domingo, 10 de julho de 2016

Chacina diária...



O QUE ACONTECE DURANTE 48 HORAS

...NO RIO DE JANEIRO

O que acontece durante 48 horas no Rio de Janeiro é o equivalente a uma guerra civil: corpos na calçada, tiroteios, execuções. Na Cidade Maravilhosa, a morte violenta virou banalidade. Os gatilhos da barbárie estão nas vias que à noite se tornam rota exclusiva de bandidos, nos arrastões que espalham o terror, na fuzilaria entre quadrilhas, na polícia mal equipada, encurralada, ausente e brutal. 

Com oito duplas de repórteres, VEJA acompanhou as ocorrências policiais das 20 horas da sexta 1º de julho às 20 horas do domingo. O saldo: 27 mortos, vinte feridos, dezenove tiroteios, sete arrastões.


SEXTA, 1º DE JULHO, 20h45
Assaltado, o bombeiro Antônio de Oliveira, 42 anos, foi a primeira vítima de um fim de semana rotineiro sob todos os aspectos


A MORTE DO HERÓI
sexta-feira, 1º de julho
20h45


Na rua escura que dá acesso à Rodovia BR-101, em São Gonçalo, na Grande Rio, o sangue escorre do corpo de bruços, iluminado por uma lanterna. Peritos reconstituem a cena da morte. Ao ser abordado por um ladrão de carro, o homem reagiu atirando. 

O ladrão, mesmo ferido, disparou de volta, acertando-o na nuca e nas costas. Depois, fugiu com o veículo. 

Antônio Oliveira, 42 anos, era sargento do Corpo de Bombeiros. Orgulhoso da farda, ele morreu fazendo bico, em trajes civis. Com o estado lhe devendo um mês de salário (o depósito seria feito cinco dias depois de sua morte), alugou um Voyage, registrou-se no Uber e passou a transportar passageiros nas folgas. 

A mulher do bombeiro, Bianca, soube da morte por uma rede social. Ela está grávida de quatro meses da terceira filha, a quem dará o nome de Maria Antônia. 

No enterro, domingo, dia 3, a marcha fúnebre das cornetas se misturava aos gritos de “o melhor bombeiro do Rio”. No estado, os latrocínios, nome técnico dos assaltos seguidos de morte, estão em alta. Foram 89 entre janeiro e maio, 37% a mais que no mesmo período de 2015. Os assaltos em geral batem recorde: um a cada quatro minutos.

EXECUÇÃO AO SOL
Sábado, 2 de julho
9h


O escuro da noite não é mais requisito para os assassinatos. Mata-se durante o dia. Uma câmera de segurança gravou a execução à queima-­roupa de Sérgio de Almeida Júnior, 37 anos, pré-candidato do PSL a vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. 

Ele entrava no carro quando outro veículo se aproximou. Escapou pela porta do passageiro, mas dois homens, encapuzados e com luvas, dispararam para matar. Berém do Pilar, como era conhecido, levou 21 tiros de pistola e fuzil na frente de casa. A câmera capturou o desespero da mulher ao abrir a porta da residência. 

Suspeita-se que políticos ligados a milícias estivessem incomodados com a popularidade do rival. Berém do Pilar foi o décimo pré-­candidato à eleição de 2016 a ser assassinado na Baixada, área que engloba seis municípios. Ali, milícias e tráfico impõem suas leis. O patrulhamento é mínimo — um policial para cada 2500 habitantes em alguns pontos. O recomendável é um para 250.

ERA PIPOCA
13h30


Onde não faltam homens, sobra truculência. As estatísticas de autos de resistência, quando a polícia alega ter atirado para se defender, escamoteiam uma cultura de faroeste em que a lógica é usar a arma, simples assim. A PM fluminense é a mais violenta do Brasil: matou mais de 8000 pessoas na última década, segundo relatório da ONG Human ­Rights Watch. Nesse ambiente, até um prosaico saco de pipoca assusta. 

