-rosa para a multidão de jovens que se formou atrás de mim. Mia triunfantemente o pega no alto, com um sorriso de orelha a orelha. Entro no SUV rindo da maneira audaciosa como Mia agarrou o buquê, e
Christian se abaixa para pegar a bainha do meu vestido. Logo que me vê confortavelmente instalada dentro do carro, ele acena um adeus para a multidão.

Taylor abre a porta do carro para ele. Parabéns, senhor. Obrigado, Taylor — responde Christian, sentando-se ao meu lado. Enquanto o motorista arranca, os convidados jogam arroz sobre o automóvel. Christian pega minha mão e beija os nós dos meus dedos. — Até aqui tudo bem, Sra. Grey?  Até aqui tudo ótimo, Sr. Grey. Para onde vamos?  Aeroporto — diz ele simplesmente, e sorri com uma expressão de esfinge. Humm… o que ele está tramando? Taylor não se dirige para o terminal de embarque, como eu esperava; em vez disso, passa por um portão de segurança e vai diretamente para a pista. O quê? E então eu vejo: o jatinho de Christian… Grey Enterprises Holdings, Inc. Escrito em imensas letras azuis na fuselagem.

Não me diga que você está novamente usando um bem da empresa para uso pessoal! — Ah, espero que sim, Anastasia. — Christian sorri. Taylor para perto da escada que leva até o avião e salta do Audi a fim de abrir a porta para Christian. Eles discutem alguma coisa rapidamente; então Christian abre minha porta — e, em vez de dar um passo para trás e me deixar passar, ele se abaixa e me pega no colo.
Uau! O que você está fazendo? — Solto um gritinho. Carregando você para dentro. — Ah!… — Não deveria ser quando chegássemos em casa?

Ele me leva sem esforço escada acima, e Taylor nos segue com minha mala. Deixa-a na porta do avião antes de retornar ao Audi. Dentro da cabine, reconheço Stephan, o piloto de Christian, em seu uniforme. — Bem-vindos a bordo, senhor. Olá, Sra. Grey. — Ele sorri. Christian me coloca no chão e aperta a mão de Stephan. Ao lado do piloto está uma morena de uns… trinta e poucos anos, talvez? Ela também está de uniforme. — Parabéns aos dois — continua ele.

Obrigado, Stephan. Anastasia, você já conhece o Stephan. Ele vai ser nosso comandante hoje, e esta é a copiloto Beighley. Ela cora quando Christian a apresenta, e pisca rápido. Tenho vontade de bufar de raiva. Mais uma mulher completamente encantada pelo meu marido lindo-até-demais-para-o-meu-gosto. Prazer em conhecê-la — Beighley me cumprimenta efusivamente. Sorrio com simpatia para ela. Afinal de contas… ele é meu.
Tudo certo para decolarmos? —Pergunta Christian, dirigindo-se aos dois oficiais, enquanto dou uma olhada na cabine. O interior é todo composto de madeira clara e couro creme. De extremo bom gosto. Do outro lado vejo mais uma jovem uniformizada — uma morena muito bonita. — Tudo pronto. O tempo está bom daqui até Boston. Boston? — Turbulências? Só a partir de Boston. Há uma frente fria sobre Shannon que talvez cause certa instabilidade ao avião. Shannon? Irlanda? Certo. Bom, espero só acordar depois de passarmos o mau tempo — diz Christian, tranquilo.

Acordar? Vamos nos preparar, senhor — diz Stephan. — Os senhores ficarão sob os cuidados atenciosos de Natalia, nossa comissária de bordo. Christian desvia o olhar na direção da moça e franze o cenho, mas vira-se de volta para Stephan com um sorriso. Excelente diz. Ele pega minha mão e me leva até um dos suntuosos assentos de couro. Deve haver cerca de doze no total. Sente-se — diz, tirando o paletó e desabotoando o fino colete de brocado prateado. Nós nos sentamos em duas poltronas individuais, uma de frente para a outra, com uma mesinha incrivelmente lustrada no meio.

Bem-vindos a bordo, senhores, e meus parabéns. — Natalia surgiu ao nosso lado e nos oferece uma taça de champanhe rosé. Obrigado —diz Christian, e Natalia sorri polidamente ao se retirar para os fundos do avião. — Brindemos a uma feliz vida de casados, Anastasia. Christian levanta a taça em direção à minha e tocamos de leve as duas. O champanhe é delicioso. — Bollinger? — pergunto. Exato. — A primeira vez que tomei Bollinger foi em uma xícara de chá. — Sorrio. 

Eu me lembro bem daquele dia. Sua formatura.
Aonde estamos indo? — Não consigo conter minha curiosidade nem um minuto mais. Shannon — responde Christian, os olhos reluzentes de entusiasmo. Parece um menininho. — Na Irlanda? — Vamos para a Irlanda! Para reabastecer — acrescenta ele. E depois? — pergunto logo em seguida. 

Cinquenta tons de liberdade 23
Seu sorriso aumenta e ele balança a cabeça. Christian! — Londres — responde ele, encarando-me com intensidade para avaliar minha reação. Engulo em seco. Minha Nossa! Achei que talvez estivéssemos indo a Nova York
ou Aspen ou ao Caribe. Mal posso acreditar. Durante toda a minha vida eu quis conhecer a Inglaterra. Uma chama se acende dentro de mim; sinto-me incandescente de felicidade.
Depois, Paris. O quê? — Depois, sul da França. Uau! — Sei que você sempre sonhou em conhecer a Europa — diz ele, suavemente. Quero fazer seus sonhos se tornarem realidade, Anastasia. Você é o meu sonho, Christian. Digo o mesmo quanto a você, Sra. Grey — sussurra ele.
Ah, nossa.… — Aperte o cinto. Dou um sorriso e obedeço. Enquanto o avião começa a taxiar na pista, tomamos tranquilamente nosso champanhe, rindo um para o outro sem motivo aparente. 

Não posso acreditar. Aos vinte e dois anos, finalmente estou partindo dos Estados Unidos em direção à Europa — indo justamente a Londres. Uma vez no ar, Natalia nos serve mais champanhe e prepara nosso banquete de casamento. É realmente um banquete: salmão defumado, seguido de perdiz assado com salada de feijão-verde e batatas dauphinoise, tudo preparado e servido pela ultraeficiente Natalia.

