sábado, 7 de março de 2015

História...




Os 10 maiores revolucionários de todos os tempos

Especialistas elegem os homens que mudaram os rumos da humanidade: ofereceram novos modelos para a humanidade em dez campos do conhecimento

Algumas pessoas vêm ao mundo para tirar tudo do lugar. Gente como Albert Einstein, que deitou por terra tudo o que era tido pela base mais sólida da ciência por quase 200 anos – e que, sem querer, mudou a geopolítica mundial. 

Ou Ernesto Che Guevara, o argentino que falou nas Nações Unidas apontando o dedo aos Estados Unidos, um Davi latino-americano enfrentando o Golias que faz sombra a todo o continente. Alguns deixam em seu rastro a beleza e a precisão: Leonardo da Vinci, um dos maiores gênios da História, e não apenas nas artes, que aplicou a ciência à pintura para fazer do quadro uma janela cristalina, por vezes mais real que a realidade. Outros são adeptos da destruição: Napoleão Bonaparte, que empurrou com canhões as reformas do liberalismo exaltado da Revolução Francesa, princípios os quais ele próprio havia traído.

AVENTURAS NA HISTÓRIA pediu ajuda a um time de mais de 50 especialistas para escolher os maiores revolucionários de todos os tempos, em suas áreas de atuação. Surgiram surpresas, como Alberto Santos Dumont. O brasileiro tido por muitos como “o pai da aviação” foi eleito na categoria inventor. Outros nomes gigantescos, antes escolhidos por historiadores, voltam a estas páginas, porque são inevitáveis: Jesus Cristo e o próprio Einstein, para ficar em dois exemplos. Nas páginas a seguir, aqueles que mudaram o mundo – ou, ao menos, a parte dele ao qual se dedicaram – decisivamente.




JESUS CRISTO | Religião

A opção pela paz e pelos pobres era subversiva

O QUE FEZ

Quem: Jesus de Nazaré

Nascimento: cerca de 7-4 a.C., Judeia, província do Império Romano

Morte: cerca de 30-36, Judeia

O que revolucionou: a religião, fundando uma nova vertente do monoteísmo, baseada no culto ao amor; a forma de pensar ocidental, dando início a tendências igualitárias e pacifistas – e toda a civilização ocidental, quando a nova religião foi universalizada

Não faltavam candidatos a revolucionário na Judeia do século 1. A palavra “messias” tinha um sentido diferente da conotação mística que os cristãos aprenderam a associar a ela. O messias seria quem, por métodos certamente violentos, expulsaria os romanos e restituiria a independência a Israel. Nesse sentido, Jesus não podia ser contado entre eles. Toda a tragédia de origem do cristianismo depende do fato de Jesus não ser revolucionário, mas um inocente condenado à morte na cruz.

Jesus nasceu num mundo dominado por uma potência escravocrata, guiada por ideias de glória expansionista. Na Judeia, onde se cultuava o Deus único, predominavam os sentimentos de profundo rancor e vingança contra os romanos, e o ódio fratricida aos judeus que se aproximavam dos dominadores. 

Foi nesse contexto que surgiu aquele homem dizendo aos judeus que deveriam oferecer a outra face quando agredidos por um centurião. Ou para “dar a César o que é de César”. Ou “meu reino não é deste mundo” – o prometido messias não vinha trazer mudança política. Era uma mensagem de paz radical, e subversiva aos valores da época, tanto dos judeus quanto dos romanos. Também era um profeta dos pobres, que afirmou que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.

Não há registro de Jesus enquanto viveu. Ainda hoje, as fontes sobre sua vida são os Evangelhos. Então não se sabe se foi morto porque alguém percebeu o potencial subversivo de suas palavras. O fato é que, após sua morte, a religião foi perseguida e manteve-se nas camadas mais baixas da população, seguida por escravos e soldados de baixa patente, por quase três séculos. 

Até que, no que é considerado um milagre pela Igreja Católica, o imperador Constantino se converteu, em 312, durante uma batalha. Em uma geração, o cristianismo saltou de minoria perseguida para maioria, e logo seria transformado em perseguidor.

Mesmo com o cristianismo “oficializado”, o espírito subversivo se manteve latente. A abolição da escravidão, a liberação feminina, a assistência aos necessitados, o voto universal: ideias alienígenas ao pensamento da Antiguidade Clássica. 

E que, de certa forma, podem ter sua certidão de nascimento atestada na Judeia do século 1, com um humilde profeta que tratava prostitutas e leprosos da mesma forma que seus mais fiéis discípulos.

O escritor Frei Betto nota essa contradição. Afirma que seu voto em Jesus foi “não por ter fundado uma religião, e sim por ter proposto um modelo civilizatório baseado na relação amorosa e na partilha dos bens”.

SANTOS DUMONT | Invenção

Figura central no nascimento da aviação

O QUE FEZ

Quem: Alberto Santos Dumont

Nascimento: 1873, Palmira

Morte: 1932, Guarujá

O que revolucionou: pioneiro da aviação e do copyleft. Criou o primeiro avião produzido em série, e que deu início à carreira de diversos aviadores. Com isso, a aviação na Europa tem mais a ver com ele e menos com os irmãos Wright

Numa lista com Alexander Graham Bell, James Watt e Thomas Edison, pode parecer patriotada que a eleição para o maior revolucionário entre os inventores tenha escolhido o mineiro Alberto Santos Dumont. Vale lembrar que Dumont personifica a imagem ideal que o Brasil quer para si: um país civilizado, que oferece contribuições cruciais para o mundo, com extrema generosidade.

O artista plástico Guto Lacaz menciona Dumont como aquele que “conquistou o voo controlado com os mais leves e com os mais pesados que o ar”. E o engenheiro Luiz Rocha fala dele como o “inventor do melhor meio de transporte do mundo, o avião”. Dumont, no Brasil, simplesmente “inventou o avião”. Sem fugir da polêmica, a história é um pouco mais complicada que isso. A relevância do brasileiro não está na primazia. Ele não foi o primeiro a apresentar um avião funcional, o que é a razão por que os norte-americanos irmãos Wright são considerados os inventores no resto do mundo.

Em agosto de 1908, os Wright se apresentaram em Le Mans, na França. Os franceses ficaram boquiabertos. O Flyer era o primeiro avião prático do mundo, capaz de voo controlado, dando voltas, subindo e descendo. Não era um protótipo que andava em linha reta, a distância era medida em quilômetros, não metros, e o voo em minutos, até horas, não segundos. O avião já era uma realidade.

