terça-feira, 11 de março de 2014

Refletindo...












"Palavras não cozinham o arroz."
(Provérbio Chinês)


Língua afiada...

 


PEGADINHA GRAMATICAL
A semântica das preposições


A classe gramatical representada pelas preposições ocupa a função de ligar dois termos em uma oração. E, dependendo do contexto em que se inserem, denotam sentidos distintos.

Para que possamos compreender melhor este fato linguístico, daremos ênfase ao termo “semântica”, uma vez que o mesmo representa uma das partes que se relaciona à Gramática, estando diretamente ligado ao significado das palavras em meio a um enunciado.

Ao retratarmos sobre tal significado, é importante sabermos que um mesmo vocábulo pode apresentar diferentes sentidos, e este atribui-se única e exclusivamente a uma análise contextual.

No caso das preposições, de modo mais específico, subsidiaremos nos seguintes exemplos em evidência:


Discutiu-se sobre as pendências da empresa durante a reunião.

O livro está sobre a mesa.


Atendo-nos ao significado representado pelas preposições, concluímos que a primeira oração revela o “assunto” que permeou a reunião, ou seja, as pendências da empresa.

Na segunda, temos o “lugar” no qual se encontra o livro.

Visando aprimorar cada vez mais os nossos conhecimentos, analisaremos alguns casos representativos da referida ocorrência.

Valores semânticos de:

Posse: Estes objetos escolares são de Pedro.

Causa: Os atingidos pelo terremoto estão morrendo de fome.

Matéria: Os objetos feitos com porcelana encontram-se expostos ao evento.

Assunto: Os jornais noticiaram sobre a violência que assola a sociedade.

Companhia: Irei com meus amigos à festa.

Finalidade: Viajaremos nas férias para nos divertirmos.

Instrumento: O garoto feriu-se com o objeto cortante.

Lugar: A universidade que pretendo ingressar-me fica em Brasília.

Origem: Os visitantes vinham do Maranhão.

Tempo: A trajetória percorrida foi de trinta minutos.

Meio: A comunicação feita pela Internet é muito dinâmica.

Conformidade: Realizei a pesquisa conforme as fontes bibliográficas indicadas.

Modo: Recebemos as visitas com imensa alegria.

Oposição: Somos contra as ideias daquele professor.

Interessante...




Estes 5 assassinatos antigos nunca serão solucionados

Pesquisadores já sabem como identificar vítimas de assassinato por meio de seus restos mortais, mas as verdadeiras causas dessas mortes parecem eternas incógnitas.

 Estes 5 assassinatos antigos nunca serão solucionados
Fonte da imagem: Shutterstock


Desde que a humanidade existe, assassinatos acontecem. Os motivos desse tipo de morte incluem vingança, rituais religiosos, brigas, genocídios, canibalismo e por aí vai. A seguir você vai conferir alguns assassinatos que aconteceram há muito tempo e que, independente do esforço de antropólogos, cientistas e historiadores, nunca serão completamente resolvidos:

1 – Shanidar 3, 50 mil anos a.C.
 
Fonte da imagem: Reprodução/Listverse

Os restos desse Neandertal vítima de assassinato foram encontrados no Iraque por um grupo de arqueólogos. O que se sabe até agora é que Shanidar 3, como foi batizado, morreu quando tinha entre 40 e 50 anos devido a uma perfuração em sua nona costela. Pesquisadores descobriram que o ferimento foi causado por uma lança leve, arma que não era usada por Neandertais.

O principal suspeito de ter atirado contra Shanidar é, então, um homem moderno. Não se sabe, porém, se o assassinato ocorreu por causa de algum tipo de disputa territorial ou por fome, já que há evidências de que o homem moderno praticava canibalismo com Neandertais. O que se sabe é que as irregularidades encontradas na mandíbula de Shanidar indicam que a língua dele foi retirada – línguas eram iguarias paleolíticas.

Outra curiosidade: vestígios de pólen encontrados na caveira de Shanidar indicam também que os Neandertais tinham o costume de enterrar flores junto com seus mortos.

2 – La Brea, 7 mil anos a.C.
 
Fonte da imagem: Reprodução/Listverse

Essa é a cidadã californiana mais antiga da qual se tem relatos e possivelmente a primeira vítima de assassinato do estado norte-americano. La Brea tinha 1,42 m de altura, e seu crânio e sua mandíbula estavam quebrados. Pesquisadores afirmam que o buraco em seu crânio foi causado por um golpe forte que recebeu – ainda falta uma parte da estrutura.