O enredo da morte do estudante Jhona­ta Alves, 16 anos, começou quando ele saiu da sua casa, em 30 de junho, e foi para a de uma vizinha atraído pelo cheiro gostoso de pipoca. Na volta, o garoto foi abordado por PMs que faziam a ronda no Morro do Borel, na Zona Norte. 

Segundo a família, confundiram o saquinho com drogas. “Ele levantou as mãos, soltou a pipoca e levou um tiro na testa”, conta a tia, Luana dos Santos, que no enterro, na tarde de sábado, trazia nas mãos cartuchos vazios que recolhera na rua. A avó socava o chão pedindo justiça. Outro parente exibia o saco de papel ensanguentado.

INDIFERENÇA - Crianças observam com naturalidade o corpo fuzilado em uma rua de Realengo: tão comum é a cena de cadáveres por recolher que as pessoas vão estabelecendo uma macabra convivência com a morte. 

LAVA-JATO
16h

Duas crianças, dessas que um saco de pipoca faz felizes, observam um corpo estirado no chão. Não revelam espanto. Veem a cena com o olhar de quem se habituou a ela. Estão em Realengo, bairro da Zona Oeste, em tarde de sol forte.

Anderson Patrício, 39 anos, duas passagens pela polícia, trabalhava em um la­va a jato quando foi executado por onze tiros, disparados por dois homens em uma motocicleta. Casado, pai de três filhos, ele era funcionário de uma agência dos Correios.

Num primeiro momento, seu corpo foi cercado por curiosos. “Olha, ainda está com a luva na mão”, alguém notou. Quando a polícia chegou, a maioria das pessoas tomava cerveja em um bar ao lado. Com o tempo, a curiosidade desapareceu. Elas foram para casa. E Anderson ali, no asfalto. É vida que segue na cidade em que 1202 pessoas foram assassinadas em 2015. Em Chicago, campeã de homicídios nos EUA, foram 470.

VIZINHO INCÔMODO
19h

Corpos solitários, perfurados, espancados, à procura de um nome, pontuam a beleza estonteante da Baía de Guanabara. Demorou, mas, enfim, colegas reconheceram na noite de sábado Diego Machado, 29 anos, pa­raense, aluno de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), emoldurada pela natureza.

Diego morava no alojamento dentro do câmpus. Era gay e era negro. A primeira hipótese da polícia: crime de homofobia. Antes do reconhecimento, quem viu o corpo não se abalou muito. “Aqui isso é normal, é uma área de desova”, disse uma aluna. A UFRJ, que está entre as melhores universidades do país, fica ao lado do Complexo da Maré, bunker de criminosos que aterrorizam a principal porta de entrada do Rio de Janeiro.

FOGO
Ônibus incendiado em arrastão: tática do medo

CORRA, CARIOCA
22h50



Marca registrada do terror imposto ao Rio, o arrastão não tem hora nem lugar. Pode acontecer a qualquer momento, em qualquer ponto — embora vias movimentadas e congestionadas sejam o alvo preferencial. Com frequência, os bandidos atiçam o clima de pavor incendiando ônibus.

No sábado à noite, o Túnel Rebouças, a principal ligação entre as zonas Norte e Sul, de repente engarrafou. Bandidos fecharam uma pista e se puseram a roubar os motoristas encurralados. Nesse momento, o carioca sabe: sai do carro e corre na direção contrária. Ao todo, sete arrastões infernizaram o fim de semana no Rio. “Terrible”, disparou o prefeito Eduardo Paes sobre a situação da segurança, em entrevista em inglês à rede americana CNN.


EXPRESSÃO DA DOR
O grito de Alexandre, torturado e atropelado: ataque com nível de brutalidade espantoso até para padrões cariocas.


O GRITO
Domingo, 3 de julho
1h46

Berrando de dor, o entregador de farmácia Alexandre Pinheiro, 40 anos, chega ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. O estado choca até mesmo os calejados enfermeiros do pronto-socorro. Ele está coberto de feridas dos pés à cabeça. Para roubarem a bolsa, cinco assaltantes o torturaram e espancaram com pedaços de pau pontilhados de pregos afiados. Jogado no meio da rua, foi atropelado. Um desconhecido chamou a ambulância. Alexandre sobreviveu.