Sobremesa, Sr. Grey? — oferece ela. Ele balança a cabeça em negativa e desliza o dedo pelo lábio inferior ao olhar para mim, a expressão séria e indecifrável. — Não, obrigada — murmuro, incapaz de desviar o olhar do dele. Seus lábios se fecham num sorriso pequeno e secreto, e Natalia se retira. — Ótimo — murmura ele. — Prefiro saborear você como sobremesa. Opa… aqui? — Venha — diz ele, levantando-se e me oferecendo a mão. Ele me leva até a parte posterior da cabine.

Tem um banheiro aqui. Ele aponta para uma porta pequena e me conduz por um curto corredor, ao final do qual entramos em outra porta. Caramba… um quarto. A cabine é decorada em tons de creme e marfim, e a pequena cama de casal está coberta de almofadas douradas e acobreadas. Parece muito confortável. Christian se vira e me puxa para seus braços, com o olhar fixo em mim.
Pensei em passarmos nossa noite de núpcias a trinta e cinco mil pés de altura. É algo que nunca fiz antes. Mais uma primeira vez. Olho para ele boquiaberta, meu coração aos pulos o clube do sexo nas alturas. Já ouvi falar sobre isso. Mas primeiro eu tenho que tirar você desse vestido fabuloso. Os olhos dele brilham, cheios de amor e de algo mais sombrio, que eu adoro… algo que convoca minha deusa interior. 

Ele me deixa sem fôlego. Vire-se. A voz dele é baixa, autoritária e incrivelmente sensual. Como ele consegue incutir tantas promessas em apenas uma palavra? Obedeço de bom grado, e suas mãos alcançam meu cabelo. Gentilmente ele retira cada grampo, um de cada vez, seus dedos experientes concluindo a tarefa rapidamente. Meu cabelo cai sobre os ombros, uma mecha de cada vez, cobrindo minhas costas e meus seios.

Tento ficar imóvel e não me contorcer, mas desejo ardentemente sentir seu toque. Depois de um dia longo e cansativo, embora emocionante, eu quero Christian — quero-o todo para mim. — Seu cabelo é tão bonito, Ana. Sua boca está próxima à minha orelha e eu sinto sua respiração, ainda que seus lábios não encostem em mim. Quando não há mais grampos a tirar, ele desliza os dedos pelo meu cabelo, massageando suavemente meu couro cabeludo…
meu Deus… Fecho os olhos e aproveito a sensação. Seus dedos se movem para baixo, e ele puxa minha cabeça para trás, expondo meu pescoço.


Você é minha — sussurra ele, e seus dentes puxam o lóbulo da minha orelha. Solto um gemido. — Quietinha agora — adverte ele. Christian tira meu cabelo de sobre meus ombros e passa um dedo pelas minhas costas, de um ombro ao outro, acompanhando o contorno rendado do vestido. Eu me contorço de expectativa. Ele dá um beijo terno nas minhas costas, acima do primeiro botão do vestido. — Tão linda — diz, abrindo habilmente o primeiro botão. — Hoje você fez de mim o homem mais feliz do mundo. — Com infinita lentidão, ele abre o vestido, botão por botão, de cima a baixo. — Eu amo tanto você. — Ele me cobre de beijos, desde a minha nuca até a extremidade do meu ombro, e murmura entre
cada um deles: — Eu. Quero. Você. Demais. Eu. Quero. Estar. Dentro. De. Você. Você. É. Minha.

Cinquenta tons de liberdade 25 
Cada palavra me inebria. Fecho os olhos e inclino a cabeça, oferecendo-lhe meu pescoço, e me vejo ainda mais sob o feitiço que é Christian Grey, meu marido. — Minha — sussurra ele novamente. Ele faz o vestido deslizar pelos meus braços, de modo que cai nos meus pés como uma nuvem de seda e renda marfim.
—Vire-se — murmura, a voz repentinamente áspera. Obedeço, e ele engole em seco.

Estou vestindo um corpete apertado de cetim cor-de-rosa, com cinta-liga, calcinha rendada da mesma cor e meias de seda brancas. Seus olhos percorrem meu corpo avidamente, mas ele não diz uma palavra. Apenas me fita, os olhos arregalados de desejo.  Gostou? — sussurro, já sentindo um rubor tímido subir pelas minhas
bochechas. Gostar é pouco, meu amor. Você está sensacional. Venha.


Ele me oferece a mão, e, aceitando-a, dou um passo adiante, deixando o vestido para trás. — Fique parada — murmura ele, e, sem tirar os olhos cada vez mais escuros dos meus, passa o dedo médio sobre meus seios, seguindo a linha do corpete. Minha respiração fica ofegante, e ele repete o movimento, seu dedo provocante fazendo minha pele formigar por toda a espinha. Ele para e gira o dedo indicador
no ar, o que quer dizer que devo me virar. Nesse momento, eu faria qualquer coisa para ele. Pare — diz. Estou de frente para a cama, afastada dele. Seu braço circunda minha cintura, puxando-me para si, e ele se aninha no meu pescoço. Suavemente, suas mãos cobrem meus seios, brincando com eles, os polegares desenhando círculos sobre meus mamilos até ficarem tesos contra o tecido do corpete. — Minha — murmura ele.

Sua — respondo num sussurro. Deixando meus seios de lado, suas mãos percorrem minha barriga e minhas coxas, seus polegares passando por meu sexo. Abafo um gemido. Seus dedos deslizam sobre a cinta-liga, e, com sua habitual agilidade, ele desprende as meias dos dois lados simultaneamente. Suas mãos viajam pelo meu corpo até alcançarem minha bunda. — Minha — murmura ele, suas mãos espalmando nas minhas nádegas, as pontas dos dedos roçando meu sexo.  Ah. Shhh. As mãos dele descem pela parte posterior das minhas coxas, e novamente
Christian desprende as ligas.