A razão do segredo dos norte-americanos é o medo que tinham que alguém roubasse seu invento. Eles haviam passado dois anos sem voar para assegurar suas patentes. Tudo no Flyer era patenteado. A ideia era ter o monopólio da indústria de aviação. Quem quisesse um avião, teria de comprar deles.

E aí que entra a contribuição de Dumont – e a sua generosidade. Ele, que não foi ver as apresentações dos irmãos Wright, continuou a trabalhar no Demoiselle, que se tornaria o segundo avião funcional, mais rápido que o Flyer, e primeiro a ser produzido em série. Diferente do modelo norte-americano, tudo no Demoiselle era aberto – o inventor brasileiro não apenas não patenteava nada, mas incentivava as pessoas a copiarem livremente. 

Mais de cem deles foram produzidos, e neles pioneiros da aviação, como o francês Roland Garros, fizeram seus primeiros voos. Certos conceitos do Demoiselle, como o trem de pouso em triciclo e a “cauda”, os controles aerodinâmicos em posição traseira, se tornariam universais.

ALEXANDER FLEMING | Medicina
Os antibióticos mudaram a medicina e a vida

O QUE FEZ

Quem: Alexander Fleming

Nascimento: 1881, Darvel, Escócia

Morte: 1955, Londres, Inglaterra

O que revolucionou: a medicina, ao criar o primeiro antibiótico, tornando possível tratar doenças bacterianas que antes não tinham cura. E, indiretamente, os costumes, pois várias dessas doenças são sexualmente transmissíveis e deixaram de assustar.

A revolução de Alexander Fleming é a que mais afeta o dia a dia de todo mundo. Fleming é o pai dos antibióticos, remédios capazes de destruir bactérias e que salvaram um número incontável de vidas. 

Boa parte delas de crianças, particularmente suscetíveis a doenças bacterianas. Até os anos 40, mesmo os países ricos tinham altas taxas de mortalidade infantil, com uma em cada 20 pessoas não chegando à idade adulta.

Fleming tornou-se um revolucionário por acidente. “A sorte desempenhou um grande papel na vida de Fleming”, afirma Kevin Brown, historiador e arquivista do Museu do Laboratório Alexander Fleming, em Londres. 

Em 1928, o biólogo escocês, já beirando os 50 anos, estudava uma cultura de estafilococos, bactérias geralmente inofensivas, em seu bagunçado laboratório no Hospital St. Mary, parte da Universidade de Londres. 

Era, de acordo com Brown, um cientista do século 19 em pleno século 20, trabalhando sozinho e livre para estudar como quisesse: “Seu laboratório era extremamente primitivo”. Em vez de arrumar tudo para evitar contaminações, Fleming empilhava as placas numa bancada em um canto do laboratório, e notou que uma delas apareceu mofada. “Engraçado”, comentou. Em vez de jogar fora o exemplo contaminado, como se faria em um laboratório profissional, resolveu estudá-lo mais atentamente. Notou que o mofo estava matando as bactérias.

O mofo era o Penicillium chrysogenum, que aparece em comida estragada. É parente de fungos usados há séculos para fazer salames e queijos azuis – a ação bactericida também serve para preservar comida. Fleming descobriu que o truque funcionava com bactérias perigosas, isolou a substância com que o fungo estava liquidando os microrganismos e a chamou de penicilina. Mas não acreditou que ela pudesse ter utilidade prática, porque não pensou como poderia ser criada em nível industrial.

Foi apenas no início dos anos 1940, com o trabalho de outros cientistas – em laboratórios organizados –, que a droga tornou-se viável. Sua estreia foi na Segunda Guerra, quando salvou a vida de soldados e civis atingidos por armas inimigas, que poderiam ter sucumbido a infecções. Desde o surgimento dos antibióticos, vários horrores que assombraram a humanidade ficaram para os livros de História. 

Lepra e tuberculose, cujo “tratamento” era isolar o paciente em sanatórios, passaram a ter cura. Pneumonia deixou de ser o caminho do hospital ao necrotério. Coqueluche, difteria e meningite pararam de matar crianças. E doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia, sífilis e cancro, passaram a ser assunto de piada em mesas de bar.

PLATÃO I Filosofia
Ao ignorar o mestre, Platão fundou a filosofia

O QUE FEZ

Quem: Platão

Nascimento: 428 a.C., Atenas

Morte: 347 a.C., Atenas

O que revolucionou: a filosofia, ao decidir registrar os diálogos de Sócrates; a educação, ao criar a primeira instituição de ensino superior do mundo; e a política, ao propor um modelo de sociedade ideal, imaginada por um filósofo

Platão é um dos primeiros e maiores gigantes da filosofia. Discutiu sobre um pouco de tudo, inclusive amor – que ele preferia homossexual, mas não físico, de onde vem o “amor platônico”. Em filosofia, platonismo acabou relacionado a certo tipo de idealismo místico, fundado na noção que ideias existem de forma pura, independentemente das pessoas que as pensem. Uma ideia que soa exótica, mas que seduziu inúmeros filósofos. “Ao longo dos séculos, as ideias de Platão e Aristóteles puxaram e arrastaram a civilização ocidental em diferentes direções”, afirma o historiador Arthur L. Herman, em The Cave and The Light, Plato Versus Aristotle.

Platão é possivelmente a maior razão porque a filosofia em si sobreviveu. Seu mestre, Sócrates, pode ter sido o fundador. Mas, se dependesse só dele, tudo poderia ter acabado como um boato vago contado em Atenas por uma ou duas gerações, de um velhinho maluco que irritava as pessoas com sua conversa esquisita e acabou forçado a tomar cicuta. Sócrates, afinal, não deixou nada escrito, e era contra a ideia. Ele via a filosofia como um diálogo vivo entre duas pessoas.

Quando Platão resolveu escrever justamente esses diálogos – que nunca vamos saber até que ponto são fiéis ao que ele realmente ouviu, se ouviu e se Sócrates realmente existiu – transformou a arte de um artista solitário em disciplina acadêmica. A palavra, aliás, vem de uma segunda revolução de Platão, e a outra forma como ele manteve viva a filosofia. A Academia, fundada por ele em 387 a.C., foi a primeira instituição de ensino superior do mundo. Até então, ninguém havia imaginado que o homem precisasse continuar a aprender depois da infância.