MÉDICO DE GUERRA
Paciente é atendido pelo cirurgião Bianco: com tanto tiroteio, o Rio virou referência mundial no tratamento de ferimentos a bala.

AQUI É GUERRA
4h15

Por força das circunstâncias, o Rio se tornou referência mundial no tratamento de ferimentos a bala. Dados da Secretaria de Saúde mostram que, de janeiro de 2015 até agora, os hospitais da rede municipal e estadual atenderam 4053 vítimas de projétil de arma de fogo, ou PAF, no jargão local. Isso dá uma assustadora média de 7,4 baleados por dia.

Na madrugada movimentada do Hospital Salgado Filho, na Zona Norte, Wellerson Rocha, 18 anos, chegou com uma perna atingida por tiro de fuzil em uma operação policial. Foi direto para a cirurgia. “Antigamente, PAF era sempre tiro de revólver. Agora, toda hora chega gente atingida por fuzil”, informa o diretor do Salgado Filho, João Berch­mans. “Praticamos medicina de guerra. Estamos preparados para atuar em qualquer zona de conflito do mundo”, resume o cirurgião Bruno Bianco, do Souza Aguiar. Wellerson Rocha também sobreviveu.

TODOS NO BANHEIRO
7h30

O domingo na Vila Cruzeiro, na Zona Norte, começou como sempre. Traficantes atacaram a base 29 da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). O confronto esquentou, os PMs pediram reforço e um blindado foi acionado para resgatar um grupo de viaturas acuadas. Saldo de duas horas de combate: dois policiais feridos e um traficante morto.

Sete anos após a implantação do projeto das UPPs, todas as 38 voltaram a conviver com tiroteios. “Se estou na rua, deito no chão. Se estou em casa com as crianças, ficamos no quarto dos fundos ou no banheiro até terminar”, contou José Geraldo Silva, que cria sete filhos na Vila Cruzeiro. 


Há vários pontos das favelas "pacificadas" em que policiais não entram, ou entram só com blindados. Na mira de bandidos armados até os dentes, a tropa sofre baixas frequentes. Levantamento feito por VEJA enumera 418 PMs feridos e 37 mortos em UPPs desde 2008. Oito apenas neste ano.

O CAÇADOR CAÇADO
16h30


Amparada no filho de 12 anos, Eveline Padilha, 35, chorava desconsolada no enterro do marido, o sargento da PM Wendel Lima, 38. Wendel entrou para as trágicas estatísticas de PMs mortos ao levar um tiro na frente dos dois, e da filha de 10 anos, pelo “crime” de ser policial. Num arrastão, deu ré para escapar e bateu no carro de trás. Os bandidos perceberam, chegaram perto, viram sua arma e o mandaram sair. Ele desceu com as mãos para cima. Foi sumariamente fuzilado.

Era um sábado qualquer de um fim de semana qualquer de uma cidade que, a menos de trinta dias do início da Olimpíada, atrai a atenção do mundo. O Rio não é mesmo um lugar qualquer. Um aplicativo para smart­pho­nes, o Fogo Cruzado, acaba de ser lançado para monitorar os tiroteios que se espalham pela região metropolitana. Colaborativo, alimentado por cidadãos comuns, aponta os tiros como o Waze marca os nós do trânsito. Nas palavras de José Geraldo Camilo da Silva, marido de uma mulher ferida a bala durante o fim de semana triste e banal acompanhado pelos repórteres de VEJA: “Tinha de ser uma cidade maravilhosa”. Tinha.


