sábado, 23 de novembro de 2013

Pra mim, ao ponto. Obrigado...

Mensaleiros seguem com regalias em presídio no DF

Apesar da recomendação do Ministério Público do DF, petistas encarcerados na Papuda continuam a receber visitas de parlamentares livremente. Familiares de outros presos reclamam dos benefícios

Marcela Mattos, de Brasília
Um grupo de 26 deputados do PT  visitam os condenados no processo do mensalão que estão cumprindo pena em regime semiaberto no Complexo da Papuda, em Brasília
Um grupo de 26 deputados do PT  visitam os condenados no processo do mensalão que estão cumprindo pena em regime semiaberto no Complexo da Papuda, em Brasília (Marcello Casal Jr/ABr)

Apesar da recomendação do Ministério Público feita à diretoria do Sistema Penitenciário do Distrito Federal para que seja seguido o princípio da isonomia no tratamento de detentos, os petistas encarcerados no Complexo Penintenciário da Papuda, em Brasília, continuaram a receber livremente a visita de parlamentares e familiares.

Nesta sexta-feira, um dia vetado a visitações na Papuda, o deputado Zezéu Ribeiro (PT-BA) esteve no local no início da tarde para encontrar José Dirceu, Delúbio Soares, Romeu Queiroz e Jacinto Lamas. Mais cedo, o ex-deputado Carlos Abicalil também visitou alguns dos presos do processo do mensalão. Pelo entendimento do juiz da Vara de Execuções Penais, parlamentares têm livre acesso ao complexo penitenciário.

Ao cobrar o fim das regalias aos petistas, o Ministério Público anexou reportagens sobre o entra e sai de visitantes na Papuda. A entrada indiscriminada na penitenciária tem causado desconforto em familiares de presos comuns, que têm de esperar em uma fila durante horas para conseguirem acesso ao interior da penitenciária. Os petistas desrespeitam a ordem de chegada e não precisam ficar sob o sol para ter a entrada liberada.

Leia também: Radar: Mensaleiros não têm queixas sobre Papuda

A Promotoria argumenta que o horário de visitação do presídio é restrito às quartas e quintas-feiras, das 9h às 15h, além de destacar que os visitantes devem passar por revista, estar com roupa apropriada e deixar aparelhos eletrônicos na entrada. O acesso irrestrito aos parlamentares, fora dos horários estabelecidos, é um entendimento do juiz da Vara de Execuções Penais, que pode ser suspenso a qualquer momento.

Dirceu e Delúbio desistiram de pedir transferência para uma unidade em São Paulo e permanecerão em Brasília, onde o sistema prisional é administrado pelo governador do Distrito Federal e colega de partido, Agnelo Queiroz. O governador, aliás, fez questão de visitar os detentos petistas ontem ao lado de 26 deputados.

As reclamações dos demais visitantes e a recomendação do Ministério Público foram mais uma vez ignoradas nesta sexta. Ao site de VEJA, o coordenador-geral da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) no DF, João Feitosa, afirmou que sequer sabia das visitas e alegou que a entrada às sextas-feiras não é proibida: “Na sexta-feira há exceções por motivos particulares. São casos excepcionais, como um familiar cadeirante ou que precise levar alguma medicação”, explicou. Esses, porém, não são os casos aplicados aos detentos do mensalão.

Para o coordenador, não há privilégios aos mensaleiros: “Isso não acontece. Os outros presos, inclusive, não estão reclamando. O sistema está calmo e as visitas têm ocorrido com normalidade”.

O coordenador da Sesipe ainda apontou benefícios na maior rotatividade com a presença dos mensaleiros: “Os presos têm consciência de que com a visita de representantes do poder público há uma tendência de haver melhorias. Eles [os condenados no mensalão] podem trazer mais atenção ao sistema prisional”. 
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/apos-pedido-do-mp-mensaleiros-seguem-com-regalias

Mais silêncio...

Silveirinha está prestes a reaver os milhões que desviou

O principal condenado por um escândalo de corrupção de dez anos atrás pode estar perto de conseguir os quase US$ 9 milhões que enviou à Suíça

Ele acumulou  US$ 8,7 milhões.  No escândalo como um todo, foram desviados  US$ 34 milhões.

