segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cultura...

Darcy Ribeiro e o povo brasileiro

Darcy Ribeiro, "homem de fé e de partido", como confessou, talvez um dos mais eminentes intelectuais-políticos do Brasil do após-guerra, ativista da cultura, fundador de universidades, antropólogo de fama, teve reconhecimento internacional: Doutor Honoris Causa pela Sorbone. 

Um tanto antes de falecer, em fevereiro de 1997, deixou uma esmerada síntese sobre a diversidade geo-étnica da população brasileira no seu ensaio histórico-antropológico intitulado O Povo Brasileiro, editado em 1995. Viu o país-continente fortemente empenhado "na construção de uma civilização original: tropical, mestiça e humanista". Uma "Nova Roma" como gostava de dizer.

Antropologia geral
A obra de Darcy Ribeiro pertence a uma geração de antropólogos pós-coloniais. Os que, pós-Segunda Guerra Mundial, desejavam romper com a antropologia eurocêntrica que via os habitantes de outros continentes mais atrasados como naturalmente inferiores, vocacionados para servir mais do que para mandar, sendo desqualificados para conduzir o autogoverno.

Ao mesmo tempo, ele lançou-se à obra de fazer inclinar o interesse pelas coisas do Brasil em favor do povo comum que compõe esta imensa população miscigenada e muito pobre que se abriga no país-continente.

No fluxo da época, aquela geração posicionava-se de uma maneira crítica no tocante à politica das metrópoles colonialistas, apontando sistematicamente seus defeitos e violações. Bem ao contrário dos historiadores e ensaístas brasileiros-lusitanistas das épocas anteriores.

Em oposição a Gilberto Freyre (a quem ele não deixou de devotar admiração apesar de lusófilo assumido, que viu a nação brasileira de cima do olhar do patriciado nordestino, particularmente do Pernambucano - Casa Grande e Senzala, 1933), Darcy esmerou-se em destacar o crioulo, o indígena, o caboclo, o vaqueiro, o matuto, o caipira, e tanta gente mais. 

Esforçou-se a realçar, desde os tempos coloniais (1500-1822), a modesta dignidade destes e sua contribuição na construção do país-nação. O livro dele, como Darcy Ribeiro abertamente confessou, não é um tratado acadêmico, mas procura a polêmica e a denúncia. É lavra de um intelectual engajado nas lutas políticas e sociais do seu país.

A sociedade brasileira na colônia e império
A dualidade da sociedade brasileira, resultado da expansão ultramarina lusitana do século 16, dava-se em dois sentidos: na relação do reinol contra os nativos (as centenas e centenas de tribos que habitavam o Brasil dos 1500), a quem a gente portuguesa tratou de submeter e reduzir à escravidão e, quase que simultaneamente, na fundação de uma unidade produtiva açucareira marcada pela relação do senhor de engenho frente aos escravos africanos.

Nesta gigantesca obra de conquista e dominação que se estendeu por mais de três séculos e meio, os reinóis contaram não somente com o suporte da Corte portuguesa como também com a chegada de diversas ordens religiosas (com destaque para a Companhia de Jesus) que vieram missionadas para a catequese dos nativos e dos escravos.

Como integrante da intelectualidade esquerdista que foi fortemente influenciada pelo marxismo (Evolução Política do Brasil, de Caio Prado Junior, de 1933) e pelo nacional-populismo (Getulismo, 1930-1954), Darcy Ribeiro voltou-se para a denúncia da exploração do Brasil Colônia e a sua continuidade no Império e República.

No topo, no mando de tudo, estava o patriciado formado por descendentes de lusitanos (donos de terra, traficantes de escravos, comerciantes, altos burocratas). Na base, uma multidão de miseráveis ou semimiseráveis formada por negros, mestiços ou brancos paupérrimos que "viviam por favor" nas bordas das propriedades.

A grande mácula do país, entre tantas mais, havia sido a política de não integração da massa amestiçada no processo de cidadania. O brasileiro pobre e racialmente miscigenado passou a ter uma vida à margem do restante da sociedade urbana, habitando malocas nas periferias, favelas no alto dos morros cariocas, choupanas de palha em vilarejos miseráveis por todo interior do país. Situação que está longe, muito longe de vir a ser atenuada algum dia.

A chave para a explicação da abismal desigualdade de classes no Brasil residia numa palavra: exploração. A histórica: da metrópole sobre a colônia; e a social: a do senhor sobre o escravo e, após a abolição, da elite sobre o povo em geral.

