Mente, cognição e linguagem –
Cesar Candiotto
Reunindo artigos de vários autores, o volume 3 da coleção
Pensamento Contemporâneo da editora Champagnat, da PUC-PR, aborda as principais
questões relacionadas à temática mente, cognição e linguagem. O artigo que abre
o volume, de João de Fernandes Teixeira, é intitulado "Neuroimagem e
Filosofia da Mente", e aborda questões como: "O que a neuroimagem tem
a dizer para a filosofia da mente? Quais suas implicações para a ontologia do
mental? Será que a neuroimagem força-nos à adoção de algum tipo de reducionismo
ou de algum tipo de identidade entre mente e cérebro?". Após traçar alguns
aspectos da relação entre neuroimagem e localizacionismo, Teixeira aborda a
neuroimagem como tópica abstrata: "Ao contrário do que normalmente se
acredita, a neuroimagem fornece-nos uma concepção de psiquismo
desterritorializado".
O segundo artigo, de autoria de Bortolo Valle, com o título "A natureza da realidade interior/exterior em Wittgenstein: breves contribuições para a filosofia da mente", aborda como Wittgenstein, nas Investigações Filosóficas, "redesenha o conceito de interior a partir da força contida no uso expressivo da linguagem. O que chamamos mente, ou seja, a realidade interior, só pode, se formos fiéis a Wittgenstein, ser concebida pelo e no uso da linguagem, ou seja, por meio de dinâmicas exteriores". A conseqüência, apontada por Bortolo Valle, da leitura das relações entre interior e exterior em Wittgenstein, é uma concepção contextual do mental.
Kleber Candiotto, em "A irredutibilidade da mente segundo John Searle", apresenta a tese de Searle acerca da consciência como algo funcional e integrante à constituição biológica humana. Após uma breve explanação da teoria de Searle sobre a consciência e sua subjetividade, e sobre a discussão proposta por Searle acerca de teorias tais como dualismo mente-corpo, materialismo como compreensão monista da realidade, behaviorismo, fisicalismo, funcionalismo, inteligência artificial forte, materialismo eliminativo, ele apresenta a tese da irredutibilidade da compreensão da realidade concluindo que "A consciência é tanto um fenômeno mental, qualitativo e subjetivo, quanto uma parte natural do mundo físico, que, por ser subjetiva, é irredutível".
Ericson Falabretti, em "Merleau-Ponty: o problema mente-corpo e o comportamento", descreve como Merleau-Ponty supera as concepções antitéticas sobre as relações entre consciência e natureza que fundamentam as teorias reducionistas sobre o comportamento: o introspectivismo e o fisicalismo. Com uma visão do corpo que não se reduz a funções neuromotoras ou psíquicas, mas abre-se para o campo fenomenal, Merleau-Ponty permite pensar o humano como uma concepção que "faz integrar num só campo o interior e o exterior, a alma e o corpo e, também, o eu, o outro e as coisas".
Vera Vidal, no artigo "Quine e a crítica às entidades mentais", defende a hipótese de que "para desenvolver seu projeto epistemológico, Quine construiu um vasto sistema filosófico com teses profundamente inter-relacionadas e que se explicitam no jogo destas inter-relações. Tomadas isoladamente, darão margem a muitas incompreensões e críticas mal fundamentadas". Para tal proposta, Vera Vidal apresenta uma exegese da filosofia quineana, os pressupostos de seu sistema filosófico, compreendendo que Quine "crê no paralelismo linguagem-teoria e considera todas as teorias como subconjuntos da linguagem". Sua conclusão aponta para a afirmação de Quine somente postular entidades abstratas em bases rigorosas e com vantagens teóricas evidentes. Assim sendo, "o estudo da mente e a postulação de entidades mentais devem ocorrer no quadro de investigações científicas rigorosas, apoiadas nas Neurociências, nas Ciências Cognitivas e não em ingênuas teorias mentalistas. Aquilo que não se sabe explicar, ele crê que seja melhor que se cale a postular fictícias entidades teóricas que conduzirão a inferências indevidas e só prejudicam a evolução do processo cognitivo".
