segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Viva a sabedoria...

O lugar da Política no Tempo Hodierno
Aparentemente, a política parece estar em situação problemática. Periodicamente, aparecem umas sumidades a relacioná-la com o registo da crise. Para a descredibilizar, tais personalidades associam-na ao colapso das forças utópicas, com isso negando a força da utopia; à queda das grandes narrativas criadas por pensadores ou politólogos; à depressão dos políticos; à insatisfação com as práticas de representação política; às repetidas denúncias de corrupção; ao desencanto com os políticos profissionais. Estes são alguns dos itens que emergem como interpelações dirigidas à política hodierna.
Algum pensamento actual apresenta visível contraste entre a Política, como arte de bem governar a Res Publica, e a exaltação da política neo-moderna: a política espectáculo, a política que alimenta alguma Comunicação Social, que denominarei de política sem rosto e sem pensamento.
O contraponto entre o valor da Política e a política espectáculo indica, mais uma vez, o estatuto problemático da política hoje e, em consequência, coloca em cena uma das questões mais urgentes a ser trabalhada: a crise da Política emerge da prática da política neo-moderna ou como uma incapacidade política “tout court”?
A posição assumida, nesta reflexão, opta pela primeira alternativa, pois propõe que o registo da crise indica inabilidade na actividade política, que marca hoje a política em moda. Não é a Política, em si, que está em crise. A Política, em si mesma, não é nem má nem boa. Apenas é uma ciência humana. Os actores que põem em prática a política, a sua política, é que podem não ser genuínos e daí o fracasso das políticas que pretendem implementar.
Neste contexto, a questão do lugar da política surge como essencial no novo mundo. Em rigor, um dos dilemas do mundo contemporâneo consiste em responder correctamente à pergunta: qual o lugar da política? Já todos sabemos que já não é mais suficiente confiná-la no contorno do Estado-nação. A globalização coloca pois um desafio: imaginar a política dentro de parâmetros universais e mundializados. Com efeito, diferentemente da economia e da técnica e, mesmo da cultura, que aparecem mais rapidamente globalizáveis, a política tende a associar o global e o local com o nacional, em decorrência da amplitude que vem adquirindo a partir dos anos oitenta, do século passado: tudo está politizado.
A constatação da decadência da política e a insistente reivindicação da necessidade de uma nova política, parece ganhar plenamente sentido. Assim, parece-nos desejável saber quem é o quê. Dito de outra forma, é fundamental que o eleitorado conheça, sem ambiguidades, o pensamento (quando existe!) de quem se propõe governar, seja a nível nacional seja a nível local.

Tal clarificação cria a possibilidade da actualização da política e de, por esta via, encontrar um lugar mais consentâneo com esta ciência da governação, que é a Política

Se não se alimentar a Política com o timbre da verdade, acentuando bem o pensamento que dá forma a cada proposta, isto é: as ideologias, a democracia, na actualidade, corre sérios riscos. Com efeito, no mesmo momento em que o valor da democracia parece universalizar-se, surge o esvaziamento desta por força do igualitarismo político. Isto é, surgem os pensamentos globalizantes, que nada definem nem esclarecem, parecendo que o que um diz, o outro diz igual, ficando-se sem se saber qual o sentido das propostas que os diversos actores políticos apresentam, pois o que importa não é esclarecer, mas confundir. O importante, para vencer, não é delimitar e identificar, com princípios e valores, mas sim ampliar e amalgamar para não se perceber os sentidos últimos das intenções. Escolher a indiferença, ou talvez, a simpatia, o politicamente correcto ou a retórica é o que alguns neo-políticos propõem, hoje, como ideias! (António Pinela, Reflexões, Maio de 2004).

http://www.eurosophia.com/filosofia/acesso_livre/filosofia_politica/lugar_da_politica_no_tempo_hodierno.htm

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