VIAS E CABINES DESERTAS

 Linha Vermelha

O MAPA DO CRIME

A distribuição da violência na região metropolitana do Rio nas 48 horas monitoradas por VEJA.

http://veja.abril.com.br/complemento/brasil/o-que-acontece-durante-48-horas-no-rio-de-janeiro/

OS MORTOS
Todas as 27 vítimas do fim de semana são do sexo masculino

 Mortos    Feridos


Sexta-feira, 1° de julho, 20h45

Antônio Marcos Nascimento de Oliveira

42 anos, branco
O bombeiro foi alvejado com duas balas depois de reagir a um assalto quando dirigia em São Gonçalo, no Grande Rio. Morreu na hora.
Sexta-feira, 1° de julho, 22h

Yuri Christian Paiva dos Santos

17 anos, pardo
Encontrado morto a tiros em Magé, Baixada Fluminense.
Sexta-feira, 1° de julho, 22h50

Leonardo Augusto T. de Jesus

28 anos, branco
Os três traficantes foram mortos em confronto com a polícia na favela Parque Anchieta, na Zona Norte.
Sexta-feira, 1° de julho, 22h50

Marlon da Cruz Chagas

20 anos, pardo
Os três traficantes foram mortos em confronto com a polícia na favela Parque Anchieta, na Zona Norte.
Sexta-feira, 1° de julho, 22h50

Douglas da Rocha C. do N. Leone

22 anos, pardo
Os três traficantes foram mortos em confronto com a polícia na favela Parque Anchieta, na Zona Norte.
Sábado, 2 de julho, 3h10

Tiago Rafael da Silva

28 anos, negro
O segurança particular foi morto a tiros disparados por pelo menos dois homens, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
Sábado, 2 de julho, 4h

Jeidson Marques da Silva Rocha

25 anos, negro
Morto a tiros por três homens em Mesquita, Baixada Fluminense. Chegou a ser levado ao hospital, mas não resistiu.
Sábado, 2 de julho, 4h50

Thiago da Silva Albino

25 anos, negro
Morto a tiros em Queimados, na Baixada Fluminense.
Sábado, 2 de julho, 8h

Moisés Garcez Rosa

26 anos, pardo
O moto-taxista foi encontrado morto dentro de um carro em Inhaúma, na Zona Norte. Tinha balas na cabeça e no tórax. Ele havia contado à esposa que discutira com traficantes três semanas antes.
Sábado, 2 de julho, 9h

Sérgio da Conceição de Almeida Júnior

37 anos, branco
Candidato a vereador foi executado por dois homens armados com fuzil e pistola quando saía de seu carro, na porta de casa, em Duque de Caxias, Baixada Fluminense.
Sábado, 2 de julho, 9h40

Matheus Almeida da Silva

20 anos, negro
Andava na rua em São Gonçalo, no Grande Rio, quando dois bandidos pararam o carro e dispararam nove vezes. Chegou a ser levado ao pronto-socorro, mas não resistiu.
Sábado, 2 de julho, 13h

Denis Oliveira da Silva

21 anos, negro
O auxiliar de pedreiro foi morto a tiros por um vizinho em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A polícia investiga um suposto desentendimento entre os dois quatro meses atrás.
Sábado, 2 de julho, 15h50

Yuri Pinheiro de Paula Santos

19 anos, negro
Morto a facadas após uma briga no Morro dos Tabajaras, em Copacabana. Chegou a ir para o hospital, mas não resistiu.
Sábado, 2 de julho, 16h

Anderson Cassim Patrício

39 anos, pardo
Trabalhava em um lava-jato em Realengo, na Zona Oeste, quando dois bandidos em motocicletas se aproximaram e o alvejaram com onze tiros.
Sábado, 2 de julho, 17h40

Wendel de Paula Lima

38 anos, negro
O PM foi morto a tiros na frente da filha de 10 anos, em Nova Iguaçu, depois de ter sido reconhecido por bandidos como policial.
Sábado, 2 de julho, 18h

Diego Vieira Machado

29 anos, negro
O estudante foi achado morto com marcas de pancada na cabeça no campus da UFRJ, na Ilha do Fundão, onde cursava Letras. A polícia investiga se o crime tem motivação homofóbica.
Sábado, 2 de julho, 22h15