"Realismo, cognição e linguagem" é o texto de Inês Araújo, que parte de uma observação do professor Ivo Ibri Assad com relação a uma citação de Rorty em "Do signo ao discurso". No texto de Rorty, a afirmação: "O mundo não fala, apenas nós falamos". Na afirmação do professor Ivo: "o mundo é que fala!". Abordando autores como Moore, Schlick, Carnap, Quine, Dewey, Wittgenstein e Habermas, Inês Araújo discute quem fala: nós ou o mundo?, tendendo a uma postura moderada.
"Linguagem e Cognição em Habermas" é o texto de Luiz Roberto Gomes, que discute a questão "submetendo à análise crítica a idéia de que o uso comunicativo de expressões lingüísticas não serve apenas para exprimir intenções de um falante, mas também para representar estados de coisa e estabelecer relações interpessoais com uma segunda pessoa", o que, segundo o autor, permite a Habermas superar a noção subjetivista do conhecimento com o "paradigma da intersubjetividade", no qual o entendimento exerce a função de coordenação das ações, de modo a proporcionar outras perspectivas para o exercício de uma teoria social.
Fátima Caropreso, em "Linguagem, corpo e consciência na teoria freudiana", partindo da metapsicologia freudiana, apresenta a linguagem como capaz de determinar toda forma de experiência consciente, de origem endógena ou exógena.
"Entre o ser e a linguagem: Deleuze e o delicado murmúrio do sentido" é o texto de Eládio Craia, que a partir dos conceitos de ser, sentido, diferença e linguagem em Deleuze, conclui que "Não há distinção entre Ser e dizer, o ser unívoco é um dizer que exprime o sentido do mundo. A linguagem não fala do mundo, ela é o sentido do mundo como pura diferença. É o Ser que reconquista sua liberdade".
"A arqueologia da linguagem de Michel Foucault" é o artigo de Cesar Candiotto que, a partir de recortes da obra "As palavras e as coisas", e de outras obras do mesmo período, de Michel Foucaullt, analisa as relações entre linguagem e história: "uma história arqueológica da linguagem procura torná-la inteligível em cada época, pela referência de seus próprios conceitos, métodos e configurações à rede discursiva que condiciona o conjunto dos demais saberes". Apontando as diferenças entre Renascimento, Idade Clássica e Modernidade, mostra que, para Foucault, a inteligibilidade da linguagem é provisória, referenciada a sua época.
As abordagens plurais ao tema que dá título ao livro promovem sua característica peculiar: provocar a reflexão a partir da apresentação de diferentes posturas.
http://www.filosofia.com.br/vi_res.php?id=15O segundo artigo, de autoria de Bortolo Valle, com o título "A natureza da realidade interior/exterior em Wittgenstein: breves contribuições para a filosofia da mente", aborda como Wittgenstein, nas Investigações Filosóficas, "redesenha o conceito de interior a partir da força contida no uso expressivo da linguagem. O que chamamos mente, ou seja, a realidade interior, só pode, se formos fiéis a Wittgenstein, ser concebida pelo e no uso da linguagem, ou seja, por meio de dinâmicas exteriores". A conseqüência, apontada por Bortolo Valle, da leitura das relações entre interior e exterior em Wittgenstein, é uma concepção contextual do mental.
Kleber Candiotto, em "A irredutibilidade da mente segundo John Searle", apresenta a tese de Searle acerca da consciência como algo funcional e integrante à constituição biológica humana. Após uma breve explanação da teoria de Searle sobre a consciência e sua subjetividade, e sobre a discussão proposta por Searle acerca de teorias tais como dualismo mente-corpo, materialismo como compreensão monista da realidade, behaviorismo, fisicalismo, funcionalismo, inteligência artificial forte, materialismo eliminativo, ele apresenta a tese da irredutibilidade da compreensão da realidade concluindo que "A consciência é tanto um fenômeno mental, qualitativo e subjetivo, quanto uma parte natural do mundo físico, que, por ser subjetiva, é irredutível".