Alguns cientistas afirmam que ela foi morta em outro lugar, mas acabou jogada em um terreno na Califórnia, ali ficando por alguns milênios. Os inúmeros ossos de cachorros encontrados em volta dela podem indicar vestígios de algum tipo de ritual de enterro. A caveira de La Brea está exposta no Museu George C. Page.

3 – Herxheim, 5 mil anos a.C.
 
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Escavações na Alemanha encontraram cerâmicas, estruturas antigas e vítimas de canibalismo – pelo menos 10 caveiras têm marcas de cortes e raspagem típicos de algumas técnicas de abate. Alguns ossos parecem ter sido mastigados, inclusive, enquanto outros foram deliberadamente amassados com a nítida intenção de extração de medula.

As costelas foram retiradas da espinha, os músculos foram removidos da cabeça para proporcionar acesso à calota craniana, línguas foram arrancadas e a carne dos membros foi removida. Especialistas encontraram dois tipos diferentes de marcas: cortes superficiais e cortes mais profundos para alcançar a carne. Evidências sugerem que essas pessoas foram “assadas” em espetos.

Há quem acredite também que as marcas estranhas encontradas nesses esqueletos foram causadas justamente pela remoção desses restos. Pesquisadores concordam que esses corpos foram vítimas de grandes traumas. Não se sabe, contudo, se essas pessoas foram vítimas também de guerra, fome ou rituais religiosos.

4 – Homen Clonycavan, 392-201 a.C.
 
Fonte da imagem: Reprodução/Listverse

Esse corpo foi encontrado em um pântano em Meath, na Irlanda, em 2003. Trata-se de um homem que foi vítima de assassinato há pelo menos 2.300 anos. Tudo indica que ele tenha recebido três golpes na cabeça, um no peito e teve seu nariz esmagado. Há sinais claros de tortura antes da morte: os mamilos do homem foram retirados antes de ele ser estripado e jogado ao pântano. O brejo de Meath tem propriedades químicas capazes de mumificar corpos, e foi isso o que aconteceu com Clonycavan.

Pesquisadores acreditam que o homem foi vítima de um ritual de assassinato, já que sugar o mamilo de um rei era sinal de submissão na Irlanda Antiga. A mutilação com os mamilos do homem sugere que ele não seguiu a tradição. Ao que tudo indica, Clonycavan era um homem baixinho de 1,57 m, que compensava a estatura usando um grande topete.

5 – Georgie, 367 d.C.
 
Fonte da imagem: Reprodução/Listverse

Em 2010, um esqueleto de uma criança foi encontrado em uma cova em Vindolanda, um forte de Roma na Grã-Bretanha. Pesquisadores acharam, inicialmente, que os ossos pertenciam a um cachorro, mas pesquisas posteriores indicaram que os restos eram de uma criança de aproximadamente 10 anos, cujo sexo não foi identificado.

Batizado de Georgie, os ossos aparentam ser de uma vítima de assassinato, já que o corpo foi enterrado sem respeitar os rituais romanos antigos de funeral, que diziam que os mortos precisavam ser cremados ou enterrados em locais distantes da civilização. Enterrar um corpo em alguma condição diferente dessa era considerado crime, e o fato de que Georgie foi enterrado clandestinamente fez com que os pesquisadores trabalhassem com a hipótese de assassinato.

Quase todo o material está em boas condições. Acredita-se que a causa da morte tenha sido uma pancada na cabeça, já que o crânio está completamente destruído.

Especialistas descobriram, recentemente, que a criança não era da região onde foi encontrada, mas sim do Mediterrâneo. Não se sabe, então, se Georgie era filho de um soldado ou se, por acaso, um escravo romano.

História...

 
Revolução Russa de 1917
A Revolução Russa de 1917 foi uma série de eventos políticos na Rússia, que, após a eliminação da autocracia russa, e depois do Governo Provisório (Duma), resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique. O resultado desse processo foi a criação da União Soviética, que durou até 1991.

No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo (produção de gêneros agrícolas).



Rússia Czarista

Os trabalhadores rurais viviam em extrema miséria e pobreza, pagando altos impostos para manter a base do sistema czarista de Nicolau II. O czar governava a Rússia de forma absolutista, ou seja, concentrava poderes em suas mãos não abrindo espaço para a democracia. Mesmo os trabalhadores urbanos, que desfrutavam os poucos empregos da fraca indústria russa, viviam descontentes com o governo do czar.

No ano de 1905, Nicolau II mostra a cara violenta e repressiva de seu governo. No conhecido Domingo Sangrento, manda seu exército fuzilar milhares de manifestantes. Marinheiros do encouraçado Potenkim também foram reprimidos pelo czar.

Começava então a formação dos sovietes (organização de trabalhadores russos) sob a liderança de Lênin. Os bolcheviques começavam a preparar a revolução socialista na Rússia e a queda da monarquia.



