Uma
conversa sobre adolescentes e sexo
Uma garota de 15 anos tem sua primeira e
avassaladora paixão por uma jovem que pinta os cabelos de azul. Uma adolescente
de 17 anos, de uma família de classe média, tem um início de vida sexual
enfadonho e começa a se prostituir. Uma jovem mulher relembra o início de sua
vida sexual, seu apetite sexual inesgotável e sua incapacidade para sentir.
Três filmes que estrearam no Brasil (pela ordem acima, Azul é a cor mais
quente, Jovem e bela e Ninfomaníaca volume 1) trazem reflexões sobre a
sexualidade das adolescentes e reafirmam tendências que pesquisas sobre o tema
têm apontado na última década.
O início da vida sexual é precoce. No final
do ensino médio, aqui no Brasil, a maioria das garotas já teve sua primeira
vez. Não é incomum que essas primeiras experiências sejam com parceiros
variados. Os pais se preocupam com a estabilidade de um namoro, com o uso de
camisinha, com deixar ou não o casal dormir junto em casa e com as visitas ao
ginecologista. Enquanto isso, muitas filhas podem estar voltadas para o sexo
desvinculado de namoro ou de paixão, para experiências que fogem do tradicional
papai e mamãe, para contracepção de emergência (pílula do dia seguinte) e para
experiências com outras garotas, entre outros pontos que fogem da visão dos
pais.
A “sorte de um amor tranquilo” parece muito
mais distante que a realidade do prazer “com sabor de fruta mordida”, como já
antevia Cazuza nos anos 1980. A internet potencializou a possibilidade de um
encontro eventual. Os celulares deram um ímpeto maior a essa tendência. Resumo:
se a garota quiser, sairá com quem bem entender, sem que os pais tenham noção
do que ocorre. Assustador? Um pouco! Mas essa é também uma oportunidade para
discutir em casa questões como liberdade, limites, autonomia, preconceito,
cuidados, autoestima, respeito, entre outros temas tão caros à formação de
nossa individualidade.
Com a precocidade do sexo, a maturidade para
administrar tantos e tão presentes estímulos é moeda rara. Boa parte das
garotas inicia a vida sexual sem saber exatamente o que esperar dela e sem
poder administrar tudo o que vem pela frente. As mudanças recentes de
comportamento foram tão intensas que os próprios garotos olham perplexos para
essa alteração do padrão. A questão do papel e do gênero mudou de forma aguda
entre os mais jovens. Claro que esses padrões não são comuns a todas as
garotas. Mas são tendências que as pesquisas detectam e que os filmes passam a
retratar com maior frequência. Que tal, sem interferir no exercício da
individualidade dessas jovens, uma discussão, para além do óbvio, sobre o que
esperar dessa fase da vida?