Abaixando-se, ele puxa a coberta da cama. Sente-se. Faço o que ele manda, em transe; ele então se ajoelha aos meus pés e delicadamente retira cada um dos meus sapatos de noiva Jimmy Choo. Agarra a parte de cima de minha meia esquerda e despe-a lentamente, deslizando os polegares pela minha perna… Repete o processo com a outra meia. — É como abrir presentes de Natal. — Ele sorri por trás de seus longos cílios negros.

Um presente que você já ganhou… Ele franze o cenho, como em uma reprimenda. — Ah, não, baby. Desta vez estou ganhando de verdade. — Christian, eu sou sua desde que disse sim. — Avanço em um movimento rápido e seguro seu rosto em minhas mãos, o rosto que amo tanto. — Sou sua. Serei sempre sua, meu marido. Mas acho que você está usando roupas demais. Inclino-me para beijá-lo, e ele repentinamente levanta o corpo, me beija na boca e agarra minha cabeça com as mãos, os dedos enroscados no meu cabelo.
Ana — sussurra ele. — Minha Ana. Seus lábios procuram os meus novamente, sua língua ao mesmo tempo invasiva e persuasiva. — Roupas — sussurro, nossas respirações se combinando quando empurro seu colete para baixo e ele o despe, soltando-me por um momento. Ele faz uma pausa, olhando para mim; olhos ávidos, desejosos. — Deixe que eu tiro. — Minha voz é suave e firme. Quero despir meu marido, meu Cinquenta Tons. 

Christian se senta sobre os tornozelos; inclinando-me para a frente, agarro sua gravata — aquela prateada, minha preferida —, desfaço vagarosamente o nó e tiro-a de seu pescoço. Ele levanta o queixo para que eu abra o primeiro botão de sua camisa branca; depois, é hora de dar um jeito nas abotoaduras. As que ele está usando hoje são de platina — gravadas com as letras A e C entrelaçadas —, o presente de casamento que lhe dei. Logo que as retiro, ele as pega de mim e as fecha dentro da mão. Em seguida beija a própria mão fechada e põe as joias no bolso da calça.

Sr. Grey, tão romântico. — Para você, Sra. Grey… corações e flores. Sempre. Seguro sua mão e, olhando-o acima de mim através dos meus cílios, beijo sua aliança de platina toda lisa. Ele geme e fecha os olhos. — Ana — murmura, como se meu nome fosse uma oração. Começando pelo segundo botão de sua camisa, repito seu gesto de alguns instantes atrás: dou um beijo terno no seu peito a cada botão que abro, sussurrando, entre um beijo e outro: — Você. Me. Faz. Tão. Feliz. Eu. Amo. Você. 

Cinquenta tons de liberdade 27 
Ele geme e, em um movimento rápido, me agarra pela cintura e me joga na cama, inclinando-se sobre mim. Seus lábios encontram os meus, suas mãos em volta da minha cabeça; ele me abraça, imobilizando-me, enquanto nossas línguas se juntam em êxtase. Subitamente ele ergue o torso e se ajoelha na cama, deixando-me ofegante, querendo mais. — Você é tão bonita… minha esposa. — Desliza as mãos pelas minhas pernas e pega meu pé esquerdo. — Que pernas mais lindas. Quero beijar cada centímetro dessas pernas. Começando por aqui. Ele pressiona os lábios contra meu dedão do pé e depois o toca levemente com os dentes. Tudo abaixo da minha cintura entra em convulsão. Sua língua desliza sobre meu pé e seus dentes mordiscam desde meu calcanhar até o tornozelo.


Com beijos, ele percorre a parte interna da minha panturrilha; suaves beijos molhados. Por baixo dele, meu corpo se contorce. — Quieta, Sra. Grey — adverte, e de repente me faz virar de bruços, para então continuar a lenta caminhada de sua boca pelas partes posteriores das minhas pernas, das minhas coxas, até chegar a minha bunda, quando para. Solto um gemido. Por favor….  Quero você nua — murmura ele, e desprende lentamente os ganchinhos do meu corpete, sem pressa, um de cada vez. Quando o corpete já está totalmente aberto embaixo de mim, Christian passa a língua ao longo da minha espinha. 

Christian, por favor. O que você quer, Sra. Grey? — Suas palavras são suaves, pronunciadas próximas ao meu ouvido. Ele está quase deitado sobre mim… Consigo senti-lo duro contra minhas costas.  Você. — E eu quero você, meu amor, minha vida… — murmura ele, e, antes que eu me dê conta, ele me vira, deixando-me de costas. Christian levanta-se rapidamente e, com um movimento preciso, tira a calça e a cueca — agora está gloriosamente nu à minha frente, com seu corpo largo pronto para me possuir. A pequena cabine fica ofuscada pela sua beleza estonteante, pela necessidade que ele tem de mim, por seu desejo. 

Ele se inclina e tira minha calcinha; depois me olha de cima a baixo. — Minha — mexe a boca, sem emitir som.  Por favor — suplico, e ele sorri… um sorriso típico do meu Christian: lascivo, malvado e tentador. Ele volta para a cama e engatinha até mim. Levanta minha perna direita, deixando beijos por todo o percurso… até chegar ao alto das minhas coxas. Escancara vigorosamente minhas pernas. Ah… minha mulher — murmura, e desliza a boca em meu corpo. Fecho os olhos e me rendo à sua língua tão ágil. Minhas mãos agarram seu cabelo enquanto meus quadris se movem e se contorcem, escravos do ritmo que ele imprime, e quase caio da pequena cama. Ele agarra meus quadris para que eu fique quieta… mas não interrompe a deliciosa tortura. Estou quase, quase lá. — Christian… — Solto um gemido.

Ainda não — diz ele, sem fôlego, e sobe pelo meu corpo, a língua afundando em meu umbigo. — Não! Droga! Sinto seu sorriso contra minha barriga à medida que ele continua seu percurso até em cima. Tão ansiosa, Sra. Grey. Ainda temos muito tempo, até chegar à Ilha Esmeralda. Respeitosamente ele beija meus seios e belisca meu mamilo esquerdo com os lábios. Ao me fitar, seus olhos estão escuros como uma tempestade tropical enquanto ele me provoca. 

