sexta-feira, 22 de maio de 2015

Dias de guerra...



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Armas de fogo matam 116 por dia no Brasil, diz estudo

Polícia e IML no local onde membros da torcida corinthiana Pavilhão 9 foram mortos, em abril; maioria das vítimas de armas de fogo no Brasil são jovens

Uma média de 116 pessoas morreram por dia no Brasil em 2012 por disparos de armas de fogo, aponta o levantamento Mapa da Violência 2015, divulgado nesta quarta-feira. O número é o mais alto já observado pelo estudo, cuja série histórica começou em 1980.

É o equivalente a impressionantes 4,8 mortes por hora, índice parecido ou superior ao registrado em países em guerra.

"É como se ocorresse um massacre do Carandiru por dia (quando 111 presos foram mortos no presídio paulistano em 2 de outubro de 1992)", diz à BBC Brasil o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor da pesquisa e coordenador de estudos da violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO).

"E isso ocorre na calada da noite, sem que haja mobilização ou escândalo. Há, na verdade, mobilização no sentido contrário, de pôr mais armas na mão da população."

Em números totais, foram 42.416 pessoas mortas por armas de fogo em 2012 (dado mais atual disponível pelo Ministério da Saúde), e a maioria das vítimas são jovens de 15 a 29 anos.

Quase 95% dessas mortes são homicídios (o restante são acidentes com armas, suicídios ou sem causa determinada).
'Tradição de impunidade'

Na introdução, o estudo - cujo título é Mortes Matadas por Armas de Fogo - diz que não há uma causa única por trás dos altos índices de violência do país.

"A tradição de impunidade, a lentidão dos processos judiciais e o despreparo do aparato de investigação policial são fatores que se somam para sinalizar à sociedade que a violência é tolerável em determinadas condições, de acordo com quem a pratica, contra quem, de que forma e em que lugar", diz a pesquisa.


O estudo culpa também a "farta disponibilidade de armas" e a "a decisão de utilizar essas armas para resolver todos os tipos de conflitos interpessoais, na maior parte dos casos, banais e circunstanciais".

Essas mortes por armas de fogo não ocorrem de forma uniforme pelo país. Na região Sudeste, por exemplo, o índice de mortes caiu quase 40% entre 2002 e 2012 - por causa de expressivos declínios nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro -, mas subiu fortemente em todas as demais regiões do país.

No Norte, o aumento foi de 135% no mesmo período.

Proporcionalmente à população, o Estado com a maior taxa de mortes por armas de fogo é Alagoas, onde foram registrados 1.740 óbitos em 2012.
Em 2012, 42,4 mil pessoas foram mortas no país vítimas de armas de fogo

O Mapa também identificou focos de violência que têm crescido pelo país: municípios do interior onde a economia cresceu, mas a presença do Estado permaneceu deficiente; municípios de fronteira, que são rota de organizações transnacionais de contrabando e tráfico de drogas; o arco do desmatamento da Amazônia, infestado por práticas de trabalho escravo, madeireiras ilegais, grilagem e extermínio de índios; e grotões do país onde ainda vigora o clientelismo político.

"A violência migrou à locais menos protegidos", diz Jacobo. "Com as mudanças no desenvolvimento econômico do país, houve uma 'interiorização' e um espalhamento dos homicídios."

160 mil mortes evitadas

Segundo o estudo, o crescimento da violência armada teria sido ainda mais acentuado se não fosse o controle de armas no país, imposto desde 2003 pelo Estatuto do Desarmamento.

O Mapa da Violência estima que 160.036 pessoas (sendo 70% delas jovens) foram poupadas de mortes por armas de fogo entre 2004 e 2012 graças à lei, que restringe o porte de armas a quem tem mais de 25 anos, passe por testes de aptidão e não responda a inquéritos policiais, entre outras exigências.


O cálculo é feito a partir de projeções de quantas mortes eram esperadas (segundo análises estatísticas) para cada ano e quantas mortes de fato ocorreram.