Ericson Falabretti, em "Merleau-Ponty: o problema mente-corpo e o comportamento", descreve como Merleau-Ponty supera as concepções antitéticas sobre as relações entre consciência e natureza que fundamentam as teorias reducionistas sobre o comportamento: o introspectivismo e o fisicalismo. Com uma visão do corpo que não se reduz a funções neuromotoras ou psíquicas, mas abre-se para o campo fenomenal, Merleau-Ponty permite pensar o humano como uma concepção que "faz integrar num só campo o interior e o exterior, a alma e o corpo e, também, o eu, o outro e as coisas".
Vera Vidal, no artigo "Quine e a crítica às entidades mentais", defende a hipótese de que "para desenvolver seu projeto epistemológico, Quine construiu um vasto sistema filosófico com teses profundamente inter-relacionadas e que se explicitam no jogo destas inter-relações. Tomadas isoladamente, darão margem a muitas incompreensões e críticas mal fundamentadas". Para tal proposta, Vera Vidal apresenta uma exegese da filosofia quineana, os pressupostos de seu sistema filosófico, compreendendo que Quine "crê no paralelismo linguagem-teoria e considera todas as teorias como subconjuntos da linguagem". Sua conclusão aponta para a afirmação de Quine somente postular entidades abstratas em bases rigorosas e com vantagens teóricas evidentes. Assim sendo, "o estudo da mente e a postulação de entidades mentais devem ocorrer no quadro de investigações científicas rigorosas, apoiadas nas Neurociências, nas Ciências Cognitivas e não em ingênuas teorias mentalistas. Aquilo que não se sabe explicar, ele crê que seja melhor que se cale a postular fictícias entidades teóricas que conduzirão a inferências indevidas e só prejudicam a evolução do processo cognitivo".
"Realismo, cognição e linguagem" é o texto de Inês Araújo, que parte de uma observação do professor Ivo Ibri Assad com relação a uma citação de Rorty em "Do signo ao discurso". No texto de Rorty, a afirmação: "O mundo não fala, apenas nós falamos". Na afirmação do professor Ivo: "o mundo é que fala!". Abordando autores como Moore, Schlick, Carnap, Quine, Dewey, Wittgenstein e Habermas, Inês Araújo discute quem fala: nós ou o mundo?, tendendo a uma postura moderada.
"Linguagem e Cognição em Habermas" é o texto de Luiz Roberto Gomes, que discute a questão "submetendo à análise crítica a idéia de que o uso comunicativo de expressões lingüísticas não serve apenas para exprimir intenções de um falante, mas também para representar estados de coisa e estabelecer relações interpessoais com uma segunda pessoa", o que, segundo o autor, permite a Habermas superar a noção subjetivista do conhecimento com o "paradigma da intersubjetividade", no qual o entendimento exerce a função de coordenação das ações, de modo a proporcionar outras perspectivas para o exercício de uma teoria social.
Fátima Caropreso, em "Linguagem, corpo e consciência na teoria freudiana", partindo da metapsicologia freudiana, apresenta a linguagem como capaz de determinar toda forma de experiência consciente, de origem endógena ou exógena.
"Entre o ser e a linguagem: Deleuze e o delicado murmúrio do sentido" é o texto de Eládio Craia, que a partir dos conceitos de ser, sentido, diferença e linguagem em Deleuze, conclui que "Não há distinção entre Ser e dizer, o ser unívoco é um dizer que exprime o sentido do mundo. A linguagem não fala do mundo, ela é o sentido do mundo como pura diferença. É o Ser que reconquista sua liberdade".
"A arqueologia da linguagem de Michel Foucault" é o artigo de Cesar Candiotto que, a partir de recortes da obra "As palavras e as coisas", e de outras obras do mesmo período, de Michel Foucaullt, analisa as relações entre linguagem e história: "uma história arqueológica da linguagem procura torná-la inteligível em cada época, pela referência de seus próprios conceitos, métodos e configurações à rede discursiva que condiciona o conjunto dos demais saberes". Apontando as diferenças entre Renascimento, Idade Clássica e Modernidade, mostra que, para Foucault, a inteligibilidade da linguagem é provisória, referenciada a sua época.
As abordagens plurais ao tema que dá título ao livro promovem sua característica peculiar: provocar a reflexão a partir da apresentação de diferentes posturas.