“E aí, Comeu?”: comédia mostra o ponto de vista masculino sobre
relacionamentos
No longa, Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e
Emílio Orciollo Netto conversam sobre o papel do homem diante da nova atitude
feminina numa mesa de bar
Está em cartaz nos cinemas brasileiros “E aí Comeu?”. O filme,
que já foi visto por quase 1,5 milhão de pessoas, é uma adaptação de peça
homônima de Marcelo Rubens Paiva e trata de relacionamentos, mas sob o ponto de
vista masculino. Na trama, os três amigos - Bruno Mazzeo, Marcos Palmeira e
Emílio Orciollo Netto - costumam se reunir numa mesa de bar para falar sobre
sentimentos, medos, anseios e, claro, como não poderia deixar de ser, mulher.
A mulher da mesa de bar. E quem é essa mulher de quem eles
tanto falam? É a mulher contemporânea, independente, que vem deixando os marmanjos
muitas vezes sem saber como agir: “Hoje a mulher já sabe que pode sustentar uma
casa, criar um filho, trabalhar, enfim, ser independente. E o homem, com sua
alma historicamente machista, é que ficou perdido, perguntando onde é que ele
se encaixa”, diz Bruno Mazzeo.
A comédia "E aí, comeu?"
discute a nova atitude feminina.
No filme, Bruno é Fernando, um recém-divorciado que está
reaprendendo a viver como solteiro; Orciollo Netto é Fonsinho, um aspirante a
escritor com um fraco por garotas de programa e Palmeira é Honório, um
jornalista casado que faz a linha ‘machão à moda antiga’. É nas conversas que
os três amigos têm sempre no mesmo bar que vão sendo reveladas as questões e as
perplexidades deles diante desta “nova mulher”, que, agora, inclusive, pode
dividir o bar com eles.
Entre um gole e outro, os protagonistas deixam clara a adoração
masculina por sexo oral, dizem que depilação íntima completa não está com nada
e que eles preferem mesmo é o “gramado baixo” e afirmam que uma mulher que fale
de futebol de igual para igual, sem deixar de ser feminina, pode ser
extremamente sexy.
Revelam também muitas das suas inseguranças: que morrem de medo
de serem traídos, que sofrem quando tomam um “pé na bunda” e que andam meio
perdidos, sim, na busca de um grande amor, em meio a tanta independência
feminina.
O olhar delas sobre o filme
deles. Na
saída da sessão, o iG perguntou para as mulheres o que haviam achado do filme.
De cara, o título provoca uma certa estranheza. “Foi uma surpresa, nem queria
assistir por causa do nome”, declarou Juliana Gentil, 38, que acabou entrando
na sessão por sugestão do marido. “Eles passam o tempo inteiro garganteando no
bar, querem ser machistas, ser os melhores. Mas, no fundo, são movidos pela
busca do amor”, conclui a funcionária pública.
É que no boteco, quando estão entre
amigos, o trio de protagonistas solta o verbo, mas, quando chegam a casa, é
“ela” quem manda. Perguntada sobre a personagem feminina que mais havia chamado
sua atenção, Juliana respondeu que era Leila, interpretada por Dira Paes: “É a
que mais se aproxima da vida real: uma mulher superocupada, que trabalha, sai
para ver as amigas, cuida dos filhos e está preocupada com as obrigações do dia
a dia que, conforme ela sente na pele, vão acabar atropelando o casamento”,
justificou.
Na trama, Leila é casada com Honório (Marcos Palmeira), com quem tem três
filhos. A relação dos dois caiu na rotina e ela passa então a sair toda noite,
deixando o marido, “machão tradicional”, com medo de estar sendo traído.
Para Nenê Lombardi, produtora, de 33 anos, a personagem de Dira
também é a que mais gera identificação: “Ela tenta de todas as formas salvar o
casamento. Empenha-se em resgatar a relação, mas sem ficar se humilhando”, diz.
Ao contrário de Juliana, que diz ter
adorado o filme, Nenê não gostou. Começando pelo título “muito machista”.
Segundo ela, “E aí, comeu?” mostra o lado mais “imbecil”, dos homens: “A
impressão que deu é que, quando pensam em casamento, eles procuram uma mulher
que seja uma mistura de empregada e prostituta”, disparou.
Nenê também se indignou com o fato da personagem da atriz Juliana Schalch, uma
prostituta de luxo, casar com o playboy interpretado por Emílio Orciollo Netto.
“Foge da realidade, é muito conto de fadas, muito ‘Uma Linda Mulher’”, disse,
fazendo alusão ao filme estrelado por Julia Roberts e Richard Gere. Já a
ninfeta, interpretada por Laura Neiva, que cai de amores por Bruno Mazzeo, para
ela, ficou fora de contexto: “Ela queria perder a virgindade, não deu para
entender por que escolheu um homem mais velho”.
Aliás, a Leila, de Dira Paes, parece mesmo ser a mais
“concreta’”. Pelo menos entre as mulheres entrevistadas para esta matéria, a
personagem é unanimidade. “Ela é independente, cuida da casa e dos filhos, mas
tem a vida dela, assim como o marido tem a vida dele”, reflete Adriana Adorno,
relações públicas de 23 anos, que foi assistir ao longa com o namorado.
Mulheres da vida real. Segundo Bruno Mazzeo, todas as
personagens femininas foram inspiradas em mulheres da vida real. “Penso que o
filme é bem próximo da realidade, pelo menos da realidade de muitas mulheres.
Foi exatamente isso que a gente quis mostrar, sem hipocrisia, sem politicamente
correto: a verdade como ela é ou pode ser. Acho que tanto homens, quanto
mulheres acabam se identificando”, diz o ator.
No filme fica bem claro que até o mais mulherengo dos homens
também quer casar.
Também fica evidente que, além deles já estarem meio confusos
com a independência da mulher, outro fator que causa desencontros é a falta de
comunicação. Mazzeo ressalta que, apesar de tantos meios disponíveis hoje para
se comunicar, as pessoas não se entendem. “Todo mundo fala e ninguém se ouve”,
analisa. Aí fica difícil mesmo encontrar o grande amor!
O longa-metragem, que se autointitula “a primeira comédia
verdadeira sobre o amor”, ainda traz no elenco Seu Jorge, no papel do garçom
amigo, responsável por alguns dos momentos mais engraçados do filme, Juliana
Alves, como a mulher sexy e inteligente, e Tainá Müller, que vive a ex-mulher
de Fernando (Bruno Mazzeo).