Ah, meu Deus… Eu tinha esquecido. Europa. Meu marido, eu quero você. Por favor. Ele se coloca sobre mim, cobrindo-me com seu corpo, apoiando o peso nos cotovelos. Abaixa o nariz de encontro ao meu, e eu deslizo as mãos por suas costas fortes e flexíveis até seu traseiro maravilhoso. — Sra. Grey… minha esposa. Nosso objetivo é satisfazer. — Seus lábios roçam em mim. — Eu amo você. — Também amo você. — Olhos abertos. Quero ver você. Christian… ah… — gemo, enquanto ele me penetra lentamente. — Ana, ah, Ana — exclama ele, ofegante, e começa a se movimentar. — Que diabo você pensa que está fazendo? — grita Christian, acordando-me de meu sonho tão agradável. Ele está todo molhado e lindo, de pé em frente à minha espreguiçadeira, olhando-me furioso.

O que foi que eu fiz? Ah, não… estou deitada de costas… Droga, droga, droga, e ele está muito zangado. Merda. Realmente zangado.

http://mdemulher.abril.com.br/amor-sexo/reportagem/contos/lancado-e-book-cinquenta-tons-liberdade-terceiro-livro-trilogia-716813.shtmlLeia o primeiro capítulo de "Cinquenta Tons de Liberdade", o terceiro livro da trilogia
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Publicado em 09/11/2012Conteúdo MDEMULHER

Raio x social...







Mais de um terço dos jovens de UPPs não estudam e trabalham
Na faixa de 15 a 18 anos, o percentual dos jovens que não estudam, nem trabalham cai para 12%

Estudante faz prova: enquanto 48% dos maiores de 21 anos têm pelo menos o ensino médio completo, entre seus pais e mães a escolaridade é bem menor.

Rio de Janeiro – Cerca de 34% dos jovens de 18 a 29 anos de idade que moram em comunidades pacificadas do Rio de Janeiro, não trabalham nem estudam.

O dado consta do estudo Somos os Jovens das UPPs, divulgado hoje (27) pelo Sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro).

Na faixa de 15 a 18 anos, o percentual dos jovens que não estudam, nem trabalham cai para 12%.

O levantamento foi feito com 1.652 jovens de 15 a 29 anos de sete comunidades com unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) – Jacarezinho, Manguinhos, Mangueira, Prazeres/Escondidinho, São Carlos, Vidigal e Coroa/Fallet/Fogueteiro. São áreas nas quais a Firjan desenvolve o Programa Sesi Cidadania.

De acordo com a Firjan, os números apontados no estudo mostram a necessidade de investimento em educação nessas comunidades. Um dos dados revela que 46% dos jovens entre 15 e 17 anos ainda não chegaram ao ensino médio, e dos que têm 18 anos ou mais, 57% não conseguem completar o ensino regular escolar.

Outros dados apontados no estudo mostram a precocidade com que os jovens das comunidades pesquisadas assumem responsabilidades de adultos: 17% dos que têm entre 15 e 29 anos tiveram filhos entre os 12 e os 17 anos, e 13% dos que estão na faixa de 15 a 17 anos já ajudam financeiramente suas famílias.

Segundo a Firjan, um fator positivo apontado no diagnóstico é o grande avanço dos jovens de hoje em relação à geração anterior.

Enquanto 48% dos maiores de 21 anos pesquisados no estudo têm pelo menos o ensino médio completo, entre seus pais e mães a escolaridade é bem menor, de 14% e 16%, respectivamente.

Com relação ao ensino superior, apenas 3% dos pais chegaram à universidade, contra 12% de seus filhos maiores de 21 anos.

O estudo aponta ainda a importância dada à educação pelos jovens de hoje das comunidades contempladas com UPPs, mesmo entre aqueles que não conseguiram chegar ao ensino médio.

Valorizado por 94% dos jovens, o fato de ter um diploma é considerado por 20% deles o aspecto mais importante para o mercado de trabalho.
http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/mais-de-um-terco-dos-jovens-de-upps-nao-estudam-e-trabalham

Nem to aqui, nem ali, nem lá...



Dias de ninguém
O período entre o Natal e o Ano Novo é o melhor do ano porque nada parece acontecer, nem mesmo os acontecimentos

Eu me sinto feliz logo que termina o Natal e o Ano Novo está a cinco dias de acontecer. Parece que o mundo suspende a descrença e os homens passam a experimentar um intervalo quando tudo parece possível, salvo os fatos. Nada parece acontecer, nem mesmo os acontecimentos. 

Há um clima de contagem regressiva até a virada do ano que pelo menos eu gostaria de assistir em câmera muito lenta para que nunca chegasse ao final. Como Aquiles que jamais alcançará a tartaruga, já que ele se desloca em um espaço divisível ao infinito, mantendo-se em eterna desvantagem em relação ao trajeto da tartaruga. 

Gosto de ser Aquiles e o calendário, a tartaruga no mundo em que linguagem, a realidade e a lógica se embaralham. Alguns chamam esse estado de devaneio, ou fantasia.

É o momento em que vale apena habitar os dias de ninguém, os meus favoritos. Vivo mais neles do que em outros dias do ano, pois consigo respirar e resolver problemas que foram prorrogados até o limite. Até problemas não parecem um problema. É como se, em 60 horas, a eternidade se apresentasse e eu pudesse senti-la sem ter de me angustiar ou morrer para isso.  

No entanto, infelizmente, fatos continuam a ocorrer nesse período. Jornalistas vivem de notícias, mas torcem para que elas não aconteçam entre as festas de fim de ano. Muitas catástrofes costumam acontecer, independentemente da vontade dos homens de notícia. 

Agora é a estação das chuvas no Sudeste do Brasil e morros e casas despencam e rios inundam os vales, deixando milhares de flagelados. Foi em 26 de dezembro de 2004 que o tsunami atingiu a Indonésia, matando 230 mil pessoas. Como se fôssemos acordados com gritos de terror no meio de um sono bom, um sono sem sonhos. Não, isso não pode ter acontecido...