O platonismo é relacionado ao culto às ideias abstratas, mas isso não quer dizer que Platão ficava olhando nuvens. Ao contrário, tinha muito o que dizer sobre a vida. Ele é o autor de República, o primeiro tratado de filosofia política e proposta de sociedade ideal imaginada por um filósofo. Na utopia platônica, não haveria propriedade privada, a educação seria uniformizada pelo Estado, as classes sociais seriam rígidas, o treinamento militar, severo, e poesia e ficção, banidas. Essa sociedade totalitária seria regida por reis-filósofos.

Se a ideia “perfeita” pode soar alienígena hoje em dia, a inspiração de Platão estava logo ali, ao sul de Atenas. Era Esparta, onde a educação e classes sociais eram rigidamente controladas, a arte era pouca e o dinheiro, malvisto. “A cidade era a antítese da anarquia democrática de Atenas, e a educação organizada dos jovens acabava encantando os filósofos”, afirma o historiador britânico Paul Cartledge, da Universidade de Cambridge.

NAPOLEÃO BONAPARTE | Militar
O nascimento do exército moderno

O QUE FEZ

Quem: Napoleão Bonaparte

Nascimento: 1769, Ajaccio, Córsega

Morte: 1821, Ilha de Santa Helena

O que revolucionou: a estratégia militar, ao fazer uso massivo de infantaria e artilharia em manobras conjuntas e móveis, com um Exército ideologicamente motivado; a Europa inteira, ao exportar parte dos ideais da Revolução Francesa.


Ao legendário Arthur Wesley, o Duque de Wellington, foi perguntado quem era o maior general de todos os tempos. Sua resposta: “Nesta era, na era passada, em qualquer era, Napoleão”. Wellington foi o general que derrotou o francês em Waterloo. Napoleão herdou e corrompeu – ou salvou, dependendo para quem se perguntar – uma revolução que não era sua. Ele acabou com a República Francesa, para exportar seus ideais à força, pelas botas de seus soldados, no que custaria a vida de até 6 milhões de europeus. “Napoleão não foi o pai do caos. Era o herdeiro do caos, tanto em casa quanto no exterior”, afirmou o falecido historiador militar Robert B. Asprey em The Rise of Napoleon Bonaparte (sem tradução).

Logo após a monarquia ser dissolvida, em 1792, a recém-criada República Francesa entrou em guerra com os reinos vizinhos. Durante essa década, o oficial nascido na Ilha da Córsega, de uma família italiana, acabou tomando parte de diversas campanhas, subindo vertiginosamente na carreira. Era então aliado dos jacobinos, a ala mais radical dos revolucionários. Em meio a uma dessas guerras, em 1799, acabou tornando-se o “cônsul” do país, num golpe que acabou com a autoridade da República. Em 1804, receberia do papa Pio VII uma coroa hereditária de Imperador da França, acabando de vez com qualquer máscara de republicanismo.

A monarquia não significou paz. Napoleão deixaria a Europa de joelhos, exportando a Revolução Francesa para o continente. Como fez isso é algo que faz parte de seu mito, porque não há resposta óbvia. As táticas napoleônicas estavam ao alcance de qualquer Exército. Ele não inventou nada – e se gabava disso. Disse que, após 60 batalhas, não havia aprendido nada que não soubesse na primeira.

A infantaria era o cerne da força. Cabia à cavalaria atrapalhar os movimentos da infantaria inimiga, deixando-a em posição vulnerável. A artilharia botava todo mundo para correr, se conseguisse chegar à posição de ataque. O truque era fazer isso, e Napoleão, oficial de artilharia, era mestre em usar canhões, de forma móvel e atuando em conjunto com o resto das tropas. 

Outra de suas habilidades particulares era jogar com as expectativas do inimigo, posicionando-se com falsas ofensivas e manobras de flanco. Para mover-se sempre em vantagem, contava com uma rede de inteligência e comunicação, que incluiu a criação dos primeiros telégrafos do mundo. 

Do Exército revolucionário, Napoleão herdou a ideia de recrutamento em massa, um contingente gigantesco de alistados obrigatoriamente e treinados em pouco tempo. Esses recrutas também formaram a primeira força ideológica da História, um Exército lutando em terras estrangeiras não em nome de um monarca, mas de uma ideia, da revolução.

MAHATMA GANDHI | Comportamento
A não violência e a ação por direitos civis

O QUE FEZ

Quem: Mohandas Karamchand Gandhi

Nascimento: 1869, Porbandar, Índia Britânica

Morte: 1948, Nova Délhi, Índia

O que revolucionou: toda a ação antiimperialista, com a campanha exclusivamente pacífica; o pacifismo e humanismo em geral, injetando novos ideais de tolerância, vindos de um país não ocidental; a forma como se faz protestos no mundo


Às vezes a causa não é tão importante quanto o método. A maior causa de Mahatma Gandhi foi a independência da Índia, dominada pelo Império Britânico desde 1858. Isso ele conseguiu em 15 de agosto de 1947, ainda que com uma amarga frustração. O pais acabou partido em dois, Índia e Paquistão, por causa de diferenças religiosas. E unir hindus e islâmicos foi uma de suas grandes causas de vida. Outra, a abolição do sistema de castas na Índia, está na Constituição do país – mas ainda hoje sites de relacionamento mencionam a casta dos candidatos, e pessoas de castas inferiores continuam a ocupar a escala mais baixa da sociedade.

“A luta pela paz e seu exemplo de resistência passiva mudaram a História de seu país e nos serve para repensar todas as formas de violência ainda perpetradas por nações bélicas e neoimperialistas pelo mundo contemporâneo”, diz Andrea Casa Nova Maia, da Universidade Federal Fluminense. Vivendo entre três continentes e três religiões, ele acabou conciliando as ideias de cada uma para criar um novo tipo de humanismo. 

O mais central é a ahimsa, o princípio da não violência. Inspirado no anarquista cristão russo Liev Tolstói, com quem se correspondeu na juventude, Gandhi decidiu que, o que quer que fizesse, seria por meios pacíficos. Um de seus bordões: “Há muitas causas pelas quais estou disposto a morrer, mas nenhuma pela qual estou preparado a matar”.
Nascido na Índia sob domínio britânico, estudou direito em Londres e tentou se estabelecer como advogado na Índia, sem sucesso. Conseguiu emprego na África do Sul, outra colônia do Império, em 1893. Conheceu uma sociedade segregada, onde brancos, negros, indianos e mestiços tinham espaços e leis próprios. Assim começou sua carreira de ativista político.

