As verdadeiras mulheres de Atenas
Não se mirem em seus exemplos. As
atenienses, infelizmente, não tinham vez no mundo patriarcal da Grécia Antiga.
Conheça suas vidas.
Na adolescência, as meninas
gregas eram criadas separadas dos irmãos e isoladas no gynaikeion, uma espécie
de quarto reservado para elas e de onde quase não saíam. Só recebiam visitas de
outras mulheres ou parentes mais chegados.
Se saíssem, estavam sempre
acompanhadas do marido ou dos pais e vestidas da cabeça aos pés, e agiam com a
máxima discrição. Durante toda a vida, as mulheres ficavam sob a tutoria de
alguém: do pai, do marido ou do filho, caso se tornassem viúvas.
Já os homens decidiam tudo dentro
e fora de casa. Se a mulher traísse, ele estava autorizado a matá-la em
público. Os homens podiam ter amantes – de ambos os sexos – sem
constrangimentos. Relações homossexuais eram comuns entre homens na antiga
Grécia.
Os gregos eram conhecidos por nutrir amizades coloridas, mas o casamento
entre dois homens adultos era considerado estranho.
A homossexualidade masculina era
mais comum entre homens maduros e jovens – a pederastia. Era uma prática aceita
e até incentivada, especialmente nos ginásios, onde adultos e garotos se
exercitavam nus, com o corpo besuntado de óleo e polvilhado com areia fina para
se proteger do frio.
Nas pistas de corrida, era normal meninos serem cortejados
por homens mais velhos. Às vezes, não rolava pegação, mas declarações de amor e
devoção. Existia até um nome próprio para esse par: o amante mais velho era
chamado de erastes, e o adolescente, eromenos.
Já o sexo com escravos era
liberado e não havia limitação de idade ou sexo, porque eles não eram
considerados cidadãos.
A prostituição era comum na
Ática, a região de Atenas, e foi o reformador Sólon que teria criado os
primeiros bordéis públicos – sexo, afinal, não deveria faltar a ninguém.
Os
maiores povoados tinham um bordel masculinoe feminino e programas para
diferentes bolsos. O sexo com escravos custava uma esmola. Havia também as
prostitutas independentes, que cobravam mais caro.
Geralmente, eram mulheres
livres que vendiam serviços em meio expediente e também trabalhavam como
flautistas em jantares nada recatados.
O serviço premium ficava a cargo das hetairai,
prostitutas com elevado nível de educação que recebiam 10 mil dracmas (a moeda
de Atenas) por uma noite caliente.
Para se ter uma ideia, um trabalhador braçal
ganhava um dracma por um dia de trabalho. A frase de um filósofo ateniense
anônimo resumiu assim a relação com sexo – dos homens – na Grécia do século 5
a.C.: “Nós temos cortesãs para nos dar prazer, concubinas para prover nossas
necessidades diárias e esposas para nos dar filhos legítimos e serem guardiãs
fiéis dos nossos lares.”
Os gregos eram tão a favor de sexo que, nos tempos
mais antigos, o celibato era proibido.
O Casamento
Apesar disso, grande parte da
tradição do matrimônio no Ocidente vem da Grécia Antiga. Assim como hoje, a
união na Atenas do século 5 a.C. era regulamentada por um contrato, que ficava
depositado nas mãos de uma terceira pessoa.
Em caso de infertilidade ou
adultério da mulher, o divórcio era autorizado. A cerimônia ocorria na casa dos
pais da noiva, e era o pai que entregava a filha ao marido. O rito era seguido
de um banquete nupcial onde a noiva permanecia de rosto coberto, vestida de
branco e com flores na cabeça.
Depois disso, uma procissão acompanhava o casal
até seu novo lar. Diante da porta, reproduzia-se a cena clássica de novelas e
filmes românticos: o homem segurava a mulher no colo para que ela não tocasse
os pés na soleira.
O último ato ocorria quando os noivos rezavam diante do
altar do fogo sagrado – havia esse local de adoração e preces em todas as casas
gregas – e repartiam bolo e frutas. Eles iam para a cama entoando um hino
nupcial.
No dia seguinte, mais uma etapa da celebração: a noiva entregava seu
véu à deusa Hera, a protetora do matrimônio, e recebia presentes de amigos e
parentes.
Casar e ter filhos era dever
cívico e religioso em toda a Grécia. O espartano, por exemplo, era obrigado a
casar antes dos 30, e só era respeitado depois de ter filhos. Quando nasciam,
cabia ao pai decidir se aceitava as crias ou não. Geralmente recém-nascidos
frágeis eram mortos.
Os sobreviventes ganhavam uma espécie de batismo e cinco
dias depois era escolhido o nome, com festa. Não havia sobrenomes: para
distinguir os homônimos, acrescentava-se o nome do pai depois.
Os gregos nutriam apreço aos
mortos. Quando alguém morria, seus olhos eram fechados e uma moeda colocada
entre seus dentes. Segundo a crença, a moeda servia para pagar a passagem a
Caronte, o barqueiro dos infernos.
O rosto do defunto era coberto com um véu e
seu corpo ficava exposto num cadafalso com flores e oferendas ao redor. Durante
o velório, os homens faziam gestos de luto, erguendo os braços para a frente
com as palmas das mãos abertas e os dedos reunidos. As mulheres arrancavam os
cabelos. Sepultamento era comum, e a cremação, usada em alguns casos, como o de
soldados mortos no campo de batalha.
Sem luxo
Apesar dos prédios públicos
suntuosos, as casas particulares de Atenas eram simples. No ano de 415 a.C.,
estima-se que havia cerca de 10 mil residências de três a quatro cômodos e um
único piso. A construção era modesta: barro, madeira ou pedras precariamente
rejuntadas.
Nas casas mais pobres, as janelas eram pequenas para não entrar
frio ou calor e não havia latrina, cozinha ou banheiro separados. A fumaça do
fogão escapava por um buraco no teto. Nos lares dos mais abastados, a diferença
estava no número de cômodos.
Havia sala de jantar, de estudos, gynakeion (o
quarto reservado para as mulheres), além de banheiro e cozinha separados. Mas
não havia luxo, como os azulejos e objetos de prata e ouro das mansões da
Pérsia e do Egito daquela época.
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