“O mais importante e bonito do
mundo é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, mas que elas vão sempre
mudando.” (João Guimarães Rosa)
www.bilibio.com.br
O
lugar da Política no Tempo Hodierno
|
|
Aparentemente,
a política parece estar em situação problemática. Periodicamente, aparecem
umas sumidades a relacioná-la com o registo da crise. Para a descredibilizar,
tais personalidades associam-na ao colapso das forças utópicas, com isso
negando a força da utopia; à queda das grandes narrativas criadas por
pensadores ou politólogos; à depressão dos políticos; à insatisfação com as
práticas de representação política; às repetidas denúncias de corrupção; ao
desencanto com os políticos profissionais. Estes são alguns dos itens que
emergem como interpelações dirigidas à política hodierna.
Algum
pensamento actual apresenta visível contraste entre a Política, como arte
de bem governar a Res Publica, e a exaltação da política neo-moderna: a
política espectáculo, a política que alimenta alguma Comunicação Social, que
denominarei de política sem rosto e sem pensamento.
O
contraponto entre o valor da Política e a política espectáculo indica, mais
uma vez, o estatuto problemático da política hoje e, em consequência, coloca
em cena uma das questões mais urgentes a ser trabalhada: a crise da Política
emerge da prática da política neo-moderna ou como uma incapacidade política “tout
court”?
A
posição assumida, nesta reflexão, opta pela primeira alternativa, pois propõe
que o registo da crise indica inabilidade na actividade política, que marca
hoje a política em moda. Não é a Política, em si, que está em crise. A
Política, em si mesma, não é nem má nem boa. Apenas é uma ciência humana. Os
actores que põem em prática a política, a sua política, é que podem não ser
genuínos e daí o fracasso das políticas que pretendem implementar.
Neste
contexto, a questão do lugar da política surge como essencial no novo mundo. Em
rigor, um dos dilemas do mundo contemporâneo consiste em responder
correctamente à pergunta: qual o lugar da política? Já todos sabemos que já
não é mais suficiente confiná-la no contorno do Estado-nação. A globalização
coloca pois um desafio: imaginar a política dentro de parâmetros universais e
mundializados. Com efeito, diferentemente da economia e da técnica e, mesmo
da cultura, que aparecem mais rapidamente globalizáveis, a política tende a
associar o global e o local com o nacional, em decorrência da amplitude que
vem adquirindo a partir dos anos oitenta, do século passado: tudo está
politizado.
A
constatação da decadência da política e a insistente reivindicação da
necessidade de uma nova política, parece ganhar plenamente sentido. Assim,
parece-nos desejável saber quem é o quê. Dito de outra forma,
é fundamental que o eleitorado conheça, sem ambiguidades, o pensamento
(quando existe!) de quem se propõe governar, seja a nível nacional seja a
nível local.
Tal
clarificação cria a possibilidade da actualização da política e de, por esta
via, encontrar um lugar mais consentâneo com esta ciência da governação, que
é a Política
Se
não se alimentar a Política com o timbre da verdade, acentuando bem o
pensamento que dá forma a cada proposta, isto é: as ideologias, a democracia,
na actualidade, corre sérios riscos. Com efeito, no mesmo momento em que o
valor da democracia parece universalizar-se, surge o esvaziamento desta por
força do igualitarismo político. Isto é, surgem os pensamentos globalizantes,
que nada definem nem esclarecem, parecendo que o que um diz, o outro diz
igual, ficando-se sem se saber qual o sentido das propostas que os diversos
actores políticos apresentam, pois o que importa não é esclarecer, mas
confundir. O importante, para vencer, não é delimitar e identificar, com
princípios e valores, mas sim ampliar e amalgamar para não se perceber os
sentidos últimos das intenções. Escolher a indiferença, ou talvez, a
simpatia, o politicamente correcto ou a retórica é o que alguns neo-políticos
propõem, hoje, como ideias! (António Pinela, Reflexões, Maio de 2004).
|