Em 1915, voltou para a Índia, onde se filiou ao Congresso Nacional Indiano, do qual se tornaria líder. Em um de seus momentos mais famosos, em 1930, convenceu o país inteiro a fabricar sal ilegalmente, quebrando o monopólio britânico. Logo, toda a Índia estava se recusando a pagar impostos e desafiando outras leis abertamente, um gigantesco ato de desobediência civil. Quando confrontados pela polícia, os manifestantes simplesmente aceitavam apanhar ou ser alvejados.

Gandhi foi preso, e nenhuma concessão foi feita. Mas as imagens e notícias do protesto, e a nobreza de seus manifestantes, correram o mundo. Moralmente, o Império havia sido derrotado, e seria questão de tempo até o domínio ruir de vez.

ALBERT EINSTEIN | Ciência
A ciência nunca mais foi a mesma – nem o mundo

O QUE FEZ

Quem: Albert Einstein

Nascimento: 1879, Ulm, Império Alemão

Morte: 1955, Princeton, Estados Unidos

O que revolucionou: a física, ao provar a teoria atômica e a física quântica, e que o tempo é relativo ao espaço, deitando por terra a física newtoniana que vinha de dois séculos; a geopolítica, ao lançar os princípios da fissão nuclear; os costumes, ao tornar a ciência menos absoluta com sua revolução


É preciso um certo tipo de pessoa para responder quatro grandes desafios da física no mesmo ano. Alguém que, com isso, torna inválidas as bases mais fundamentais do conhecimento, estabelecidas 200 anos antes. 

E faz isso aos 26 anos de idade... nas horas vagas de um emprego maçante, sem acesso a uma biblioteca ou a colegas de profissão. Bem, há de se convir, não existe esse tipo de pessoa. Albert Einstein era um só. “Um dos maiores nomes da ciência do século 20, ousou desafiar conceitos profundamente enraizados, como espaço e tempo, com a Teoria da Relatividade”, afirma o historiador da ciência José Goldfarb, da PUC-SP.

Einstein refundou a física em 1905, com quatro artigos publicados no periódico Annalen der Physik, de Berlim. Provou que a física quântica e a teoria atômica eram reais e lançou as bases da Teoria da Relatividade, que mudou para sempre a percepção de espaço e tempo. 

E também registrou a famosa equação E=mc², pela qual a energia obtida pela fissão nuclear é a massa multiplicada pelo quadrado da velocidade da luz, que é aproximadamente 300 mil km/s. O que dá uma ideia do poder das bombas atômicas que ela previu.

Essa revolução em particular, ainda que de profundas consequências, não estava na mente do pacato cientista que, por toda sua vida, foi um pacifista, uma figura pública notória. Einstein pensava de forma prática. 

Aceitou a ideia de que, se os aliados não fizessem a bomba,os nazistas a fariam primeiro, e mandou uma carta ao presidente Franklin Roosevelt aconselhando-o a iniciar o programa nuclear, em 1939. Com o resultado em Hiroshima e Nagasaki, ele se arrependeu amargamente.

Há uma parte menos falada, e totalmente involuntária, da contribuição de Einstein. Nos 200 anos que o precederam, a física parecia escrita em pedra, uma ciência inabalável. Einstein provou que o mundo era mais complicado do que se imaginava e que toda a ciência podia cair por terra diante de uma nova descoberta. 

E esse impacto devastador foi sentido bem longe dos laboratórios. A ciência perdeu sua aura de infalibilidade. Durante o século 20, intelectuais começaram a duvidar da própria possibilidade do conhecimento científico, ou das intenções dos cientistas, muitas vezes reforçando preconceitos ou estruturas de poder da sociedade.

O resultado indireto disso foi a onda de ideais e pregadores anticientíficos, místicos e bichos-grilos, que vem desde os anos 60. Outra revolução acidental, que, tal como a bomba atômica, Albert Einstein provavelmente não aprovaria.

CHE GUEVARA | Política
O guerrilheiro de alcance mundial

O QUE FEZ

Quem: Ernesto Guevara de la Serna

Nascimento: 1928, Rosário, Argentina

Morte: 1967, La Higuera, Bolívia

O que revolucionou: a revolução em si. Primeiro, mostrando o quanto uma pequena força de guerrilha podia alcançar. Depois, tornando-se a cara e a voz do descontentamento da América Latina, e mais tarde do resto do mundo. Por fim, entrando para a História como um mártir dessa causa

Se a revolução tem uma face, é a de Ernesto Che Guevara. Che se tornou a voz da revolução socialista mundial ao fazer seu impactante discurso nas Nações Unidas em 11 de dezembro de 1964, no qual provocou os Estados Unidos, acusando o país de “matar suas próprias crianças” (os negros) e convocou os trabalhadores da América Latina a “mover novamente a roda da História”. Durante o discurso, dois dissidentes cubanos tentaram assassiná-lo. Ele respondeu com humor, dizendo que isso tudo “deu à coisa mais sabor”.

No púlpito da ONU, estava o homem que havia posto o mundo à beira da Terceira Guerra. Como arquiteto da aproximação entre o novo Estado cubano e a União Soviética, Che foi a figura por trás da Crise dos Mísseis de 1962, quando ogivas nucleares foram instaladas na ilha. A grande obra de Che, e a única na qual realmente teve sucesso, foi a Revolução Cubana. Em 1956, ele embarcou do México para Cuba com os exilados Fidel e Raúl Castro, Camilo Cienfuegos e outros 78 revolucionários. Por dois anos, lutou nas florestas da Sierra Maestra contra a ditadura de Fulgencio Batista. Conseguiu algumas façanhas militares brilhantes.

Depois, deixou as armas de lado e participou da construção do Estado socialista. “Che tornou-se radical onde tinha que ser radical. Ele uniu uma força que era, de outra forma, um balaio de gatos, de adolescentes fugidos, aventureiros, democratas-cristãos e meia dúzia de comunistas”, afirma o historiador Jon Lee Anderson, autor de Che, uma Biografia. Tornou-se ministro da Fazenda e tomou parte das campanhas de reforma agrária e da erradicação do analfabetismo.

Mas a conquista cubana ficou pequena. Desde sua viagem de motocicleta pela América do Sul, em 1948, ele havia aprendido a enxergar o continente como uma só entidade. Sua vida de revolucionário internacional começaria com uma experiência distante. Em 1965, rumou para o Congo, em crise após obter a independência da Bélgica. A campanha foi um desastre. Che sofreu com doenças tropicais e sua coluna armada se despedaçou moralmente. O direitista Mobutu Sese Seko tomou o poder, massacrou a rebelião e ficou na presidência até 1997.

