Alucinações Musicais – Oliver
Sacks
Novamente um título que não é específico de filosofia, mas em
muito se relaciona com ela. De Hipócrates a Nietzsche, de Santo Agostinho a
Wittgenstein, passando por Leibniz, Rousseau, Kant, Emerson, Eco e muitos
outros filósofos, o neurologista Oliver Sacks discute as relações entre a
música e o cérebro, em artigos organizados em quatro grandes blocos:
Perseguidos pela música; A variação da musicalidade; Memória, movimento e
música e Emoção, identidade e música. Em Perseguidos pela música ele aborda
várias situações neurológicas nas quais seus pacientes apresentam uma espécie
de perseguição pela música. Desde a música que surge como aura para uma
convulsão, até aquela capaz de provocá-la; os brainworms ou earworms, como ele
os denomina, vermes do cérebro ou do ouvido. Sabe aquela música que não sai da
sua cabeça, e você nem gosta muito dela? Às vezes queria deixar de ouvi-la e lá
está ela, e você não sabe onde fica o botão para desligá-la. Há pessoas que
ouvem, possuem uma música que toca dentro de suas cabeças, atrapalhando as
atividades cotidianas. Sacks cita pacientes que possuem um ipod na cabeça e não
conseguem desligá-lo. Como na maioria de seus trabalhos, suas pesquisas contam
com a contribuição de filósofos, neurocientistas, outros neurologistas,
musicólogos, musicoterapeutas, psicólogos e outros profissionais. O
encaminhamento de seus trabalhos consiste, em grande parte, em auxiliar o
paciente a lidar com o que lhe ocorre, pois muitas vezes não há como resolver o
problema. Na segunda parte, ele discute musicalidade, ouvido absoluto, o
cérebro dos músicos e dos não músicos. Haveria diferenças nos cérebros de músicos
e não músicos, de pessoas com ou sem ouvido absoluto? Haveria alguma relação
entre hereditariedade e musicalidade? Comparando estudos e dados empíricos
advindos de sua prática, Oliver Sacks questiona se as diferenças encontradas
nos cérebros dos músicos e não músicos teriam uma origem genética, e por isso
um músico se tornaria músico, ou se tais diferenças seriam advindas de um
desenvolvimento de partes do cérebro devido aos estímulos provocados pela
prática e pelo estudo da música. Feito tal questionamento, ele é ampliado para
outros estímulos que recebemos em nossa formação. Na terceira parte cita casos
de síndromes como Tourette. Parkinson, membro fantasma, distonia, entre outras,
e as relaciona com a música como forma de tratamento. Por fim, na última parte,
estuda os sonhos musicais, música e depressão, emoções e música, síndrome de
Williams, demência e musicoterapia. Em suas conclusões, mostra o quanto a
música se relaciona diretamente ao desenvolvimento de partes do cérebro, e o
quanto ela pode ser um acesso para várias formas de tratamento. Ao relatar
alguns casos de síndrome de Williams, mostra que é possível o quem (a
singularidade, a construção de uma vida a partir das características biológicas
iniciais e dos elementos do ambiente) sobrepor-se ao o que (os diagnósticos das
síndromes). Uma leitura interessante para aqueles que desejam uma aproximação
às questões da filosofia da mente, da neurociência, da filosofia da música, ou
simplesmente, buscam refletir sobre como os sons aos quais somos expostos
diariamente (alguns deles por nosso desejo, outros não) podem influenciar
naquilo que somos.
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