A Revolução compreendeu duas fases distintas:

A Revolução de Fevereiro de 1917(março de 1917, pelo calendário ocidental), que derrubou a autocracia do Czar Nicolau II da Rússia, o último Czar a governar, e procurou estabelecer em seu lugar uma república de cunho liberal.
 
Czar da Rússia Nicolau II

A Revolução de Outubro (novembro de 1917, pelo calendário ocidental), na qual o Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin, derrubou o governo provisório e impôs o governo socialista soviético.


1º presidente do Partido Bolchevique e líder da União Soviética Vladmir Ilitch UlianovLênin



O Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado

O Governo Provisório iniciou de imediato diversas reformas liberalizantes, inclusive a abolição da corporação policial e sua substituição por uma milícia popular. Mas os líderes bolcheviques, entre os quais estava Lenin, formaram os Sovietes (Conselhos) em Petrogrado e outras cidades, estabelecendo o que a historiografia, posteriormente, registraria como ‘duplo poder’: o Governo Provisório e os Sovietes.

Lenin foi o primeiro dirigente da URRS. Liderou os bolcheviques quando estes tomaram o poder do governo provisório russo, após a Revolução de Outubro de 1917 (esta sublevação ocorreu em 6 e 7 de novembro, segundo o calendário adotado em 1918; em conformidade com o calendário juliano, adotado na Rússia naquela época, a revolução eclodiu em outubro). Lenin acreditava que a revolução provocaria rebeliões socialistas em outros países do Ocidente.

Ao expor as chamadas Teses de abril, Lenin declarou que os bolcheviques não apoiariam o Governo Provisório, e pediu a união dos soldados numa frente que viesse pôr fim à guerra imperialista (I Guerra Mundial) e iniciasse a revolução proletária, em escala internacional, idéia que seria fortalecida com a propaganda de Leon Trotski. Enquanto isso, Alexandr Kerenski buscava fortalecer a moral das tropas.

No Congresso de Sovietes de toda a Rússia, realizado em 16 de junho, foi criado um órgão central para a organização dos Sovietes: o Comitê Executivo Central dos Sovietes que organizou, em Petrogrado, uma enorme manifestação, como demonstração de força.

O aumento do poder dos Bolcheviques

Avisado que seria acusado pelo Governo de ser um agente a serviço da Alemanha, Lenin fugiu para a Finlândia. Em Petrogrado, os bolcheviques enfrentavam uma imprensa hostil e a opinião pública, que os acusava de traição ao exército e de organização de um golpe de Estado. A 20 de julho, o general Lavr Kornilov tentou implantar uma ditadura militar, através de um fracassado golpe de Estado.

Da Finlândia, Lenin começou a preparar uma rebelião armada. Havia chegado o momento em que o Soviete enfrentaria o poder. Foi Trotski, então presidente do Soviete de Petrogrado, quem encontrou a solução: depois de formar um Comitê Militar Revolucionário, convenceu Lenin de que a rebelião deveria coincidir com o II Congresso dos Sovietes, convocado para 7 de novembro, ocasião em que seria declarado que o poder estava sob o domínio dos Sovietes.

Na noite de 6 de novembro a Guarda Vermelha ocupou as principais praças da capital, invadiu o Palácio de Inverno, prendendo os ministros do Governo Provisório, mas Kerenski conseguiu escapar. No dia seguinte, Teotski anunciou, conforme o previsto, a transferência do poder aos Sovietes.



O novo governo

O poder supremo, na nova estrutura governamental, ficou reservado ao Congresso dos Sovietes de toda a Rússia. O cumprimento das decisões aprovadas no Congresso ficou a cargo do Soviete dos Comissários do Povo, primeiro Governo Operário e Camponês, que teria caráter temporário, até a convocação de uma Assembléia Constituinte. Lênin foi eleito presidente do Soviete, onde Trotski era comissário do povo e ministro das Relações Exteriores e, Stalin, das Nacionalidades.


 

Líder da União Soviética Josef Stalin

Josef Stalin foi o dirigente máximo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) de 1929 a 1953. Governou por meio do terror, embora também tenha convertido a URSS em uma das principais potências mundiais.

A 15 de novembro, o Soviete ou Conselho dos Comissários do Povo estabeleceu o direito de autodeterminação dos povos da Rússia. Os bancos foram nacionalizados e o controle da produção entregue aos trabalhadores. A Assembléia Constituinte foi dissolvida pelo novo governo por representar a fase burguesa da revolução, já que fora convocada pelo Governo Provisório. Em seu lugar foi reunido o III Congresso de Sovietes de toda a Rússia. O Congresso aprovou a Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado como introdução à Constituição, pela qual era criada a República Soviética Federativa Socialista da Rússia (RSFSR).