Cedendo às teses eco-marxistas e ambientalistas que então começaram a espocar, o autor vê o processo de colonização praticamente como um ato de depredação da natureza e rapinagem das riquezas e dos nativos. "Desmontam morrarias incomensuráveis (devastação da floresta atlântica e dos picos de Minas Gerais). Erodem e arrasam terras sem conta. Gastam gente em milhões". Nesta enorme operação destrutiva, em meio a intensas transformações, apenas a classe dominante "permaneceu igual a si mesma exercendo sua interminável hegemonia" (pág. 69).

O destino do Brasil Colônia já havia sido traçado de modo irrevogável três séculos antes pelo Padre Antonil (Cultura e opulência do Brasil, 1711), determinando que sua "vocação", por assim dizer, era exportar seus produtos primários, principalmente aqueles forjados nos engenhos, os quais ele detalhadamente estudou.

A Independência, obtida em 1822, não significou a emancipação da mão de obra escravizada espalhada pelos eitos, aldeias e cidades. Ao contrário, o fluxo do tráfico negreiro se estendeu ainda até 1850 (lei Eusébio de Queirós) e a manumissão só foi alcançada em 13 de maio de 1888. Enquanto a Grã-Bretanha tratava de ampliar a introdução do maquinário movido por fornalhas a carvão, no Brasil queimava-se "carvão humano" em "moinhos de gastar gente".

O Brasil foi o maior império escravista do Mundo Ocidental em todos os tempos
Escravidão e imigração
A exploração nefanda durou mais de 350 anos no Brasil, provavelmente mais tempo do que durante o império romano, superando-o em número de escravos e em área dedicada ao trabalho servil. Neste sentido, o país foi o maior império escravista do Mundo Ocidental em todos os tempos.

A chegada dos imigrantes europeus que vieram substituir os escravos acentuou ainda mais a marginalização do "brasileiro", isto é, a "gente parda". Daí Darcy Ribeiro, sem desconsiderar sua importância, não se mostra um entusiasta do translado dos "brancarrões" vindos da Europa, pois eles aprofundavam o desinteresse pela massa mestiça, mais pobre e mais abandonada.

As atenções governamentais do império e da república se voltaram para atender as precisões dos recém-desembarcados (subvenção de passagens, entrega de terras, ferramentais e sementes etc.). As costas das autoridades voltaram-se ostensivamente contra os seus(*).

(*)
As motivações iniciais para a atração da imigração europeia a fim de povoar áreas remotas e vazias do território brasileiro (alemães e italianos no sul do país) foi feita com diversas intenções: a primeira delas era a substituição da mão de obra escrava pela mão de obra colonial ou mesmo assalariada para que o setor produtivo, particularmente o café, não viesse a ser prejudicado. A isto se somou a doutrina racista do branqueamento da população, constituída em sua maioria de mestiços.

A formação de uma classe média dotada de tecnologia de pequena escala, na forma de artesãos, profissionais mestres (ferreiros, carpinteiros, marceneiros, moveleiros, moleiros, construtores etc.).

Nos começos, era o próprio imigrante quem assumia os gastos do translado para o Brasil, mas, desde 1882, em vista da crescente concorrência com a Argentina é que foi adotada a imigração subvencionada pelo governo.

O que é o brasileiro
O brasileiro de hoje é produto de três etnias que foram gradativamente perdendo a identidade, afastando-se das suas raízes. O nativo se desindianizou, o negro se desafricanizou e o branco se deseuropeurizou, gestando o que ele denominou de PROTOCÉLULA ÉTNICA NEOBRASILEIRA.

Para Darcy Ribeiro, isto é um sinal evidente que neste subcontinente, racial e culturalmente desbastado, apesar de tudo, se gestou um novo tipo de civilização: a Civilização Tropical Brasileira (que, segundo Gilberto Freyre, era o grande legado da colonização lusitana), distante da cultura nativa aqui existente antes da conquista e mais afastada ainda da civilização europeia, apesar de importar sistematicamente tudo que surgia por lá. Como afirmou Simon Bolívar em certa ocasião: "não somos índios nem europeus".

Trata-se de algo singular, entre outras razões, porque é uma civilização calcada na intensa miscigenação das etnias. O país-nação em formação é um caldeirão de raças que convivem em relativa harmonia, mas está longe de ser uma "democracia racial" como exaltou Gilberto Freyre. Ainda que exista preconceito por parte dos brancos, jamais alcançou a violência do ódio racial facilmente constatado na história dos Estados Unidos. Todavia, esta "paz racial" bem pouco contribuiu para minimizar o abismo social que aparta os ricos dos pobres, como qualquer levantamento estatístico confere e a própria vista das cidades brasileiras demonstra.

