Turista de 18 anos atacada por tubarão morre em hospital do Recife
Bruna Gobbi, natural de SP, passava
férias na cidade, com a família.
Ela foi atacada na tarde de
segunda-feira, na praia de Boa Viagem.
Morreu, por volta das 23h30 de
segunda-feira (22), a jovem Bruna Silva Gobbi, 18 anos, vítima de um ataque de
tubarão nesta tarde na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. A informação
foi confirmada pela assessoria de imprensa do Hospital da Restauração (HR), por
volta da 1h desta terça (23).
O corpo da turista paulistana será
encaminhado ao Instituto de Medicina Legal. Ainda não há informações sobre
traslado do corpo, velório e enterro. Esse foi o 59º ataque de tubarão no
litoral pernambucano e a 24ª morte, desde 1992, quando teve início a contagem
desse tipo de incidente.
Bruna estava com uma prima quando foi
atacada, por volta das 13h20 desta segunda. As jovens estavam na praia de Boa
Viagem, na altura do edifício Castelinho. “Estávamos em um grupo de pessoas,
eu, ela, nossos primos de Olinda, a mãe dela e a avó. Eu e ela estávamos no
raso e percebemos que tinha um buraco, um declive, e não conseguíamos pisar no
chão. Nessa hora um dos nossos primos pediu ajuda a um dos salva-vidas. Pouco
depois de eu ter sido colocada no jet-ski dos Bombeiros, Bruna foi
atacada", relembrou Daniele Souza Gobbi, em conversa com o G1.
O que a jovem define como declive é,
na verdade, uma forte correnteza causada pela chamada corrente de retorno.
"É uma corrente muito forte e precisa saber nadar muito bem para escapar.
Bruna e a outra pessoa que estava com ela foram arrastadas mais para dentro do
mar. São correntes comuns em qualquer praia, não são uma particularidade do
Recife”, explica a presidente do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes
com Tubarões (Cemit), Rosângela Lessa, que também é professora da Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
O momento do ataque foi registrado
pelas câmeras de monitoramento do projeto Segurança na Orla, da Secretaria de
Defesa Social (SDS). As imagens mostram a movimentação de Bruna e Daniele no
mar, além da chegada dos bombeiros e manchas de sangue na água após o ataque.
No vídeo, dois bombeiros aparecem entrando no mar a nado para resgatá-las.
Usando uma moto aquática, um terceiro bombeiro resgata as banhistas. Depois,
todos saem em direção à faixa de areia. Em nota, a SDS informou que o
salvamento e resgate das vítimas durou menos de dois minutos.
A prima de Bruna acrescentou que
conhecia o histórico de ataques de tubarão na praia recifense. "Sabíamos
que havia riscos de ataque, mas eu não achava que seria tão no raso, e sim no
fundo", comentou.
Areia tem manchas de sangue; local do
ataque é monitorado pela Polícia Militar. Areia ficou com manchas de sangue.
Bombeiros alertaram para risco
Rosângela Lessa também disse ao G1
que a família de Bruna Gobbi foi informada pelo Corpo de Bombeiros que estava
em uma área de risco. Mesmo assim, o grupo teria se recusado a sair do mar.
"A família foi abordada pelos bombeiros, que explicaram que era uma área
em que havia possibilidade de ataques e pediram que saíssem da água. Eles então
ficaram monitorando [o grupo] do posto de observação, tanto que chegaram ao
ponto rapidamente, quando o ataque ocorreu", explicou.
Esta época do ano também é um fator
de risco a mais, acrescentou a presidente do Cemit. "Estamos em um período
de águas turvas, em que a probabilidade de ataques é mais alta, por causa das
chuvas do inverno e da grande quantidade de material em suspensão que vem dos
rios. Além disso, temos na cidade um monte de gente de férias, que costuma não
acreditar no que dizem as placas", continuou, se referindo à sinalização
que alerta para o risco de ataque de tubarão no litoral pernambucano.
Ainda sobre a corrente de retorno,
Rosângela Lessa ressaltou não se tratar de um fenômeno excepcional.
“Excepcional é a pessoa saber que está numa situação de risco, ser alertada e
permanecer nesse lugar. É um conjunto de fatores previsíveis e indesejáveis,
com consequências terríveis para a vítima, sua família e para a cidade",
lamentou.
O vendedor ambulante Leonardo
Ferreira de Brito confirma a informação do Cemit. "A correnteza estava
puxando, elas estavam tentando voltar [para a beira]. O bombeiro falou três
vezes para elas não entrarem na água. Dois banhistas estavam tentando socorrer,
e mais dois bombeiros. Depois o jet-ski se aproximou, foi aquele sangueiro,
parecia filme de Hollywood. A perna dela 'tava' totalmente dilacerada",
contou.
De acordo com a presidente do Cemit,
há 44 pares de placas sinalizando a ocorrência de ataques de tubarões,
espalhados em 30 quilômetros do litoral pernambucano - uma delas, a menos de
100m do local do incidente desta segunda. Sem exames do ferimento, não é
possível precisar a espécie do tubarão que atacou a jovem paulistana. "A
gente só pode supor, dentro de uma hipótese bem ampla, que são as espécies que
já se envolveram em incidentes anteriores, que são o cabeça-chata e o
tigre", finalizou.
Atendimento médico
Os médicos do Hospital da Restauração
(HR) que atenderam Bruna Gobbi conversaram com a imprensa durante a tarde. A
perna esquerda da jovem foi amputada cerca de 15 centímetros acima do joelho,
após uma mordida considerada extensa.
A cirurgiã vascular Maria Cláudia
Albuquerque informou que a paciente chegou ao hospital com a pressão a zero, em
um estado extremamente grave. "Foram feitas todas as medidas de suporte e
ela foi levada ao bloco cirúrgico para uma avaliação. A lesão apresentada no
membro foi muito extensa. Pedaços da musculatura e do tecido ósseo foram
perdidos. Precisávamos de uma atitude rápida para conter o sangramento e tentar
salvar a vida da paciente", detalhou a médica.
Bruna deu entrada no HR após ser
transferida da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro da Imbiribeira.
Nas duas unidades de saúde e no caminho entre a UPA e o hospital, ela sofreu
paradas cardiorrespiratórias. A jovem foi submetida a uma cirurgia por volta
das 15h, onde teve parte de membro inferior amputado. Após o procedimento, foi
encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Seu estado era grave, com
respiração através de aparelhos e uso de drogas vasoativas.
Números de ataques
Os ataques em Pernambuco começaram a
ser contabilizados em 1992. Dados do Comitê Estadual de Monitoramento de
Incidentes com Tubarões revelam que 70,2% das vítimas, ao longo dos anos,
tinham entre 14 e 25 anos. Além disso, 35,1% das ocorrências foram registradas
durante período de lua cheia. Dos 59 ataques, 23 ocorreram na Praia de Boa
Viagem e 17, na vizinha Praia de Piedade, situada no município de Jaboatão dos
Guararapes, na Região Metropolitana do Recife (RMR). Ainda conforme o Cemit, 35
vítimas dos tubarões em Pernambuco sobreviveram; 24 pessoas morreram após serem
mordidas pelos animais nos últimos 21 anos.