A guerra civil

O novo governo pôs fim à participação da Rússia na I Guerra Mundial, através do acordo de Paz de Brest-Litovsk assinado em 3 de março de 1918. O acordo provocou novas rebeliões internas que terminariam em 1920, quando o Exército Vermelho derrotou o desorganizado e impopular Exército Branco antibolchevique.

Lenin e o Partido Comunista Russo (nome dado, em 1918, à formação política integrada pelos bolcheviques do antigo POSDR) assumiram o controle do país. A 30 de dezembro de 1922, foi oficialmente constituída a União de Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A ela se uniriam os territórios étnicos do antigo Império russo.


Significado da palavra czar

A palavra czar, que se pronuncia-se “tzar”, tem suas origens no título de césar  que era concedido aos imperadores romanos, na Idade Antiga.

Na Idade Média, o título de czar era ostentado também por soberanos búlgaros e sérvios.

Viva a sabedoria...

Parmênides
  
Parmênides - O pensador do imobilismo universal

Nascido por volta do ano de 515 a.C., na cidade de Éleia, ao sul da Magna Grécia (Itália), Parmênides é considerado pelos historiadores da Filosofia como o pensador do imobilismo universal.

Em poema, Parmênides narra o que disse ter ouvido das musas que por uma carruagem puxada por corsas, conduzem-no à luz da verdade (alethéia). A verdade é, pois, o caminho do pensamento, já que o ser, o que existe é tudo aquilo que pode ser pensado. Dessa forma, o que não é, o não ser, o que não existe, não pode ser pensado nem, portanto, dito, sendo este um caminho ilusório.

A via da verdade é o pensamento que Parmênides identifica com o ser. Mas o ser para existir tem de ser dito, logo, há uma identidade entre SER, PENSAR E DIZER. Sendo a verdade exclusiva dos deuses, entre os mortais há a via da opinião (dóxa), causada pelas ilusões dos nossos sentidos.

Hoje podemos dizer que a ontologia (estudo sobre o ser) de Parmênides refere-se a uma lógica material, como se o discurso estivesse compactado à experiência física. Assim, podemos ver porque ele disse que “o ser é, o não ser não é”. O filósofo apontava para unicidade do ser acreditando que toda forma de movimento era ilusória (e só Newton, no séc.XVIII, com a física conseguiu resolver esse problema!).

Parmênides julgava o ser uno, imóvel, indestrutível, ingênito (isto é, incriado, não nascido, não gerado) e eterno. Segundo seu modo de pensar, o não ser, o nada não existe e não pode ser nem dito nem pensado. Portanto, o ser não pode ter surgido, porque ou teria surgido do nada, o que é impossível, ou teria surgido de outro ser, justificando que o ser já era e sempre será; logo, é eterno. Nem também o ser pode se movimentar, pois se se altera (o movimento em grego era tido como deslocamento, crescimento, diminuição e alteração) será outro ser, mesmo continuando a ser e, por isso, dois seres são impensáveis, apenas um ser é pensável. E se não foi criado, nem gerado, também não pode ser destruído, já que se destruído, algo ficará e assim permanecerá sendo.

Por mais que se possa acreditar que Parmênides seja o iniciador da lógica, sua lógica ainda é vinculada à ontologia, isto é, ao ser, não podendo ser considerada formal. Em linguagem moderna, poderíamos dizer que Parmênides fala da MATÉRIA, amorfa, de modo geral e que tudo o que existe é matéria, não podendo existir o vácuo nem o vazio. E que apesar das suas mudanças em vários elementos, substâncias, coisas e pessoas, ela, a matéria, é o princípio uno e total, causa de toda a realidade.

Pode-se também pensar que a filosofia de Parmênides, isto é, a do imobilismo universal ou teoria do repouso absoluto, foi usada pelas tradições religiosas (principalmente a cristã) para descrever Deus e o céu. Notem que, em geral, os mortos são enterrados com máximas que dizem: “Aqui jaz (repousa) fulano...”. Deus seria esse princípio Uno e Todo sem partes divididas ou vazias que deveria ser compreendido, através do pensamento, como princípio de todo o conhecimento. 

É também interessante notar como a identidade entre SER e PENSAMENTO e LINGUAGEM, de Parmênides também associa-se com a tradição do Antigo Testamento. Neste, Deus se revela como o VERBO. Em grego, o verbo é o LÓGOS, é palavra, discurso e razão. E se para Parmênides o lógos é também o pensar e o ser, então é a divindade que fala e que fornece a base para conhecermos, isto é, a via da verdade é a razão, o lógos divino. Por isso, Parmênides concebe o ser de forma circular, pois é, entre os gregos, a forma da perfeição.

