A
geração de pais-avôs
Espremidos entre a infância dos filhos e a
própria velhice chegando, homens de 50 ou 60 anos com filhos pequenos têm um
grande desafio pela frente: envelhecer sem deixar de ser jovem
Eles tiveram filhos depois – ou bem depois –
dos 45. Sentiam-se jovens. Não tinham dúvida a respeito disso, mas quando viram
os filhos crescendo, vacilaram. O tempo começou a passar mais rápido. Voltaram
a malhar para recuperar o vigor físico. Estão mais vaidosos. De uma hora para
outra, incorporaram hábitos alimentares mais saudáveis. Precisam ter saúde,
cabelos, músculos. Beber menos, dormir mais. Prometeram aos filhos viver muito.
E em nome dessa promessa, desejam a eternidade. Como todos nós.
Essa coluna é para vocês, homens de meia
idade, pais de filhos pequenos, aposentados que voltaram ao mercado de trabalho
para completar a renda. Pais de primeira ou segunda viagem aos 50, aos 60.
Vocês que nunca questionaram tanto a falta que lhes faz a eternidade.
Vencer a morte é um desejo humano, ainda que
inconsciente. Uma utopia que nos move atrás de qualidade de vida, de cura para
doenças, de antídotos para o sofrimento, de vitaminas para a beleza. São armas
capazes de retardar o envelhecimento, nunca detê-lo. Envelhecer é um processo.
A boa notícia é que a juventude é um estado de espírito que podemos cultivar.
Pesquei especialmente para vocês, que estão
se achando velhos, que têm medo de morrer antes que o filho cresça, tenha
título de eleitor ou dirija um carro, a melhor definição que conheço sobre
juventude. Eu a encontrei no texto "Youth Mode: um estudo sobre a
liberdade", da Box1824, uma agência paulista especializada no tema jovens
e em estratégias para se comunicar com eles.
"Juventude não é liberdade no sentido
político. É uma emancipação do tédio, do previsível, da tradição. É atingir um
potencial máximo: a habilidade de ser a pessoa que você quer ser. Trata-se da
liberdade de escolher como se relacionar; de experimentar coisas novas; de
cometer erros. A juventude entende que toda liberdade tem limites e que ser
adaptável é a única maneira de ser livre".
Não estou sugerindo que você vista as roupas
do seu filho adulto de 20 anos para brincar com sua criança de quatro, nem que
cometa desatinos dos quais vá se arrepender depois. O recado é
"adapte-se". Pare de fumar ou beber tanto. Pratique algum esporte,
ainda que seja empinar pipas. Dê-se ao luxo de sentar no chão, por cinco
minutos que seja, ao lado daquela criança para brincar de boneca. E tire
partido dos sorrisos. Você, que a essa altura já deve ter assistido ao filme de
animação Monstros S.A., sabe que as gargalhadas das crianças liberam muito mais
energia do que os gritos e os choros. Para terminar, antes de reclamar de novo
de alguma coisa, respire fundo. Respirar fundo também é um ótimo antídoto para
a velhice como predisposição da alma.
A essência do comportamento jovem é ter
curiosidade em relação à vida, e não perder tempo pensando no fim. De
preferência, não ser tedioso e, finalmente, ser aquilo que você gostaria de
ser. Tem fase melhor da vida para alcançar este objetivo do que a meia idade?
Talvez hoje, mais do que nunca, vocês tenham a paz e o discernimento
necessários para experimentar algo novo ou tomar decisões que mudem para melhor
o rumo das vidas.
É uma hipótese. Dêem-se o benefício da dúvida. Nossa
cultura está repleta de interesses cruzados entre as gerações. Talvez, com o
fim da cerimônia e a relativização de certas tradições, estejamos inaugurando
uma era propensa à maior comunicação entre pessoas de idades tão diferentes.
Sinta-se ungido pela sorte de recomeçar. Quando seu filho crescer, ele irá
entender - mais cedo ou mais tarde - que a vida de cada um carrega histórias
únicas, e que buscar uma escala de valores sobre as vantagens e as desvantagens
de ser filho de um pai "velho" é um exercício inútil.
"Por muito tempo, a idade esteve
amarrada a uma série de expectativas sociais. Mas quando o jovem da geração
Boomerang retorna para o ninho vazio e a aposentadoria fica mais distante a
cada dia, o vínculo entre idade e expectativas sociais começa a se desfazer“,
diz outro trecho do estudo da Box1824. Cabe a cada um, portanto, reconstruir os
laços com a juventude. E te digo que a presença de uma criança em casa é um
ótimo começo.
Ser pai de criança pequena agora é o seu
predicado. As pessoas irão enxergá-lo também sob essa nova lógica. Pode ser que
você não tenha mais paciência para "certas coisas". Considere a
algazarra excessiva, o barulho, desnecessário. Mas o pacote é esse do jeito que
está aí, aguardando para ser desembrulhado. Não inventaram nenhuma fórmula
melhor para viver do que usufruir um dia depois do outro. E quando você faz
tudo isso no "modo jovem", você não se torna imortal, mas,
parafraseando as mentes criativas da Box1824, você fica infinito.
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