terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

História...


Brasília – Capital do Brasil
Na década de 1950, o processo de modernização da economia brasileira era um dos pontos fundamentais de discussão nos meios políticos e na sociedade brasileira. Na verdade, desde os tempos de Getúlio Vargas, entre 1930 e 1945, que o processo de industrialização e crescimento das cidades era resultado de uma política desenvolvimentista liderada pela ação do próprio governo brasileiro.
Em 1956, essa busca pelo desenvolvimento e pela modernização ganhou novos rumos com a chegada de Juscelino Kubitscheck ao posto de presidente do Brasil. Tendo como uma de suas marcas a modernização, JK, como era mais conhecido, tinha a ambição de executar o projeto “50 anos em 5”. Segundo esse ambicioso slogan, cada ano de seu governo representaria um avanço de dez anos na sociedade e na economia da nação.
Muitas vezes, esse tipo de projeto é marcado pela realização de grandes obras e construções que comprovam o que é anunciado. No caso de JK, a transferência e a construção de uma nova capital foi uma das ações de maior notoriedade e impacto de seu governo. Contudo, a ideia não era original. Em vários momentos foi cogitada a mudança da capital do país para o interior.
Para executar esse projeto de grandes proporções, o governo brasileiro entregou o projeto dos prédios públicos e do traçado da nova cidade nas mãos do arquiteto Oscar Niemeyer e do urbanista Lúcio Costa. Juntos, desenvolveram um projeto arquitetônico arrojado e que contrastava com a as antigas e tradicionais capitais encontradas na Europa. Explorando curvas e formas, Brasília era algo nunca antes visto na própria história da arquitetura.
Entre as principais construções da cidade podemos destacar o Congresso Nacional, a Catedral de Brasília e a Esplanada dos Ministérios. Além disso, podemos também salientar o desenho da cidade, organizado em formato de cruz e chamado de Plano Piloto. Marcado por grandes vias e grandes quadras, a cidade se organiza em setores que espalharam os serviços em diferentes pontos da cidade e um sistema de endereços eficiente.
Apesar de todas as características positivas e o traço moderno da nova capital, não podemos deixar de apontar os problemas trazidos com o surgimento da nova cidade. Primeiramente, devemos destacar que a construção de Brasília exigiu a realização de um grande número de empréstimos para a execução da obra. Com isso, a dívida externa do país aumentou muito e acabou trazendo sérios problemas para a economia.
Ao mesmo tempo, devemos destacar que a construção atraiu uma enorme quantidade de trabalhadores. Finalizadas as construções, muitos desses trabalhadores acabaram morando em regiões próximas à capital, dando origem a diversas cidades improvisadas que destoavam do projeto original destinado para a região. Ainda hoje, as regiões do chamado entorno de Brasília ainda são um delicado problema a ser resolvido por nossas autoridades.
Pesando problemas e qualidades, percebemos que Brasília é um importante marco histórico e arquitetônico do país. Além disso, tem a sua importância reafirmada ao ser o centro de onde emanam importantes decisões que afetam a vida de milhares de brasileiros. Sendo assim, misturando modernidade e política em suas origens, a capital torna-se um importante patrimônio a ser reconhecido por todos os cidadãos brasileiros.

Viva a sabedoria...

Parménides de Eleia (Pré-socrático)

Filósofo grego, nascido em Eleia (540-450 a. C.), a sua importância filosófica é enorme. Fundou a escola eleática. Devesse-lhe o início da especulação metafísica ocidental. A sua obra é um marco histórico relevante na História da Filosofia. Ao ponto de dividir a filosofia pré-socrática em dois períodos bem definidos: o período anterior a ele, marcado pelos sistemas monistas e o dos sistemas pluralistas posteriores a ele. Historiadores do pensamento dizem que é provável que na juventude Parménides tenha sido pitagórico.
Escreveu um poema em verso Da Natureza, primeira teoria filosófica sobre o ser de que se reivindica a nossa cultura, unida de maneira misteriosa à eternidade, a imutabilidade e a unidade do ser, com a diversidade da opinião humana.
A doutrina parmenidiana do ser, que se opõe à doutrina do devir de Heráclito, inspirou o Parménides, de Platão, que tenta unir as duas teses da unidade do ser e da diversidade do saber.
A obra compreende o Proémio, de carácter alegórico-religioso, e mais duas partes distintas: O Caminho da Verdade, em que Parménides expõe a sua doutrina da realidade, do ser único e imóvel; a segunda, O Caminho da Opinião, que representa uma cosmologia de tipo tradicional, narrando a origem e constituição do universo.
http://www.eurosophia.com/filosofos/filosofos/parmenides.htm

Cultura viva...