No momento de explicar quais motivos levaram o Brasil a empacar depois de ter sido na época do açúcar e do ouro (1620-1820) uma das maiores do mundo, enquanto a modesta América do Norte tornava-se uma potência econômica e depois mundial, Darcy Ribeiro reduz tudo ao fato de haver liberdade geral nos Estados Unidos, ao menos depois da Guerra de Secessão (1861-1865), enquanto por aqui se vivia sob o escravagismo. O que fez com que o país somasse apenas 10% do PIB norte- americano no transcorrer do século 19.

Enquanto lá, usando a linguagem de hoje, difundia-se o empreendedorismo, o que proporcionava que cada homem ou mulher - pelo menos entre os brancos vindos em massa da Europa - tivesse a mais ampla autonomia para tocar a sua vida e decidir seus negócios (rurais ou urbanos) por si mesmos. No Brasil, tal situação era prerrogativa de poucos - "os homens livres da ordem escravocrata" -, e geralmente subordinada a serviço dos poderosos (*). Assim, Darcy Ribeiro contorna as explicações raciais e de ordem cultural e afirma o primado marxista da exploração do homem pelo homem abertamente praticada no Brasil.

(*) HOMENS LIVRES NA ORDEM ESCRAVOCRATA
Tese de 1964, foi um ensaio inovador da historiadora Maria Sylvia Carvalho Franco. Tendo por base a exploração cafeeira do Vale do Paraíba, procurou deslocar a atenção à historiografia nacional do enfoque do sistema "latifúndio-monocultura-escravidão" para aquela miuçalha de gente mestiça ou branca pobre, mas laboriosa que vivia nas bordas das propriedades e vilarejos. O que gerou "uma formação sui generis de homens livres e expropriados, que não foram integrados à produção mercantil - destituído de propriedade dos meios de produção, mas não de sua posse" (pag. 14). Era composta por "sitiantes, vendeiros, tropeiros e diversas outras categorias de homens livres, que não tinham a propriedade da terra, mas o direito de uso, e que ocupassem o espaço para suprir as necessidades da vizinhança com alimentos, animais para transporte, etc.".

Esta preocupação teve seguimento com os trabalhos de Jorge Caldeira em seu intento em enfocar a atenção nos "empreendedores" que desde os tempos colônias começam a formar o mercado interno e a expandir a economia brasileira para outras direções (ver A Nação Mercantilista e História do Brasil com empreendedores).

Caldeira inclina-se pela ênfase naqueles homens livres com iniciativa que são colocados no "centro da história do Brasil colonial, focando naquele que abandona a tradição e sociedade nativa e busca o enriquecimento. Essa figura, ligada à produção independente e à pequena propriedade, produziu uma economia dinâmica, que crescia em taxas mais elevadas que a da Metrópole - mesmo tendo de lutar contra a ação do governo. Resultado: a economia brasileira, em 1800, era maior que a de Portugal".

Arcaico e Moderno
Antes de se lançar na classificação dos diversos brasis, Darcy Ribeiro atenta para outro tipo de luta que não se liga diretamente ao conflito entre senhores e seus dependentes e que esteve presente sistematicamente na maioria dos debates ideológicos e políticos do Brasil. Aquele que envolve a presença do ARCAISMO sempre em guerra defensiva contra o MODERNISMO ou o PROGRESSISMO, que em geral está circunscrito à elite política e intelectual.

Como de fato o país nunca conseguiu livrar-se da presença do patriciado, particularmente do de origem rural - que sempre ocupou e continua ocupando posições estratégicas no Estado e na burocracia -, a modernidade, para vingar, tem sempre de lutar vigorosamente para poder se impor. Nem as leis eleitorais, nem as econômicas, nem as leis previdenciárias e sociais foram obtidas sem fazer enormes concessões ao mundo arcaico.

Trata-se de um peso morto, de um lastro muito pesado que impede o país de decolar, daí Darcy Ribeiro e parte dos intelectuais seus contemporâneos terem crescente simpatia por uma revolução social como a única capaz de superar o contraste entre o arcaico e o moderno.

Certamente, jamais esperaram que a modernidade pudesse vir a ser imposta pela aliança entre o público (governo militar) a o privado (o empresariado brasileiro e as multinacionais), hegemônica a partir do Golpe de 1964, ao tempo em que mantinha e reforçava o arcaico (Estados de tradição oligárquica viram-se super-representados, enquanto que os mais avançados foram despojados de representação proporcional) (*).

(*) Um dos melhores ensaios sobre o relacionamento entre os militares conspiradores e os representantes das federações patronais (unidos no IPES) continua sendo o de René Dreyfuss: 1964, a conquista do Estado, de 1981.

Entendendo...