Rodrigo Silveirinha Corrêa, ou simplesmente Silveirinha, foi o símbolo de um dos maiores escândalos políticos do Rio de Janeiro, conhecido como escândalo do propinoduto. Subsecretário adjunto de Administração Tributária durante o governo de Anthony Garotinho, entre 1999 e 2002, Silveirinha montou, com um grupo de fiscais da Fazenda do Rio, um esquema de extorsão a empresas fluminenses. 

A quadrilha arrecadou e mandou para a Suíça US$ 34 milhões, o equivalente a R$ 77 milhões. O caso veio a público em 2003. Logo em seguida, Silveirinha e seus comparsas foram demitidos, condenados e chegaram a ser presos. O dinheiro na Suíça foi bloqueado em 2008. Alguns anos depois de deixar a cadeia, Silveirinha dizia que passara a dirigir um táxi para ganhar a vida, após uma tentativa fracassada de administrar um posto de gasolina.

A história parecia um exemplo de sucesso das instituições brasileiras no combate à corrupção. Na semana passada, o governo do Rio de Janeiro recebeu uma notícia triste para o cidadão honesto – e alegre para ele, o próprio, o Silveirinha, condenado por desviar o dinheiro dos impostos. 

A Justiça da Suíça decidiu em última instância que não repatriará o dinheiro para o Brasil. As autoridades suíças cogitam até mesmo devolver o dinheiro para Silveirinha e seus companheiros. Por que isso ocorreu? Uma das principais razões é que, em dez anos, a Justiça brasileira não conseguiu concluir o processo. Ou, na linguagem jurídica, a sentença dos acusados do propinoduto não “transitou em julgado”.

Em outubro de 2003, 22 pessoas foram condenadas pela 3ª Vara Federal Criminal do Rio, entre fiscais estaduais da Fazenda, auditores da Receita Federal e os doleiros que enviaram ilegalmente dinheiro ao exterior. Em 2007, as sentenças foram confirmadas pelo Tribunal Regional Federal. 

Os condenados recorreram, e o caso foi parar no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Desde 2009, as 22 mil folhas, distribuídas por 66 volumes do processo original, repousam, em segredo de Justiça, à espera de julgamento no STJ. Dez anos após a primeira condenação, a ação está no gabinete da ministra Assusete Magalhães, a sexta relatora do caso, ainda sem decisão. Existem sete recursos ativos sobre o caso no STJ e dois no Supremo Tribunal Federal. Segundo o STJ, o lapso de tempo se deve ao excesso de processos; à grande rotatividade de ministros das turmas penais; e a seis substituições desde 2012, agravadas pela demora nas nomeações.

“O julgamento sobre o qual a República Federativa do Brasil se apoiava para fundar suas pretensões civis não era definitivo. Assim, a natureza da lesão potencialmente sofrida pelo Estado do Rio de Janeiro não pode ser estabelecida definitivamente”, afirma a decisão do Tribunal Penal Federal da Suíça, de novembro de 2011, que nega o repatriamento dos recursos ao Brasil. 

Em janeiro deste ano, a Suprema Corte suíça ratificou a decisão do Tribunal Penal, concluindo o processo. Não cabe mais recurso, pela via jurídica, para trazer o dinheiro de volta ao Brasil.Apesar de a decisão ser do começo do ano, somente na semana passada a Advocacia-Geral da União, responsável pelo processo judicial, informou o resultado ao governo do Rio, segundo ÉPOCA apurou. Além da demora da Justiça brasileira, as autoridades suíças entenderam que a União não era parte legítima para pedir o repatriamento do dinheiro, porque o dano direto da corrupção fora causado ao Rio de Janeiro, não ao governo federal.

O governo brasileiro ainda não desistiu de recuperar os recursos, que continuam congelados na Suíça. Segundo o Departamento Internacional da Advocacia-Geral da União, a decisão encoraja uma “solução negociada” entre os dois países para a devolução do dinheiro, com base nos princípios da legislação federal suíça sobre o compartilhamento de ativos patrimoniais confiscados. 