Ivo Maciel

66 anos, pardo
Mortos após uma tentativa de invasão de uma casa em Itaboraí, na Baixada Fluminense. Bandidos entraram com a intenção de matar o filho de Ivo, suspeito de envolvimento com o tráfico
Sábado, 2 de julho, 22h15

Anderson Ramos de Paiva Porto

33 anos, branco
Mortos após uma tentativa de invasão de uma casa em Itaboraí, na Baixada Fluminense. Bandidos entraram com a intenção de matar o filho de Ivo, suspeito de envolvimento com o tráfico
Sábado, 2 de julho, 23h50

Ryan Duarte

15 anos, pardo
Morto durante uma operação da PM para reprimir um baile funk, na Favela Curral das Éguas, na Zona Norte.
Domingo, 3 de julho, 1h30

Flávio de Oliveira Chaves

51 anos, pardo
Vigia de um depósito assassinado no local de trabalho ao ser golpeado com botijões de gás por dois bandidos.
Domingo, 3 de julho, 1h40

Mário Jorge dos Santos Júnior

15 anos, negro
Executado a tiros em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Tinha passagem pela polícia por roubo.
Domingo, 3 de julho, 6h

homem não-identificado

entre 20 e 25 anos, pardo
Homem encontrado morto a tiros em Santa Cruz da Serra, em Duque de Caxias.
Domingo, 3 de julho, 7h10 às 8h30

Cassiano Santos Vargas

28 anos, negro
Traficante morto em ataque à UPP de Vila Cruzeiro, na Zona Norte após ser atingido por uma bala no peito.
Domingo, 3 de julho, 18h30

Raí Soares de Oliveira Bento

17 anos, negro
Morto a tiros no bairro da Penha, Zona Norte.
Domingo, 3 de julho, 20h

Ítalo Ricardo Magalhães

20 anos, pardo
Morto a tiros na favela da Papelândia, em Nova Iguaçu.
Horário indefinido

homem não-identificado

pardo
Encontrado morto a tiros na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, Zona Norte.
Horário indefinido

Márcio Vinícius Correia Lopes

33 anos, pardo
Encontrado morto a tiros em Barros Filho, Zona Norte.

 

 

 





 

 


 


Estupidez travestida de tradição... Salve o touro!


Toureiro profissional premiado é morto em tourada na Espanha

Victor Barrio foi morto neste sábado.

Um toureiro profissional premiado foi chifrado até a morte ao vivo na frente de centenas de espectadores na tarde deste sábado na Espanha. Víctor Barrio, de 29 anos, sofreu um golpe mortal durante um torneio que estava sendo transmitido pela televisão, na cidade de Teruel, em Aragão, na Espanha. Ele foi levado para o hospital inconsciente, mas não resistiu, segundo informações da imprensa espanhola.

Víctor Barrio, de 29 anos, morreu neste sábado.

O jornal "La Razon" afirma que ele tentava fazer uma manobra chamada de "muletazo" quando foi morto. O touro o derrubou no chão e enfiou os chifres em seu peito. A morte foi transmitida ao vivo pela TV espanhola, chocando os espectadores, e o evento foi cancelado após a morte de Barrio que saiu desacordado da arena. O jornal divulgou uma sequência de fotos angustiantes que mostra o ataque, e, nas redes sociais, telespectadores também ficaram chocados com o caso.

No último dia 4 de julho, Barrio postou uma foto de seu treinamento fazendo referência ao evento de Teruel. "Com a cabeça em Teruel", escreveu ao lado de uma imagem com um touro e hashtags do festival e das emissoras de TV espanholas.

Victor Barrio era considerado uma promessa das touradas do país e quando começou a atuar, em 2008, os amigos debocharam dele. Ao longo do tempo foi conquistando títulos e uma legião de fãs, especialmente as crianças.

Victor Barrio tinha 29 anos.

