'Achamos que o satanás ia sair do carro', diz policial
"Foi uma
tragédia, mas a gente achou que o satanás ia sair de dentro do carro." A frase
é de um dos policiais militares que participaram da ação que culminou na morte
do empresário Ricardo Prudente de Aquino, 39, no dia 18, após perseguição por
ruas de Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.
Antes de morrer,
Aquino, segundo a polícia, não obedeceu a uma ordem de parada de um PM e
trafegou em alta velocidade em seu Ford Fiesta com películas escuras nos vidros
laterais.
Esse PM que falou
à Folha pediu para não ser identificado, pois não
tem autorização da corporação para conceder entrevistas. Ele não é um dos três
policiais que foram presos sob a acusação de homicídio doloso (intencional).
O cabo Robson
Tadeu Paulino, 30, e os soldados Luis Gustavo Teixeira Garcia, 28, e Adriano
Costa da Silva, 26, ficaram nove dias presos. Eles foram soltos anteontem por
decisão judicial.
Reconstituição da morte do empresário. Polícia Civil faz a reconstituição da morte do
empresário Ricardo Prudente de Aquino, morto pela PM no último dia 18.
À Folha, o policial afirmou que o
publicitário agiu de maneira errada ao fugir da polícia e seu comportamento era
similar a de um criminoso.
"Se tivesse
parado, nada de errado ia acontecer."
Na opinião do
policial, a morte de Aquino deve ser avaliada dentro do seguinte contexto:
1) oito policiais
foram mortos e cinco bases da PM foram atacadas desde junho;
2) o cabo Robson, um dos policiais envolvidos na ação, foi baleado em junho do
ano passado numa tentativa de roubo na avenida Pacaembu;
3) a ação aconteceu em uma rua com pouca iluminação, e Aquino, agitado, fez um
movimento brusco com o celular na mão, o que levou os PMs a acharem que ele
estava armado e iria atirar.
"Vivemos um
momento de tensão muito grande", disse.
Mesmo assim, ele
conclui que a ação foi um erro. "Foi uma 'cagada'. O cerco foi correto.
Errado foram os tiros. Bastou um policial atirar para os demais o
seguirem."
O advogado da
família de Aquino, Cid Vieira de Souza Filho, disse que nada justifica a ação
dos policiais.
"Ainda que o
Ricardo estivesse fugindo, a ação dos policiais foi errada. Se não estão
preparados psicologicamente, não deviam ser PMs."
Sobre o movimento
brusco, o advogado disse que essa tese não está comprovada.
"O celular
dele estava há quase duas horas sem bateria. Ele não tinha para que pegar o
celular", afirmou.
O processo foi
relatado pela Polícia Civil e está agora com o Ministério Público, que deverá
oferecer a denúncia (acusação formal) à Justiça nos próximos dias.
Nesta semana, o
Tribunal de Justiça deverá decidir se os três PMs aguardam o julgamento presos
ou livres.