terça-feira, 11 de março de 2014

Devanear...

Como revitalizar o namoro

Saiba qual o segredo para deixar o apetite sexual e a intimidade do casal em alta - e tenha um relacionamento feliz e duradouro!

O beijo implica uma entrega talvez maior do que a da transa - Contardo Calligaris, psicanalista

Falta de beijo na boca. Por esse motivo, a nutricionista curitibana Samara da Cunha, 27 anos, resolveu pôr fim a um namoro de mais de três anos. Antes de tomar essa decisão radical, ela bem que tentou atrair os lábios do namorado para os seus com leves mordidinhas, diversas vezes. Não adiantou. Sete meses e inúmeras dentadas depois, o jeito foi partir para uma DB (a sigla vem de ''discutir o beijo''), que também não levou a nada. ''Beijo de língua só rolava durante o sexo'', conta Samara. ''E para mim não bastava. Para ter vontade de cair na cama, eu precisava beijar antes, para me inspirar. Como não acontecia, não sentia vontade de transar. Beijo envolve sentimentos, sabe?''

Sim, todo mundo (ou quase) sabe. Tanto é que a recusa das prostitutas em ceder seus lábios à clientela, alegando excesso de intimidade, caiu na boca do povo. A ciência não comprova o fato, que pode sim ser lenda urbana. Por outro lado, no campo das estatísticas, existem números que demonstram que beijar, para a grande maioria dos brasileiros, é sim de extrema importância – antes, durante e depois do sexo.

Por que beijar é importante para a relação?

Os lábios da boca guardam semelhanças com o clitóris, principal motorzinho do prazer feminino – essa seria uma das explicações de por que mulheres, principalmente, amam beijar. Ambos os órgãos têm intensa irrigação vascular e escondem suas terminações nervosas sob uma fina mucosa, o que os tornam supersensíveis. Além disso, a boca é a primeira parte do corpo com a qual exploramos o mundo, a partir do peito da mãe.

Trocando em miúdos, por meio dela somos apresentados à noção de prazer (no caso, o da alimentação). A cada encontro com um novo parceiro, os lábios acabam por revelar se a relação terá ou não futuro sexual. O cheiro do outro, o gosto, a textura e a temperatura da pele... Tudo isso já pode ser sentido no beijo. Ou seja: é no encontro de lábios que nasce e morre o tesão. Ou o amor.

''O beijo implica, ao mesmo tempo, acesso ao corpo do outro e uma entrega talvez maior do que a da transa'', avalia o psicanalista e escritor Contardo Calligaris. ''Nele, o amor está quase sempre misturado.'' Tanto que, quando o desgaste contamina um relacionamento, o contato labial vai ficando cada vez mais diplomático, até chegar a um selinho, no máximo. ''A partir do momento em que não há mais vontade de dar beijo de língua, a relação sexual também fica comprometida'', afirma Carmita Abdo. ''O beijo não mexe só com o corpo da pessoa, mas também interfere no seu estado psicológico.''

Como revitalizar o namoro

A estudante de fisioterapia Andréia Peixoto, 22 anos, conhece bem essa história. Afinal, foi beijando que ela conseguiu revitalizar o seu namoro de um ano e sete meses. ''As coisas foram ficando meio mornas e um dia o Eduardo reclamou que eu não o beijava mais como no início do relacionamento'', lembra Andréia. Depois de ouvirem o conselho de uma amiga psicóloga, os dois resolveram dedicar dez minutos diários para um boca a boca, digamos, mais entusiasmado. E não é que deu certo? ''Esse exercício nos ajudou muito, porque acordou o tesão'', diz Andréia. Então, para prevenir futuros dramas conjugais, anote aí esta receita fácil e deliciosa: beije, beije, beije, beije, beije...

Terapia do beijo existe, sim!

Depois de constatar que falta de beijo costuma ser problema comum entre casais que estão há muito tempo juntos, a psicoterapeuta americana Cherie Byrd resolveu fundar a Academia do Beijo (www.kissingschool.com), em Seattle, Estados Unidos, onde oferece cursos e tratamentos relacionados à questão. Sua maior dica é simples. ''Os casais simplesmente precisa combater a rotina. Recomendo que se entreguem a beijos libidinosos, como lição de casa mesmo.'', afirma.