Memórias de um cinema de relíquias
Mês de férias, de entressafra de nossas ocupações temporais, é mês de dedicar-se a si mesmo. Entenda “dedicar-se si mesmo” como se dedicar ao que gostamos. Em meu particular caso, dediquei-me ao cinema.

Não por que entenda de cinema, mas por que gosto. Percebi que gostar de cinema e entender de cinema são coisas que nem sempre caminham juntas. Classificar um filme é diferente de julgar a destreza de alguém falando um outro idioma. Por exemplo, seria impossível dizer se uma pessoa fala bem o javanês, sendo que não conheço nada da língua. Mas é perfeitamente aceitável considerar um filme bom, mesmo sem dominar a arte, sem identificar a escola ou estilo, sem conhecer o autor em especial ou as habilidades do diretor. É claro que essa regra não vale para os aficionados do troféu careca.

Aqueles que entendem de cinema, geralmente possuem um ar erudito com estranhos óculos. Discutem enquadramento, fotografia, decupagem e sei lá mais o que.

Para mim, a graça está no produto, e não em sua fabricação.

Quem não se lembra do “E. T. telefone, minha casa”, onde em 1982 aquele simpático bichinho estranho com o longo dedo torto virava febre nas escolas de todo o mundo. Ou ao se despedir, nunca disse “Hasta la vista, Baby”, onde essa ultima fala do Schwarzenegger em “O Exterminador do Futuro 2” configurava-se um fenômeno linguístico global, pois se misturava o espanhol e o inglês, nos mais diferentes sotaques.

E por falar em Baby, foi do cinema que herdamos essa expressão. No Brasil, ao fim da década de 30, a expressão febre era “alô, alô!”. Essa interjeição ficou famosa e eternizada nos clássicos Alô, Alô, Brasil de 1935 e Alô, Alô, Carnaval de 1936, ambos protagonizados pela pequena notável, Carmem Miranda. E há quem não saiba ainda “o que é que a baiana tem”. E quem não lembra da canção de Noel Rosa de 1933, que dizia: “... o cinema falado é o grande culpado da transformação”.

Agora você deve estar me questionando, sobre o por que de só citar filmes “antigos”. A resposta é simples, está na essência. Pense nas propagandas de TV, nos craques de futebol, nas obras de arte. Os exemplos possuem o limite tendendo ao infinito. Antes se tinha a ideia, e para mostrar, desenvolviamos as ferramentas. Hoje temos as ferramentas, mas quando esprememos todos esses trabalhos, tirando toda essa capa tecnológica, não encontramos nem resquícios de grandes ideias. Aprender a tocar um instrumento hoje, é ridiculamente mais fácil, desenhar no computador e imprimir com boa qualidade também. Criar efeitos especiais é mais questão de investimento do que de genialidade. Antes a ideia era protagonista do filme, hoje divide as cenas com tantos personagens que mais parece um figurante. Sorte isso ainda não ser a regra geral.

Do inesquecível Star Wars, de 1977, “Que a força esteja com você!” ficou a recomendação que venceu o prazo dos seis meses, que comumente possuem essas expressões e avançou alem da “galáxia muito distante”. Como “I am your father” (eu sou seu pai), de Darth Vader no Episodio V – O Império Contra-Ataca.

Quem não lembra quando Rhett Buffer diz a Scarlett O´Hara: “Frankly, my dear, I don´t give a damn”. Dizem que essa frase não estava planejada, e nem deveria ter sido dita, pois o termo “damn” era considerado vulgar (praticamente pesado) demais para época, algo como em bom português: “Francamente, querida, estou pouco me lixando”. Lembre-se que estamos falando de 1939.

