Acusado de arrancar braço de ciclista da Paulista vive sem dirigir
e em meio a ofensas
Alex Siwek ainda procura
retomar a normalidade, enquanto processo caminha na Justiça
O atropelamento do ciclista David dos Santos Sousa no dia
10 de março, em plena avenida Paulista, em São Paulo, não mudou apenas a vida
da vítima. O acusado pelo atropelamento, o universitário Alex Kozloff Siwek,
também vive uma situação muito pouco confortável desde o acidente. É o que garante
o advogado do motorista, Pablo Naves Testoni.
Em entrevista ao R7, o defensor de Siwek se mostrou
satisfeito com a decisão da Justiça de julgar o seu cliente na 25ª Vara
Criminal, como um caso de acidente de trânsito, e não por tentativa de homicídio
com dolo eventual, como era o objetivo do Ministério Público. De acordo com
Testoni, o desfecho já era esperado, pela interpretação da defesa.
— Essa decisão é uma defesa que foi sustentada desde o
início, desde da data da autuação em flagrante pela delegada de polícia. Lá nós
dissemos que, na nossa opinião, era impossível sustentar a tese de homicídio
qualificado tentado por dolo eventual. O juiz suscitou o conflito de
competência, porque o juiz do tribunal do júri havia já decidido conforme nós
havíamos sustentado, e isso foi parar no Tribunal de Justiça. Na segunda-feira
(19) houve o julgamento, por uma decisão unânime, três desembargadores
entenderam que de fato é impossível sustentar a tese de acusação. Diante desse
contexto, o processo será encaminhado e será processado o caso como lesão
corporal culposa na condução de veículo automotor.
Advogado de ciclista que perdeu o braço quer que
motorista responda por tentativa de homicídio
Ciclista que perdeu o braço na avenida Paulista vira
bombeiro
No dia do atropelamento, no qual a vítima teve o seu
braço direito decepado, Siwek se entregou e foi preso em flagrante. Após três
dias, o juiz Kleber Leyser de Aquino, do Dipo (Departamento de Inquéritos
Policiais), decretou a prisão preventiva do universitário e ele foi transferido
do CDP (Centro de Detenção Provisória) do Belém 2, na zona leste da capital,
para a penitenciária de Tremembé, no interior do Estado. Oito dias depois, o
desembargador Breno Guimarães, da 12ª Câmara de Direito Criminal, concedeu
habeas corpus para Siwek responder o processo em liberdade.
De lá para cá, de acordo com o advogado do motorista, ele
tenta retomar a sua vida normal. O universitário ainda pretende retomar os
estudos de psicologia, mas diariamente comparece ao emprego, na empresa do pai,
Felix Albelda. É com ele que Siwek pega carona para ir e voltar para casa. Na
decisão que o libertou, ficou definido que a carteira de habilitação dele
ficaria suspensa até o final do processo. Testoni diz que inclusive usou o caso
da nutricionista Gabriella Guerrero Pereira, acusada por atropelar e matar o
estudante Vitor Gurman em 2011.
— Eu assisti em um programa essa questão, não fui a
fundo, não sou advogado do caso, mas com base naquela ocasião, eu já havia
advertido ele. Ele (Siwek) é uma pessoa ciente, responsável nesse aspecto, tem
total e plena consciência que o resultado todo daquele acidente. Quando
precisa, ele pega ônibus, está trabalhando na empresa do pai, vai junto, vai e
volta com ele, não vai fazer isso. É uma decisão judicial, tem que ser
cumprida.
O advogado afirma ainda que a família do universitário
está longe de ficar mais tranquila com a decisão do julgamento acontecer em uma
vara comum, e não no Tribunal do Júri. Siwek inclusive precisa lidar com
ofensas com frequência, segundo o seu defensor.
— Pelo contrário, desde o início eles estão passando por
muita dificuldade. O próprio Alex, ele sai, ele vai trabalhar, tem pessoas que
acabam ofendendo ele, e ele deseja voltar a estudar, ele quer voltar pra
universidade. Evidentemente que ele quer que tudo seja elucidado. A família
continua preocupada, muito abalada, é um acidente grave e pelo fato de ter uma
decisão bem inicial do TJ, na minha opinião, não significa que ele esteja em uma
posição melhor ou pior, muito pelo contrário, ele tem um processo grande pela
frente.
Advogado critica o Ministério Público
Pablo Naves Testoni afirma que, embora o processo contra
Alex Siwek ainda esteja no início e uma data para o julgamento sequer possa ser
especulada, a defesa já trabalha e inclusive já diz ter várias provas em mãos
para descartar qualquer intenção do motorista em atropelar ou matar o ciclista
na Paulista. O advogado comentou que muitos itens que sequer constam no
inquérito, por terem sido descartados nas investigações, deverão ser reunidos
aos autos quando chegar o momento disso ser feito.
— Nós temos outras provas, outras testemunhas, filmagens
que existem, perícia no veículo e tudo mais. Essa prova já está produzida, com
assistente técnico, com peritos gabaritados para isso, no momento oportuno, na
fase de instrução do processo, nós vamos apresentá-las, até para o Ministério
Público possa avaliá-la, contestá-la, faça o que julgue que deve ser feito.
Lamentavelmente, diante até me parece da rapidez com que o inquérito foi
concluído e o Ministério Público logo ofereceu denúncia, que muita coisa foi
deixada para trás.
A crítica à Promotoria não parou por aí.
— Ninguém, absolutamente ninguém, na minha consciência de
quem gosta de Direito penal, ninguém entra e vai dirigir um veículo pensando ou
assumindo o risco de matar alguém. Sujeito pode ser muito imprudente, dirigir
em alta velocidade? Pode. E imprudência, pela lei, é um crime culposo de
trânsito. Agora, se a gente por uma política criminal disse desde o início que
entende que não, que morre muita gente no trânsito e tudo mais, então teremos
que avaliar outras questões, se a pena tem que ser aumentada. O que você não
pode é tergiversar a lei pra tentar fazer com que as pessoas sejam condenadas
por algo que não existe.
A lesão corporal culposa, na qual a defesa acredita estar
inserido Siwek, prevê uma pena de seis a dois anos de detenção. Testoni disse
preferir aguardar o andamento do processo para definir uma estratégia ou
abordar o que considera uma “pena justa” ao seu cliente.
O caso
David dos Santos Souza, de 21 anos, teve o braço
arrancado ao ser atropelado por um carro na avenida Paulista no dia 10 de março
deste ano. O acidente aconteceu por volta das 6h, na altura da rua Maria
Figueiredo, sentido Paraíso. Ele seguia para o trabalho, utilizando a
ciclofaixa, quando foi atingido pelo carro de Alex Kozloff Siwek, de 22 anos,
que voltava de uma balada em uma casa noturna.
Na colisão, pedaços de vidro do pará-brisa deceparam o
braço direito de David, que ficou preso no carro. O motorista fugiu do local do
acidente sem prestar assistência ao ciclista e, em seguida, jogou o braço
amputado em um córrego na avenida Ricardo Jafet, zona sul da capital paulista.
Só depois disso ele se apresentou à polícia e foi preso em flagrante.
Testemunhas que estavam na Paulista disseram que o carro
de Siwek estava em alta velocidade e andava em zigue-zague na avenida. Um exame
realizado pelo IML (Instituto Médico Legal) apontou que o motorista apresentava
sinais de embriaguez.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/acusado-de-arrancar-braco-de-ciclista-da-paulista-vive-sem-dirigir-e-em-meio-a-ofensas-23082013