Literatura para beijar melhor

Considerado o mais completo livro sobre posições sexuais de todos os tempos, o Kama Sutra tem um capítulo inteiro dedicado ao beijo. O indiano Vatsyayana, que escreveu esse manual do sexo no século 4, descreveu diversas formas de inovar na hora de colar boca na boca.

O beijo pode ser do tipo moderado, contraído, pressionado, nominal, emotivo, tateante, suave, direto, inclinado, voltado ou apertado. Tem também um tal de ''beijo colante'', que só pode ser dado em homem sem bigode!

Exemplo especial...

 
Em meio à crise com garis, Paes é multado por lixo ao chão

Prefeitura afirma que prefeito 'não se lembra' se jogou resto de comida no chão e que, 'na dúvida', determinou que Comlurb o multe.

Responsável pela instalação da fiscalização e multa para quem joga lixo nas ruas do Rio de Janeiro, o prefeito da capital fluminense, Eduardo Paes (PMDB), se automultou nesta quinta-feira depois que um vídeo que mostra imagens dele atirando restos de alimento foi divulgado na internet.

Em um vídeo publicado nesta quinta-feira no Youtube, Paes come algo enquanto acompanha um discurso do vereador Willian Coelho (PMDB) em Sepetiba, na zona oeste do Rio de Janeiro. Em meio à fala do parlamentar, o prefeito arremessa parte do que comia e, instantes depois, repete o ato com outra parte do que tinha em mãos. O ato de Paes veio à tona em meio à crise gerada pela greve dos garis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), que deixou pilhas de lixo espalhadas pela cidade em pleno Carnaval.

Desde agosto de 2013, a prefeitura do Rio de Janeiro multa as pessoas que forem flagradas jogando lixo nas ruas. As penalidades variam de R$ 157 a R$ 3 mil, dependendo do tamanho do produto que foi descartado.

Em nota, a prefeitura afirmou que Paes “não joga lixo no chão” e que esse “é, inclusive, um hábito que vem sendo combatido pela prefeitura, durante sua gestão”. Ainda segundo a administração municipal, “o vídeo em questão, efetivamente, não mostra Paes jogando ao chão um pedaço de fruta”.

Apesar de não confirmar se Paes arremessou lixo no chão, a prefeitura afirmou que o “prefeito não se lembra de detalhes do episódio”. “Mas ele acredita que, conforme o próprio vídeo indica, tenha lançado o resto de fruta na direção de uma lixeira mais afastada, ou para que um de seus assessores fizesse o descarte em local adequado. Na dúvida, já que o prefeito não se lembra do ocorrido, determinou que a Comlurb emita uma multa a ele próprio, e pede desculpas por um eventual equívoco.”

http://noticias.terra.com.br/brasil/politica/em-meio-a-crise-com-garis-paes-e-multado-por-lixo-ao-chao,30c47ae8db994410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD.html

Experiência adquirida...

A geração de pais-avôs

Espremidos entre a infância dos filhos e a própria velhice chegando, homens de 50 ou 60 anos com filhos pequenos têm um grande desafio pela frente: envelhecer sem deixar de ser jovem


Eles tiveram filhos depois – ou bem depois – dos 45. Sentiam-se jovens. Não tinham dúvida a respeito disso, mas quando viram os filhos crescendo, vacilaram. O tempo começou a passar mais rápido. Voltaram a malhar para recuperar o vigor físico. Estão mais vaidosos. De uma hora para outra, incorporaram hábitos alimentares mais saudáveis. Precisam ter saúde, cabelos, músculos. Beber menos, dormir mais. Prometeram aos filhos viver muito. E em nome dessa promessa, desejam a eternidade. Como todos nós.

Essa coluna é para vocês, homens de meia idade, pais de filhos pequenos, aposentados que voltaram ao mercado de trabalho para completar a renda. Pais de primeira ou segunda viagem aos 50, aos 60. Vocês que nunca questionaram tanto a falta que lhes faz a eternidade.