Mas nem tudo são tragédias. Poucas horas atrás o cantor canadense Justin Bieber divulgou na sua conta do Twitter que vai se aposentar. Aos 20 aos. Presentes de Natal são sempre bem-vindos, mesmo que de última hora, como este de Bieber. A retirada de cena de Bieber abrilhantará a cena musical por muitos anos. Tomara que ele cumpra a promessa. 

Quantos jovens não seriam poupados de acampar por meses nos estádios para esperar para que ele interrompa seu show de dublagem no meio?  Não sou um belieber para acreditar nele. Mesmo assim, se outras jovens celebridades do mesmo naipe seguissem o Twitter de Bieber e o levassem ao pé da letra como inspiração, talvez o mundo se enchesse de alegria. 

Seria maravilhoso assistir à suspensão perpétua de Selena Gomez, Demi Lovato, One Direction (esses New Kids on the Block da Cool Britannia), Lindsay Lohan e mesmo o bando de criancinhas que enxameiam os canais de televisão e os jovens escritores que acham que escrevem bem. 

A interrupção precoce dessas carreiras enriqueceria o planeta e colaboraria com a restauração de um pouco de ar puro no meio ambiente. Mas talvez Bieber tenha produzido apenas uma ocorrência nula, um factoide.

Devo ter cuidado para não resmungar como em outros dias do ano, se quiser manter a alegria que este interregno me traz. O ano já acabou, embora restem algumas horas que podem ser aproveitadas com grande intensidade. 

Até mesmo a igreja católica aboliu o limbo, o espaço simbólico onde moravam as almas boas que, segundo os antigos sábios da patrística, não alcançaram o advento do cristianismo. Com a licença de Santo Tomás de Aquino, quero crer que o limbo existe na Terra e se estende do fim do Natal ao dia 31. 

O limbo e a suspensão do tempo não são mera convenção, porque todo mundo sente coletivamente a passagem do tempo quando ela é ritualizada por bilhões. O resultado é uma violenta liberação de energia que chega ao paroxismo no Réveillon. A mesma regra vale para quando bilhões, antes de explodir, combinam dar um tempo na história para desfrutar do limbo. O melhor das festas é esquecer que elas existem. Ou nem isso.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/luis-antonio-giron/noticia/2013/12/dias-de-bninguemb.html

Mártir...




Meu encontro com Mandela
Vi quando Mandela pediu para ir à cozinha. Queria encontrar os negros brasileiros

Quando Nelson Mandela visitou pela primeira vez o Brasil, em 1991, recém-libertado após 27 anos de prisão, ainda não era presidente. Mas já era um estadista mundial, um ídolo pop, adorado pelas multidões. Almoçou na Bahia, na casa de Antônio Carlos Magalhães, o Palácio de Ondina. 

Os pratos eram afro-brasileiros, do vatapá às frutas-de-conde. Os comensais eram brancos, a elite de um país mestiço. Baianas de turbantes serviam acarajés no varandão. Eu estava lá, numa das mesas. Vi quando Mandela pediu para ir à cozinha. Ele queria encontrar os negros brasileiros, o pessoal com a cor de sua pele, em meio a panelões de barro e garrafas de dendê. Na casa grande, ele ansiava pela senzala.

Não era uma provocação a seus anfritriões. Mandela queria só abraçar quem tinha cozinhado para ele. Sorrindo e suando, chegou perto do fogão. Uma fila de cozinheiras e garçons fez festa e cantoria, Mandela ensaiou uns passos de dança e foi envolvido por todos, para desconsolo de seus seguranças. Sorrindo e suando mais ainda, voltou para a companhia dos brancos engravatados. 

Eu adorava as túnicas coloridas de Mandela em ocasiões oficiais, embora ali estivesse de terno. O mais impressionante, além de suas palavras, de sua história e de seu porte, era o sorriso sereno que dissipava constrangimentos e discórdias.

Não havia túnica justa com ele. Porque não havia rancor. Mandela percebeu rapidamente, ali na Bahia, que o Brasil estava longe de ser uma democracia racial. Não por ódio ou segregação formal. Mas pela falta histórica de representatividade dos mestiços e negros nos altos postos da sociedade, da economia e da política. 

Pedia aos brancos brasileiros apoio a sua eleição para a Presidência da África do Sul pós-apartheid. Tinha toda a autoridade do mundo para pedir o que fosse. Seu sonho sempre foi a conciliação e a união entre homens e mulheres de boa vontade, de todos os credos e cores.


Após intensos seis dias no Rio de Janeiro, Brasília, Espírito Santo, São Paulo e Bahia, suas primeiras declarações encantaram os brasileiros. “Quase fomos mortos de tanto amor”, disse Mandela. No Rio, afirmou: “Quando vejo seus rostos, tenho a sensação de estar em casa, porque a mistura da população é como a nossa. E damos as boas-vindas a esse fato, porque a miscigenação enriquece o país”.
Nelson Mandela visitou Salvador em agosto de 1991 
Nelson Mandela visitou Salvador em agosto de 1991 (Foto: Wilson Besnosik/ Arquivo/Ag. A Tarde)


Eu tinha uma ligação importante com a África do Sul. Como jornalista, rodei durante duas semanas as principais cidades em 1989, pouco antes de Mandela ser libertado. Fui a Soweto e Crossroads, as “townships” negras. O país vivia a transição do odioso apartheid para as primeiras eleições livres, com voto negro. O presidente branco, Frederik De Klerk, coordenou essa passagem, e isso lhe valeu a honra de partilhar com Mandela o Nobel da Paz tempos depois.

Na minha viagem, a surpresa foi ver de perto a disputa sangrenta entre os negros sul-africanos. Achava impossível que Mandela conseguisse unir zulus e xhosas, apaziguar aquele caldeirão de raiva. Mais negros eram mortos por negros que por brancos. Nada foi impossível para Mandela, por força de seu carisma, caráter e obstinação. 

Ele teve três nomes e três mulheres. Nasceu Rolihlahla Dalibhunga em 1918. Tornou-se Nelson por causa de uma professora de inglês. Protestante, era chamado de Madiba em sua comunidade de língua xhosa. Condenado à prisão perpétua em 1964 pela militância contra o racismo, foi levado secretamente para Robben Island, em isolamento. Rejeitou todos os acordos propostos pelo governo na tentativa de subjugar sua consciência. Dizia que só homens livres podem negociar. Em 6 de maio de 1994, foi eleito presidente. Votava pela primeira vez.

