O que vem por aí
O ano está tão sério que resolvi
falar das coisas agradáveis que entrarão em nossa vida
O ano está tão sério, com tantas
acusações, escândalos e falta de esperança que resolvi falar simplesmente das
coisas agradáveis que entrarão em nossa vida. Moda e comportamento andam mais
vivos do que nunca. Ainda bem.
Skeleton – Juro, sou um dos primeiros
a seguir a tendência. Quando vi um relógio Skeleton, me apaixonei. A gente vê o
“esqueleto” do relógio, a engrenagem se movendo. A primeira grife a lançá-lo
foi a Cartier. A Roger Dubuis anuncia fantásticos modelos para este ano. Quando
boto o meu, os amigos babam de inveja. Envenenar a vida alheia é um dos motivos
principais de usar algo que ninguém tem. Em compensação, agora vivo rezando e
fazendo novena para Nossa Senhora do Cartão de Crédito. A conta cai em janeiro,
nem sei o que será.
Cores – Descobri faz algum tempo que,
quanto mais se envelhece, mais cor a gente deve usar. Bobagem essa história de
usar pretinho. Sei que a mítica editora e colunista da Vogue americana Diana
Vreeland disse: “Toda mulher tem de ter um pretinho no armário”. Mas isso é
coisa de americana que sai correndo do trabalho, pega o sapato de salto que
deixa guardado no escritório, nem toma banho e enfia um pretinho que trouxe na
mochila. E corre para teatro, coquetel etc.
Até os musicais em Nova York
começam às 19 horas. Sejamos sinceros: quanto mais anos a gente ganha, por
melhor que sejam a genética, o Botox e a plástica, nenhum de nós competirá com
quem tem 20. Mulheres que tentam fazer isso ficam parecidas com peixes, tal o
tamanho da boca e a pele esticada. Senhores como eu, já depois dos 60, deveriam
se conformar com trajes escuros. Mas não tenho a menor vocação para ficar com
cara de guarda-chuva.
Algumas grifes internacionais, como Ermenegildo Zegna e
Louis Vuitton, já perceberam isso. Fazem roupas coloridas para nós, homens
pavões. Quanto mais idade, mais cor. É meu conselho. Olhem em torno nos
aeroportos. Homens de calça cor-de-rosa ou verde, da Richards provavelmente, já
são vistos por aí. Tomarão conta da paisagem.
Caveiras – Aparecem em roupas, anéis
e, ultimamente, no mundo das artes plásticas. Talvez a humanidade esteja
tomando consciência, como Hamlet, de que o futuro não é incerto. Mas certo.
Todos seremos, no máximo, um resto arqueológico, exposto nalgum museu daqui a
milênios, como uma espécie desaparecida da face da Terra. Botar uma caveira em
casa é seguir uma sólida tendência artística. Desde que não seja a da mulher ou
do marido, mesmo que em alguns momentos desperte um desejo incrível de esganar.
Insetos gourmets – Alex Atala já
lançou a formiga como um dos pratos mais festejados de seu restaurante, D.O.M.,
considerado um dos melhores do mundo. Formigas de vários tipos são encontradas
em cardápios de outros restaurantes. Daqui a pouco tempo, outro inseto começará
a competir pelo nosso paladar. ÉPOCA já até pôs um gafanhoto comestível na
capa. Fritos? Devem ficar bem crocantes.
Segundo dizem, a capacidade de
fornecer proteínas é bem maior nos insetos que no gado. Falta vencer o nojo
atávico. Nem consigo imaginar um espaguete ao molho de moscas. Ou ir ao
supermercado e pedir 100 gramas de mosquitos. Fala-se na criação de uma farinha
à base de insetos. Comeríamos sem ver. Sabendo, sem sentir. No truque.
Falsidade orgânica – Cada vez se fala
mais em comida orgânica, como algo melhor para a humanidade. Há quem defenda
que ela deveria substituir a que conhecemos, à base de agrotóxicos e outros
mimos para a saúde. Como toda postura politicamente correta, essa também parte
de uma mentira. É impossível produzir alimentos para todo o planeta sem adubos
químicos, inseticidas etc. A tendência? A mesma de sempre: continuaremos
comendo produtos com agrotóxicos e, de vez em quando, compraremos um pé de
alface orgânico para aliviar a consciência.
Detox – Passei o ano em detox e
deverei continuar assim no próximo. Cada vez mais surgem dietas, livros,
empresas que fornecem marmitinhas para detox, e todo um aparato para
tranquilizar nossa consciência. Aí saímos, bebemos, nos fartamos de sobremesa.
E nos prometemos voltar ao detox.
A palavra estará, portanto, mais presente em
nosso vocabulário.
Arte brasileira – Ela ganha espaço no
mercado internacional. Já é fato. Depois de Adriana Varejão e os gêmeos, aposto
em Luiz Zerbini. Ele acontece cada vez mais. Ainda bem. Tenho duas obras dele.
Se vier mesmo a crise de que se fala, já tenho onde faturar uns cobres.
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