O Ministério da Justiça capitaneia essa negociação e coordena as ações brasileiras. Se essa solução diplomática não prosperar, as autoridades suíças terão dois cenários: liberar o dinheiro aos correntistas ou incorporá-lo ao tesouro do país.

Silveirinha foi o nome mais conhecido do propinoduto, mas não foi quem mais mandou dinheiro para a Suíça. Em sua conta no Union Bancaire Privée, ele acumulou US$ 8,7 milhões. Outro auditor, Carlos Eduardo Pereira Ramos, juntou ainda mais: US$ 18,1 milhões. 

Como subsecretário adjunto de Administração Tributária, Silveirinha era o superior hierárquico de Carlos Eduardo, chefe da Inspetoria de Grande Porte – responsável pelas 400 maiores empresas do Estado e três quartos da arrecadação de ICMS. Juntos, os dois obtiveram 79% dos recursos desviados pelo grupo. Em 2012, o caso entrou na lista do Banco de Dados de Grandes Casos de Corrupção, do Banco Mundial. Por esse recorde nefasto, Silveirinha e Carlos Eduardo deveriam ser punidos – e não premiados, como pode acontecer. 

Idas e vindas da Justiça. 

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/silveirinha-esta-prestes-reaver-os-bmilhoes-que-desvioub.html

Que calor....


O que fazer quando a timidez vira doença

Você morre de vergonha de levantar a mão e fazer uma pergunta em sala de aula? Odeia ter de apresentar os resultados da empresa numa reunião da diretoria? Quando vai a uma festa, fica num canto e evita falar com desconhecidos? Na rua, abaixa os olhos ao passar por estranhos? Será que você é apenas tímido ou tem uma tremenda dificuldade de se relacionar e de se expor na frente dos outros? Como saber quando a timidez passa do ponto?

Um dos limites claros da timidez excessiva é uma condição conhecida como fobia social. Em casos extremos, a pessoa pode até passar mal numa situação em que se sente exposta ou avaliada publicamente. Para ela, dar uma aula, se manifestar numa reunião e até mesmo assinar um simples talão de cheque ou teclar a senha do cartão na frente de desconhecidos pode ser um verdadeiro martírio.

Sensações e sintomas como medo de errar, perda de controle, taquicardia, tremores, transpiração excessiva, tosse, falta de ar, tontura, enjoo, vômitos e até desmaios podem acontecer. Tudo isso é resultado de uma crise de ansiedade, desencadeada por uma resposta desproporcional diante de uma ameaça imaginária. É como se alguém se sentisse julgado ou criticado o tempo todo. Uma espécie de fantasia de que é uma farsa que será descoberta a qualquer momento. Como resultado, o fóbico social pode passar a evitar situações em que sabe que se sentirá exposto.

Não é incomum que seu desempenho na escola, na faculdade ou no emprego fique prejudicado, que ele evite festas e confraternizações e que deixe de fazer compras quando não está acompanhado. Essas são algumas de muitas outras limitações de que o fóbico social sofre.

Na tentativa de controlar ou reduzir a ansiedade, esse tipo de fobia pode levar ao abuso de álcool, maconha, cigarro ou calmantes. Sintomas depressivos e outros distúrbios de ansiedade podem, também, estar mais presentes na vida dos fóbicos sociais.

Em tempos de internet, muitos deles (como também os tímidos) podem passar horas na frente do computador, usando redes sociais para mediar seus contatos com os outros. O risco é a vida on-line ganhar o lugar dos contatos reais, já que a sensação de ser avaliado tende a diminuir do outro lado da tela.

É importante que pessoas que enfrentam as limitações que a fobia social impõe à vida procurem a ajuda de psiquiatras ou psicólogos. No tratamento, pode ser necessário o uso de medicamentos como antidepressivos, para o controle da ansiedade e de outros sintomas. A terapia pode modular a resposta à ansiedade, dar maior segurança e garantir um cotidiano mais tranquilo.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/jairo-bouer/noticia/2013/11/o-que-fazer-quando-btimidez-vira-doencab.html

Silêncio...

