A educação no período Helenístico: a
Paideia na época de Alexandre, o Grande
A educação no período helenístico foi marcada principalmente pelas
escolas de Platão, Aristóteles e as escolas Estoicista, Epicurista e
Pirronista.
Pirro, filósofo que negou radicalmente toda a tradição
platônico-aristotélica
Alexandre possuía um talento esplendido no que diz respeito a
táticas, expedições militares e conquistas de terras alheias. Porém, essas
conquistas levaram a uma revolução cultural inimaginável: a cultura helênica
chegou a todos os povos conquistados e os helênicos sofreram grande influência
das mais diversas culturas, particularmente das orientais. Entretanto, em
contrapartida com a cultura, houve também uma reviravolta política, cujo
alicerce é a passagem das cidades-Estados gregas às monarquias autoritárias
alexandrinas. Submetendo toda a liberdade e a felicidade dos gregos,
sustentadas pela democracia, há uma anarquia espiritual e política intrínseca
nessas monarquias. Desse modo, o cenário resume-se ao desaparecimento do cidadão,
ou ainda do próprio sentimento do que seja cidadão, e ao estabelecimento do indivíduocosmopolita, isto
é, o cidadão do mundo.
Além da Academia de Platão e do Liceu de Aristóteles, outras
escolas foram sendo desenvolvidas no período helenístico: Estoicista,
Epicurista e Pirronista. As escolas de Platão e Aristóteles tinham um
papel essencial na definição e na interpretação das teorias de seus fundadores.
Já o estoicismo, o epicurismo e o pirronismo possuíam um pensamento diverso
dessas escolas, buscando uma visão diferenciada da ética e, portanto, da
educação ou Paideia, pois se baseavam em repassar para seus discípulos
fundamentos teóricos que pudessem estabelecer princípios que instruiriam uma
vida moralmente correta e, essencialmente, uma vida feliz. Essas escolas
divergem quanto a alguns aspectos teóricos que influenciam os princípios éticos
que fundamentam cada concepção de educação. Vejamos quais diferenças são essas:
O Pirronismo deriva do pensamento de Pirro, filósofo que
negou radicalmente toda a tradição platônico-aristotélica, colocando em dúvida
todo o conhecimento humano, pois as coisas são, em si, impossíveis de se
conhecer, ou seja, “cada coisa não é mais que aquilo”, e, assim, nossas
representações estão anuladas e qualquer tentativa de formar juízos sobre
qualquer sensação obtida está fadada ao fracasso. Desse modo, aqueles que
desejam ser felizes devem manter a abstenção de juízo e ficar sempre
indiferentes diante das coisas, pois as tentativas de formação de qualquer tipo
de juízo estão impossibilitadas; logo, aqueles que insistem em tal ato somente
conseguirão a perturbação da alma, o que é totalmente contrário ao ideal de
felicidade, que é a apatia ou imperturbabilidade da alma.
O Epicurismo não nega a certeza do conhecimento das coisas,
pois admite em seus estudos sobre a natureza que tudo é matéria e que todas as
coisas são formadas por milhares de diferentes átomos que comprovam a
existência conforme entram em contato com nossas sensações. Dessa forma, nossa
sensação é perfeitamente capaz de nos remeter ao mundo exterior e, sobretudo,
de dar-nos certeza de encontrar a verdade (a coisa em si). É nesse contato com
a verdade que os preceitos morais epicuristas encontram seus fundamentos:
quando as coisas entram em contato com nossa sensação, despertam-nos um
sentimento de prazer ou de dor, sendo que o critério para discernir o que é bom
para o indivíduo é o prazer; e para discernir o que não é bom, a dor.
Porém, não é todo o sentimento de prazer que promove a felicidade;
desse modo, explica-se a existência de prazeres naturais e necessários, outros
naturais, mas não necessários e ainda não naturais e não necessários. Assim,
Epicuro concede à sabedoria fundamental importância para o bem julgar, pois
estabelecidos os cânones (máximas) destinados a orientar seus discípulos a
distinguirem de forma correta os prazeres e para que eles sempre escolham os
prazeres naturais e necessários, proporciona a todos a saúde do corpo e a
tranquilidade da alma e, em consequência disso, a felicidade. Constitui também
os preceitos da ética epicurista, o não temor dos deuses e da morte, pois ele
contradiz a teoria atomística-materialista de Epicuro. Assim, a postura do
sábio epicurista é de grande reclusão, a qual proporciona a todos a
possibilidade do reconhecimento dos melhores prazeres, mas sempre reconhecendo
a importância da amizade que abre oportunidade de trocar conhecimentos com
outrem e estabelecer uma sabedoria indispensável para a formação do indivíduo.
Por fim, a educação epicurista almejaria, sobretudo, sob o alicerce
da sabedoria, formar o indivíduo moral e orientar suas ações, mantendo sua alma
longe dos temores do vulgo, das paixões e dos vícios (dor), enquanto procura
prazeres naturais e necessários para estabelecer uma vida saudável, tranquila
e, enfim, feliz.
Já o Estoicismo concebe a natureza como sendo determinada
conforme um monismo-panteísta: monismo por se tratar de um corpo único
denominado mundo (Todo); e panteísta por existir nesse mundo, disseminado em
todas as partes, um princípio criador e normativo denominado Lógos. Ele
está presente no homem, porém de forma diferenciada: ele é parte hegemônica na
alma humana, ou seja, no homem, ele é o que conhecemos como razão. Assim, o
homem é naturalmente racional e essa razão é responsável por conduzi-lo
(guiar).
De acordo com os estoicos, ser feliz é, também, estar ou viver de
acordo com a natureza; logo, devemos primeiramente observar a natureza do
homem. Ele é um animal que necessita de conservação, isto é, que precisa
alimentar-se e procriar-se. Mas essa conservação está devidamente atualizada,
visto que sobrevive pelo transcorrer dos séculos. Por outro lado, ele é
racional e, contudo, necessita de atualização constante (como nos cuidados com
o corpo). Desse modo, os estoicos determinaram todos os conceitos necessários
para que o indivíduo possa conscientizar-se de sua constituição física a fim de
incrementar (aperfeiçoar) sua parte racional, que é falha, escolhendo somente
os bens, tendo como embasamento os critérios de verdade, de modo que ele
mantenha-se afastado do erro (maus juízos) e, portanto, das paixões que habitam
a alma e que lhe causam penosa infelicidade.
Assim, para os estoicos, a educação se basearia no esclarecer ao
indivíduo que conscientizado e seguindo sua razão conjuntamente com todos os
critérios de juízo, terá a perfeita condição de estar constantemente prudente
ao estabelecer juízos para execrar tudo o que não aperfeiçoe sua natureza,
mantendo longe de si toda e qualquer paixão, a fim de viver com felicidade.