Cultura...

Cinquenta anos depois do Golpe, livros trazem olhar crítico sobre feridas ainda abertas

Período que deixou marcas profundas no País ainda rende reinterpretações.

Como seria fácil de prever, a efeméride dos 50 anos do Golpe de 1964 constitui ocasião para uma série de lançamentos. Não se pode usar propriamente o termo "comemoração" neste caso, mas datas redondas dão motivo a balanço e reflexão sobre eventos históricos importantes ou traumáticos. 1964 foi as duas coisas.

Alguns dos lançamentos mais significativos são 1964: o Golpe, de Flávio Tavares (L&PM), Ditadura e Democracia no Brasil - 1964: 50 anos Depois, de Daniel Aarão Reis (Zahar) e Ditadura à Brasileira: 1964-1985 - a Democracia Golpeada à Esquerda e à Direita, de Marco Antonio Villa (LeYa).

Entre os relançamentos, um destaca-se pela importância: a tetralogia Ditadura (Envergonhada, Escancarada, Derrotada e Encurralada), do jornalista Elio Gaspari. Não se trata de reimpressão. Doze anos após a primeira edição, Gaspari incorporou bibliografia editada no período e documentação não disponível na época. Essa reedição, da Intrínseca (a primeira foi da Cia das Letras) vem também no formato digital. Os e-books têm a vantagem de remeter a vídeos e documentos.

Em sua apresentação ao volume 1 de As Ilusões Armadas - a Ditadura Envergonhada, Gaspari nota que a atualização da obra se fazia necessária por dois motivos: a divulgação das atas de duas reuniões do Conselho de Segurança Nacional, em julho de 1968, e a evidência de que o golpe contra o governo de João Goulart já vinha sendo tramado no gabinete do presidente John Kennedy, desde 1962. Um áudio registrado em 7 de outubro de 1963, portanto 46 dias antes do seu assassinato em Dallas, mostra Kennedy como um "campeão desse projeto". Ou seja, a derrubada do governo brasileiro.



A participação norte-americana no golpe é um dos destaques do livro de Tavares, o único que se ocupa exclusivamente da deposição de Goulart. Todos os outros – e Gaspari em quatro volumes – avançam pelo período da ditadura em suas diferentes fases e presidentes – Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. De uma primeira fase, do golpe em 1964 a 1968, quando se decreta o AI-5 e a ditadura se escancara. Das trevas de1968 até 1978, quando os atos institucionais são revogados, vem a Anistia e a transição para a democracia, que para alguns se encerra em 1985, com o primeiro governo civil, e para outros se estende até 1988, com a Assembleia Constituinte.

Por concentrada, a narrativa de Tavares é trepidante. Recria o período tenso vivido pelo País desde a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, passando pela posse do vice, Goulart, e seu governo atribulado e esgarçado por demandas e pressões à esquerda e à direita.

Tavares, na época, era colunista do jornal Última Hora e privava da intimidade de políticos e gabinetes de Brasília. Foi testemunha dos fatos, o que empresta ao seu relato caráter diferenciado.

Tavares destaca como Washington logo entrou no jogo da deposição de Jango pelo embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, e, mais adiante, com colaboração do seu adido militar, Vernon Walters, que deixou sua missão na Itália para conspirar contra o governo brasileiro. Detecta também a enxurrada de dólares despejada no Brasil após a reunião entre Kennedy e na Casa Branca em 1962. O dinheiro entrava pelo Royal Bank do Canadá e não pelo Bank of America para não despertar suspeitas. De acordo com o autor, mais de 200 candidatos ao Senado, Câmara Federal e Assembleias Estaduais, considerados amigos dos EUA e inimigos dos comunistas, foram beneficiados com verba generosa. Além disso, financiavam-se institutos como o IPÊS e o IBAD, que tinham função de propagar o receio ao "perigo vermelho" e preparar o clima do golpe. O fundamental era disseminar o medo, inclusive pelos filmes alarmistas.

Há um livro fundamental sobre o assunto, de Denise Assis, Propaganda e Cinema a Serviço do Golpe: 1962-1964 (Mauad, 2001).

O fato é que o golpe segue uma dinâmica implacável, quando visto em retrospecto. O comício da Central do Brasil, de 13 de março, no Rio, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, em São Paulo, no dia 19, o clima terrível de tensão, com o governo apoiado por sindicatos e organizações populares, hostilizado pela classe média, alguns governadores de Estado, pelos meios de comunicação e por parte da hierarquia militar. A bomba só precisava de um estopim para explodir e ele veio no dia 25, na forma da rebelião dos marinheiros, liderados por José Anselmo dos Santos, o Cabo Anselmo, que depois se revelou um agente provocador.