O Estatuto do Desarmamento, porém, é alvo de polêmica. A Câmara dos Deputados debate, em uma comissão especial, um projeto de lei (3722/12) que propõe a revogação do estatuto e facilita a aquisição de armas no país.

A justificativa é de que, mesmo com o estatuto, "o país alcançou a maior marca de homicídios de sua história", segundo afirmou, de acordo a Agência Câmara, o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), coronel de reserva da PM.

Já críticos alegam que a mudança na lei visa beneficiar o lobby da indústria armamentista. "As estatísticas mostram que se você arma mais a população, você vai ter mais armas na mão da criminalidade", argumentou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP).

O Mapa da Violência defende que o desarmamento é "requisito indispensável", mas insuficiente para conter a violência no país.
Campanha de desarmamento do governo em 2011; 'Mapa da Violência' estima que 160 mil vidas foram poupadas graças ao controle de armas no país

"Ninguém afirmou que o estatuto era a solução; ele foi apenas um primeiro passo", afirma Jacobo Waiselfisz. "Os passos seguintes seriam mudanças que não se cumpriram, como reformas do Código Penal, do sistema penitenciário e policial."

Jacobo cobra, também, mais campanhas de desarmamento da população, que considera "esporádicas".


Há, no momento, uma dessas campanhas em andamento em São Paulo, até o final do mês, organizada pelo Instituto Sou da Paz. Quem entregar armas receberá indenizações de R$ 150 a R$ 450, dependendo do armamento.
Aumento das mortes

Em todo o período analisado pelo Mapa da Violência, de 1980 a 2012, o Brasil registrou 880.386 mil mortes por armas de fogo, número superior à população de São Bernardo do Campo (Grande SP).

"O total de mortos por armas de fogo em 1980 foi de 8.710 pessoas, o que significa que houve um aumento de 387% até 2012", diz o estudo. "A população brasileira, nesse mesmo período, cresceu cerca de 61%."

E um dos fatores mais preocupantes é que essas mortes ocorrem sobretudo entre os mais jovens. "O jovem negro e pobre é a principal vítima", diz Jacobo. "Há estudos que apontam que os custos de saúde, economia e pelas vidas perdidas cheguem a 5% a 10% do PIB do país."

Outro estudo recente, o Monitor de Homicídios, do Instituto Igarapé, calcula que uma em cada dez pessoas assassinadas anualmente no mundo seja brasileira.

E, enquanto a América Latina abriga apenas 8% da população mundial, concentra 33% dos homicídios registrados no planeta.


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Por que mulheres menstruam – e a maioria dos animais não



Fenômeno faz parte do ciclo reprodutivo feminino, mas afeta poucos animais


A menstruação é algo tão corriqueiro que nem paramos para perceber que somos quase uma exceção no mundo animal. Sim, mesmo entre as espécies com gestações e partos semelhantes aos das mulheres, apenas um punhado delas menstrua.


Não se trata apenas de algo um tanto desconfortável: a menstruação também é um mistério. Afinal, por que ela existe? E se é um mecanismo positivo, por que os outros animais não passam pela experiência?


Bem, a menstruação faz parte do ciclo reprodutivo da mulher. Todo mês o útero se prepara para uma gravidez: em resposta a hormônios como estrógeno e progesterona, o endométrio (parede interna do útero) aumenta de espessura, se divide em várias camadas e desenvolve uma extensa rede de vasos sanguíneos – tudo para permitir que um embrião se implante ali.


Se o embrião não for concebido, o nível de progesterona começa a cair, o endométrio e seus vasos sanguíneos se desprendem e saem do organismo através da vagina. Esse sangramento é a menstruação.


Teorias sem provas


Parede interna do útero engrossa e se vasculariza para receber um possível embrião


Uma mulher perde, em média, de 30 a 90 ml de fluidos ao longo de um período menstrual de três a sete dias. À primeira vista, o processo parece ser um desperdício – o que levou muitos cientistas a investigarem por que ele existe.