Quantas vezes você já usou a frase “Eu vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar”, de O Poderoso Chefão? Ou ao estar perdido em uma viajem, não disse: “Toto, eu tenho o pressentimento que não estamos mais no Kansas” ( O Mágico de Oz).?

Você já definiu o amor como em Love Story (“Amar é nunca ter que pedir perdão”)? Ou disse que essa é “a substância de que são feitos os sonhos.” (O Falcão Maltês). Ao encontrar um novo amigo, enfim “Loius, eu acho que este é o começo de uma bela amizade”. (Casablanca).

Também não é difícil encaixar a famosa frase de O Silencio dos Inocentes: “um pesquisador de censo tentou uma vez me testar. Eu comi o fígado dele com feijão preto e um bom chianti”, em um de nossos diálogos corriqueiros.

Ou, ao fim de uma exaustiva jornada de trabalho, sentar no sofá e dizer: “não há lugar como a nossa casa” (O Mágico de Oz). Ou ao cobrar a dívida de alguém, gritar como Tom Cruise em Jerry Maguire: “Me mostre a grana!”. E por falar em Tom Cruise, lembram do “Você quer a verdade, você não aguentaria a verdade!”, que o Jack Nicholson lhe disse em Questão de Honra?

Que tal frases que nos fazem pensar, como em Forest Gump: “Mamãe sempre disse que a vida é como uma caixa de chocolates. Você nunca sabe o que vai pegar” ou . “O melhor amigo de um garoto é a sua mãe” (Psicose). “Carpe diem. Aproveitem o dia, meninos. Façam de suas vidas uma coisa extraordinária.” (Sociedade dos Poetas Mortos).

E por falar em mortos, que tal “Eu vejo gente morta” de O Sexto Sentido. Para quem não viu o filme ainda, saibam: O Bruce Willis é que está morto.

Poderíamos ficar um bom tempo nisso, nosso acervo cinematográfico é gigantesco, e nem temos tanto tempo assim de cinema. Frases clássicas como: “Houston, nós temos um problema.”, de Apolo 13, vão ficar para sempre na memória. E ainda temos: “Tire suas patas fedidas de cima de mim, seu maldito macaco nojento!” (Planeta dos Macacos). “Yo, Adrian” (Rock – Um Lutador). “Mantenha seus amigos por perto, mas seus inimigos mais perto ainda.” (O Poderoso Chefão II). “Eles estão aqui!” (Poltergeist). . “Deus é minha testemunha, jamais passarei fome novamente!” (... E o Vento Levou). “Elementar meu caro Watson” (As aventuras de Sherlock Holmes).

O fato é que o cinema tem esse poder de nos transportar para a Matrix, de recriar a história e o mundo, destruir tabus, mudar paradigmas e quem sabe, até o mundo. Foi John (O Beatle, não o apostolo) quem disse: “Uma música é só uma música, mas se cantada muitas vezes e por muitas pessoas, tem o poder de mudar o mundo”.
Que seu 2008 seja cheio de comédias românticas, suspense, ação, aventura e terror, afinal um pouquinho não faz mal a ninguém.
PS.: Não podia acabar sem citar James bond. 
http://www.brasilescola.com/artes/memorias-um-cinema-reliquias.htm

Entendendo...