Os militares interpretaram a insurreição como insuportável quebra de hierarquia, que serviu de espoleta para o golpe já armado havia muito. Quando o general Olympio Mourão Filho começou a descer com suas tropas de Juiz de Fora para o Rio, Goulart ainda pensou que pudesse segurar-se no cargo. Mas seu dispositivo militar foi caindo peça por peça e, avesso à resistência armada, partiu para o exílio. Na véspera do golpe, Washington havia enviado à costa brasileira uma força-tarefa com a finalidade de apoiar os rebeldes. Chamou-a de Operação Brother Sam. Como não foi necessária, já que o governo se desmanchara como castelo de areia, a força-tarefa deu meia-volta e retornou à base.

Havia outra alternativa? Não se sabe, e a história não trabalha sobre hipóteses. Mas, com tamanho radicalismo, uma polaridade que não comportava meios tons, o clima da Guerra Fria, os caminhos do entendimento pareciam fechados. Como escreve Elio Gaspari, "Tratava-se de buscar tamanha mudança no poder que, em última análise, durante o dia 31 de março tanto o governo (pela esquerda) como os insurretos (pela direita) precisavam atropelar as instituições republicanas".

Jango ainda tentou um último discurso no Automóvel Clube, alternando radicalismo e conciliação. Era tarde. Precisava escolher um lado e não o fez. Pressionado pelos militares a abandonar a esquerda, negou-se. Alinhar-se radicalmente às forças populares, também lhe era demasiado. "Esse passo, de natureza revolucionária, Jango não deu", comenta Gaspari. Indeciso e abandonado, caiu.

Essa narrativa é mais ou menos consensual, porque se atém aos fatos, porém as interpretações divergem em pontos específicos e ênfases são colocadas em lugares, pessoas e instituições diversas. Por exemplo, em Ditadura à Brasileira, Villa minimiza a participação norte-americana, ao contrário do que se lê em 1964 - o Golpe, de Flávio Tavares, que também foi correspondente do Estado. Este ainda acrescenta que o Secretário de Estado, Dean Rusk, chegou a mandar ao novo governo brasileiro a conta de US$ 20 milhões pelas despesas com a Operação Brother Sam. O embaixador Lincoln Gordon conseguiu convencer Rusk de que não ficava bem para os EUA cobrar pelo apoio a um golpe de Estado, mesmo que este viesse a pretexto de defender a democracia. No entanto, no último capítulo do seu livro, Villa garante que "a participação dos EUA nos acontecimentos de 1964 é ínfima". Sua tese é que os radicalismos de direita e de esquerda somaram-se para produzir esse monstrengo histórico e mantê-lo em pé.

Quanto durou o período ditatorial é, também, matéria de debate. A cronologia consagrada vai de 1964 a 1985, 21 anos, ou seja, do golpe até quando toma posse o primeiro presidente civil, José Sarney, substituindo o eleito pelo Colégio Eleitoral, Tancredo Neves, que adoeceu e morreu sem assumir. Mas em seu livro, Daniel Aarão Reis entende que a ditadura brasileira durou 15 anos, de 1964 a 1979, seguindo-se um período de transição até a Constituinte de 1988. Marco Antonio Villa faz um abatimento ainda maior, considerando que o período de 1964-1968 não pode ser considerado ditatorial, mesmo que nele tenha havido uma série de atos institucionais, cassações e limitações à sociedade civil. Ditadura, para ele, só após o AI-5.

A questão da cronologia não é neutra. De acordo com Aarão Reis, considerar ditadura da derrubada do governo Goulart ao momento em que um civil reassume a presidência equivale a limitar tanto o golpe como o regime exclusivamente ao âmbito de responsabilidade militar. Sua tese é de que houve um consórcio entre militares e civis que permitiu a vitória do golpe de Estado e o estabelecimento do regime, no qual os militares ocupavam o topo da pirâmide do poder, mas não eram seus exclusivos beneficiários e mantenedores. Em narrativa crítica e enxuta, Reis toca nesse ponto incômodo, o de que não existem ditaduras sem coniventes e colaboradores, tal como sucedeu na Alemanha nazista, na França ocupada ou no fascismo italiano.

Aconteceu também aqui no Brasil. E se esse período traumático e recente ainda enseja tanta paixão e reinterpretações é porque deixou fundas marcas no Brasil, feridas abertas ainda hoje, com muitos dos seus protagonistas vivos e atuantes. Características de 1964, como a polarização sem trégua e o instinto golpista ainda sobrevivem entre nós, com outras roupas. Sente-se nesses livros, porém, que a pura paixão, ainda que presente em suas páginas, concede espaço à racionalidade, sem a qual não se compreendem os traumas e nem mesmo a ventura de um país.

