Francis
Bacon: Lógica da sensação Gilles Deleuze
Em
análise detalhada da obra de um dos maiores pintores contemporâneos - o
irlandês Francis Bacon (1909-1992) -, Gilles Deleuze (1925-1995) aborda a
questão: como escapar da representação na pintura? Aproximando sua obra à de
Cézanne, Deleuze aponta um fio condutor: pintar a sensação. Entendendo sensação
como "o que passa de uma ordem a outra, de um nível a outro, de um domínio
a outro", como agente de deformações do corpo - diferentemente da atuação
das artes figurativa e abstrata, que ocorre diretamente no cérebro, sem acesso
à sensação - a arte de Bacon atua nas diferentes "ordens de
sensação". Através de deformações, Bacon testemunha a "ação de forças
invisíveis sobre o corpo", em espasmos como o encontrado no tríptico de
1973, incute ritmo à sensação visual, promovendo intensidades que tocam os
sentidos por amplitudes, atingindo o "corpo sem órgãos" - descrito
por Artaud - via vibração. "... quando a sensação atinge o corpo através
do organismo, adquire um caráter excessivo e espasmódico, rompendo os limites
da atividade orgânica. Em plena carne, ela age diretamente sobre a onda nervosa
ou a emoção vital". Não se trata de apontar elementos visuais apenas, ou
que toquem um sentido, uma parte do corpo, ou o organismo. Trata-se de uma
intensidade tal que reverbera por todo o corpo, um corpo sem órgãos, e que o
toca em sua totalidade e movimento, afetando-o em sua vibração, por todos os
sentidos, atingindo o sistema nervoso, provocando a afecção da sensação.
Aproximando Bacon de Artaud, Kafka, Beckett, Pierce, entre outros, Deleuze
apresenta elementos de seu próprio pensamento entre conceitos que se constituem
por perceptos e afectos. A cuidadosa tradução da equipe coordenada por Roberto
Machado (UFRJ), permite ao leitor o acesso a um texto que provoca as intensidades,
os movimentos, as sensações, tal qual a obra que analisa.
http://www.filosofia.com.br/vi_res.php?id=8
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