Minha relação com a África do Sul me permitiu trocar palavras com Mandela em Salvador, em 1991. Ele chamou os quitutes baianos de “terrific” (sensacionais): “Uma das razões para que um dia eu volte ao Brasil”. Em Salvador, ele recebeu minhas perguntas e entregou as respostas por escrito no hotel Copacabana Palace, ao se despedir do Brasil. Nessa entrevista, a única em sua visita oficial, disparou uma de suas armas favoritas: a sinceridade.

“Está bem claro”, afirmou, “que sociedades com uma história de racismo brutal, como a escravidão no Brasil, não podem esperar que a solução para o legado dessa discriminação venha tão somente de sua Constituição.” O líder sul-africano também falou sobre as cotas na educação: “Acredito que programas de ação afirmativa para os negros devam começar no pré-escolar e no ensino fundamental, e não só em universidades. Mas (...) essas medidas precisam ser acompanhadas por um avanço econômico das comunidades mais carentes”. Isso foi dito por Mandela, no Brasil, há 22 anos.

Esta semana acabou triste.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ruth-de-aquino/noticia/2013/12/meu-encontro-bcom-mandelab.html

Burocracia extremada...





O país dos alvarás
Como a tradição brasileira de exigir papéis que nem as autoridades levam a sério favorece a informalidade e estimula a corrupção

O auditório do Memorial da América Latina não tinha alvará de funcionamento quando pegou fogo, em 29 de novembro. Nunca teve, em duas décadas de existência. Como a obra em execução era diferente do projeto aprovado pela prefeitura de São Paulo, também estava irregular a construção da Arena Corinthians, onde morreram dois operários, no dia 27. 

Faltavam alvarás à boate Kiss, de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, quando um incêndio em janeiro matou 242 pessoas. A quantidade de construções sem alvará envolvidas em tragédias recentes pode passar a impressão de que esses documentos funcionem como atestado de segurança. Infelizmente, é só uma impressão. Em vez de “tragédias”, use outro critério para filtrar o universo de edificações do país. Por exemplo, “estádios da Copa do Mundo”. 

A falta de alvará também será frequente. “Há uma década, pesquisamos cinco cidades do Rio de Janeiro. Sete em cada dez construções não tinham alvará”, afirma o advogado João Geraldo Piquet Carneiro, ministro da Desburocratização no governo João Figueiredo e presidente do Instituto Helio Beltrão, ONG dedicada a estudar a burocracia no país. “Um imóvel com alvará pode ser inseguro e um imóvel sem alvará pode funcionar normalmente.”  
 O QUE RESTOU O cenário de destruição do auditório Simon Bolívar, um dia depois do incêndio (Foto: Avener Prado/Folhapress)
O QUE RESTOU 
O cenário de destruição do auditório Simon Bolívar, um dia depois do incêndio.

O provisório permanente 
O provisório permanente (Foto: Reprodução/ÉPOCA)

O alvará é então apenas um pedaço de papel? A julgar pelo comportamento das autoridades, alvará é isso mesmo – apenas um pedaço de papel. Não tem utilidade prática. A prefeitura de São Paulo nunca concedeu alvará de funcionamento ao auditório do Memorial da América Latina. Paradoxalmente, só neste ano, usou três vezes aquele espaço para eventos. 

O Maracanã, no Rio de Janeiro, estádio reformado para a Copa do Mundo de 2014, funciona amparado por um alvará provisório, válido até 11 de abril de 2014. Teoricamente, poderá perder a autorização para funcionar um mês antes da Copa. Mas ninguém se preocupa com isso. Situação semelhante ocorre no Mané Garrincha. 

O estádio de Brasília não tem o “habite-se”, certidão de que a obra seguiu o projeto aprovado, exigida para a concessão do alvará de funcionamento. Tal detalhe não impediu a partida inaugural da Copa das Confederações, em junho, com a presidente Dilma Rousseff na tribuna. Amparado por autorizações provisórias, o Mané Garrincha já recebeu 17 eventos, como o jogo entre Santos e Flamengo, com 63.501 espectadores. Deverá receber sete partidas da Copa do Mundo. 

Em nota, o governo do Distrito Federal afirma que a emissão do alvará de funcionamento exige o cumprimento de “extenso rol de exigências técnicas, que inclui, por exemplo, a análise de cerca de 2 mil plantas do projeto da arena”. “A emissão posterior do alvará definitivo não impede, de forma alguma, o uso seguro e de acordo com a legislação”, diz a nota.

A afirmação do governo é tão verdadeira quanto desconcertante. Se o alvará fosse levado a sério como atestado de conformidade com as leis, nenhum evento deveria ocorrer até sua concessão. Mas o estádio funciona mesmo assim, porque o alvará, na verdade, é uma mera formalidade. Em Brasília, os prédios da Esplanada dos Ministérios, da Câmara dos Deputados e do Senado, pertencentes à União, também não têm alvará. É a mesma situação, em São Paulo, da Pinacoteca do Estado, administrada pelo governo estadual, e do Museu de Arte de São Paulo (Masp), ponto turístico mais procurado da cidade.

Em vez de dar o exemplo no cumprimento das leis, o Estado desmoraliza o alvará. O Brasil vive assim uma contradição: é o país onde, para quase tudo, se exige um alvará – mas ele raramente é levado a sério. A onipresença e a desmoralização do alvará são antigas. Em 1809, Dom João VI assinou o Alvará Régio que autorizou o funcionamento da Praça do Commercio, no Rio de Janeiro. A utilidade da permissão era discutível, uma vez que ela não mudou o mercado já existente. O selo real servia sobretudo como mostra de poder, necessária ao imperador absolutista. O Brasil declarou independência de Portugal em 1822, tornou-se uma República em 1889 e, desde a Constituição de 1988, funciona como democracia plena. Os alvarás e seu ranço imperial, porém, permanecem.