Consciência

Em sentido psicológico, a consciência é a percepção do eu por si mesmo.

A palavra consciência vem do latim conscientia: conhecimento de algo partilhado com alguém.

O termo “consciência” tem, em português, pelo menos dois sentidos, descoberta ou reconhecimento de algo, quer de algo exterior, como um objeto, uma realidade, uma situação etc., quer de algo interior, como as modificações sofridas pelo próprio eu, conhecimento do bem e do mal.

O primeiro sentido de consciência pode desdobrar-se noutros sentidos: o psicológico, o epistemológico e o metafísico. Em sentido psicológico, a consciência é a percepção do eu por si mesmo, este é o conceito mais conhecido. Em sentido epistemológico, a consciência é primeiramente o sujeito do conhecimento. Em termos metafísicos, chamamos muitas vezes à consciência o Eu.

A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações tais como subjetividade, autoconsciência e a capacidade de perceber a relação entre si e o outro.

Alguns filósofos dividem consciência em:

1. Consciência fenomenal, que é a experiência propriamente dita, é o estado de estar ciente, assim como dizemos "estou ciente" e consciente de algo, tal como quando dizemos "estou ciente destas palavras", e

2. consciência de acesso, que é o processamento das coisas que vivenciamos durante a experiência.

Consciência é uma qualidade psíquica, isto é, que pertence à esfera da psique humana, por isso diz-se também que ela é um atributo do espírito, da mente ou do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam parte.


Curiosidade...

Por que os morcegos ficam de cabeça para baixo?

O morcego é o único mamífero que tem a capacidade de voar. O animal possui hábitos noturnos; durante o dia, passa o tempo pendurado de cabeça para baixo em alguma caverna, ponte ou outro lugar escuro. O principal motivo pelo qual os morcegos ficam nessa posição é que, desta forma, se encontram em uma posição ideal para alçar voo.

Os morcegos não conseguem se lançar no ar como as aves; o animal necessita se lançar de um lugar alto para poder voar. Por isso, eles usam suas garras para subir nos tetos das cavernas, por exemplo, porque caso necessite sair voando, ele já está na posição ideal.

Ficar pendurado de cabeça para baixo também é uma boa maneira de se esconder de pássaros predadores, além de existir pouca competição para conseguir esses locais de abrigo. Esses animais possuem adaptações fisiológicas que os permitem ficar pendurados sem nenhum esforço. Outro aspecto importante é que suas artérias e veias fazem com que o sangue circule para cima, mesmo quando estiverem de cabeça para baixo.

Piada...

 
Doutor, como eu faço para emagrecer? Basta a senhora mover a cabeça da esquerda para a direita e da direita para a esquerda. Quantas vezes, doutor? Todas as vezes que lhe oferecerem comida.

Devanear...

Leia um trecho erótico do livro "Cretina Irresistível", da autora Christina Lauren

Chloe e Bennet brigaram, mas acabaram fazendo as pazes. E bom, dizem que o melhor sexo é o da reconciliação. Será?

Perdi o raciocínio enquanto observava cada parte de seu rosto: os olhos concentrados, os lábios macios apertados enquanto prestava atenção, a pele suave. E, é claro, deixei meu olhar cair em direção aos seios, pois ela usava uma blusa apertada e… meu Deus.

- Você está olhando meus peitos?

- Sim.

- Você usou o bat-sinal pra ficar olhando os meus peitos?

- Sossega, nervosinha. Usei o bat-sinal porque estou com saudade de você.

Seus braços caíram para os lados e começaram a arrumar nervosamente a blusa.

- Como pode estar com saudade? Dormi na sua casa ontem.

- Eu sei - conhecia esse lado dela. Sempre tentando se preservar.

- E passamos o fim de semana inteiro juntos.

- Sim. Você e eu… e a Julia. E o Scot. E o Henry. E a Mina. Não ficamos sozinhos. Não tanto quanto esperávamos.

Chloe virou a cabeça e olhou para a janela. Pela primeira vez em semanas, tínhamos um perfeito dia de sol, e eu queria ir lá fora com ela e… apenas sentar em algum lugar.

- Ultimamente eu tenho sentido saudades de você o tempo inteiro - ela sussurrou.

O nó em meu peito se afrouxou um pouco.

- É mesmo?

Confirmando, ela se virou para mim.

- Sua agenda de viagens está uma droga - ela se aproximou e ergueu uma sobrancelha. - E você não me deu um beijo de despedida hoje de manhã.

- Na verdade, dei sim - eu disse, sorrindo. - Você ainda estava dormindo.

- Isso não conta.

- Você está procurando uma discussão, srta. Mills?