Lula revela: a imprensa faz mal à democracia
As palavras de Lula põem gasolina no fogo dos vândalos que atacam carros da imprensa nas ruas

Discursando no Senado, em comemoração aos 25 anos de promulgação da Constituição, Lula disse que a imprensa “avacalha a política”. E explicou que quem agride a política propõe a ditadura. Parem as máquinas: para o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, a imprensa brasileira atenta contra a democracia. É uma acusação grave.

O Brasil não tinha se dado conta de que os jornais, as rádios, a internet e as televisões punham em risco sua vida democrática. Felizmente o país tem um líder atento como Lula, capaz de perceber que os jornalistas brasileiros estão tramando uma ditadura. Espera-se que a denúncia do filho do Brasil e pai do PT tenha acontecido a tempo de evitar o pior.

No mesmo discurso, Lula cobriu José Sarney de elogios. Disse que o senador maranhense, então presidente da República, foi tão importante na Constituinte quanto Ulysses Guimarães. Para Lula, Sarney sim é, ao contrário da imprensa, um herói da democracia. 

É compreensível essa afinidade entre os dois ex-presidentes. Sarney e seu filho Fernando armaram a mordaça contra O Estado de S. Paulo. Proibiram o jornal de publicar notícias sobre a investigação da família Sarney por tráfico de influência no Senado, durante o governo do PT. Isso é que é democracia.

A imprensa é mesmo um perigo para a política nacional. Ela acaba de espalhar mais uma coisa horrenda sobre o governo popular – divulgou um relatório do FMI que denuncia a “contabilidade criativa” na tesouraria de Dilma. 

Contabilidade criativa é uma expressão macia para roubo, já que se trata de fraudar números para esconder dívidas e gastar mais o dinheiro do contribuinte. Assim, a imprensa avacalha a política petista, cassando-lhe o direito democrático de avacalhar as contas públicas.

Lula faz essa declaração no momento em que manifestantes em São Paulo e no Rio de Janeiro, numa epidemia fascista, depredam e incendeiam carros da imprensa, além de agredir jornalistas. 

Luiz Inácio sabe o que faz. Sabe que suas palavras são gasolina nesse fogo. E não há nada mais democrático do que insuflar vândalos contra a imprensa – já que o método Sarney de mordaça é muito trabalhoso, além de caro.

Do fundo do mar, onde desapareceu há 21 anos, Ulysses Guimarães deve estar quase vindo à tona para tentar entender como Lula conseguiu exaltar a Constituição cidadã e condenar a imprensa num mesmo discurso. 

Ulysses morreu vendo a imprensa expor os podres de um presidente que seria posto na rua. Ulysses viu a imprensa ressurgir depois do massacre militar contra a liberdade de expressão. Ele mesmo doou parte de sua vida nessa batalha contra o silêncio de chumbo. Ao promulgar a Constituição cidadã, jamais imaginaria que, um quarto de século depois, um ex-oprimido descobriria que o mal da democracia é a imprensa. E estimularia jovens boçais a fazer o que os tanques faziam contra essa praga do jornalismo.

Lula saiu de seu discurso no Senado e foi almoçar com Collor – cujo governo democraticamente conduzido pelo esquema PC também foi avacalhado pelos jornalistas. 

A união entre Lula e Collor é uma das garantias do Brasil contra a ditadura da imprensa, essa entidade truculenta e abelhuda. E o país se tranquiliza ainda mais ao saber que Lula e Collor estão unidos a Sarney. Com esse trio, a democracia brasileira está a salvo.

Chegará o dia em que a televisão e o rádio servirão apenas aos pronunciamentos de Dilma Rousseff em nome de seus padrinhos, poupando os brasileiros de assuntos ditatoriais como mensalão, contabilidade criativa, tráfico de influência, Rosemary Noronha e outras avacalhações.