Vencer a morte é um desejo humano, ainda que inconsciente. Uma utopia que nos move atrás de qualidade de vida, de cura para doenças, de antídotos para o sofrimento, de vitaminas para a beleza. São armas capazes de retardar o envelhecimento, nunca detê-lo. Envelhecer é um processo. A boa notícia é que a juventude é um estado de espírito que podemos cultivar.

Pesquei especialmente para vocês, que estão se achando velhos, que têm medo de morrer antes que o filho cresça, tenha título de eleitor ou dirija um carro, a melhor definição que conheço sobre juventude. Eu a encontrei no texto "Youth Mode: um estudo sobre a liberdade", da Box1824, uma agência paulista especializada no tema jovens e em estratégias para se comunicar com eles.

"Juventude não é liberdade no sentido político. É uma emancipação do tédio, do previsível, da tradição. É atingir um potencial máximo: a habilidade de ser a pessoa que você quer ser. Trata-se da liberdade de escolher como se relacionar; de experimentar coisas novas; de cometer erros. A juventude entende que toda liberdade tem limites e que ser adaptável é a única maneira de ser livre".

Não estou sugerindo que você vista as roupas do seu filho adulto de 20 anos para brincar com sua criança de quatro, nem que cometa desatinos dos quais vá se arrepender depois. O recado é "adapte-se". Pare de fumar ou beber tanto. Pratique algum esporte, ainda que seja empinar pipas. Dê-se ao luxo de sentar no chão, por cinco minutos que seja, ao lado daquela criança para brincar de boneca. E tire partido dos sorrisos. Você, que a essa altura já deve ter assistido ao filme de animação Monstros S.A., sabe que as gargalhadas das crianças liberam muito mais energia do que os gritos e os choros. Para terminar, antes de reclamar de novo de alguma coisa, respire fundo. Respirar fundo também é um ótimo antídoto para a velhice como predisposição da alma.

A essência do comportamento jovem é ter curiosidade em relação à vida, e não perder tempo pensando no fim. De preferência, não ser tedioso e, finalmente, ser aquilo que você gostaria de ser. Tem fase melhor da vida para alcançar este objetivo do que a meia idade? Talvez hoje, mais do que nunca, vocês tenham a paz e o discernimento necessários para experimentar algo novo ou tomar decisões que mudem para melhor o rumo das vidas. 

É uma hipótese. Dêem-se o benefício da dúvida. Nossa cultura está repleta de interesses cruzados entre as gerações. Talvez, com o fim da cerimônia e a relativização de certas tradições, estejamos inaugurando uma era propensa à maior comunicação entre pessoas de idades tão diferentes. Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu filho crescer, ele irá entender - mais cedo ou mais tarde - que a vida de cada um carrega histórias únicas, e que buscar uma escala de valores sobre as vantagens e as desvantagens de ser filho de um pai "velho" é um exercício inútil.

"Por muito tempo, a idade esteve amarrada a uma série de expectativas sociais. Mas quando o jovem da geração Boomerang retorna para o ninho vazio e a aposentadoria fica mais distante a cada dia, o vínculo entre idade e expectativas sociais começa a se desfazer“, diz outro trecho do estudo da Box1824. Cabe a cada um, portanto, reconstruir os laços com a juventude. E te digo que a presença de uma criança em casa é um ótimo começo.

Ser pai de criança pequena agora é o seu predicado. As pessoas irão enxergá-lo também sob essa nova lógica. Pode ser que você não tenha mais paciência para "certas coisas". Considere a algazarra excessiva, o barulho, desnecessário. Mas o pacote é esse do jeito que está aí, aguardando para ser desembrulhado. Não inventaram nenhuma fórmula melhor para viver do que usufruir um dia depois do outro. E quando você faz tudo isso no "modo jovem", você não se torna imortal, mas, parafraseando as mentes criativas da Box1824, você fica infinito.

Mais um pastor de rebanho...

Vem aí o PRC, um partido ligado à Assembleia de Deus

Pastor José Wellington Bezerra da Costa.