Mais de 100 dias de burocracia (Foto: ÉPOCA) 
Mais de 100 dias de burocracia 

O uso do alvará como mero instrumento de afirmação de poder está tão enraizado nos costumes brasileiros que frequentemente gera disputas entre diferentes instâncias institucionais. Uma esfera de poder resiste a aplicar ou cumprir as exigências de outra. A prefeitura de São Paulo não fiscaliza as condições de segurança das escolas públicas estaduais, porque há uma controvérsia jurídica sobre se elas dependem de alvarás municipais. 

Preocupado com o risco aos alunos da rede pública, o promotor Carlos Alberto Amin Filho propôs um acordo para que as escolas fossem submetidas a inspeções. “A lei exige esses autos de vistoria”, diz Amin. “É um reconhecimento de que os edifícios respeitam as normas técnicas.” Não deu certo. Apenas 72 das 1.153 escolas estaduais na capital paulista têm certificado de vistoria dos Bombeiros. O conflito entre esferas de poder também mantém as lojas de aeroporto no limbo. 

A Constituição diz que a infraestrutura nos aeroportos é de competência da Infraero. Ela pode construir pistas de pouso sem a necessidade de uma licença municipal. Mas há uma polêmica: essa interpretação vale também para as lojas nos aeroportos? “Os fiscais da prefeitura visitam as lojas, exigem alvarás, dão multas, e a Infraero contesta”, diz Heloisa Uelze, advogada especializada em Direito Público. “Quem tem loja em aeroporto vive pedindo alvará à prefeitura. O documento nunca chega, mas o pedido serve para o lojista recorrer das multas.”

Como União, Estados e municípios têm autonomia para criar suas regras, sem compromisso de torná-las integradas ou, ao menos, coerentes, quem está sujeito a elas paga o preço de viver um inferno burocrático. “Só em normas tributárias, surgem mais de 30 por dia no Brasil, nos três níveis da Federação. Dá uma nova norma a mais por hora em todo o Brasil”, afirma Roberto Abdenur, presidente executivo do Etco, Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial. “Para lidar com a variedade e complexidade de regras, as empresas brasileiras têm departamentos de finanças seis vezes maiores que similares no exterior. Executivos estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil se espantam.”
 DILMA E O DILEMA A presidente Dilma Rousseff no estádio  Mané Garrincha, em junho. Se  o campo pode receber jogos, por que não  tem alvará ?  Se faltam análises para o alvará, por que recebe jogos? (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR )
DILMA E O DILEMA A presidente Dilma Rousseff no estádio  Mané Garrincha, em junho. Se  o campo pode receber jogos, por que não  tem alvará ?  Se faltam análises para o alvará, por que recebe jogos? 

DILMA E O DILEMA
A presidente Dilma Rousseff no estádio Mané Garrincha, em junho. Se o campo pode receber jogos, por que não tem alvará ? Se faltam análises para o alvará, por que recebe jogos? 

O emaranhado de instâncias e exigências faz do Brasil um dos piores lugares do mundo para empreender. No ranking Doing business 2014, do Banco Mundial, o país ocupa a 116ª posição, num total de 189 economias. Dos dez aspectos avaliados, em quatro, o Brasil tem mau desempenho por causa do excesso de burocracia na concessão de autorizações. “Regularizar um empreendimento no Brasil nem é tão caro, em comparação com outros países”, afirma Rita Ramalho, economista do Banco Mundial. 

“Mas são tantos documentos exigidos que o processo se torna complexo e demorado.” Segundo ela, regularizar uma obra no Brasil (os dados referem-se à cidade de São Paulo) requer 15 procedimentos e demora 400 dias – sete vezes o tempo da Colômbia. “Demora tanto que muitos construtores não esperam o alvará para começar a obra”, diz André Sacconato, diretor de pesquisa da Brain, organização do mercado financeiro dedicada a atrair investimentos para o Brasil. 

Potenciais inquilinos de prédios comerciais ficam, porém, reticentes em fazer investimentos sem a segurança da licença. “Metade dos shopping centers na cidade de São Paulo está irregular, e shoppings novos são inaugurados com lojas fechadas”, afirma João Baptista, diretor de franquias da lanchonete Rei do Mate. “Os comerciantes ficam com medo. E se depois o shopping não conseguir o habite-se? O cara vai investir R$ 350 mil numa loja e depois desistir, porque o shopping não conseguiu alvará?”

Os mesmos órgãos públicos que exigem o alvará são responsáveis pela demora na concessão. Em São Paulo, a equipe da prefeitura dedicada aos alvarás é pequena e pouco especializada. “A prefeitura de São Paulo tem 561 fiscais responsáveis por avaliar obras em propriedades privadas e em vias públicas, validade de licenças de funcionamento e invasões de áreas municipais – e só 18 arquitetos e engenheiros no trabalho interno, responsáveis por analisar pedidos de alvará”, diz Paula Maria Motta Lara, secretária municipal de Licenciamento. “No começo do semestre, o prefeito autorizou a contratação de mais engenheiros e arquitetos.”

Segundo Sacconato, da consultoria Brain, medidas simples poderão reduzir o tempo de regularização de uma obra de 400 dias para 90, até 2016. Até junho deste ano, obras de características e interesse público tão diversos quanto padarias e hospitais entravam numa mesma fila de aprovação. Eram fiscalizadas por uma única equipe da prefeitura de São Paulo – isso comprometia a qualidade e a rapidez da inspeção. 

Desde julho, os procedimentos de aprovação foram aperfeiçoados, com a criação de equipes específicas por setor. Isso deverá fazer a fila de obtenção de alvará andar mais rápido e reduzirá a demora para os empreendedores. Mas ainda é pouco. Segundo o Banco Mundial, abrir um negócio no Brasil leva 108 dias. Na Nova Zelândia, a mesma tarefa leva meio dia. Governos e governos já prometeram melhorar a situação, em vão. 

A promessa do momento é feita por uma agência da prefeitura paulistana criada neste ano, a São Paulo Negócios. Ela revisa a tramitação da abertura de empresas. Se o trabalho, ao contrário das promessas anteriores, der resultado, até o fim de 2014, o tempo médio para abrir um negócio com documentação em dia na cidade será de uma semana. 