Infelizmente Collor se atrasou e não pôde comparecer ao almoço. Lula pôde celebrar seu discurso com outros democratas, como o seu anfitrião, o senador Gim Argello (PTB-DF) – a quem a imprensa golpista também vive avacalhando, só porque ele responde a vários processos e a inquérito no STF por apropriação indébita, peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Com a mídia avacalhando a política desse jeito, não dá nem para almoçar em paz com um amigo do peito.

A Argentina e a Venezuela, que Lula e o PT exaltam como exemplos de democracia, já conseguiram domesticar boa parte da imprensa. Com a reeleição de Dilma, o Brasil chega lá. 
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/guilherme-fiuza/noticia/2013/11/lula-revela-bimprensa-faz-malb-democracia.html

Alerta aos incautos...

Vendedores e seus truques
Calço 38, mas vendedores já me convenceram a levar até sapato 40. Fica uma lancha no meu pé!

Entro numa livraria. Uma jovem se aproxima, desfilando os dentes, tal o tamanho do sorriso.

– Parabéns. Hoje quem vier de preto, como o senhor, ganha um prêmio. É a cor da elegância.

Estou de preto porque emagrece. Mas, se vou ganhar um prêmio, ótimo! Sorrio e mostro meus dentes, também quase pretos, porque estou com provisórios, até ficarem prontos os definitivos. A jovem continua, insinuante:

– Diga, que revista o senhor prefere?

Minha vaidade sofre um golpe. A abordagem não tinha a ver com meu charme. Era para vender assinatura! Mas não faço assinaturas de revistas. Até gosto de recebê-las em casa. Só que vivo entre Rio e São Paulo. Prefiro usar meu iPad. Respondi com a sinceridade rude que me caracteriza:

– Sinto muito, não vou comprar assinatura.
– Mas não estou vendendo, vou oferecer todos os benefícios sem o senhor ter de pagar.

Continuo com o mantra: “Não vou comprar. Não vou comprar”. É malho de vendas, eu sei. Ela insiste. Corro para fora da loja. É o único jeito de me livrar de vendedores insistentes. Em loja de grife, é um susto. Boto um paletó. Não fecha. Peço um número maior. Não tem. O vendedor começa:

– Você faz questão de fechar o paletó?
– Para que comprar um paletó que não consigo fechar?
– Muita gente hoje em dia usa assim, aberto. É fashion.

Observo minha barriga se projetando para fora. Fashion?

– E você fica muito bem de paletó aberto – diz o vendedor.

Minha vontade é atirar o paletó na sua cara. 

Respondo:
– É muito ruim comprar com vendedor que não é sincero.

Ele age como se não fosse com ele. No momento, está interessado em me mostrar a loja toda, queira eu ou não.

– Tenho também umas camisetas.

Experimento. Ele diz:

– Está ótima! Salienta os ombros.
– De tão justa, parece que engoli uma melancia.

Vou fugindo, mas ele me acompanha.

– Precisa de carteira? Relógio? Chapéu?

Em restaurantes, a gente é muito enganado. Sempre desconfio quando o maître aconselha:

– A sugestão do chef hoje é linguado.

Se é um domingo, isso significa que o linguado chegou na sexta-feira. É um peixe delicado, que estraga depressa. Obviamente, as geladeiras e os freezers estão abarrotados de linguados. 

O maître tem de empurrar o peixe. Experimente observar a expressão quando você diz que prefere um espaguete à bolonhesa. 

O maître tem vontade de atirar o linguado na sua cara. Mas se vira para a acompanhante e pergunta, gentilmente:

– E a senhora, já escolheu? O linguado está ótimo!

Da mesma forma, os vinhos. Enólogos em restaurantes são, na prática, vendedores especializados. Claro, sabem o que combina com quê. Mas também há estoques a desovar, como aquele vinho que ninguém pede e mofa na adega. 

Ele sugere: “Tem um tinto que combina muito bem com carne e peixe ao mesmo tempo”. Até com jiló, se eu perguntar!

Vendedores de feirinhas de antiguidades mostram um prato rachado e pedem uma fortuna:

– É Companhia das Índias, raríssimo.
– Mas está rachado.
– São as marcas do tempo que acentuam a beleza do objeto!