"No início, pensava-se que a menstruação seria para remover toxinas do corpo", lembra Kathryn Clancy, antropóloga da Universidade de Illinois. A crença criou uma série de mitos em torno do processo, e alguns deles ainda persistem hoje em dia em algumas culturas. "Havia uma noção muito forte de que as mulheres eram ruins e repugnantes".


Em 1993, uma teoria completamente diferente chamou a atenção do público. A bióloga Margie Profet, então atuando na Universidade de Berkeley, na Califórnia, sugeriu que a função da menstruação seria "defender o corpo da mulher contra os patógenos transportados ao útero pelo esperma masculino".


No entanto, essa hipótese logo caiu por terra por falta de evidências. Uma das principais críticas de Profet foi a antropóloga Beverly Strassmann, da Universidade de Michigan, que apresentou sua própria teoria sobre a menstruação em 1996.


Ela observou que o útero de outras fêmeas também fica mais espesso e vascularizado para receber um embrião. E se este não é gerado, elas sangram ou simplesmente reabsorvem esse material.


Macacos e morcegos



Macacas rhesus apresentam menstruação semelhante à das mulheres


Mas para conhecer a verdade sobre esse misterioso processo, é necessário comparar animais que menstruam com os que não menstruam.


Além do ser humano, a maioria dos outros animais com um fenômeno semelhante é formada por primatas: dos pequenos, como o macaco rhesus, aos grandes, como chimpanzés, orangotangos e gorilas.


A menstruação também evoluiu de maneira independente em dois outros grupos não tão próximos do Homem: alguns morcegos e musaranhos.


O que essas espécies têm em comum para estarem incluídas nesse rol?


Segundo Deena Emera, geneticista da Universidade de Yale, tudo depende do controle que a fêmea tem sobre seu próprio útero.


Em um artigo publicado em 2011, ela e seus colegas argumentam que, nos animais que menstruam, a transformação da parede do útero é totalmente controlada pela fêmea, através da progesterona.


Um embrião só pode se implantar ali se essa camada for suficientemente espessa e composta de células especializadas. Ou seja, a fêmea é quem controla se pode ou não engravidar – um processo chamado de "decidualização espontânea".


Na maioria dos outros mamíferos, essas mudanças no útero só ocorrem depois que o organismo detecta sinais de que houve concepção. Quer dizer: o útero aumenta de espessura em reposta à presença do embrião.

 
Em povos como os dogons, do Mali, mulheres passam maior parte da vida grávidas


Em cavalos, vacas e porcos, o embrião simplesmente se instala na superfície do endométrio. Em cães e gatos, ele penetra um pouco mais nessa camada. Mas em humanos e em outros primatas, o embrião "perfura" toda a parede interna do útero para absorver sangue da mãe diretamente.

"Isso é resultado de um verdadeiro 'cabo de guerra evolucionário' entre as mães e os bebês", explica Elizabeth Rowe, da Purdue University, no Estado americano de Indiana.


A mãe quer fracionar a quantidade de nutrientes que fornece para cada bebê, para assim poder ter outros. Mas o bebê ali implantado quer absorver a maior quantidade de energia possível da mãe.


"Conforme os fetos foram se tornando mais agressivos, a mãe respondeu armando suas defesas antes da invasão começar", explica Emera.


'Descarte natural'’


Há uma segunda hipótese para explicar a função da menstruação: é uma evolução surgida para possibilitar que a fêmea descarte os embriões "ruins".


"O ser humano mantém relações sexuais a qualquer momento do ciclo reprodutivo, ao contrario de muitos outros mamíferos, que copulam perto da ovulação", diz Emera. Isso se chama "cópula estendida" e é um comportamento observado também nos primatas, nos morcegos e nos musaranhos que menstruam.


"O resultado disso é que alguns óvulos podem estar velhos quando são fertilizados, o que pode resultar em embriões geneticamente anormais", afirma. As células da parede interna do útero são capazes de reconhecer e reagir a esses embriões defeituosos. "Isso evita que a mãe invista em um embrião não viável, livrando-se dele imediatamente e se preparando para outra gestação".