Ela deu de ombros, tentando esconder um sorriso enquanto estudava cuidadosamente minha expressão.

- Nós podemos pular a briga e você pode simplesmente chupar o meu pau por uns dez minutos.

Sem hesitar, ela se aproximou e passou os braços ao meu redor, esticando o corpo para mergulhar o rosto em meu pescoço.

- Eu te amo - ela sussurrou. - E amei você ter enviado o bat-sinal só porque estava com saudades.

Fiquei sem palavras, provavelmente por tempo demais, até que finalmente consegui balbuciar:

- Eu também te amo.

Não é que Chloe não fosse expressiva; ela era sim. Quando ficávamos sozinhos, ela era - fisicamente - a mulher mais expressiva que já conheci. Mas, embora eu frequentemente expressasse meus sentimentos, eu podia contar nos dedos as vezes em que ela pronunciou as palavras “eu te amo”. Eu não precisava que ela falasse mais; porém, a cada vez que dizia, isso me afetava de um jeito mais profundo do que eu esperava.

- Mas, falando sério - sussurrei, lutando para me recompor. - Talvez eu só precise de uma rapidinha em cima da mesa.

Ela riu, balançando a cabeça em meu pescoço e levando a mão até meu pau. Esse jogo eu conhecia, e era perfeitamente possível que ela fizesse algo ameaçador, que iria me excitar na mesma medida que me aterrorizava. Mas, em vez de me encarar com perigo nos olhos, ela virou a cabeça para chupar meu pescoço e sussurrou:

- Não posso ir na reunião com o Douglas cheirando a sexo.

- Você acha que não está sempre cheirando a sexo?

- Nem sempre eu tenho o seu cheiro - ela esclareceu, antes de lamber meu pescoço.

- Isso é o que você pensa.

Fazia muito tempo desde a última vez que transamos no escritório e eu já não aguentava mais o desejo de possuí-la. Eu queria rasgar minha calça e arrancar a camisa dela cintura acima, depois arruinar as pilhas de papéis em minha mesa, jogando Chloe por cima de tudo.

Felizmente para mim, ela começou a descer, beijando meu queixo até o pescoço, depois deslizou por meu corpo até o chão, subindo levemente a saia, de um jeito quase inocente, para se ajoelhar na minha frente.

Mas não… uma vez no chão, ela continuou subindo a saia até chegar à cintura. Com uma mão, ela se tocou entre as pernas; com a outra, abriu rapidamente meu cinto e o zíper. Fechei os olhos, precisando acalmar minha mente enquanto ela me libertava e, sem hesitar, tomava meu pau em sua boca. Meu pau estava quase totalmente ereto e, com seu toque, cresceu ainda mais. Uma sucção quente e molhada desceu e subiu, mais forte da segunda vez, enquanto ela se ajustava à sensação de me ter em sua boca.

Senti sua respiração acelerar em rápidas lufadas em meu umbigo, e podia ouvir o som de seus dedos se movendo em si mesma.

- Você está se tocando?

Sua cabeça se ajeitou levemente quando ela confirmou.

- Você já estava molhada por minha causa?

Ela parou por um segundo, e então levantou a mão acima da cabeça. Eu me inclinei e chupei dois dedos dela. Fui consumido pela percepção tão clara do quanto ela queria aquilo. Eu sabia por experiência própria qual era seu sabor antes de estar realmente pronta para mim – por exemplo, quando eu chegava tarde em casa e a surpreendia, em seu sono, com minha boca. E sabia que tinha um sabor muito diferente depois de provocarmos um ao outro por quase uma eternidade. Agora, em seus dedos, eu sentia sua excitação máxima, e isso fez minha cabeça girar. Desde quando ela estava esperando por isso? O dia todo? Desde que saí, hoje de manhã? Mas ela não me deixou pensar muito, levou a mão de volta para o espaço oculto no meio de suas pernas.

Observei sua cabeça se movendo e seus lábios deslizando sobre mim. Tentei me concentrar nisso para me acalmar. Mas, mesmo quando sua boca estava em mim, ou quando eu estava dentro dela, eu sempre queria mais. Era impossível possuí-la de todas as maneiras ao mesmo tempo, mas isso nunca me impediu de imaginar um furacão de posições e gemidos, minhas mãos em seus cabelos e em sua cintura, meus dedos em sua boca e também entre suas pernas, agarrando suas coxas.

Quando eu passava as mãos em seus cabelos ela sabia que eu queria mais rápido, e quando minha cintura começava a se mover, ela sabia que não deveria provocar, nem mesmo um pouco. Pelo menos, não quando ela tinha uma reunião logo em seguida. Em um pensamento súbito, lembrei que meu escritório não estava trancado; Chloe entrara pensando que iríamos conversar sobre o trabalho. A porta da recepção estava fechada, mas também não estava trancada.

