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Inteligência Artificial
"Inteligência
Artificial" é o título do novo livro de João de Fernandes Teixeira que
compõe a coleção "Como ler filosofia", da editora Paulus. A exemplo
do título "Como ler a filosofia da mente" (2008), do mesmo autor e
coleção, o livro aborda assuntos instigantes - comumente confundidos com os
temas de ficção científica cinematográfica -, em linguagem clara e acessível
a públicos diversos. Além de permitir uma aproximação ao tema, o livro é uma
alternativa ao título "O que é Inteligência Artificial" (1990),
também de João Teixeira, há algum tempo esgotado.
Os cinco capítulos que compõem o livro apresentam as principais
características, mudanças e teorias da Inteligência Artificial (IA) num
roteiro que fundamentará as colocações de implicações reflexiva, feitas por
ele no epílogo.
No primeiro capítulo, o autor situa a IA atual como uma tecnologia entre a
ciência e a arte cujo objetivo é construir máquinas que pareçam pensar
enquanto resolvem problemas, embora no interior de seu funcionamento o tipo
de inteligência seja de outra ordem. Isto porque o raciocínio humano já não é
modelo para máquinas que reproduzam seu tipo de inteligência. Inteligência
trata-se de poder computacional, que aumenta à medida em que as máquinas
possam igualar-se ao cérebro humano em termos de velocidade e memória. Para
tanto, os empenhos nesta área estão no desenvolvimento de novos materiais,
que possibilitem maior potência a fim de que lhe seja empregada o que se
denomina "força bruta" (método utilizado pelo Deep Blue, que venceu
o campeão enxadrista Gary Kasparov). Algumas das apostas estão no: DNA - por
conta de sua semelhança com o HD, no que concerne ao armazenamento de
informação -, no computador quântico, e no computador ótico.
No capítulo seguinte é traçado um breve percurso histórico da IA desde seu
início "mítico" até os atuais COG, Blue Brain e Jini. Estes últimos
têm como objetivo responder às questões sobre o cérebro humano por meio da
replicação. No percurso, são pontuados também o producente Simpósio de Hixon,
a partir do qual se estabeleceu uma analogia entre o cérebro humano e os
computadores, o desenvolvimento do programa O Teorico da Lógica, dos
americanos Newell e Simon, e o famoso Eliza. Ao final desse percurso, a
filosofia da mente é citada como uma disciplina surgida por conta das
questões subjacentes à replicação do cérebro humano, e observa que esta só
obterá uma verdade entre teorias monistas e dualistas a partir da própria
replicação.
Ainda retomando a história da IA, porém de modo especial, o terceiro capítulo
é dedicado a apresentar o Teste de Turing do matemático inglês Alan Turing -
que, aliás, será retomado em outros capítulos e apontado no Epílogo como um
futuro critério de distinção entre humanos e robôs. São retomados os
questionamentos ligados à questão por ele formulada: "Pode uma máquina
pensar?". A resposta a esta questão seria dada ao final de um longo
diálogo com o computador através de um teclado: se não for possível
distinguir se o interlocutor era uma máquina ou ser humano, poder-se-ia
concluir que o computador pensa. Em decorrência disso, seria considerado
consciente, logo dotado de mente.
O quarto capítulo, "Dos símbolos à parabiose", é ainda uma
narrativa histórica sob o aspecto da evolução da IA a partir das influências
da concepção de inteligência e mente humanas, que culminaram principalmente
em duas espécies de IA: a simbólica e a conexionista. João Teixeira as
apresenta mostrando seu contexto, pressupostos e características principais
(sucessivamente, capacidade de manipular símbolos e memória, e a busca por
criar um modelo simplificado de cérebro, construindo redes neurais a partir
de neurônios artificiais). A partir desta discussão, faz uma apreciação a
respeito da robótica e da GOFAI como movimentos opostos em função da
existência ou não de um corpo; e outra a respeito dos robôs Oz e Kismet
criados para ter emoções. O autor aborda ainda a possibilidade de dois tipos
de cyborgs provenientes da mistura de humanos e robôs, provenientes da união
da Inteligência Artificial com a já citada engenharia genética. Isto se daria
"expandindo o cérebro humano através do implante de chip e nanochips ou
transformando nossos circuitos cerebrais em supercomputadores" (p 43);
montando uma máquina mais poderosa, usando o cérebro humano como base; ou
ainda, a partir da cultura de neurônios humanos em superfícies lisas a fim de
que se ramifiquem formando o cérebro humano pelas possíveis conexões
sinápticas. Contudo, aponta a tendência de retomada das versões simbólicas.
A discussão filosófica a respeito da IA é apresentada no quinto capítulo,
tendo como pano de fundo a incompreensão por parte dos filósofos de que
"máquinas são, na verdade, grandes realizações da razão humana"
(p.47), portanto, lidar com uma máquina é lidar com o aquilo que o ser humano
impõe a si mesmo. Teixeira apresenta, então, dois argumentos em oposição à
IA. O primeiro é o argumento do quarto chinês, de John Searle, que denuncia a
falta de intencionalidade como motivo para se considerar que máquinas não
pensam, pois tal característica só se manifesta à medida que sabemos a que
são direcionados os nossos estados mentais. A outra objeção é a do insight
feita por Penrose, segundo a qual um computador jamais terá um insight (uma
compreensão nova e instantânea), apesar de poder gerar novas informações pelo
cruzamento das demais armazenadas em sua memória. O autor apresenta o modo
como ambas são refutadas pela IA a partir de suas falhas. Logo em seguida,
traz uma terceira objeção à inteligência Artificial levantada por alguns
biólogos: para eles, máquinas nunca poderão replicar a morfogênese
(propriedade dos seres vivos que lhes propicia tornarem-se o que são: desde
sempre sabem qual forma irão tomar). A réplica a esta objeção parte da
possibilidade de que a forma que temos agora tenha se dado por algo para além
de um plano interno de nosso organismo, e termina afirmando a existência de
programas que simulam a evolução biológica.
Finalmente, no epílogo, reafirma a reconsideração da Inteligência Artificial
simbólica junto com a ideia de replicação da mente humana em dispositivos
artificiais. Isto se deve tanto à tecnologia da GOFAI, quanto à robótica. A
partir daí, o capítulo final aponta uma série de futuras questões filosóficas
surgidas das possíveis mudanças de ordem social, emergidas do desenvolvimento
desse modelo. São algumas delas, a diminuição do custo e a superabundância
dos bens de consumo básicos; os problemas psicológicos daí decorrentes; o
desaparecimento da política; os benefícios conquistados pelo desvelamento do
código genético e da natureza humana; a necessidade de uma roboética por
conta das relações afetivas entre pessoas humanas e robôs e os direitos
destes frente à ânsia humana de superioridade. É neste contexto que testes
como o de Turing serão necessários. Para João Teixeira, esse
"progresso" é inevitável e até mesmo necessário uma vez que disto
depende o progresso humano, pelo conhecimento sobre sua própria espécie então
proporcionado. Tais considerações fazem da IA mais que uma simples
tecnologia: uma ciência humana, ou uma nova psicologia.
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