Che decidiu focar seus esforços na América Latina. Chegou à Bolívia no final de 1966. Numa ação da CIA, em outubro de 1967, 1800 soldados cercaram os menos de 50 guerrilheiros comandados por Che. Morreu como mártir, “um homem que, na morte, pareceu transcender a ideologia que o fez famoso, e tornar-se uma figura admirada por amigos e inimigos”, de acordo com Anderson.

LEONARDO DA VINCI | Arte
Com ele, o mundo saiu de vez da Idade Média

O QUE FEZ

Quem: Leonardo di ser Piero da Vinci

Nascimento: 1452, Vinci, República de Florença

Morte: 1519, Amboise, França

O que revolucionou: a arte, com o trabalho de anatomia e estudo da luz, que se tornou mais realista, abrindo espaço para a Alta Renascença; e as atitudes em geral, com o espírito humanista que essa época encarnou


A expressão “homem da Renascença” representa alguém capaz de ser muito competente em atividades distintas. Mas o fato é que a maioria dos homens da Renascença era, como hoje, especialista em seu ofício. Cristóvão Colombo não pintava. Maquiavel não desenhava engenhos de guerra. Michelangelo não inventava máquinas voadoras – ainda que esse fosse quem chegasse mais perto, atuando como arquiteto e escultor.

O “homem da Renascença” era um só. Leonardo da Vinci entra nesta lista como o mais votado na categoria arte, mas também foi um finalista nas categorias invenção e engenharia. Era alguém que ora poderia estar pintando A Última Ceia, depois projetar tanques de guerra e máquinas voadoras, mais tarde se dedicar a estudos de anatomia humana, e ainda voltar-se para a escultura, antes de se dedicar outra vez à pintura.

Por mais visionário que fosse, a maioria de seus projetos acabou ficando no papel. Foi como artista que ele acabou eternizado. “Leonardo é para a Renascença o que Marcel Duchamp é para a arte contemporânea. O artista que cria o momento, que encarna sua época”, afirma o artista plástico Alexis Iglesias, diretor da Escola Livre de Arte Havana.

A palavra Renascença foi cunhada pelo pintor Giorgio Vasari em 1550, em seu livro Vida dos Artistas. Significava o renascimento da técnica perdida da Antiguidade, mas também do interesse no ser humano e em estudar e copiar a natureza. Para Vasari, Leonardo marca o início da Alta Renascença, o período de auge do movimento. 

Quando começou a pintar, aos 14 anos, na oficina de seu mestre, Verrocchio, as grandes novidades eram a perspectiva e o trabalho de sombras e volumes. Mas tudo ainda tinha uma certa cara “medieval”, um tanto sombria, pesada e solene, com temas quase exclusivamente religiosos. Isso é visível mesmo nos primeiros quadros de Da Vinci. É a evolução da sua pintura (diga-se, uma produção relativamente pequena) que mostra o exato momento dessa passagem.

Baseado em seus estudos de anatomia humana, de observações da natureza e experiências com luz, Da Vinci criou imagens cada vez mais realistas, atento aos detalhes de como funcionavam músculos, tendões e posturas corporais, mas também foi capaz de infundi-las de vida, de expressão. 

De uma outra atitude que não era mais a de ansiar pelo Paraíso enquanto se aguentava a vida terrena. De objetos de recordação religiosa, os quadros se tornaram uma janela para a vida. A própria composição dos quadros de Leonardo, quase sempre triangular, era uma manifestação de harmonia, uma razão redescoberta, que podia compreender a natureza.

JAMES WATT | Engenharia
Alegrias e sofrimentos de um mundo industrial

O QUE FEZ

Quem: James Watt

Nascimento: 1736, Greenock, Escócia

Morte: 1819, Handsworth, Inglaterra

O que revolucionou: a indústria, ao criar uma fonte de trabalho, isto é, movimento útil, que não dependia da energia humana, do vento, rios ou animais; o mundo inteiro, a partir da Revolução Industrial, que nasceu daí

Foi a maior de todas as revoluções – e, possivelmente, a mais contestada. A não ser que você esteja lendo a revista numa cabana feita de palha de coco em uma praia deserta, é provável que absolutamente nenhum objeto à sua volta existiria sem ela. Ok, você está na praia deserta? Sem ela, não teria esta revista em mãos. 

A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra com a criação do primeiro motor a vapor prático, por James Watt, mudou o mundo como nenhuma outra. Pela primeira vez, a humanidade se viu livre do suor da própria testa, e capaz de empregar uma força muito maior que antes era possível. Também implicava um novo tipo de liberdade. “O homem estava livre dos ventos e dos animais como meios de transporte”, diz Guto Lacaz, que votou em Watt para a lista de inventores.

Mas Watt não era um inventor – ao menos não com sua principal contribuição. Ele simplesmente aperfeiçoou um motor a vapor criado mais de seis décadas antes por Thomas Newcomen, que havia encontrado algum uso limitado na indústria carvoeira, operando bombas que drenavam as minas. 

O aperfeiçoamento foi, aparentemente, mínimo. Watt adicionou uma câmara separada de condensação, de forma que o vapor não tivesse de se condensar no pistão, o que fazia com que se esfriasse, desperdiçando energia. O antigo movimento de pêndulo foi transformado em rotatório.

Essas modestas melhorias fizeram com que os motores gastassem 75% menos combustível, e pudessem ser usados em outras aplicações. “Um fato marcante foi a introdução, em 1782, do motor a vapor na indústria da tecelagem”, afirma Maria Teresa Gomes Barbosa, da Universidade Federal de Juiz de Fora. 

Nessa indústria, eles encontram outra máquina avançada, o tear mecânico de Jacquard, criando a primeira parceria entre o poder do vapor e a sofisticação de equipamentos complexos.

Máquinas são invenções antigas. Existem desde a Antiguidade, quando os gregos criaram as engrenagens, no século 4 a.C. Mas, por toda a História, a Era da Máquina nunca começou porque elas dependiam ou da força humana direta, que puxava cordas e manivelas, ou da ação de rios, vento ou força animal. 

Nunca ocuparam papel central na economia. O motor de Watt, e todos os tipos de motores que surgiram depois, permitiram que máquinas pudessem ser criadas e movidas, e as indústrias conseguissem se instalar em qualquer lugar. Milhões migraram dos campos para as cidades – e o valor dos produtos, antes feitos por artesãos, um a um, também despencou.