Com essa conversa de “marcas do tempo”, no passado forrei minha casa com quinquilharias inúteis. Hoje, pratos, taças e toda uma parafernália estão escondidos numa prateleira do alto. Motivo: a empregada pode quebrar. Então, para não quebrar, não uso. Se não uso, para que preciso deles? – eu me pergunto. Tente vender um prato rachado a sua vizinha. Você vai ouvir!

Se entro numa joalheria, sempre há uma bela dama para me atender, oferece café e champanhe. Mostra brincos delicados, se pretendo presentear uma jovem. Quando me interesso, elogia minha sofisticação: “Você tem muito bom gosto, é nosso último lançamento internacional”. 

Eu me sinto gratificado. Sem lembrar que a regra de quem vende é elogiar o cliente. E se você precisa vender uma joia? Um amigo ganhou várias da mãe para comprar um carro. O comprador só pagava pelas pedras e pelo peso em ouro. Design, grife não tinham valor nenhum.

Um truque nunca falha comigo: sapatos. Calço 38. Quase nunca encontro a numeração do modelo que quero. O vendedor me convence: “Nossa fôrma é diferente, experimente o 39”. Papo! Fica uma lancha nos meus pés, mas ele me convence de que tudo bem. Já comprei até o 40. E depois, para usar? Se eu estiver andando torto, você já sabe. Mais uma vez, caí em conversa de vendedor. Como todos nós, algum dia.  
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/walcyr-carrasco/noticia/2013/11/vendedores-e-bseus-truques-b.html

Vai encarar?


Vale a pena morrer por uma onda?
Maya Gabeira quase morreu, derrubada por uma onda gigante. As emoções valem mais que a vida

Por pouco, uma onda de 20 metros de altura não matou a surfista carioca Maya Gabeira. Foi no mar de Portugal, em Nazaré, no fim de outubro. A imprensa noticiou tudo em profusão, aos borbotões. Num dos sólidos solavancos líquidos do oceano bravio, Maya quebrou o tornozelo, caiu n’água, perdeu o fôlego, perdeu o ar dos pulmões, perdeu a consciência e quase perdeu a vida. Só sobreviveu porque o amigo Carlos Burle saltou do jet ski, conseguiu puxá-la para fora da espuma e levou-a até a praia, onde fez com que ela respirasse de novo graças a uma massagem cardíaca. Logo depois do susto, a maior estrela dos sete mares em matéria de ondas gigantes sorria: “Morri... mas voltei”.

Que bom. Que ótimo. Ufa! Maya, na crista de seus 26 anos, só espera o tornozelo ficar em forma para retomar sua rotina de “viver a vida sobre as ondas”, como na velha canção de Lulu Santos e Nelson Motta. Aí, voltará a deslizar sobre riscos tão altos quanto os vagalhões que desafia.

A pergunta é: vale a pena?

A resposta é: mas é lógico que sim.

Mas dizer isso é dizer pouco. Vamos mais fundo: vale a pena por quê? Sabemos, até aqui, que parece existir mais plenitude numa aventura emocionante e incerta do que numa existência segura e modorrenta. Mas por quê? Por que as emoções sublimes podem valer mais que a vida?

Se pensarmos sobre quem são e o que fazem os heróis da nossa era, talvez possamos começar a entender um pouco mais sobre isso. Os heróis de agora parecem querer morrer de overdose de adrenalina. Não precisam de drogas artificiais. Comem frutas e fazem meditação. Não falam mais de revoluções armadas. Estão dispostos a sacrificar a própria vida, é claro, mas não por uma causa política, não por uma palavra de ordem ou por uma bandeira universal – basta-lhes uma intensa carga de prazer.

Além dos surfistas, os alpinistas, os velejadores e os pilotos de Fórmula 1 são nossos heróis. São caçadores de fortes emoções. Enfrentam dragões invencíveis, como furiosas ondas gigantescas ou montanhas hostis, geladas e íngremes. Cavalgam automóveis que zunem sobre o asfalto ou pranchas que trepidam a 80 quilômetros por hora sobre uma pedreira de água salgada. Não querem salvar princesa alguma. A princesa, eles deixam de gorjeta para o dragão nocauteado. O fragor da batalha vale mais que a administração da vitória.

