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O
  lugar da Política no Tempo Hodierno | 
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Aparentemente,
  a política parece estar em situação problemática. Periodicamente, aparecem
  umas sumidades a relacioná-la com o registo da crise. Para a descredibilizar,
  tais personalidades associam-na ao colapso das forças utópicas, com isso
  negando a força da utopia; à queda das grandes narrativas criadas por
  pensadores ou politólogos; à depressão dos políticos; à insatisfação com as
  práticas de representação política; às repetidas denúncias de corrupção; ao
  desencanto com os políticos profissionais. Estes são alguns dos itens que
  emergem como interpelações dirigidas à política hodierna. 
Algum
  pensamento actual apresenta visível contraste entre a Política, como arte
  de bem governar a Res Publica, e a exaltação da política neo-moderna: a
  política espectáculo, a política que alimenta alguma Comunicação Social, que
  denominarei de política sem rosto e sem pensamento. 
O
  contraponto entre o valor da Política e a política espectáculo indica, mais
  uma vez, o estatuto problemático da política hoje e, em consequência, coloca
  em cena uma das questões mais urgentes a ser trabalhada: a crise da Política
  emerge da prática da política neo-moderna ou como uma incapacidade política “tout
  court”? 
A
  posição assumida, nesta reflexão, opta pela primeira alternativa, pois propõe
  que o registo da crise indica inabilidade na actividade política, que marca
  hoje a política em moda. Não é a Política, em si, que está em crise. A
  Política, em si mesma, não é nem má nem boa. Apenas é uma ciência humana. Os
  actores que põem em prática a política, a sua política, é que podem não ser
  genuínos e daí o fracasso das políticas que pretendem implementar. 
Neste
  contexto, a questão do lugar da política surge como essencial no novo mundo. Em
  rigor, um dos dilemas do mundo contemporâneo consiste em responder
  correctamente à pergunta: qual o lugar da política? Já todos sabemos que já
  não é mais suficiente confiná-la no contorno do Estado-nação. A globalização
  coloca pois um desafio: imaginar a política dentro de parâmetros universais e
  mundializados. Com efeito, diferentemente da economia e da técnica e, mesmo
  da cultura, que aparecem mais rapidamente globalizáveis, a política tende a
  associar o global e o local com o nacional, em decorrência da amplitude que
  vem adquirindo a partir dos anos oitenta, do século passado: tudo está
  politizado. 
A
  constatação da decadência da política e a insistente reivindicação da
  necessidade de uma nova política, parece ganhar plenamente sentido. Assim,
  parece-nos desejável saber quem é o quê. Dito de outra forma,
  é fundamental que o eleitorado conheça, sem ambiguidades, o pensamento
  (quando existe!) de quem se propõe governar, seja a nível nacional seja a
  nível local. 
Tal
  clarificação cria a possibilidade da actualização da política e de, por esta
  via, encontrar um lugar mais consentâneo com esta ciência da governação, que
  é a Política 
Se
  não se alimentar a Política com o timbre da verdade, acentuando bem o
  pensamento que dá forma a cada proposta, isto é: as ideologias, a democracia,
  na actualidade, corre sérios riscos. Com efeito, no mesmo momento em que o
  valor da democracia parece universalizar-se, surge o esvaziamento desta por
  força do igualitarismo político. Isto é, surgem os pensamentos globalizantes,
  que nada definem nem esclarecem, parecendo que o que um diz, o outro diz
  igual, ficando-se sem se saber qual o sentido das propostas que os diversos
  actores políticos apresentam, pois o que importa não é esclarecer, mas
  confundir. O importante, para vencer, não é delimitar e identificar, com
  princípios e valores, mas sim ampliar e amalgamar para não se perceber os
  sentidos últimos das intenções. Escolher a indiferença, ou talvez, a
  simpatia, o politicamente correcto ou a retórica é o que alguns neo-políticos
  propõem, hoje, como ideias! (António Pinela, Reflexões, Maio de 2004). | 
http://www.eurosophia.com/filosofia/acesso_livre/filosofia_politica/lugar_da_politica_no_tempo_hodierno.htm
 
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