Segundo o jornal "El pais", embora as mortes em corridas de touro da Espanha sejam elativamente comuns, em todo o mundo a última morte de um toureiro profissional foi em 1987 quando José Eslava Caceres teve os pulmões perfurados. No século passado, dos 134 toureiros profissionais, 33 morreram como resultado de ferimentos.

Mais cedo homem morreu

Mais cedo, durante o festival de São Firmino, na cidade de Pamplona, um espanhol morreu e dois outros homens ficaram feridos nas corridas de touros da Espanha. As informações são da agência de notícias "Reuters".

José Escolar Gil, de 28 anos, morreu depois que o chifre de um touro perfurou seu pulmão e coração durante uma corrida na vila de Pedreguer, próximo a cidade de Valência. As outras vítimas, um japonês de 33 anos e um espanhol, de 24 anos, sofreram ferimentos no peito e no braço respectivamente. O governo informou no site que outras 12 pessoas sofreram ferimentos.


Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/mundo/toureiro-profissional-premiado-morto-em-tourada-na-espanha-19680482.html#ixzz4E1Yf44ug

Drama humano...

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A batalha diária de conviver com a microcefalia

Pais não encontram na rede de saúde os cuidados essenciais para a vida de seus bebês

Camilla Alves e a filha caçula, Maria Lys, que nasceu com microcefalia. Em João Pessoa, Paraíba.

Camilla Raquel Alves, de 22 anos, vive uma situação periclitante. "O que era ruim piorou", diz Camilla. "Tem dia que a agonia não vai embora." A agonia está na rigidez persistente nos braços da filha caçula, nos gritos da menina dia e noite adentro – sem pausas – e nos recentes sacolejos que percorrem o pequeno corpo de Lys. 

"Uma amiga me mandou um vídeo do filho dela, que nasceu com microcefalia e morreu meses atrás", diz. "Ele tinha esses mesmos sinais, e eram convulsões." Há mais de cinco meses Camilla tenta marcar testes neurológicos para Maria Lys, que nasceu com microcefalia.

Os exames podem dar respostas sobre as convulsões e o uso do remédio que Lys toma todos os dias. Como Lys se mexe muito, precisa ser sedada para fazer os exames. Os hospitais em João Pessoa, ela diz, negaram atendimento. Numa das ocasiões, Camilla soube que o exame não seria feito depois de a filha ficar 12 horas em jejum. 

"Disseram que não têm condições de sedar um bebê", afirma. Há um mês, Camilla conta que compareceu a um evento da Cruz Vermelha e abordou Roberta Abath, funcionária da Secretaria de Saúde de João Pessoa, para saber o porquê do atraso nos exames. "Como tinha bastante gente lá, a pessoa anotou meu telefone e prometeu me ligar", diz. "Ainda estou esperando." Procurada, a secretaria não respondeu aos pedidos de entrevista.

Camilla Alves da banho na filha Maria Liz. Camilla Alves e a pequena.

Desempregada, Camilla depende do salário mínimo que a mãe recebe e do benefício (também de um salário mínimo) oferecido pelo governo federal para famílias extremamente carentes. Ela também é mãe de Maria Klara, de 4 anos, fruto de um relacionamento anterior. 

"O pai de Maria Lys também não me ajuda", diz. Camilla gasta R$ 29 por semana para levar a filha às duas sessões semanais de fisioterapia, estimulação visual e terapia ocupacional. Por lei, Camilla deveria ter direito ao transporte gratuito, mas ainda não conseguiu. O mesmo acontece com os medicamentos. "Se quiser que minha filha não convulsione e tome todos os outros remédios, tenho de pagar", diz. "Ao posto não chega nada."

O Ministério da Saúde afirma que essas atribuições são do município e que Camilla tem, sim, os direitos que lhe estão sendo negados. "Esses procedimentos e os remédios são garantidos pelo SUS", diz Maria Inez Gadelha, diretora do Departamento de Atendimento Especializado do Ministério da Saúde. "Não faz sentido a filha dela ser privada disso. Para mim, [essa informação] chega a agredir." Ela afirma que as famílias devem procurar a Secretaria de Saúde do município e a assistência social para resolver o impasse.