- Oh, merda - murmurei. Por algum motivo, a ideia de que poderíamos ser flagrados deixou tudo ainda mais excitante.

- Chloe… - sem mais aviso, um orgasmo desceu por minhas costas, eletrizante e ardente, e tão intenso que deixou minhas pernas bambas e meus punhos agarrando seus cabelos. Ela se arqueou com meu puxão, seu braço se movendo rapidamente enquanto tocava a si mesma, fazendo os sons de seu próprio prazer me atingirem, abafados.

Olhando para baixo, percebi que ela estava observando minha reação… é claro que estava. Seus olhos se arregalaram e mostravam uma doçura - ela parecia fascinada. Tenho certeza de que sua expressão era exatamente igual à que eu fazia toda vez que a via gozar com meu toque. 

Após uma pausa para recuperar o fôlego, eu saí de sua boca e me ajoelhei no chão de frente para ela, levando minha mão para encontrar a dela no meio de suas pernas. Ela se ajeitou e deixou meus dedos tomarem o controle. Deslizei dois para dentro, entrando fundo e de uma vez, e ela quase tombou para trás, seu corpo se apertando em mim. Usei minha outra mão para apoiá-la e beijei seus lábios, gemendo ao sentir que eles estavam um pouco vermelhos, um pouco inchados.

- Estou quase lá - ela disse, passando o braço livre ao redor do meu pescoço.

- Eu gosto dessa sua necessidade de me avisar disso.

Eu imaginava que um dia meu toque se tornasse familiar demais para ela, ou que minha técnica se tornasse cansativa, mas cada vez que meu polegar raspava e pressionava seu clitóris ela parecia ter uma sensação mais intensa do que antes.

- Mais um - ela sussurrou quase sem voz. - Por favor, eu quero…

Ela não terminou o pensamento. E nem precisava. Enfiei três dedos e fiquei olhando enquanto sua cabeça caía para trás, com os lábios separados e o som rouco e silencioso de seu orgasmo quase abafado reverberando por seu corpo. Por alguns segundos, ficamos abraçados enquanto eu respirava em seus cabelos, tentando imaginar que estávamos em outro lugar, talvez em minha sala de estar ou no meu quarto, certamente não no chão do meu escritório de porta destrancada.

Parecendo se lembrar disso ao mesmo tempo que eu, Chloe subiu sua calcinha e baixou a saia no lugar, depois tomou minha mão para eu levantá-la. Como de costume, fui atingido pelo silêncio ao redor, e imaginei se éramos mesmo tão discretos como pensávamos.

Ela olhou ao redor, ainda um pouco fora do ar, e deu um sorriso preguiçoso.

- Agora vai ser ainda mais difícil ficar acordada na reunião.

- Não estou nem aí - eu murmurei, abaixando para beijar seu pescoço.

Quando me endireitei, ela se virou e entrou no meu lavabo, subindo as mangas da blusa para lavar as mãos. Eu me aproximei, pressionando meu peito em suas costas, e coloquei minhas mãos debaixo da água com as dela. O sabonete deslizou entre nossos dedos e ela pousou a cabeça para trás em meu peito. Eu queria passar uma hora tirando seu cheiro de nossos dedos, apenas para poder ficar nessa posição.

- Vamos passar a noite no seu apartamento? - perguntei. Sempre era uma decisão difícil. Minha cama era melhor para brincarmos, mas sua cozinha era mais abastecida.

Ela desligou a água e levou as mãos até a toalha.

- Sua casa. Tenho que lavar roupas.

- Quem disse que o romantismo não existe mais… - também usei a toalha e a beijei novamente. Ela manteve a boca fechada e os olhos abertos, e eu me afastei um pouco.

Viva o vandalismo...


A demonização da polícia e a romantização dos arruaceiros

A qualquer deslize, o aparato de segurança é tratado como vilão, enquanto os malfeitores são vitimizados pela mídia
NAS RUAS Protesto contra o Mundial em São Paulo, no  dia 25. Episódios de violência preocupam o governo federal (Foto: Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress) 
NAS RUAS Protesto contra o Mundial em São Paulo, no dia 25, virou baderna e levou a polícia a agir para conter violência.

Em tempos de rolezinhos, black blocs e quetais, é estranho, muito estranho, que a polícia esteja sempre na berlinda. Em vez de a mídia focar a cobertura nos malfeitores e em suas ações, tornou-se algo corriqueiro condenar a atuação da polícia, que age para proteger a população e o patrimônio público e privado.

