Os sistemas
produtivos: formas de atender às necessidades da vida material
Os sistemas produtivos dizem respeito à forma como as
sociedades se organizam para produzir os recursos necessários à sua
sobrevivência.
Como se sabe, as sociedades possuem estruturas, as quais
são responsáveis pela maneira como as relações sociais são organizadas,
norteadas, conduzidas, permitindo que os indivíduos possam assumir posições e
papéis sociais. Tais estruturas estão extremamente interconectadas aos sistemas
produtivos que vigoram nestas sociedades, os quais dizem respeito à forma como
as sociedades se organizam para produzir os recursos necessários à sua
sobrevivência, isto é, diz respeito à maneira como os grupos sociais atendem às
necessidades materiais de suas vidas. As necessidades materiais devem ser
entendidas como alimentos, vestimentas, utensílios, ferramentas, construções,
remédios, enfim, uma gama de elementos necessários e que são produzidos ou
alcançados pelo trabalho do homem através de sua interação com o meio e com
outros homens em sociedade.
A transformação do sistema produtivo é um aspecto
fundamental para se pensar nas mudanças das estruturas sociais que garantiriam
o surgimento de uma sociedade industrial e o abandono dos padrões anteriores.
Como se sabe, uma maior divisão do trabalho ocasionou o surgimento de uma
estratificação em classes sociais como podemos compreender da leitura da obra
de Karl Marx. Aliás, este mesmo pensador nos mostra em sua análise a
importância do chamado materialismo histórico, um método pelo qual podemos
tentar compreender a vida econômica, social, política e intelectual, isto é, a
história da humanidade e suas formas de organização, percebendo de que forma os
sistemas produtivos de cada período possuem uma relação intrínseca com a
estrutura social.
Na sociedade feudal existente na Idade Média, por
exemplo, para uma sociedade estamental (sem condições de mobilidade social)
prevalecia um sistema produtivo de autossustento, predominantemente agrícola,
familiar. Mesmo com o desenvolvimento incipiente de um comércio nos povoados
que se formavam pela Europa, permanecia um tipo de sistema produtivo familiar.
Surgiram neste contexto (de um incipiente povoamento) as chamadas corporações
de ofício, formadas por mestres artesãos e seus ajudantes, os quais iniciavam
uma produção pequena para um mercado local. Mas o crescimento das cidades e a
expansão do comércio faria com que o sistema de produção doméstico entrasse em
vigor, o qual significaria a perda da independência dos artesãos na produção de
seu trabalho. Se outrora eles tinham além da posse de seu trabalho também a
matéria prima e suas ferramentas, no sistema doméstico passam a depender, às
vezes, de intermediários, os quais auxiliariam tanto com matéria-prima como nas
vendas. Obviamente, vale dizer que ao longo da história estes sistemas em algum
momento vigoraram juntos, uma vez que os processos históricos são dinâmicos e
que o início de um “novo” sistema ou configuração não se dá somente após o
término definitivo do anterior.
Em meados do século XVIII, já num período em que se
iniciara a revolução científico-tecnológica, surgiu o sistema fabril, o qual se
desenvolvera ao longo do século XIX até os nossos dias. Em comparação aos
sistemas anteriores, como apontam Lakatos e Marconi (1999), tratava-se agora de
uma “produção realizada fora do lar, em estabelecimentos pertencentes ao
empregador, sob rigorosa supervisão, para mercado cada vez mais amplo e
oscilante. O trabalhador perde totalmente sua independência: não possui mais
matéria-prima nem é dono dos instrumentos de trabalho. A habilidade do
trabalhador, até certo ponto, perde importância devido ao uso da máquina, mas o
capital torna-se cada vez mais importante” (ibidem, p. 207).
Assim, a mudança dos sistemas produtivos é acompanhada
pela reorganização da estrutura da sociedade. A Europa dos campos e das
plantações (além é claro do comércio ainda modesto) deu lugar para outra
urbanizada e industrial, consequência direta das transformações e dos sistemas
produtivos, isto é, da maneira do homem produzir sua vida material.