Os heróis de agora não fazem longos discursos. São protagonistas de guerras sem conteúdo, guerras belas simplesmente porque são belas, muito embora sejam perfeitamente vazias. Qual o significado de uma onda gigante? Nenhum. Ela simplesmente é uma onda gigante, e esse é seu significado. Qual o sentido político de morrer com o crânio espatifado dentro de um carro de corrida? Nenhum, mas ali está a marca de alguém que se superou e que merece ser idolatrado. Os heróis de agora não são portadores de ideias. São apenas exemplos de destemor e determinação. São heróis da atitude, não da finalidade.

O sentido do heroísmo não foi sempre assim, vazio. Há poucas décadas, as coisas eram diferentes. Antes, os heróis não eram famosos pelas proezas físicas, mas pelas causas que defendiam. Che Guevara, por exemplo. É certo que ele gostava de viajar de motocicleta e tinha predileção por enveredar-se nas matas e dar tiro de espingarda, mas sua aura vinha da mística revolucionária. Ele era bom porque, aos olhos dos pais dos que hoje são jovens, dera a vida pelos pobres, mais ou menos como Jesus Cristo – o suprassumo do modelo do herói que dá a vida pelo irmão.

Sabemos que Che é idolatrado ainda hoje, mas é bem possível que as novas gerações vejam nele um herói por outros motivos. Che não é um ídolo por ter professado o credo socialista, mas pela trilha aventurosa que seguiu. Aos olhos da juventude presente, a guerrilha não é bem uma tática, mas um esporte radical. O que faz de Che Guevara um ídolo contemporâneo, portanto, é menos a teoria da luta de classes e mais, muito mais, o gosto por embrenhar-se nas montanhas e fazer trekking, a boina surrada, o cabelo comprido, a aversão ao escritório, aos fichários e à gravata.

Nos anos 1970, os pais dos jovens de hoje idolatraram Che pelo que viam nele de conteúdo marxista. Hoje, os filhos dos jovens dos anos 1970 idolatram o mesmo personagem pelo que veem nele de performático (o socialismo não passou de um pretexto para a aventura). Num tempo em que as ideias foram esquecidas, o gesto radical sobrevive.

Maya Gabeira continuará no vigor do gesto. E nós continuaremos a amá-la por isso, porque nossa vida sem ideias ficou chata demais.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eugenio-bucci/noticia/2013/11/bvale-pena-bmorrer-por-uma-onda.html

Instintos selvagens...

Carlota e Elisabeth (Foto: Ivan Martins)
O que as gatas me ensinam
Uma é tímida, a outra, impetuosa. Ambas são adoráveis e, à sua maneira, imprescindíveis

Carlota e Elisabeth.

Há dois meses ando apaixonado por um par de gatas. Carlota e Elisabeth. Elas entraram em casa por insistência da minha mulher e viraram parte da rotina. E da vida. Miam quando eu chego, sobem na cama e cheiram a minha cara quando acordo, sentam no meu colo quando estou lendo ou quando escrevo no computador. Eu falo com elas, brinco com elas, ralho com elas, dou comida e troco a areia da caixinha. Elas me fazem agradável companhia quando estou sozinho. Em troca, compro religiosamente a ração cheirosa que elas tanto apreciam. 

O fato de ter um par de gatas não me torna um ser humano melhor, não me faz sentir uma espécie de ativista e nem desconta a minha culpa – enorme - por não fazer o que é preciso para melhorar a vida das pessoas desprotegidas do meu país. Não acho, evidentemente, que minhas gatas são tão importantes quanto as criaturas humanas que me cercam. Mas tê-las em casa me deixa contente. Cuidar delas e conviver com elas são atos de prazer egoísta que me fazem bem, e que talvez façam bem a elas.

Também aprendo coisas com as gatas.