Quem me conhece sabe que estou longe de ser um defensor da truculência policial. Se alguém procurar, não vai achar nada em minha biografia ou nos artigos e reportagens que escrevi em trinta anos de trabalho como jornalista em que eu faça a apologia do Estado policial ou defenda a violência das forças de segurança.  

Ao contrário. Sempre apoiei – e continuo a apoiar – o respeito aos direitos humanos em qualquer circunstância, inclusive o dos bandidos e o dos presos, e o tratamento igualitário dos cidadãos pela polícia, independentemente de raça, cor e opção sexual de cada um.

Isso não significa que, para mim, a polícia seja um mal por definição, como acreditam muitos radicais e anarquistas da linha de Mikhail Bakunin, o fundador do “anarquismo social”, que estão à solta por aí. 

Eu acredito que a polícia e o aparato repressivo do Estado existem (e devem existir) para oferecer segurança, garantir os direitos dos cidadãos e proteger a propriedade pública e privada, de acordo com a Constituição e as leis ordinárias do país. Sempre que haja qualquer ameaça aos direitos de qualquer cidadão, ainda que seja o mero direito ao silêncio contra um pancadão na madrugada, o Estado e a polícia devem agir prontamente, com a força exigida em cada situação.

Ouso dizer, sob o risco de ser achincalhado pela turba ignara que prolifera nas redes sociais, que, em São Paulo e em outros estados do país, a polícia tem alcançado, de maneira geral, resultados razoáveis. 

Apesar da existência de problemas pontuais, parece inegável que, nos últimos anos, houve um tremendo progresso na repressão ao crime organizado, especialmente em São Paulo e no Rio. Houve também um grande progresso no respeito aos direitos humanos por parte da polícia desde a redemocratização do país, nos anos 1980.

É certo que, no Brasil, a polícia ainda está muito longe da perfeição. Está sujeita a erros individuais ou coletivos da mesma forma que qualquer cidadão ou categoria profissional, como mostra o caso do manifestante que levou um tiro da polícia ao participar de um protesto em São Paulo contra a realização da Copa do Mundo, no dia do aniversário da cidade. 

Embora pareça inverossímil que vários policiais estivessem perseguindo um manifestante que só havia gritado palavras de ordem contra a Copa, também é difícil explicar que, naquele contexto, eles tenham atirado a queima roupa, ainda que o sujeito estivesse com um estilete afiado na mão.

Muitos analistas de gabinete viram na reação dos policiais uma expressão do despreparo da polícia para lidar com grupos de baderneiros e grandes manifestações. Segundo esse pessoal, a polícia paulista estaria anos-luz atrás das polícias de países desenvolvidos. 

Esta visão, porém, não parece fundamentada na realidade.  Mesmo na Europa e nos Estados Unidos, onde a polícia é tida como mais preparada, há casos escabrosos de erros policiais, iguais ou piores do que o cometido pela polícia de São Paulo no final de janeiro.

Na Inglaterra, por exemplo, o brasileiro Jean Charles de Menezes foi morto em 2005 por um erro grosseiro da respeitadíssima Scotland Yard. Na Austrália, a polícia é acusada de ter provocado a morte do brasileiro Roberto Curti, de 21 anos, com choques elétricos, em 2012.  Nos Estados Unidos, o afroamericano Rodney King, foi brutalmente espancado pela polícia em 1991, depois de uma perseguição por roubo. 

Na França, o General De Gaulle, então presidente do país, reagiu com mão pesada contra as manifestações estudantis que transformaram Paris numa praça de guerra, nos idos de 1968.

Erros policiais podem acontecer em qualquer lugar, mas não devem ofuscar os acertos, nem colocar em xeque a ação da polícia como um todo. A violência policial também pode ocorrer em qualquer país e quase sempre é mais que justificada, por mais que isso deixe estarrecidos os críticos da gauche tropical (ou esquerda caviar, como preferem alguns).

Por tudo isso, não parece fazer sentido que, no Brasil, a mídia dê eco aos que acusam a polícia de ser a sempre a grande vilã e trate os baderneiros como vítimas indefesas, romantizando suas ações. Não faz sentido também tratar as afirmações de um ativista aguerrido (para dizer o mínimo) como verdade absoluta, enquanto as explicações da polícia são questionadas de forma implacável. 

Seria mais ou menos como perguntar ao Fernandinho Beira- Mar, um dos maiores traficantes do país, preso desde 2002, o que ele acha de ficar na solitária, e depois publicar sua resposta em manchete, malhando os policiais que o prenderam por tê-lo algemado em público. 