Cuidar de uma criança com deficiência, como descobriu Camilla, significa ser acompanhado, por longos anos – ou uma vida inteira –, por uma equipe multiprofissional. 

Como escreve o psiquiatra americano Andrew Solomon em Longe da árvore (Editora Companhia das Letras), em que relata as dificuldades de criar alguém diferente daquilo que é visto como "normal", "esses pais estão embarcando num novo tipo de vida, completamente diferente". Embarcar nessa vida desafiadora é arrebatador para qualquer um, com a agravante de não ter condições financeiras e depender dos ineficientes serviços públicos.

Crianças com microcefalia exigem cuidados especiais, muitos deles inexistentes em algumas regiões de um país desigual. ÉPOCA ouviu cinco neurologistas infantis para esmiuçar o que seria um tratamento de excelência para um bebê com microcefalia. 

Envolve fisioterapia com um especialista em estimulação precoce pelo menos três vezes por semana; duas consultas semanais com um psicomotricista ou um terapeuta ocupacional; fonoaudiólogo em alguns casos; consultas mensais com pediatra e neurologista e semestrais com otorrinolaringologista e oftalmologista. 

"É uma conta que, na rede particular, pode ultrapassar R$ 4 mil por mês", diz Rudimar dos Santos Riesgo, do Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. No Brasil, há 1.581 casos registrados.

A importância da estimulação precoce

Na rede pública, protocolos do Ministério da Saúde norteiam o que deve ser feito em cada caso. Nem toda criança com microcefalia precisa frequentar um neurologista infantil por mês, afirma Maria Inez, mas é importante que aquela que precisa o faça rapidamente. 

Em março, o Ministério lançou uma força-tarefa para que Estados e municípios reduzissem as filas de espera. No primeiro mês, o aumento de diagnóstico – para confirmar se a criança tem ou não microcefalia – subiu 136%. A estratégia para um problema de quase um ano acabou em 30 de junho.

Paulo Sérgio dos Santos segura o filho Paulo Henrique. Paulo Sérgio dos Santos e o filho Paulo Henrique, que nasceu com microcefalia. Em João Pessoa, Paraíba.

O eletricista Paulo Sérgio dos Santos, de 31 anos, descobriu que ter uma guia médica não garante atendimento imediato ao filho Paulo Henrique, que nasceu com microcefalia e com microgiria, uma condição que atrasa ainda mais o desenvolvimento global da criança. 

Com 2 meses e meio Paulo Henrique fez a primeira sessão de fisioterapia. Enquanto isso, Dayse, mulher de Paulo, aprendeu com amigas a fazer massagens e estimular a coluna cervical do bebê. A avaliação por um neurologista, que depende do trabalho da maternidade, levou mais de quatro meses para acontecer. A consulta estava marcada para o final da semana do Carnaval, mas nenhum médico apareceu no trabalho para atender Paulo Henrique. Dayse conseguiu remarcar a consulta para março.

Paulo Henrique é o primeiro filho de Paulo e o terceiro de Dayse, de 26 anos, mãe de dois meninos fruto de seu relacionamento anterior. "Meu filho é lindo", disse o pai ao ver o filho pelo vidro do berçário. 

Paulo queria acompanhar a mulher no parto, um direito previsto em lei desde 2005, mas não permitiram que Dayse, amedrontada e ansiosa, tivesse acompanhante na sala. Paulo Henrique, o filho, saiu da maternidade com encaminhamento para um centro de tratamento para crianças com deficiência. "Foi uma chuva de criança indo para lá", diz o pai.

Para dar conta na mudança da rotina da família, Paulo alugou um espaço para montar a própria oficina de consertos de eletrônicos perto de casa. 

Se a escolha dependesse de planejamento financeiro, provavelmente ele teria esperado o cenário econômico melhorar. Paulo trabalhava com o marido de uma tia – não precisava ter pressa. A urgência de Paulo era outra, com data para nascer – 18 de dezembro de 2015.