Considerações sobre cultura em Herbert Marcuse e Walter Benjamin
Herbert Marcuse e Walter Benjamin, ambos filósofos, definiram e conceituaram a ideia de cultura nas obras, de forma que é possível realizar um diálogo entre eles.
O presente artigo discorre apenas (observando a impossibilidade de esgotamento do tema) sobre alguns pontos importantes das obras de Herbert Marcuse (1898-1979) e Walter Benjamin (1892-1940). Tais autores conduzem suas obras a uma esfera crítica e reflexiva quanto ao marxismo, abordando categorias e conceitos que ora dizem muito sobre as consequências e rumos produtos da prática marxista do passado e do momento em que escrevem (primeira metade do século XX), ora dizem muito quanto a uma espécie de proposta ou releitura daquilo que poderia (ou não) e mereceria ser feito. Logo, será da preocupação em sugerir e descortinar uma realidade reificada e “contaminada” pela lógica capitalista que nascerão tais trabalhos, num questionamento quanto às maneiras de se alcançar a efetiva tomada da consciência de classe e, dessa forma, superar a conjuntura capitalista dada.
 Num primeiro momento, peculiar a ambos os autores, há a incômoda constatação não apenas do cerceamento dos meios e instrumentos que poderiam levar à tomada da consciência –da “verdadeira” e necessária consciência –, mas também à alienação produzida pela sociedade industrial consequente de tal situação. O que chama a atenção desses teóricos (como da Escola de Frankfurt de maneira em geral) é a maneira com que os partidos de ideologia marxista (como na Alemanha) lidaram com a reificação da sociedade e das relações sociais/de trabalho após terem alcançado o poder (desembocando mais tarde em regimes totalitários, fascistas), bem como a forma com que leram o materialismo histórico para a luta da classe proletária, para alcance da consciência de classe.
Além disso, cultura, história, arte, literatura, enfim, são alguns dos conceitos que permeiam as obras de Marcuse e Benjamin, e que aqui possibilitaram uma espécie de diálogo (até onde isso é possível) entre tais autores, uma vez que esses temas guardam entre si características comuns no tocante à promoção do esclarecimento e tomada de consciência do indivíduo numa sociedade industrial moderna. 
Segundo Marcuse, relegados ao âmbito da cultura estariam a literatura, as artes, a filosofia e a religião, todas de certa forma apartadas daquilo que ele chamou de práxis social, a qual por sua vez seria uma série de “práticas” e condutas pertinentes ao desenvolver das atividades do dia a dia. Nas suas palavras, a cultura seria identificada como o complexo de objetivos e valores morais, intelectuais e estéticos, considerados por uma sociedade como meta da organização, da divisão e da direção de seu trabalho, havendo metas culturais e meios factuais. Assim, a cultura se relacionaria a uma dimensão superior, da autonomia e da realização humana, enquanto a práxis social (ou o que Marcuse chama de “Civilização”) indicaria o âmbito da necessidade, do trabalho e do comportamento socialmente necessários. Ao passo que o conceito de progresso (progresso técnico propriamente dito) vai se estabelecendo cada vez mais no reino das necessidades e formas de trabalho do homem, essa relação entre “cultura superior” e práxis social vai se transformando. Será com a complexalização das práticas capitalistas e, dessa forma, com o aumento do processo de reificação da sociedade (que até certo ponto respondem por este progresso) que haverá uma verdadeira incorporação e imbricação da práxis social e da cultura, resultando negativamente nesta última, principalmente se levar em conta seus objetivos transcendentes, aponta Marcuse (1998).
 Dessa maneira, Marcuse vai fazer uma espécie de apologia à forma como a filosofia do passado era entendida, mais precisamente no tocante à sua característica básica de propor a reflexão acerca do mundo e do homem, dentro de um constante sentimento deste último de mal estar com a sociedade, sua posição, sua ação. Com a reorientação dos moldes das relações de sociais e trabalho, com o recrudescimento das formas capitalistas de produção, essa mesma “cultura superior” (da reflexão, do contestamento, construída por um espírito imbuído de um caráter antagônico a ordem) se torna ideológica, utópica, sendo dominada pela lógica utilitarista e de operacionalismo do pensamento vigente da sociedade industrializada. Em outras palavras, ela se rende e perde seu caráter questionador.