O triste, hoje, é que há diversos veículos de comunicação com fama de sérios fazendo esse tipo de jornalismo descabido. No final, quem paga o pato é a polícia. Além de ter de lidar com os arruaceiros, ela ainda leva a fama de incompetente e despreparada.

Miopia governamental...



O alegre rolezinho dos hipócritas

A ministra Maria do Rosário deve trocar seus óculos num shopping ocupado pelo rolezinho

Os brasileiros, esses crédulos, achavam que o governo popular parasitário do PT jamais alcançaria os padrões de cara de pau do chavismo. Quando o governo venezuelano explicou que estava faltando papel higiênico no país porque o povo estava comendo mais, os brasileiros pensaram: não, a esse nível de ofensa à inteligência nacional os petistas não vão chegar. Mas o Brasil subestimou a capacidade de empulhação do consórcio Lula-Dilma. E o fenômeno dos rolezinhos veio mostrar que o céu é o limite para a demagogia dos oprimidos profissionais.

A parte não anestesiada do Brasil está brincando de achar que o populismo vampiresco do PT não faz tão mal assim. E dessa forma permite que a presidente da República passe o ano inteiro convocando cadeia obrigatória de rádio e TV. Como no mais tosco chavismo, Dilma governa lendo teleprompter. Fala diretamente ao povo, recitando os contos de fadas que o Estado-Maior do marketing petista redige para ela. Propaganda populista na veia, e gratuita, sem precisar incomodar Marcos Valério nenhum para pagar a conta.

Só mesmo numa república de bananas inteiramente subjugada é possível um escárnio desses. O recurso dos pronunciamentos oficiais do chefe da nação existe para situações especiais, nas quais haja uma comunicação de Estado de alta relevância (ou urgência) a fazer. Dilma aparece na televisão até para se despedir do ano velho e saudar o ano novo – ou melhor, usa esse pretexto para desovar as verdades de laboratório de seus tutores. Mas agora, com a epidemia dos rolezinhos, o canal oficial da demagogia está ligado 24 horas.

Eles não se importam de proclamar na telinha que a economia está indo de vento em popa, com os números da inflação de 2013 estourando a previsão e gargalhando por trás da TV. Mas a carona nos rolezinhos é muito mais simples. Basta escalar meia dúzia de plantonistas da bondade para dizer que as minorias têm direito à inclusão no mundo capitalista – e correr para o abraço. Não se pode esquecer que o esquema petista vive das fábulas dos coitados. Delúbio Soares, hoje condenado e preso por corrupção, disse que o mensalão era “uma conspiração da direita contra o governo popular”.

O rolezinho é um ato de justiça social, assim como o papel higiênico acabou porque os venezuelanos comeram muito. E a desenvoltura dos hipócritas do governo popular no caso das invasões de shoppings está blindada, porque a burguesia covarde e culpada é presa fácil para o sofisma politicamente correto. Os comerciantes dos shoppings, lesados pela queda do consumo e até por furtos dos jovens justiceiros sociais, estão falando fininho. Estão sendo aviltados por uma brutalidade em pele de cordeiro, por uma arruaça fantasiada de expressão democrática, e têm medo de fazer cumprir a lei.

A ministra dos Direitos Humanos, como sempre, apareceu como destaque no desfile da demagogia petista. Maria do Rosário defendeu os rolezinhos nos shoppings e “o direito de ir e vir dessa juventude”.

A ministra está convidada a passear num shopping onde esteja acontecendo o ir e vir de 3 mil integrantes dessa juventude. Para provar que suas convicções não são oportunismo ideológico, Maria do Rosário deverá marcar sua próxima sessão de cinema ou seu próximo lanche com a família num shopping center invadido por milhares de revolucionários do Facebook, protegidos seus. Se precisar trocar as lentes de seus óculos, Maria do Rosário está convidada a se dirigir à ótica num shopping que esteja socialmente ocupado por um rolezinho.

Se a multidão não permitir que a ministra chegue até a ótica, ou se a ótica estiver fechada por causa do risco de assalto, depredação ou pela falta de clientes, a ministra deverá voltar para casa com as lentes velhas mesmo. E feliz da vida, por não ter de enxergar seu próprio cinismo socialista.

Shoppings fechados em São Paulo e no Rio por causa dos rolezinhos são a apoteose da igualdade (na versão dos companheiros): todos igualmente privados do lazer, todos juntos impedidos de consumir cultura, bens e serviços num espaço destinado a isso. É a maravilhosa utopia do nivelamento por baixo. O jeito será importar shoppings cubanos – que vêm sem nada dentro, portanto são perfeitos para rolezinhos.

Mais uma etapa superada...