Como diz Reis no belo enganche final de sua obra, "não há como se libertar da ditadura sem pensar nela... e o pensamento crítico pode constituir a melhor defesa da democracia." Este poderia ser um ponto de consenso entre autores tão divergentes.

Entendendo...

Estado e religião: A convivência nem sempre fácil entre o poder político e o espiritual

É célebre a passagem do Novo Testamento, em que Jesus, questionado se os judeus deveriam pagar impostos a César, respondeu com a frase: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". A frase tornou-se um lema da separação entre o mundo espiritual e o mundo das coisas materiais, entre a separação que deve haver entre o Estado e a Religião. Ao longo da História, diferentes experiências nasceram da relação entre Estado e confissões religiosas, e acabaram por comprovar que a independência entre essas duas forças sociais oferece benefícios aos cidadãos que almejam viver em liberdade.

Teocracias

Teocracias são regimes em que o poder político é exercido, em nome de uma autoridade divina, por homens que se declaram seus representantes na Terra, quando não uma encarnação da própria divindade. O exemplo mais próximo de nós - talvez o único existente nos dias atuais - é o Vaticano.

Seu governante, o papa, ocupa, ao mesmo tempo, o cargo de administrador temporal do território incrustado na cidade de Roma, na Itália, e, também, o de sumo sacerdote de uma das principais confissões religiosas do mundo, o Catolicismo, escolhido para o cargo por um colégio de cardeais que se acredita, para tanto, inspirado por Deus.

Mas há outros exemplos de teocracias. No Japão, até o fim da Segunda Guerra Mundial, o imperador era considerado descendente direto dos deuses que criaram a Terra. O Tibete, hoje ocupado pela China, antes vivia sob a direção de um dalai-lama (supremo sacerdote e guia espiritual do budismo tibetano). E se caminharmos rumo ao passado mais distante, basta lembrar do Egito, onde o faraó era, ele mesmo, um deus, descendente direto do deus Hórus.

Estados confessionais

Neste início de século 21, no entanto, se desejamos refletir sobre as relações entre religião e Estado, devemos nos referir ao Estados confessionais, países em que uma única confissão religiosa é reconhecida oficialmente pelo Estado, recebendo, em certos casos, os privilégios decorrentes dessa condição.

Contudo, há, entre esses Estados, grandes diferenças. O Catolicismo, na Argentina, ainda que seja a religião oficial do país, não possui qualquer privilégio. O Protestantismo Luterano é a religião oficial da Dinamarca, mas sua influência na sociedade dinamarquesa não se assemelha nem um pouco ao poder exercido, por exemplo, pelo Islaminsmo no Irã, onde, depois da revolução que depôs o xá Reza Pahlevi, em 1979, os aiatolás (altos dignitários na hierarquia religiosa islamítica) tomaram o poder, criando um Estado no qual a religião prepondera sobre a política. Alguns estudiosos, inclusive, chegam a classificar o Irã como uma teocracia.

Os países islâmicos, aliás, são exemplos contemporâneos de como a religião pode se confundir com a política. Desde seu início, quando fundado pelo profeta Maomé, o Islamismo, à medida que se expandiu pelo Oriente Médio, Extremo Oriente e Norte da África, chegando à Europa, instituiu uma cultura na qual as lideranças políticas e religiosas se concentram em um único governo. Assim, a religião islâmica é indissociável das estruturas políticas, sociais e econômicas desses países, não importando se falamos do Egito, onde há relativa democracia, ou da Arábia Saudita, uma monarquia absolutista.

Estado laico

No Brasil, como em inúmeros outros países, dizemos que o Estado é laico, ou seja, uma forma de governo independente de qualquer confissão religiosa. Mas, na época da monarquia, o imperador tinha o poder de nomear religiosos para os cargos eclesiásticos mais importantes e aprovar, ou não, documentos papais, a fim de que fossem seguidos pelos católicos do país. O Estado laico, no entanto, prevaleceu após a Proclamação da República.

As bases do Estado laico podem ser encontradas no Renascimento, quando começou a ocorrer uma gradual separação entre, de um lado, o pensamento político, a filosofia e a arte, e, de outro, as questões religiosas. Lentamente, graças à recuperação dos valores da Antiguidade clássica, o homem se voltou à livre busca das verdades, mediante o exame crítico e o debate independente, recusando a predominância ou a autoridade de uma verdade revelada por Deus e que se colocasse como absoluta e definitiva.