Os eleitores

RELIGIÃO

Frei Betto: religioso e escritor, um dos expoentes da Teologia da Libertação
José Ulisses leva: padre, doutor em História Eclesiástica, professor da PUC-SP
Sérgio Figueiredo Ferretti: antropólogo, estudioso da religião, ligado à Universidade Federal do Maranhão
Wellington Teodoro da Silva: professor de Ciências da Religião pela PUC-MG, presidente da Associação Brasileira de História das Religiões
Patrícia Simone do Prado: mestre em Ciência da Religião pela PUC-MG
Justin McDaniel: chefe do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Pensilvânia (EUA)
Jorge Cláudio Ribeiro Jr.: professor do Departamento de Teologia da PUC-SP

INVENÇÃO

Luiz Rocha: engenheiro de computação, criador do site inventeaqui.com.br
Wagner Fafá: economista, presidente do Instituto Brasileiro de Inovação, que organiza o Salão do Inventor Brasileiro
Carlos Mazzei: especialista em Marketing, presidente da Associação Nacional dos Inventores
Guto lacaz: designer e artista plástico multimídia
Lester Faria: engenheiro aeronáutico, chefe do Laboratório de Guerra Eletrônica do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)

MEDICINA

Sanjoy Bhattacharya: diretor do Centro para as Histórias Globais da Saúde, Universidade de York, Reino Unido
Alexander Medcalf: historiador da medicina, Universidade de York, Reino Unido
André Mota: coordenador do Museu da Faculdade de Medicina, USP
Gustavo Tarelow: historiador, pesquisador do Museu da Faculdade de Medicina, USP
Everton Reis Quevedo: historiador, diretor técnico do Museu de História da Medicina do Rio Grande do Sul

FILOSOFIA

William Child: professor de Filosofia na Universidade de Oxford, Reino Unido
André Porto: professor de Filosofia na Universidade Federal de Goiás
Helton Machado Adverse: do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais
Rachel Gazolla de Andrade: professora de Filosofia da PUC-SP e Faculdade de Filosofia São Bento
Katia Genel: professora de Filosofia da Universidade de Paris 1, Sorbonne
Denis Coitinho: professor de Filosofia da Unisinos
Adriano Naves de Brito: professor de Filosofia da Unisinos

MILITAR

Carlos Roberto Carvalho Daróz: historiador militar, professor do Colégio Militar do Recife
Manuel Rolph Cabeceiras: coordenador do Grupo de Estudos de História Militar da Universidade Federal Fluminense
Francisco Eduardo Alves de Almeida: professor da Escola de Guerra Naval, membro do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro
Ricardo Pereira Cabral: professor da Escola de Guerra Naval
César Machado Domingues: professor da Universidade Estácio de Sá, editor da Revista Brasileira de História Militar
Coronel Luiz Carlos Carneiro de Paula: historiador militar, secretário do Instituto de Geografia e História Militar do 
Brasil
Marcos Ribeiro Correa: oficial aposentado, historiador militar, membro do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro
Manuel Cambeses Jr.: membro emérito do Instituto Geográfico e Histórico Militar Brasileiro

COMPORTAMENTO

Archie Brown: professor emérito de Política, Universidade de Oxford, Reino Unido
Pedro Paulo Funari: arqueólogo e historiador, livre-docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Andrea Casa Nova Maia: historiadora, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lincoln Ferreira Secco: historiador, professor da Universidade de São Paulo (USP)
Mary del Priore: historiadora, colaboradora de AVENTURAS NA HISTÓRIA, autora de História do Amor no Brasil e diversos outros

CIÊNCIA

José Luiz Goldfarb: vice-coordenador da pós-graduação em História da Ciência, PUC-SP
Lester Faria: engenheiro aeroespacial, professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Phillip A. Sharp: biólogo molecular, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA
Steven Pinker: psicólogo evolutivo canadense, professor do MIT
Marcos Veríssimo: físico molecular, professor da Universidade Federal Fluminense

POLÍTICA

Archie Brown: professor emérito de Política, Universidade Oxford, Reino Unido
Pedro Paulo Funari: arqueólogo e historiador, livre-docente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Andrea Casa Nova Maia: historiadora, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Lincoln Ferreira Secco: historiador, professor da Universidade de São Paulo (USP)
Mary del Priore: historiadora, colaboradora de AVENTURAS NA HISTÓRIA, autora de História do Amor no Brasil e diversos outros
Leandro Narloch: jornalista e escritor, autor da série Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ex-editor de AVENTURAS NA HISTÓRIA

ARTE

Dercy Aparecido Pereira: coordenador do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes, São Paulo
Alexis Iglesias: artista plástico cubano, formado na Universidade de Havana, diretor da Escola Livre de Arte Havana
Paulo Antônio de Menezes Pereira da Silveira: historiador da arte, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Luiz Octávio Rocha: professor da pós-graduação do Centro Universitário Belas Artes, São Paulo
Peter Childs: professor de design no Imperial College of London, Reino Unido

ENGENHARIA

Maria Teresa Gomes Barbosa: professora do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora
Marcelo Hazin: professor de Engenharia de Produção da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
Suzana França Dantas Daher: professora de Engenharia de Produção da UFPE
Adiel T. Almeida Filho: professor de Engenharia de Produção, UFPE
Frederico Barbieri: engenheiro automotivo, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), São Paulo
Leônidas Sadoval Júnior: matemático e físico, professor do Insper
Fábio Orfali: matemático e engenheiro químico, professor do Insper
Irineu Gustavo Nogueira Gianesi: engenheiro de produção, diretor de Novos Projetos Acadêmicos do Insper


Entendendo...















Sobre o suicídio na sociologia de Èmile Durkheim

O suicídio, na sociologia de Durkheim, é visto como um ato executado pela vítima, conscientemente, que resulta em sua morte.

A causa para todos os tipos de suicídios é social, de acordo com Durkheim


O suicídio é, segundo Durkheim, “todo o caso de morte que resulta, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, executado pela própria vítima, e que ela sabia que deveria produzir esse resultado”. Conforme o sociólogo, cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade. Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio.

Há três tipos de suicídio, segundo a etimologia de Èmile Durkheim, a saber:

• Suicídio Egoísta: é aquele em que o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver;

• Suicídio Altruísta: é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.;

• Suicídio Anômico: é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica, por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio altruísta são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor com as situações.

Desse modo, ficam especificados os tipos de suicídios e as causas, que são, segundo Durkheim, sempre sociais.


Cultura...















