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Filosofia da História e a astúcia da Razão em Hegel
Para Hegel a Razão governa a História
A simples constatação ou fé de que a Razão governa a História é
a motivação da pesquisa de Hegel em sua “Filosofia da História”. E o fim último
dessa Razão é a sua realidade concreta, ou seja, o Estado.
No percurso do que Hegel chama de história filosófica, em virtude
da concretização da Razão, ele percebe os grandes momentos em que o Espírito
Absoluto, com sua qualidade intrínseca ou fim em si mesmo que é a liberdade,
lutou para superar a si mesmo num movimento contínuo e progressivo (progresso
da consciência humana). Esses momentos são especiais porque revelam o que há de
potencial em cada ato do ser humano (no caso aqui, o homem histórico). Enquanto
ser dotado de Vontade e paixões particulares, buscando atingir seus
interesses próprios, os homens vão, através desses momentos, superando e
suprimindo as suas necessidades imediatas. Mas o fim de cada ação particular
contém também um objetivo geral, segundo Hegel. E quando uma ação se une à
outra e a partir de um indivíduo é expressa, carrega em si toda a realização e
transformação necessárias em cada época.
Um indivíduo comum tem suas necessidades imediatas, seus interesses
próprios, suas paixões, etc.; visa, portanto, em cada ato voluntário, suprimir
tais necessidades, interesses e paixões. E embora seus atos particulares
contenham potencialmente o que há de universal, eles não conseguem ou mesmo não
querem realizá-los, ficando satisfeitos com o que conquistaram para si. Já os
grandes indivíduos históricos universais, homens que compreenderam seu
tempo, aproveitaram a oportunidade, contrapuseram-se e superaram as leis e os
direitos estabelecidos vigentes em sua época. Estes homens, também com suas
paixões particulares, uniram em ato essas paixões e o potencial da
universalidade (da vontade geral) nelas contidas, expressando a antítese que é
o meio necessário para a transformação de sua realidade, que, por sua vez,
sintetiza o interesse da Razão. Mas, apesar de sua grandeza e ao contrário dos
indivíduos comuns, não foram homens felizes. Mesmo inconscientes da ideia
diretora, foram homens excelentes (históricos) porque edificaram partes
importantes da História Universal que é, para Hegel, o progresso na consciência
da liberdade.
Se, portanto, para Hegel a Razão governa a História e os indivíduos
são dotados de uma capacidade de realizar os interesses de suas paixões, aliada
ao universal, sendo este o resultado da atividade particular e de sua negação,
pode-se questionar como se dá a relação do particular com o universal. Na ação
de um indivíduo (o histórico universal), a relação entre interesse particular e
o universal é inseparável e se dá por participação. Significa que este
indivíduo se expõe aos perigos gerados por sua ação e se desgasta nos conflitos
de oposição, enquanto agente privado, e que a ideia, que é o universal,
mantém-se ilesa, intocável. É o que Hegel denomina de “Astúcia da Razão”.
A Astúcia da Razão consiste em salvaguardar a ideia, permitindo que
as paixões atuem por si mesmas, experimentem perdas e danos para que nessa luta
e nessa perda sempre sobressaia algo, sempre exceda algo positivo, afirmativo.
É o preço do sacrifício pela progressiva consciência da liberdade e que
justifica as ações dos grandes homens não só de imediato, mas em toda a História.
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