O nome de batismo é Partido Republicano Cristão (PRC), nasce com as bênçãos de líderes da Assembleia de Deus para disputar a eleição municipal de 2016. A bancada evangélica do Congresso foi conclamada a integrá-lo. Alguns pastores influentes, como o presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, José Wellington, consideram o assunto polêmico.

http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/felipe-patury/noticia/2014/03/bvem-ai-o-prcb-um-partido-ligado-assembleia-de-deus.html

O que pode?

Uma conversa sobre adolescentes e sexo


Uma garota de 15 anos tem sua primeira e avassaladora paixão por uma jovem que pinta os cabelos de azul. Uma adolescente de 17 anos, de uma família de classe média, tem um início de vida sexual enfadonho e começa a se prostituir. Uma jovem mulher relembra o início de sua vida sexual, seu apetite sexual inesgotável e sua incapacidade para sentir. Três filmes que estrearam no Brasil (pela ordem acima, Azul é a cor mais quente, Jovem e bela e Ninfomaníaca volume 1) trazem reflexões sobre a sexualidade das adolescentes e reafirmam tendências que pesquisas sobre o tema têm apontado na última década.

O início da vida sexual é precoce. No final do ensino médio, aqui no Brasil, a maioria das garotas já teve sua primeira vez. Não é incomum que essas primeiras experiências sejam com parceiros variados. Os pais se preocupam com a estabilidade de um namoro, com o uso de camisinha, com deixar ou não o casal dormir junto em casa e com as visitas ao ginecologista. Enquanto isso, muitas filhas podem estar voltadas para o sexo desvinculado de namoro ou de paixão, para experiências que fogem do tradicional papai e mamãe, para contracepção de emergência (pílula do dia seguinte) e para experiências com outras garotas, entre outros pontos que fogem da visão dos pais.

A “sorte de um amor tranquilo” parece muito mais distante que a realidade do prazer “com sabor de fruta mordida”, como já antevia Cazuza nos anos 1980. A internet potencializou a possibilidade de um encontro eventual. Os celulares deram um ímpeto maior a essa tendência. Resumo: se a garota quiser, sairá com quem bem entender, sem que os pais tenham noção do que ocorre. Assustador? Um pouco! Mas essa é também uma oportunidade para discutir em casa questões como liberdade, limites, autonomia, preconceito, cuidados, autoestima, respeito, entre outros temas tão caros à formação de nossa individualidade.

Com a precocidade do sexo, a maturidade para administrar tantos e tão presentes estímulos é moeda rara. Boa parte das garotas inicia a vida sexual sem saber exatamente o que esperar dela e sem poder administrar tudo o que vem pela frente. As mudanças recentes de comportamento foram tão intensas que os próprios garotos olham perplexos para essa alteração do padrão. A questão do papel e do gênero mudou de forma aguda entre os mais jovens. Claro que esses padrões não são comuns a todas as garotas. Mas são tendências que as pesquisas detectam e que os filmes passam a retratar com maior frequência. Que tal, sem interferir no exercício da individualidade dessas jovens, uma discussão, para além do óbvio, sobre o que esperar dessa fase da vida?

Retrato da sociedade...

O Bloco dos Sujos é o campeão do Carnaval

O que faz alguém atirar lixo como o prefeito Eduardo Paes? Por que o brasileiro é tão sujismundo?

A pergunta “Por que o Rio de Janeiro é tão sujo?” ganhou uma dimensão épica no Carnaval deste ano. Milhares de toneladas de lixo deixaram de ser removidas das ruas e das praias pelos garis em greve. Um lixo extraordinário, produzido por uma das populações mais sujismundas e mais mal-educadas do planeta: a brasileira.

O Rio, apesar de todas as suas mazelas – e o lixo é apenas uma delas, com a insegurança urbana, os preços surreais e o transporte caótico –, permanece um sonho para o turista nacional ou estrangeiro. É uma cidade absurdamente bela. Mesmo quem nasceu ou vive nela se emociona diante de uma vista após a curva, a linha de montanhas, os matizes do céu e da vegetação, uma cachoeira, o horizonte, uma lagoa, um pôr de sol. Essa beleza redime a cidade que insistimos em estragar. Todos nós: governos, empresas e a população. O Rio sofre um abuso generalizado e histórico que polui o ar, a água, o convívio e a estética.

