PPP ou PQP?
Guarde o nojo, o cansaço. Podemos
estar testemunhando o expurgo da bandidagem.
A megaconspiração entre
empreiteiros e políticos no Brasil conseguiu desmoralizar a Parceria
Público-Privada. A PPP seria excelente instrumento para melhorar a vida de
centenas de milhões de pessoas.
Em infraestrutura, transporte, metrôs,
estradas, portos, aeroportos, moradia, saneamento, escolas, hospitais,
urbanização de favelas. Que desperdício. Tudo contaminado pela ganância e pela
falta de caráter de “serial-robbers” no Poder.
Graças à Operação Lava Jato – que
a classe política tenta torpedear com o projeto “contra abuso de autoridade” –,
temos acesso às entranhas desse polvo em que se transformou a PPP. As propinas
eram distribuídas em motéis e flats e mesmo na casa da mãe idosa, ou pagos no
exterior ou em mesadas em espécie.
Diante disso, pensamos: PQP! Emergem
detalhes constrangedores e montantes estapafúrdios guardados até em meia-calça
feminina por baixo do terno. “A gente entregou um ‘recurso’, a pessoa baixou a
calça e botou dentro da meia”, revelou o delator Carlos Cunha, em processo que
apura corrupção na reforma do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
A cada delação, casos picantes
são relatados em minúcias. Assim ficamos sabendo que somente a Odebrecht teria
pago 36 parcelas de mesadas de R$ 547 mil ao ex-deputado Eduardo Cunha, por sua
“ajuda política” para o Porto Maravilha, no Rio de Janeiro.
A ajuda de Cunha
era cobiçada por sua influência na Caixa Econômica Federal, que contribuiu para
a obra com R$ 3,5 bilhões do FGTS. No total, Cunha teria recebido R$ 52 milhões
por essa PPP, prevista para durar 15 anos. Apelidado de Caranguejo na planilha,
ele diz que a delação é “falsa, fluida e desprovida de provas”. Fluida?
Impressiona que as delações dos
executivos da Odebrecht – um roteiro de endereços, valores, métodos de
distribuição, nomes de intermediários, descrições de acobertamento – sejam
todas tachadas de “falsas” pelos acusados.
Se assim fosse, Emílio e Marcelo
mereceriam um Oscar de ficção. E os figurantes também. Cada dia a propina era
paga num endereço diferente. Para proteger os executivos de...assalto! Um dos
delatores comprou um cofre “desses de caminhão” e instalou na sala de seu apartamento.
Ficamos sabendo que Sérgio
Cabral, agora réu pela sétima vez, distribuía obras entre as empreiteiras antes
mesmo das licitações e que teria recebido mais de R$ 700 milhões de propina
pelas obras do Maracanã e pelo PAC das favelas.
Imagine um governador roubar
dos favelados, desviar milhões do teleférico do Complexo do Alemão. É preciso
diagnosticar o transtorno que acometeu Cabral. Muitas negociações aconteciam no
Palácio mesmo. Ele falará?
São Paulo também contribuiu
ativamente para desmoralizar as PPPs. As obras da Linha 6 do metrô de São
Paulo, que teriam 15 estações, estão paradas. Dá para entender. Do contrato de
R$ 9 bilhões assinado pela Odebrecht, saíram, segundo delações, propinas vultosas
para a campanha do governador Geraldo Alckmin.
Também saiu dos custos do metrô
um “programa de ajuda” de R$ 14 milhões para o ex-prefeito Gilberto Kassab.
Como ministro das Cidades de Dilma Rousseff, Kassab teria tentado retribuir com
benefício fiscal para a Odebrecht.
Contra Lula, o cerco aperta. No
caso do ex-presidente, não são as somas que mais impressionam, por enquanto.
Mas, ainda segundo as delações, a atração pelos favores pessoais, como a obra
de R$ 700 mil no sítio de Atibaia, pedida por ele ao amigo Odebrecht,
coordenada por Dona Marisa e disfarçada por um contrato fictício em valor mais
baixo e em nome de Fernando Bittar, o sócio do filho.
Quem negaria um favor a
Lula? Ou ao “assessor para assuntos pessoais do presidente”, Rogério Aurélio
Pimentel? Afinal, como disse o delator, a obra custaria algo, “digamos, dentro
do nada, nenhum valor absurdo”.
Lula também pediu à Odebrecht, em
troca de favores, ajuda a regimes autoritários. Alguns empreendimentos no
exterior eram comandados por seu sobrinho Taiguara dos Santos. E assim Lula
ajudou a Cuba dos irmãos Castro, a Venezuela de Chávez e Maduro e a Angola de
José Eduardo dos Santos.
Este último governa Angola desde 1979 e também é
comandante em chefe das Forças Armadas. Um dos países mais corruptos que
visitei, na época da guerra com a África do Sul.
São 267 acusados de crimes contra
nosso dinheiro. São mais de 900 horas de gravações. Guarde o nojo, o cansaço
com as repetições dos episódios, o descrédito alimentado pelo sigilo e pela
impunidade ao longo de décadas.
Podemos estar testemunhando o expurgo da
bandidagem, o confisco de bens e a volta de bilhões para os cofres públicos. O
desfecho da série pode ser escrito também por nós. Vamos limar o projeto
oportunista contra abuso de autoridade e ajudar a acabar com o foro
privilegiado.
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