Na lógica da sociedade industrial moderna, as necessidades são redefinidas, da mesma forma que os valores que norteiam e orientam os homens. Estes são capazes de se mobilizar para a guerra ou despender forças em conjunto para a defesa e a manutenção do sistema, reproduzindo alienadamente uma ordem que definiu para eles suas “verdadeiras” necessidades. Em outras palavras, os indivíduos sob o efeito dessa submissão aos meios de organização da vida (organização esta dada pela sujeição à cultura ao progresso científico como ordem do dia) na sociedade industrial a tomam como verdade, como fato dado. Será esse comportamento que produzirá um descomprometimento ou atrofiamento ao exercício da reflexão e do questionamento, uma vez que aquela capacidade de outrora do refreamento está sufocada.   
Ao passo que as ciências (naturais e humanas), os valores, a “cultura e a civilização” se nivelam, destroem-se as possibilidades de contestação e de mudança. Esse prejuízo do espírito ligado à reflexão e ao questionamento reflete nas condições de tomada da consciência de classe, a qual é lida como caminho à contestação da ordem estabelecida. O acesso à cultura pela cultura não significaria necessariamente emancipação, uma vez que esta seria reproduzida pela própria burguesia, logo imbuída de seus valores, afirmação essa que se vê também em Benjamin. Para mudar essa situação, seria necessária uma mudança social das necessidades vitais (que foram remodeladas com o capitalismo). A libertação, ou retomada dessa, propõe o que Marcuse chamou de reparação da dimensão cultural perdida com tal “progresso” que no passado, no âmago daquela cultura superior na fala desse autor, estava protegido da violência totalitária.
Quando Benjamin vai propor conhecer uma obra de arte, uma produção artística, como um resgate de algo que ocorrera e vive ainda no presente, aproxima-se de Marcuse no que diz respeito ao repúdio desse evolucionismo e nivelamento –como das ciências –advindos da sociedade moderna, estando no passado uma “lição” que leva à reflexão. Se para Marcuse a manutenção do que chamou de cultura superior ou pura é interessante no tocante à preservação de seu potencial como via antagônica à ordem dada com a sociedade industrial, para Benjamin é essencial ter-se no conceito de história não uma construção cujo lugar é o tempo homogêneo e retilíneo, mas sim um tempo saturado de “agoras”, para neles se compreender o presente e agir.
Enquanto ao historicista cabe uma imagem eterna do passado, cabe ao materialista histórico a conotação de uma experiência única a este mesmo passado. O puro historicista (e a ele se dirige a crítica direta de Benjamin) contenta-se em estabelecer um nexo causal entre vários momentos da história, como uma colcha de retalhos, isto é, dentro da lógica que remete a ideia de evolução e progresso, desconsiderando a influência ou repetição do passado no presente. “A idéia de um progresso da humanidade na história é inseparável da idéia de sua marcha no interior de um tempo vazio e homogêneo. A crítica da idéia do progresso tem como pressuposto a crítica da idéia dessa marcha”(BENJAMIN, 1985, p. 229).
Assim, é preciso valorizar as experiências passadas que o evolucionismo desconsidera, uma vez que a história é retilínea para este. Esse seria o caminho equivocado tomado por uma leitura historicista da cultura, fazendo com que esta última não revele de forma transparente a mensagem de cunho emancipador de cada obra, por ora “adormecida”. Benjamin vai chamar a atenção à possibilidade de uma teoria materialista da cultura. Para construir uma tradição, ele pretendeu ir além do aspecto político do marxismo, uma vez que as questões ligadas ao domínio da cultura teriam ficado em um segundo plano. Retomou Engels e, em contrapartida, fez uma interpretação diferente da II Internacional, uma vez que esta admitia um evolucionismo e um progresso ao longo da história, simpatizando-se com estes. Para Benjamin, a forma como se estudava a história da cultura por nomes como Eduard Furchs, colecionador e historiador, era equivocada, uma vez que o que se produzia, nas suas palavras, era uma ciência de caráter museológico. Tornava-se a manter um inventário de obras, mostrando sua “evolução”, tomando a história como colcha de retalhos. Carecia-se de uma ciência que renunciasse a isso, e a ela deu o nome de “materialismo dialético”.
 Assim, para Benjamin, é possível afirmar haver uma teoria materialista da cultura, o que pressupõe de maneira geral que toda a ideia de evolucionismo presente nas leituras do materialismo histórico de outrora (e do modo burguês de fazer história) caia por terra, evolucionismo este que mais tarde fomentaria a cega crença no progresso apresentada pelo Partido Social Democrata.
