O
desenvolvimentismo foi suficiente para o Brasil no século XX?
A criação de um parque industrial
nacional no século XX visava, além do desenvolvimento tecnológico do Brasil, a
criação de empregos como combate aos problemas sociais.
O Estado a partir da Era vargas criou
condições para atração de capital estrangeiro.
A importação de tecnologia estrangeira
para a produção interna de produtos nacionais, viabilizada pela política de
substituição de importações, promoveu, até certo ponto, a modernização e a
constituição de um parque industrial nacional entre as décadas de 1930 e 1970.
Em outras palavras, o Estado (principalmente a partir da Era Vargas) criou
condições para atração de capital estrangeiro, promovendo o desenvolvimento
tecnológico do país e criando uma indústria de base (responsável pela produção
de insumos de primeira ordem como aço, combustível).
Acreditava-se ser esta
política um sinônimo de desenvolvimento também no âmbito social. A simples geração
de emprego na esteira da industrialização era compreendida como a principal
arma contra os problemas sociais.
No entanto, os altos índices de
concentração de renda e da má distribuição persistentes até os dias de
hoje, são indicadores de que este caminho que se tentou traçar ao longo do
século XX não foi bem-sucedido. Até o início dos anos 2000, nem mesmo os
projetos de desenvolvimento dos militares em plena ditadura entre as décadas de
60 e 70 foram suficientes.
O cerne da questão está, basicamente, no fato de que
esta tecnologia importada para alavancar a produção nacional não foi compatível
com a demanda das necessidades internas do país, isto é, havia uma
desproporcionalidade entre as condições sócio-econômicas nacionais e o tipo de
bens produzidos pelas grandes multinacionais. Em outras palavras, o baixo poder
de compra dos brasileiros não era suficiente para demandar uma produção.
Reproduzia-se uma tecnologia que era
condizente com os padrões de consumo europeus ou norte-americanos, economias
estas que desde sempre se diferenciaram em muito dos quadros sociais
latino-americanos.
O consumo desta demanda de “novas tecnologias” restringiu-se
às camadas mais abastadas, o que representou o malogro da tentativa de promoção
do desenvolvimento sócio-econômico do país pela modernização dos parques
industriais. Logo, apreende-se que tanto a atração de capitais como de
tecnologia estrangeira não são sinônimos de desenvolvimento socioeconômico,
pois este só é alcançado quando a produção tecnológica nacional é compatível
com a demanda social do país, demanda esta que é dada não de forma imediatista,
mas configurada ao longo do processo histórico de formação da sociedade.
O curioso é notar que, paralelamente a
esta questão de como fazer o Brasil se tornar um país de economia sólida e
pujante, sempre esteve o problema da educação. Exaustivamente, chama-se a
atenção para a promoção da formação educacional em todos os seus níveis,
principalmente o superior, dada sua relação direta com a produtividade.
Atualmente, no Brasil, fala-se em ampliar a fabricação de produtos que requerem
alta tecnologia como os chamados tablets, mas a defasagem de profissionais
engenheiros e técnicos é um obstáculo a ser enfrentado.
Contudo, embora o Brasil ainda tenha
diversos problemas estruturais tanto no sentido social como econômico, devemos
fazer justiça com a diminuição da desigualdade social ocorrida nas últimas
décadas, haja vista a inclusão de milhares de brasileiros na chamada classe
média. Ao que tudo indica, isso seria resultado não apenas do crescimento
econômico e da produção em termos absolutos, mas também da promoção de política
sociais nesses últimos anos. Porém, além da transferência de renda por meio
desses programas, sabemos da importância do investimento em educação na
formação do jovem e na capacitação do trabalhador.
Assim, atacar o problema da defasagem
educacional no país não se trata de tentar acabar apenas com um sintoma da exclusão
e da pobreza, mas com o processo gerador e perpetuador da exclusão. Logo, a
fragilidade do argumento daqueles que erguiam a bandeira do desenvolvimentismo
como forma de acabar com a desigualdade (defendendo a velha máxima de que seria
preciso “fazer o bolo crescer para depois dividir as fatias”) estava no fato de
que concentravam seus esforços apenas no enfoque econômico da questão,
relegando a outro plano os investimentos e as reformas necessárias na área
social de responsabilidade do Estado.