Sobre a Cultura de Paz

O uso de combinados e a promoção da cultura da paz

No dia a dia das escolas, é muito comum que os profissionais da educação manifestem várias queixas, como: "não consigo dar nenhuma aula sem perder muito tempo resolvendo questões de indisciplina", "os alunos conversam demais", "os alunos são agressivos, xingam-se um ao outro o tempo todo", "os alunos não fazem as tarefas", "os alunos depredam a escola", "os alunos não trazem o material pedido, não fazem trabalhos". 

Por outro lado, a equipe de direção das escolas também costuma fazer queixas com relação ao corpo docente, como faltas de professores, atrasos, não cumprimento de prazos, aulas não planejadas ou de má qualidade, falta de respeito às regras coletivas da instituição. E para completar o quadro, os professores muitas vezes manifestam insatisfação com relação ao trabalho dos seus líderes, reclamando da ausência, de falta de "pulso firme" ou de excesso de autoritarismo.

Tendo em vista esta realidade, o uso de combinados (pactos de convivência ou acordos coletivos) tem sido uma das soluções mais destacadas pelo Projeto Não-Violência para suprir as necessidades mais urgentes das escolas. 

Na literatura encontramos o livro Tá Combinado - Construindo um pacto de convivência na escola, de Feizi Milani, que constitui uma obra de referência no assunto e tem sido o nosso guia para reflexão e implantação destes acordos coletivos.

Sabemos que as escolas atualmente encontram muitas dificuldades de estabelecer um padrão de autoridade com relação ao cumprimento das normas. A tradição do autoritarismo presente na escola antiga e muito acentuada no regime militar, ainda permanece nas instituições de ensino atuais, ainda que de forma mais amena. 

A visão autoritária tende a utilizar o medo como forma de manter o controle. As regras são impostas aos alunos, que precisam obedecer cegamente. Quando a obediência não ocorre, estabelece-se uma punição. E não há praticamente diferenciação entre crianças e adolescentes, alunos do ensino fundamental ou do ensino médio, no sentido de que todos devem acatar as normas sem questionamentos.

Porém, o que percebemos é que esta autoridade baseada no medo não tem se sustentado na realidade atual. As crianças e adolescentes da nova geração estão recebendo um tipo de educação muitos menos rígida do que a educação militar dos anos da ditadura. Em função disso, não é possível simplesmente querer controlar os alunos através do medo, mas sim encontrar alternativas para lidar com estas crianças de maneira mais efetiva.

A ideia de fazer combinados entra como uma solução não repressiva para o problema da indisciplina e da crise de autoridade do professor. Sua proposta fundamental é construir coletivamente os "acordos" necessários para criar e manter um convívio de respeito e solidariedade entre profissionais, alunos e pais e, com isso, prevenir os problemas de violência e indisciplina na escola.

O pressuposto que fundamenta o uso de combinados é muito simples: quando participamos da construção das regras que regem um determinado ambiente temos muito mais facilidade de aceitar e cumprir o que é decidido. 

Quando recebemos as regras prontas, quando alguém nos impõe uma determinada norma, automaticamente surge um sentimento de rebeldia, de revolta. Por exemplo: se o (a) seu (sua) companheiro (a) se dirigir a você de forma imperativa, falando o seguinte "eu lavo a louça e você passa a roupa" - como é sua tendência de reagir? Normalmente sentimos que o outro está "dando ordens" e nos sentimos desrespeitados. 

Porém, se seu (sua) companheiro (a) propor uma conversa do tipo "vamos combinar uma divisão de tarefas domésticas em casa" - a reação não tende a ser diferente? Quando sentimos que nossa opinião é respeitada e podemos participar das decisões, tendemos a acolher e respeitar mais efetivamente as regras de convivência. Neste exemplo, através da conversa, o casal pode até chegar à mesma decisão que seria proposta de forma autoritária, porém independentemente do resultado é muito mais importante o processo, a forma como as coisas foram combinadas.

Assim, dentro de uma escola, os alunos certamente se sentirão mais respeitados e ouvidos se puderem participar da construção das regras de convivência em sala de aula. É claro que cada faixa etária possui um nível de maturidade e a capacidade de participação vai aumentando na medida em que o aluno fica mais velho. 

Crianças menores podem participar da construção de regras escolhendo frases ou figuras representando comportamentos que são importantes para um bom convívio em sala de aula. A partir da qinta série, os alunos podem escrever suas próprias frases e, com a ajuda do professor, construir um combinado próprio para a sala de aula. Adolescentes a partir da oitava série podem construir combinados mais específicos, participar de algumas decisões da escola, atuar em grêmios e projetos extraclasses.

Fazer combinados não significa apenas captar a opinião dos alunos e construir um cartaz bonito com as responsabilidades do grupo. Significa também uma mudança de postura por parte do educador. O professor precisa abandonar os velhos métodos autoritários e se propor a construir uma relação afetiva com sua turma. 

Precisa estar disposto a ouvir, a respeitar cada criança, a conquistar a confiança da turma. Precisa estabelecer limites justos, que ajudem a criança a se desenvolver moralmente, em vez de causar apenas humilhação e revolta. Agindo assim, normalmente o professor leva mais tempo para conquistar o respeito da turma, porém, quando essa conquista ocorre ela é permanente, pois o professor atinge uma autoridade que não se baseia apenas no medo, mas numa verdadeira relação de confiança e admiração pelo mestre. 

Quando educamos as crianças para se comportar bem em função do medo de receber punição, corremos o risco de formar pessoas capazes de obedecer quando são vigiadas, mas que agem de forma antiética quando "ninguém está olhando". Os combinados ajudam a criar uma cidadania autêntica e não apenas um jogo de hipocrisia social onde o que vale é a aparência de bondade.

A prática de construir combinados tem sido realizada por diversos educadores e instituições de ensino, com sucesso. As teorias mais recentes sobre educação costumam apoiar esta ideia, defendendo um panorama mais democrático em sala de aula. 

Como não podemos voltar no tempo e ao mesmo tempo precisamos mudar para garantir uma relação de respeito entre educadores e educandos, acreditamos que investir na construção de combinados e lutar para mudar a concepção vigente sobre autoridade são condições essenciais para o fortalecimento da cultura da paz - tão almejada - na sociedade.

Construção de Combinados: relato de uma experiência

Os trabalhos iniciaram no Colégio Estadual Cecília Meireles no segundo semestre de 2005. Inicialmente um pequeno grupo de lideranças da escola estudou o livro 'Tá Combinado', recebendo orientação da equipe do PNV. No início do ano de 2006, durante a semana pedagógica - período de planejamento e capacitação dos professores - construímos o pacto de convivência dos profissionais da escola, um combinado voltado para ajudar a manter um ambiente de convívio pacífico entre os adultos da instituição.