A ideia faz sentido, se pensarmos como quase todos os animais que menstruam têm gestações longas e investem muitos recursos para produzir um ou dois bebês em cada uma. Perder um bebê é um preço alto a pagar, portanto a evolução favoreceria qualquer mecanismo que ajudasse a evitar gestações condenadas.


Em espécies que se reproduzem de outras maneiras, a menstruação nunca precisou ocorrer. O fenômeno, aliás, era algo raro até alguns anos atrás e ainda é em algumas comunidades.


Isso porque as fêmeas selvagens que menstruam passam a maior parte de suas vidas grávidas ou amamentando. Em sociedades que não utilizam nenhuma forma de contracepção, isso ainda acontece, como é o caso das mulheres dogons do Mali. Cada uma tem cerca de cem menstruações ao longo da vida – enquanto a maioria das mulheres de hoje tem entre 300 e 500 menstruações.




Dignidade sempre...



 

Após 42 anos em 'coma', morre indiana que gerou debate sobre eutanásia

Enfermeira sofreu danos cerebrais após ser brutalmente estuprada no hospital onde trabalhava

Morreu nesta segunda-feira na Índia a enfermeira Aruna Shanbaug, que estava em coma havia 42 anos, após ser estuprada.

Seu caso gerou um intenso debate sobre eutanásia no país, com pessoas defendendo que ela continuasse a ser alimentada por tubos e outras defendendo que se colocasse um fim em sua "agonia".

Shanbaug era enfermeira do hospital King Edward Memorial de Mumbai, onde ficou internada até está segunda-feira; ela sofreu graves danos cerebrais e ficou paralisada após ser violentada, em 1973, quando tinha 25 anos.

O estuprador era um faxineiro do hospital que a estrangulou usando uma corrente de metal.

Debate
Em 2001, a Suprema Corte da Índia rejeitou um pedido de eutanásia a Shanbaug, após um grupo de médico examiná-la.


A solicitação de que se interrompesse a alimentação da enfermeira foi negada porque representantes do hospital disseram que ela "conseguia aceitar comida, respondia com expressões faciais e fazia sons".

Segundo os médicos, pacientes em estado vegetativo estão acordados, e não em um coma propriamente dito, mas não têm percepção do que acontece ao seu redor por conta do dano cerebral.

No entanto, mesmo a eutanásia tendo sido negada à enfermeira, o julgamento foi considerado histórico porque acabou tornando legal no país a chamada eutanásia passiva.

Aruna Shanbaug


Nessa prática, não se ministra nenhum medicamento que provoque a morte do paciente, apenas se interrompem cuidados médicos que tenham como objetivo prolongar a vida.

Com a aprovação, esse tipo de eutanásia pôde ser permitido em alguns casos, se o pedido for feito por médicos e for aprovado na Justiça.

Pneumonia

Durante essas mais de quatro décadas, Shanbaug foi transferida para a UTI diversas vezes.

Na última, na semana passada, ela foi colocada em um ventilador após ter dificuldades de respirar. Segundo um porta-voz do hospital, ela morreu por conta de uma pneumonia.

"Ela finalmente conseguiu voar para longe. Mas antes disso, deu à Índia uma lei sobre eutanásia passiva", disse à BBC a jornalista Pinki Virani, que escreveu o livro Aruna’s Story, sobre o caso.

Virani foi a autora do pedido à Suprema Corte indiana para que autorizasse a eutanásia da enfermeira e colocasse um fim à sua "insuportável agonia".

Vários defensores de direitos humanos apoiaram a causa da jornalista, mas diretores, médicos e enfermeiros do hospital em que ela trabalhava se opuseram ao pedido.

Segundo o jornal indiano the Hindustan Times, o estuprador da Shanbaug, Sohanlal Bharta Valmiki, cumpriu sete anos de prisão após ser condenado por roubo e tentativa de homicídio. No entanto, ele não foi condenado por estupro, já que sodomia não era considerada estupro pelas leis indianas da época.
O então namorado de Shanbaug, o médico residente Sundeep Sardesai, esperou por sua recuperação por quatro anos, mas depois foi morar no exterior e acabou casando com outra pessoa.

Mais uma etapa superada...