Essa maneira de pensar e agir - que pode ser chamada de laicismo ou secularismo - deu origem a Estados laicos, onde as instituições públicas e a sociedade civil mantêm independência em relação às diretrizes e aos dogmas religiosos - e onde não se aceita, ao menos teoricamente, a ingerência direta de qualquer organização religiosa nos assuntos de Estado.

Isso não quer dizer, entretanto, que as democracias modernas sejam Estados ateus, onde as religiões são proibidas. Ao contrário, esses países concedem a todas as confissões religiosas, sem quaisquer distinções, igual liberdade, permitindo que elas exerçam livremente sua influência cultural e, portanto, política.

Autonomia

Assim, o Estado laico não é um Estado irreligioso ou anti-religioso - nesses países, a relação entre o temporal e o espiritual, entre a lei e a fé, não é uma relação de contraposição, mas, sim, de autonomia recíproca entre duas linhas distintas da atividade e do pensamento humanos.

Não por outro motivo o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro, ao convocar as audiências sobre questões éticas e religiosas, quis ouvir a opinião não só dos católicos, mas também dos espíritas, dos cristãos de diferentes observâncias, dos budistas e de todas as confissões religiosas que desejassem se manifestar.

Agindo assim, o Estado leigo protege a autonomia, a liberdade do poder civil, sem aceitar qualquer controle religioso, mas garantindo que todas as religiões possam se expressar livremente.

Privilegiar a liberdade

O filósofo e monge franciscano Guilherme de Ockham, no século 14, talvez tenha sido o primeiro a defender a importância de separarmos a fé e o pensamento livre. "As asserções principalmente filosóficas, que não concernem à teologia [ciência que se ocupa de Deus, de sua natureza e seus atributos e de suas relações com o homem e com o universo], não devem ser condenadas ou proibidas por ninguém, já que, em relação a elas, cada um deve ser livre para dizer o que deseja", afirma Ockham.

Essas ideias foram sintetizadas, no século 17, por outro filósofo, John Locke, que as retirou da esfera das reflexões filosóficas individuais, expandindo-as à própria organização do Estado. Locke afirma que "o Estado nada pode em matéria puramente espiritual, e a Igreja nada pode em matéria temporal".

Essa busca de uma harmonização entre forças que, num primeiro momento, podem parecer incompatíveis - o pensamento liberal e a doutrina religiosa (no caso de Locke, a doutrina cristã) - tem marcado, desde então, o processo de desenvolvimento das democracias ocidentais.

Convivência

No transcorrer dos últimos séculos, religião e Estado procuram encontrar uma fórmula que privilegie, acima de tudo, a liberdade humana - sem a qual não há nem verdadeira busca religiosa nem Estado verdadeiramente livre. E a própria Igreja Católica reconhece a necessidade dessa independência, em um dos documentos que compõem as resoluções do Concílio Vaticano 2º, a Constituição Pastoral Gaudium et Spes (sobre a Igreja no mundo atual): "No domínio próprio de cada uma, comunidade política e Igreja são independentes e autônomas".

Ao sair da esfera de influência direta das religiões, o Estado tornou-se laico - e o laicismo não só impregnou a evolução das sociedades democráticas, mas se transformou também em um método de convivência, no qual filosofias e religiões, se não deixam de pretender possuir a verdade absoluta, também não transformam suas respectivas maneiras de pensar em atitudes que violentam a ordem jurídica ou afrontam a liberdade individual.

E, de fato, esse é o ideal: no que se refere tanto às confissões religiosas como aos governantes, que eles procurem defender seus pontos de vista e exercer sua influência dentro dos limites estabelecidos pela lei, agindo sempre com tolerância.

Religiões seculares

Isso não quer dizer, no entanto, que a separação entre religião e Estado seja uma concepção política inquestionável, seguida por todos os países. Se, nos dias de hoje, há Estados que vivem intrinsecamente ligados à religião, como os do mundo islâmico, a história também nos mostra que, às vezes, os Estados podem transformar partidos políticos ou ideologias em verdadeiras religiões.

Essa sacralização de uma ideologia ou de um partido é sempre marcada pela intolerância violenta - e chega ao extermínio físico dos adversários e dos dissidentes. Os regimes totalitaristas de influência fascista, nazista ou marxista são exemplos dessas religiões seculares, nas quais - como em muitos países islâmicos - as políticas mais repressoras são colocadas em prática.

Esses Estados, apoiando-se em uma confissão religiosa ou em uma ideologia qualquer (que são transformadas em verdadeiros dogmas), instauram a censura e destroem a autonomia das esferas filosóficas, artísticas, espirituais e políticas da sociedade - aniquilando assim o direito à liberdade.

Mais uma etapa superada...