E um terço dos negócios, os mais simples, será aberto em apenas um dia. Ainda estaremos longe da Nova Zelândia, mas mesmo esse objetivo parece ousadíssimo, dado o pantanal em que nos encontramos hoje. “Abrir um negócio toma tanto tempo que o alvará provisório é válido por dois anos”, diz Baptista, do Rei do Mate. “Muitos negócios fecham antes de receber o documento de abertura. É triste.”
 Não alvarás (Foto: ÉPOCA)

Não alvarás 

Demorada e sujeita a critérios subjetivos, a concessão de alvarás no Brasil é um convite à corrupção. O Índice de Percepção de Corrupção 2013, divulgado pela ONG Transparência Internacional, confirma a relação entre excesso de burocracia e corrupção. “Quanto mais caros e demorados são os trâmites de um país, mais frequentes são os casos de suborno”, afirma a economista Rita, do Banco Mundial. “O empresário pede um alvará, e a resposta leva seis, sete, nove meses para chegar. Imagine uma empresa parada esse tempo todo, pela falta de uma assinatura”, diz Vicente Bagnoli, presidente da Comissão da Concorrência e Regulação Econômica da OAB-SP. “Muitas vezes surgem os ‘vendedores de facilidades’.”

Implantados no Brasil pela Coroa Portuguesa, os alvarás servem agora a pequenos déspotas, encastelados em órgãos de fiscalização e expedição de documentos. Como se estivessem no Brasil Colônia, fiscais distribuem autorizações de utilidade discutível, em troca de obediência ou dinheiro. O achaque de fiscais é talvez a modalidade de corrupção mais difundida no país. 

“Um fiscal do município fechou meu estabelecimento porque eu não tinha um documento devido pela própria prefeitura”, afirma “Paulo”, um empresário de porte médio do Rio de Janeiro que pediu que seu nome fosse trocado por temer represálias. 

“Só para começar a defesa, meu advogado cobrou R$ 50 mil. Meus sócios e eu tivemos de vender o carro e pedir empréstimo. Dias depois, fomos convidados a um almoço de apoio à candidata do prefeito a sua sucessão. Passamos por uma fila de beija-mão, numa das situações mais horríveis da minha vida. Assinamos uma cartinha de apoio à candidata e, só então, nossa autorização saiu.”


O comportamento imperial de fiscais é apoiado por normas arcaicas. Inadequadas ao século XXI, as leis das maiores capitais do país dão margem à lentidão e à subjetividade de quem as interpreta. “Um dia, um fiscal disse que me autuaria por ter um bar com licença de restaurante”, diz “Paulo”. “Perguntei: ‘Como não é restaurante, se as pessoas comem sentadas em mesas?’. Ele respondeu: ‘Se as pessoas pedem a bebida antes da comida, então aqui é um bar’. 

Meu queixo caiu no chão. É medieval.” No Rio de Janeiro, os alvarás para atividade comercial são atrelados a uma lei de zoneamento urbano sancionada em 1976. “Os alvarás de casa noturna são concedidos apenas para uma área restrita da cidade”, diz “Paulo”. “Então a maioria das boates tem alvará de casa de festas. Como a casa de festas não pode cobrar entrada, o empresário aluga o espaço a um produtor, e ele pode vender ingressos. É o jogo do cinismo.”

DESVIO Luiz Alexandre Magalhães, fiscal da prefeitura, algemado. Ele confessou que participou do escândalo dos alvarás em São Paulo (Foto: Bruno Poletti/Folhapress)

DESVIO 
Luiz Alexandre Magalhães, fiscal da prefeitura, algemado. Ele confessou que participou do escândalo dos alvarás em São Paulo. 

Esse jogo do cinismo entre fiscais e comerciantes foi abalado pelo incêndio na boate Kiss, em janeiro. Em menos de um mês, fiscais da prefeitura do Rio e do Corpo de Bombeiros fecharam temporariamente 167 casas – entre elas, 50 centros culturais do Estado e do município. 

Os Bombeiros afirmam que, até outubro, vistoriaram 7.654 estabelecimentos e encontraram irregularidades em 4.925. Muito mais do que em 2012 inteiro, quando encontraram 1.179 irregularidades em 1.725 estabelecimentos. Logo surgiram denúncias contra os próprios órgãos de fiscalização.

Em fevereiro, o Ministério Público do Rio começou a investigar fiscais por corrupção, enriquecimento ilícito e improbidade administrativa. ÉPOCA teve acesso aos inquéritos. Os promotores investigam bombeiros suspeitos de manter empresas responsáveis por projetos de prevenção e combate a incêndios. 

Os bombeiros são acusados de encontrar problemas, como se fossem fiscais, para depois vender soluções, em empresas de projeto ligadas a eles. Em outubro, foram presos 25 agentes da Vigilância Sanitária do Rio, acusados de cobrar propina para não aplicar multas desnecessárias a empresários. 

Atuavam em bares, restaurantes, clínicas e, quando requisitados, faziam vista grossa para as irregularidades em estabelecimentos. A quadrilha arrecadava quase R$ 8 milhões ao ano. Em São Paulo, o Ministério Público investiga fiscais da prefeitura e funcionários da Secretaria de Finanças por fraude na cobrança de Imposto sobre Serviços (ISS), necessário à concessão do habite-se, de grandes construtoras. 

O grupo é suspeito de desviar cerca de R$ 500 milhões. No computador de um dos acusados, o auditor Luiz Alexandre Magalhães, o Ministério Público encontrou uma lista de recebimento de propinas de 22 empresas, cobradas para a liberação de 410 empreendimentos. 

A corrupção é ruim não apenas para a sociedade, ao distorcer as regras de disputa do mercado. É ruim também para os corruptores. Um estudo do Banco Mundial concluiu que empresas que pagam mais propina estão sujeitas a gastar mais tempo para administrar assuntos burocráticos e encaram um custo de capital mais alto. Burocratas corruptos não honram a confiança do Estado, nem a do empresário desonesto. Vendem facilidade, mas raramente garantem a qualidade do produto. 
A complicação leva à corrupção (Foto: ÉPOCA)
http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2013/12/o-pais-bdos-alvarasb.html

Mais uma etapa superada...