A primeira, óbvia, é que é bom cuidar delas. Pequenos rituais, como o de alimentar e tratar os bichos, são imensamente gratificantes. Não tomam tempo demais e nos fazem sentir necessários e úteis. Talvez algo em nós precise dessa responsabilidade sobre outra vida. Seres humanos necessitam de nós, claro, mas eles são complicados e imprevisíveis. Podem nos criticar, podem exigir demais de nós ou (infinitamente pior) podem virar as costas e ir embora. Gatos jamais. Eles não nos abandonam e não nos desapontam. À maneira deles, vivendo uma vidinha paralela em sua bolha felina, passam a vida conosco. É improvável que retribuam nossos ternos sentimentos, mas certamente precisam de nós. E isso basta.

Observando os gatos, sou tentado a fazer comparações e analogias com os humanos. 

Minhas gatas têm personalidades opostas entre si. Elisabeth, de oito meses, é uma dama elegante e delicada. Minha mulher a chama de bailarina. Ela se move com leveza pela casa e mantém distância emocional e física dos humanos. Gosta de tomar banho de sol na janela sem ser importunada. 

Quando se aproxima, é nos termos dela. Elisabeth canta. Ou melhor, mia desconsoladamente e sem razão aparente. De início, achei que era o intestino. Agora eu percebi que Elisabeth é melancólica. A veterinária disse que ela tem todos os ossos do rabo quebrado e uma calcificação óssea na espinha. Parece ter sido maltratada antes de chegar ao abrigo onde a recolhemos. Isso explica o jeito esquivo e desconfiado, assim como a tristeza dela. Elisabeth tem medo. Ou teve. 

Carlota, dois meses mais nova, é um turbilhão. Sobe em todas as mesas, entra no guarda-roupa, brinca com as plantas do vaso até destruí-las. É impertinente e destemida, assim como curiosa. 

Quando se tenta tirá-la à força de algum lugar, ela reage com arranhões. Nasceu na obra do novo estádio do Corinthians, eu imagino. Se eu grito com ela, ou tento fazer gestos para assustá-la, me encara com total indiferença. Como não teme as pessoas, se aproxima com facilidade. Permite que a gente a pegue no colo e brinque com ela. Outro dia, meio bebum, eu a segurei no chão pelas patinhas da frente e fiz barulho com a boca na barriga dela, como se faz com as crianças. Ela ficou perplexa. 

Carlota me faz pensar como são felizes as pessoas destemidas. Elas estão mais relaxadas. Desfrutam melhor do mundo ao redor delas. Se alguém tentar incomodá-las ou feri-las, reagem e vão embora. É mais simples, não é? Elisabeth, que tem medo de tudo, sugere que a vida deixa marcas. 

Não sei se o tempo fará com que ela se sinta segura na companhia de gente. Talvez não. Talvez ela seja naturalmente tímida. Mas isso faz que seja mais gostoso quando ela, num rompante, escala o sofá, supera suas reservas e decide, autonomamente, que vai dormir na minha barriga. Nestas horas, minha gata delicada faz com que eu me sinta alguém especial. 

Fico tentado a imaginar que a mulher ideal seria a mistura das duas. A meiguice de uma com a impetuosidade da outra. A melancolia da Elisabeth com a vivacidade da Carlota. Mas isso não existe, certo? A personalidade das pessoas não é construída para nos agradar ou para fazê-las mais desejáveis. Elas são como são. Imprescindíveis, adoráveis ou detestáveis à sua maneira. E alternadamente. 
Neste exato instante, escrevendo com Carlota no colo, enquanto Elisabeth nos observa deitada na estante do escritório, eu não sei de qual delas gosto mais. À sua maneira, as duas enchem a minha manhã. Uma mia, anda pela casa e observa. A outra escala a mesa, deita no teclado e termina por se ajeitar no meu colo. Se fossem duas mulheres, eu não saberia qual escolher. Estaria apaixonado pelas duas. Na verdade, pelas três gatas aqui de casa.  
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2013/11/o-que-bgatasb-me-ensinam.html

Mais uma etapa superada...