Vem pra
Papuda você também
Quem
enquadrará Agnelo, o amigo dos mensaleiros? Cadê as ONGs legalistas? O
congresso? O MP?
Delúbio Soares não pôde comemorar com a tradicional
feijoada de sábado na prisão a decisão final do Supremo Tribunal Federal (STF)
– livrando a quadrilha do crime de formação de quadrilha. O juiz Bruno Silva
Ribeiro, da Vara de Execuções Penais, advertiu o detento e cortou a feijoada.
Espera-se que o juiz Bruno tenha outro emprego em vista, porque todos sabem o
que acontece com quem mexe com alguém da ex-quadrilha. O vice-diretor do Centro
de Progressão Penitenciária, que mandou Delúbio cumprir as regras e tirar a
barba, foi encostado num depósito de veículos. Só não se sabe quem é que
enquadrará o dublê de governador do Distrito Federal e pombo-correio de
prisioneiros.
Inicialmente, Agnelo Queiroz até que tentou ser
discreto. Disse que estava numa inauguração próxima da Papuda e resolveu dar
uma esticada até o presídio, onde acabou esbarrando com José Dirceu – que, por
coincidência, residia lá. Questionado, disse que era governador e visitava quem
quisesse. Com o aumento dos questionamentos a esse encontro, por assim dizer,
exótico, o governador Agnelo rasgou a fantasia e declarou: “Vou continuar indo
à Papuda visitá-los. Vou, sim”.
Essa turma acha que o Brasil é trouxa. E está
coberta de razão. A questão central no julgamento do mensalão (que o Brasil
evidentemente não viu) era a ligação entre réus e governantes. Não era um filme
de época sobre um caso terrível de corrupção julgado em outro tempo. Quando
saiu a ordem de prisão de Dirceu, Lula disse a ele: “Estamos juntos”. Dirceu
até poderia ter respondido: “Então, vem pra Papuda você também”. Mas, como Lula
não sabia, talvez não entendesse a piada.
Em plena reta final do julgamento do STF, Dilma
Rousseff foi a um congresso do PT e participou, de braço erguido, de um ato em
apoio aos mensaleiros. Para quem perdeu o fio da meada: a presidente da
República foi se manifestar, em público, a favor de criminosos que roubaram o
país e já estavam condenados pela corte máxima por isso.
O Brasil, que achou sua dignidade no lixo, nem ligou.
Até as grades da Papuda sabem que Dirceu continua dando as cartas no PT. Em
outras palavras: a ex-quadrilha está no comando da política brasileira. É por
isso que um governador de Estado se presta, qual um vassalo, ao papel de
plantonista de presídio. Se não for por isso, Agnelo tem de se explicar. Ou
melhor: teria, se o Brasil ainda tivesse alguma instituição com um resto
daquilo que antigamente se chamava vergonha na cara.
Onde está a heroica e pirotécnica OAB? Há um
governador de Estado agindo com prepotência, por sobre instituições que
guarnecem o estado de direito, indo visitar companheiros de partido presos por
corrupção e flagrados com privilégios em área de jurisdição desse mesmo
governador. Delúbio, o tesoureiro mais famoso do Brasil, mesmo preso, mostrou
ser capaz de arrecadar milhões de reais em questão de dias. Chegou a ter
reunião na cadeia com ninguém menos que o presidente do Sindicato dos Agentes
Penitenciários, pré-candidato a deputado. Se fosse piada do Porta dos Fundos,
diriam que o roteirista exagerou.
Quem enquadrará Agnelo, o amigo de fé dos
mensaleiros? Onde estão as ONGs legalistas, que só servem para proteger black
blocs assassinos? Onde estão a banda boa do Congresso Nacional e os
procuradores intrépidos do Ministério Público? Ninguém interrogará formalmente
o governador do Distrito Federal sobre o motivo de suas visitas aos
correligionários criminosos? Ninguém suspeitará que esteja aí o flagrante da
relação entre os crimes do passado e a desastrosa administração atual do país –
repleta do mesmo parasitismo que originou o mensalão?
Ou já estariam todos devidamente domesticados, como
a UNE, o MST e pencas de associações de classe agraciadas com belos convênios?
Onde estará o respeitável senador Cristovam Buarque? Estará achando normalíssima
essa conexão palácio-presídio? Ou terá sido mais um a capitular ante a cara de
pau dos profissionais?
O Brasil resolveu achar que o julgamento do
mensalão foi uma revolução. Afinal, os chefes da ex-quadrilha passaram Natal,
Ano-Novo e Carnaval na cadeia. É a primeira vez na história que políticos são
punidos exemplarmente sem deixar o poder. Cada país tem a revolução que merece.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/guilherme-fiuza/noticia/2014/04/bvem-pra-papudab-voce-tambem.html