A estimulação precoce é fundamental para o futuro dessas crianças. O cérebro de uma criança considerada normal cresce 8 centímetros nos primeiros quatro meses de vida e 4 centímetros nos seguintes. 

Quanto antes o atendimento começar, melhor. E é aí que o protocolo do Ministério da Saúde peca, uma vez que não estabelece um prazo curto e obrigatório para o primeiro atendimento. "Na prática, as famílias desses bebês com microcefalia vão entrar numa fila preferencial, que é demorada e está superlotada", diz o neurologista Marcelo Masruha Rodrigues, da Universidade de São Paulo.

Em casa, a irmã e a mãe de Paulo Sérgio se revezam para apoiar Dayse – quando elas não estão, os irmãos mais velhos seguram o caçula para Dayse preparar o banho, por exemplo. "Às vezes, fico tanto com o bebê que os outros dois choram de ciúmes", diz Dayse. 

É que Paulo Henrique não dorme bem – tira cochilos curtos, de 15 minutos. Por isso, nem Dayse nem Paulo dormem bem também. "A gente descansa três horas por madrugada", diz Paulo, sem tom de reclamação na voz. 

É ele quem faz as vezes de motorista para tentar reduzir o estresse e o cansaço provocados pela nova rotina. Paulo fecha a loja – em qualquer momento do dia – para levar e buscar mulher e filho nas consultas. Depois volta ao trabalho. Por isso, nem sempre consegue cumprir os prazos de entrega combinados com os clientes.


Paulo Sérgio mudou a rotina para levar o filho, que nasceu com microcefalia, aos médicos.

Em dezembro de 2015, ainda com dores dos pontos da cesárea e cansada pelo pouco sono, a sergipana Vanessa Oliveira, de 36 anos, saiu com o marido para uma mudança burocrática, que implica em uma decisão dolorida, daquelas que nenhum pai ou mãe gostaria ou deveria ter de tomar. 

O casal transferiu o plano de saúde de R$ 110 mensais da filha mais velha, Elouíse, de 9 anos, para a menor, Maria Clara, então com quase 2 meses. "A gente tem de acreditar que Elouíse vai precisar menos do plano que Maria Clara", diz Vanessa, engasgando com a própria voz. "Ao SUS não dá para ir. Vejo conhecidas minhas em filas sem fim." Maria Clara, por enquanto, precisa.

Vanessa desistiu de voltar a trabalhar para cuidar da filha, uma realidade para a maioria das mães de crianças com deficiência. Em março, quando a licença -maternidade acabou, a renda familiar caiu 50% – ou pouco mais que um salário mínimo. "Você vai mudar de escola", ouviu Elouíse. 

O colégio particular, que exigia contratação de um transporte para levar a menina, foi substituído por um público, perto de casa, em Aracaju, Sergipe. Os R$ 230 até então investidos na educação de Elouíse estão pagando as passagens de ônibus de Vanessa para médicos e consultas da caçula, uma vez que Vanessa não conseguiu o documento que dá passe livre aos acompanhantes de crianças com deficiência, outro direito que as famílias têm. 

Além da burocracia para pedir o documento, ela diz, o governo exige RG da bebê para fazer o cadastro.

Quando não está em consulta ou na fila de algum exame com Maria Clara, Vanessa está com a filha no colo, amamentando ou fazendo os exercícios de fisioterapia, repetidos três vezes ao dia – alguns, Vanessa aprendeu com vídeos no YouTube, feitos por mães de crianças com síndrome de Down. 

"Sou escrava dela", diz, brincando. Se as mudanças radicais Elouíse ainda não entendeu, a ausência da mãe, mesmo a seu lado dentro de casa, ela já sentiu. Elouíse precisou aprender a preparar o próprio leite com chocolate, algo aparentemente simples para uma criança de 9 anos, mas que foi só tristeza para a menina. "Ela disse que não fica tão gostoso quanto o que eu faço e que nunca mais vai tomar leite nesta casa."



Mais uma etapa superada...