Para quem não é carioca, o recado do lixo também serve. É natural que tudo seja criticado com lente de aumento no Rio, sob os holofotes até as Olimpíadas de 2016. Mas o que dizer de outras cidades? São Paulo também é suja, detritos emporcalham praças e ruas. Recife, Salvador, Maceió, Natal, quanta imundície nas areias das praias, um horror.

O que faz alguém jogar lixo no chão, na areia, na grama, na trilha, no cinema, no teatro, no bar, no estádio? O que faz alguém não se sentir responsável pelo lixo que produz? Falta de educação, de instrução, de cultura. E cultura não quer dizer diploma universitário. Falta cidadania, civilidade. Falta respeito a si mesmo, ao próximo e até ao gari.

Num vídeo do RioRealblog, criado por Julia Michaels, escritora americana que adotou o Rio há 20 anos, vi um gari responder ironicamente a quem diz jogar lixo na rua para dar emprego aos funcionários da Comlurb. “Então, já que você mora em casa própria, bota fogo na tua casa para dar trabalho ao bombeiro”, disse Landenberg Benedito da Silva em seu uniforme laranja, empunhando uma vassoura e empurrando o carrinho de lixo. “Rouba alguma coisa, para dar trabalho ao guarda municipal ou ao PM. Mas ninguém pensa assim. Só pensam em dar trabalho ao gari.”

Não entro no mérito da greve em pleno Carnaval. Os garis querem aumento, como todas as categorias que têm sofrido perdas com a inflação. Exigem piso de R$ 1.200 mais 40% de insalubridade. A prefeitura oferece R$ 874, mais 40% de insalubridade – o equivalente a um piso de R$ 1.224,70 – e vale-refeição de R$ 16. Há guerra de informação entre grevistas e autoridades. 

Há ameaças de grevistas a quem fura a paralisação. Há oportunismo pernicioso de adversários políticos em ano de eleição. Nenhuma novidade. No mundo inteiro são assim os movimentos por salário. Há negociações, concessões, punições, quedas de braço. E um acordo final, que tenta livrar a cara de todo mundo.

A maior lição possível dessa greve momesca é obrigar o brasileiro a olhar para seu umbigo limpinho e perguntar por que tem o despudor de jogar de tudo no chão: latas, garrafas, plásticos, canudos, cigarros, restos de comida e papéis. Claro que os garis se tornam muito mais essenciais numa sociedade de sujismundos. 

As ruas de cidades civilizadas não são povoadas por lixeiras em cada esquina, e o gari não sai atrás de você limpando o rastro que você deixa.
Inacreditável ver gente culpando Coca-Cola, Ambev, Pepsi e outras empresas porque “mais da metade dos resíduos gerados no Carnaval são embalagens de bebidas”. Oi??? Onde está a responsabilidade de quem bebe e descarta? Em 2009, em artigo em ÉPOCA, sugeri ao prefeito Eduardo Paes uma medida radical: suspender a limpeza das praias pela Comlurb por dois dias, só para o povo se ver refletido na sujeira. Não há contêineres suficientes? Pois então, porquinhos, levem seu saquinho para as ruas e tragam o lixo de volta para casa.

O mais surreal foi o desfecho da semana. Um vídeo mostra Paes, incansável defensor do Lixo Zero, arremessando longe restos de alimento no meio do discurso de um vereador, em Sepetiba, Zona Oeste da cidade, no mês passado. Paes prometeu pagar a multa imposta por ele próprio. Não basta. Se queremos mudar a mentalidade, a saída honrosa, para quem deveria dar exemplo, é pedir desculpas e prometer nunca mais fazer isso.

Não sei se o pior mico foi o ato em si ou a desculpa oficial: “O prefeito lançou o resto de fruta na direção de uma lixeira mais afastada ou para que um de seus assessores fizesse o descarte em local mais adequado”. Quanto deve ganhar o assessor que descarta o lixo do prefeito em lixeira? Não há salário que pague.

