Consciência e as relações com o outro e o ser-em-si, segundo Sartre
Segundo Sartre, para explicar as
relações da consciência é preciso determinar dois seres: o Ser-em-si e o
Ser-para-si.
Para explicar as relações da
consciência é preciso antes defini-la tal como Sartre o fez. Partindo da
análise da consciência do homem - um ser que está no mundo, ou seja, vinculado
ou indissociável enquanto corpo-mente-mundo - é possível determinar dois seres:
O Ser-em-si e o Ser-para-si.
O primeiro diz respeito às coisas tal como se
apresentam para nós, sendo fenômeno (aparição) ou não, ou seja, existem aí no
mundo (Dasein), independente de qualquer coisa. O segundo, o para-si, é a
consciência que ao se defrontar com o mundo torna-se um processo dinâmico
(contrastando com a inércia do em-si) e faz com que o em-si se desvele.
Essa relação evidencia a natureza do
Para-si: é o nada que vê nos objetos o seu não ser, isto é, relacionado com o
ser-em-si, ele (o para-si ou consciência) não se identifica com nenhum dos
seres (em-si), sendo, portanto, uma falta, uma carência que é na verdade o
movente para atingir aquele repouso do em-si. O para-si deseja ser.
Também o para-si é um ser
contingente, mas que ao contrario do em-si quer ser causa da sua própria
existência e que questiona seu próprio ser. Nisso já está implícito um conceito
de liberdade que é característica do ser-para-si. Essa liberdade permite que
uma subjetividade seja objetiva e nesta ação está a responsabilidade que Sartre
atribui a cada homem.
A consciência quando se depara com um
ser (em-si ou para-si), seja na forma de percepção, seja na de imaginação, tem
uma intenção: a intencionalidade da consciência diante dos fenômenos
(existentes) é uma forma negadora de outros objetos (externos) e de si mesma
(interna) e por isso ela (a consciência) é o nada que vem ao mundo pelo homem e
faz a relação entre ser-em-si e ser-para-si ser um fluxo recíproco entre eles.
Como a consciência não consegue se
identificar com nenhum ser-em-si, ela disto se aproxima quando em relação com
outra consciência. Isto porque a ação ou escolha enquanto consciência percebe a
contingência e gratuidade de sua existência que geram a angústia posterior a
uma sensação de náusea.
Angústia porque a responsabilidade é totalmente do
individuo ou de cada individuo enquanto forma de reagir ao mundo, às coisas,
etc., causados pela náusea de saber que não existe um Deus ou um fundamento que
determine a sua essência. Se, como diz Sartre, a existência precede a essência,
o homem enquanto jogado ao mundo é quem desenvolve seus projetos e único
responsável por suas ações.
Estas ações podem implicar numa ética. A relação
entre consciência é o que permite que a escolha seja de fato universal. Se a
consciência é livre e pode escolher, quando isto se dá, quer dizer que é
escolher a liberdade para todos os homens, pois se escolhe o homem (a
consciência).
Dessa forma, outro é que é o espelho
para um indivíduo (intersubjetividade) e determina a escolha em agir ou não da
mesma forma e pode, também, melhor emitir um juízo sobre esse indivíduo. Assim,
de sua frase “o inferno são os outros” é que temos a concepção de que os
julgamentos são sempre parciais.
Não é a defesa de um tipo de egocentrismo
exacerbado, mas sim a verificação ontológica da possibilidade das escolhas seja
feita universalmente devido ao fato de que ao se escolher, escolhe-se a
liberdade.
Há uma pretensa noção de que as escolhas conscientes se uniformizem,
já que o conflito é inevitável entre seres livres que pensam e escolhem
diferente. Mas o que pode ser considerado mais universal é que o homem é um ser
para a morte.
http://www.brasilescola.com/filosofia/consciencia-suas-relacoes-com-outro-ser-em-si-segundo-sartre.htm