Quando as aulas iniciaram, a primeira semana foi utilizada para construir os pactos de convivência entre os alunos. Ao invés dos professores iniciarem com suas disciplinas e conteúdos específicos, dedicaram-se a construir um bom vínculo com os alunos e um combinado que pudesse balizar a relação não só entre os alunos, mas também entre alunos e professores. 

Cada professor representante coordenou uma série de atividades destinadas a sensibilizar os alunos para a importância dos combinados, estimular os alunos a darem sua opinião e construir um cartaz com direitos e deveres de estudantes e professores.

Apesar da construção de combinados ter sido efetuada de maneira relativamente tranquila, sabemos que nenhum trabalho novo na área de educação costuma trazer resultados imediatos, pois naturalmente surgem problemas e dificuldades... Os alunos não estavam acostumados a opinar, por isso receberam a ideia sem tanto comprometimento e acabaram não aproveitando o espaço que tiveram. 

Os professores, por sua vez, acostumados a uma cultura de entregar tudo pronto aos alunos, tiveram dificuldade de manter as salas organizadas durante a construção e, mais tarde, também tiveram problemas para estimular os alunos a cumprirem os combinados. Muitos professores esqueceram ou deixaram de lado o acordo coletivo e continuaram impondo as regras como sempre fizeram... Em compensação, muitos professores também relataram que conseguiram trabalhar melhor com suas turmas, que o convívio e o respeito melhoraram.

Tão importante quando a construção do pacto é também a manutenção do pacto, ou seja, o trabalho diário com o combinado para que ele não seja apenas mais um cartaz grudado na parede, mas uma autêntica expressão das necessidades dos alunos e professores. 

Assim surgiu o "espaço permanente de diálogo", uma reunião quinzenal realizada pelos profissionais com o intuito de discutir as dificuldades de manutenção do pacto, compartilhar experiências e casos de sucesso. A criação desse espaço foi excelente para a integração da escola, pois os profissionais tornaram-se mais unidos, mais aptos e seguros para lidar com as dificuldades do cotidiano escolar, mais cientes do seu papel de educador e mais comprometidos com a escola.

Os conselhos de classe no Colégio Cecília Meireles também mudaram. Os critérios estabelecidos pelos combinados são usados como forma de avaliar profissionais e alunos. Tanto os professores avaliam suas turmas como as turmas avaliam os professores. 

E todos também realizam a autoavaliação. As avaliações não têm o objetivo de gerar alguma nota ou conceito, mas de promover diretrizes para mudanças, para melhorar os comportamentos e tornar o convívio melhor.

Se a punição é algo que temos que reduzir numa cultura baseada no diálogo e no respeito, a recompensa, ao contrário, deve ser estimulada. Desta forma a escola passou a utilizar mais o reconhecimento como forma de estimular bons comportamentos. 

Alunos são reconhecidos não apenas pela nota, mas por serem participativos, bons ouvintes, respeitosos, criativos e por pequenas melhoras no comportamento. Os profissionais também são reconhecidos pelo seu trabalho, pela relação positiva que têm com os alunos, pelo seu respeito aos combinados. Isso contribui para um aperfeiçoamento crescente da prática pedagógica e para o comprometimento cada vez maior com a escola.

Enfim, com este trabalho, percebemos que os combinados constituem uma forma muito interessante de promover o espírito coletivo, fazendo com que a linguagem dos profissionais da escola seja mais uniforme - não no sentido de padronizada - mas de sintonizada. 

Ou seja, cada vez mais os profissionais tendem a compartilhar e praticar os mesmos princípios, potencializando o efeito da educação na vida dos alunos. Esperamos que os educadores possam cada vez mais compreender que sem uma mudança na maneira como pensamos a educação, a prática dificilmente se consolida, pois precisamos romper com as velhas amarras do tradicionalismo e buscar novos modelos para construir uma educação que tenha sentido e significado e que seja transformadora na vida dos alunos e gratificante para os profissionais.


Curiosidade...










Quebrar um galho
 
“Quebrar um galho”: um termo com uma história bastante curiosa.

A capacidade de interpretação que o homem tem diante dos símbolos pode assumir as mais variadas formas possíveis. Mesmo não partilhando dos códigos e tradições de uma cultura, podemos reinterpretá-los ao nosso modo, e assim consolidar algum tipo de significado. Quando estudamos algumas expressões idiomáticas, temos um claro exemplo de que o uso da língua pode transformar-se de forma muitas vezes imprevisível.

Uma vez questionadas sobre o significado da expressão “quebrar um galho”, muitas pessoas prontamente explicarão que o termo é utilizado para as situações em que alguém nos auxilia com algum problema ou dificuldade. Para essas mesmas pessoas, o galho (de árvore) representa o obstáculo a ser superado com a ajuda alheia. De tal forma, poderíamos naturalizar essa explicação para a origem do termo. Mesmo sendo lógica, existem outras explicações para o surgimento dessa mesma expressão cotidiana.

Uma primeira explicação sobre a origem do termo tem relação com uma pequena particularidade dos conhecimentos hidrográficos. Além de designar o segmento de um tronco, a palavra “galho” também serve para nomear um conjunto de riachos que se unem para transformar em um mesmo rio. De tal modo, muitos viajantes têm o antigo costume de dizer que “quebram um galho” ao navegarem por um riacho que dá acesso ao rio principal.

A segunda teoria sobre a gênese dessa expressão recupera uma das várias divindades que povoam o panteão das religiões afro-brasileiras. Costumeiramente, vários praticantes da umbanda recorrem aos poderes do chamado “Exu Quebra-Galho” quando precisam conquistar ou recuperar o amor de uma mulher. Sendo assim, o termo que designava tal entidade, foi paulatinamente popularizando-se até ser empregado para outros problemas que vão além da esfera afetiva.

Ao lermos essas explicações, podemos ter a certeza de que muitas pessoas desconheciam a historicidade dessa forma coloquial, usada com tanta frequência. Nem de longe se desconfia do labirinto que a fala pode percorrer ao longo do tempo! Agora, se alguém procurava por uma explicação mais detalhada sobre o tema, esperamos ter “quebrado um galho” para ela também.


Piada...


Um homem chega na balada e encontra uma mulher e então dá um garfo a ela. E ela pergunta: para quê o garfo, e ele responde: é por que eu to dando sopa, e ela diz: mas sopa se come de colher, e ele responde: é que eu sou difícil...


Mais uma etapa superada...