Discurso para trouxas...

A demagogia dos ônibus

O principal argumento utilizado pelo governo de Fernando Haddad para justificar a criação de mais de 300 km de faixas exclusivas de ônibus, que estão dificultando o trânsito em várias regiões da cidade - o de que é preciso dar prioridade ao transporte coletivo para que ele possa atrair paulistanos que se deslocam de carro -, só seria aceitável se a qualidade do serviço oferecida tivesse melhorado a ponto de favorecer essa migração. Mas isso tem sido sistematicamente desmentido pelos fatos, sendo o último deles o descaso do atual governo municipal com a observância de uma regra constante do contrato assinado com as empresas concessionárias, segundo a qual não podem circular ônibus com mais de dez anos.

Reportagem do Estado, com base em dados obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação, mostra que em janeiro existiam na cidade 938 ônibus naquela situação. Segundo a SPTrans, a empresa que gerencia esse tipo de transporte, o número é menor, de 752 veículos, o que não muda nada. Primeiro, porque a proibição está sendo desrespeitada, não importa que eles sejam 938 ou 752. E, finalmente, porque não se pode alegar que nos dois casos os números são pequenos em relação ao total da frota, de 14,8 mil. A existência de apenas uma dezena já seria intolerável, porque demonstraria desleixo.

Se mesmo os ônibus mais novos já não são grande coisa, é fácil imaginar o desconforto causado aos passageiros pelos velhos, com mais de dez anos. Pessoas com dificuldades de se deslocar - por idade, doença ou uma deficiência qualquer - são particularmente prejudicadas, por falta de piso baixo e degraus de embarque muito altos. Em vez de tolerar a circulação irregular de ônibus nessa situação - a idade média dos ônibus é hoje de 5 anos e 8 meses, a mais elevada desde 2006 -, a Prefeitura deveria estar tomando providências para substituir toda a frota por veículos não apenas novos, mas de melhor qualidade.

O modelo de ônibus usado em São Paulo é um desrespeito aos usuários. Ele está mais para vagão de gado do que para transporte público. A falta de cuidado com a divisão interna faz com que os passageiros tenham muita dificuldade de se acomodar, mesmo de pé (sentar é um privilégio de poucos). A falta de transmissão automática, que ajuda a diminuir as frenagens e acelerações bruscas, submete os passageiros a solavancos, que tornam a viagem ainda mais penosa.

Mas não é só isso que impede que se leve a sério as insistentes declarações de Haddad e de seu secretário de Transporte, Jilmar Tatto, de que sua prioridade é o transporte coletivo. Os que andam de carros e se sentem incomodados com os transtornos causados pela multiplicação das faixas - costuma dizer Tatto -, que passem a usar os ônibus. A reorganização das linhas de ônibus, que os especialistas consideram essencial para melhorar o serviço, vem sendo feita timidamente, sem qualquer planejamento - onde estão os estudos técnicos que deveriam orientar as mudanças? - e, o que é pior, mais de acordo com os interesses das empresas que dos usuários. Não custa relembrar que causa estranheza o fato de as empresas, que nunca morreram de amores por essa reorganização, não terem reagido a elas.

Acrescente-se, ainda, que decreto baixado por Haddad, em maio do ano passado, para estabelecer as regras para a licitação do serviço - cujos contratos já vencidos deverão ser rediscutidos e renovados em breve -, permitiu um aumento da lotação dos ônibus, sem que tenham crescido na mesma proporção as dimensões estabelecidas para a maioria dos veículos. Ou seja, um número maior de passageiros terá de se acotovelar em ônibus que, mesmo quando novos, já são desconfortáveis. Somem-se a tudo isso as esperas intermináveis nos pontos, nos horários de pico, e tem-se uma ideia da qualidade do serviço para o qual Haddad quer atrair paulistanos que usam carro.

Não há como fugir à conclusão de que a prioridade ao transporte coletivo, nos termos em que a coloca o prefeito, não passa de demagogia. Os interesses dos passageiros de ônibus vêm em último lugar, e olhe lá.

Mais uma etapa superada...