Logo, tanto para Marcuse quanto para Benjamin, a maneira como se reproduzem o “fazer história” (para o último) e o “pensar” da cultura (para o primeiro) dessa sociedade capitalista acabam por fomentar um distanciamento da real tomada de consciência da realidade. Esse grau de “desenvolvimento” a que chegou a sociedade presente (burguesa, industrial), com o viés de uma lógica progressista e evolucionista, não apenas mudou a função tradicional dos elementos culturais que moldavam os valores éticos e morais, mas também camuflou as reminiscências (e respostas) do passado contidas nas obras de arte, permitindo, consequentemente, que o poder de contestação (do indivíduo) se enfraquecesse.
A cultura é redefinida pela ordem existente: as palavras, os tons, as cores e as formas das obras sobreviventes permanecem as mesmas, porém aquilo que expressam perde sua verdade, sua validade; as obras que antes se destacavam escandalosamente da realidade existente e estavam contra ela foram neutralizadas como clássicas; com isso já não conservam sua alienação da sociedade alienada (MARCUSE, 1998, p.161).
Logo, a forma como é construída a cultura para Marcuse e a maneira em que se dá a reprodução de um historicismo da cultura (de cunho evolucionista) para Benjamin impedem a tomada da consciência de classe.
No entanto, a defesa do acesso da cultura pela cultura não resultaria de fato na emancipação do indivíduo. Nessa lógica dos pensamentos de Marcuse e Benjamin, a máxima do “saber é poder” acaba por ser questionada, pois a cultura que é elaborada no presente tem um viés de mentalidade burguesa. Seria necessário politizar a cultura, politização esta que se dá na escolha e nas condições de reprodução e apresentação da arte. Toda obra e produção cultural nesse cenário de forte imbricação da cultura e da práxis social (isto é, de nivelamento dessas esferas e de extrema racionalização da vida) é apresentada de forma destacada de sua história, escondendo as relações que guarda com seu contexto quando de sua confecção, isto é, não tornando claro o resgate das experiências de outrora como aprendizado, experiências estas necessárias para a mudança social como sugerido por Marcuse.  Assim, na fala de Benjamin, como não se leva em consideração essa politização na sua produção (da obra), não se levará em conta sua reprodução, e dessa forma, esquece-se que no âmbito do capitalismo, a reprodução da obra acaba por torná-la uma mercadoria.  
É essa preocupação com a supressão do potencial político da cultura que permeia tanto a obra de Benjamin quanto a de Marcuse. Nesse sentido também se dará a crítica ao Partido Social Democrata, o qual defende esse discurso (do acesso à cultura) como o caminho para luta. Benjamin vai dizer que a base para a construção dessa visão da cultura vem a reboque da concepção de história, vista de forma retilínea e homogênea, não se dando conta da barbárie (dada pelas condições do desenvolvimento) que se fazia presente; barbárie esta que refletiu na perda do Partido Social democrata do comando do Estado para a implementação de um regime totalitário. “A teoria e, mais ainda, a prática da social democracia foram determinadas por um conceito dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade” (BENJAMIN,1985, p. 229). O objetivo da Social democracia era o mesmo em relação à ciência, vista como emancipadora e orientadora, e, dessa forma, deveria se tornar algo próximo ao povo. Essa lógica sugeria que a cultura por si só desse poder ao povo, emancipando-o. Na contramão dessa afirmação, Benjamin e Marcuse afirmam que essa cultura construída pela “ciência burguesa”, como diria Lukács (2003), não seria válida, mas que se deveria buscar algo no passado para se pensar o presente buscando a promoção de uma ação. Daí a redefinição do conceito de história ser o ponto alto da obra de Benjamin, o qual vai propor a observação da história a contrapelo rompendo com a linearidade dos evolucionismos.
 Grosso modo, Benjamin critica a ação do Partido apontando o equívoco do conceito de história defendido, que reflete no modo da reprodução da cultura e sua assimilação e, dessa forma, divide com Marcuse tanto a valorização da retomada das condições (experiências) de outrora para descortinar essa sociedade reificada, quanto o diagnostico que vê a supressão e a “despolitização” da cultura ao passo do progresso. Assim, o conceito de história que era fundamental para o marxismo (haja vista o materialismo histórico) deveria ser reformulado, assim como o próprio discurso marxista o deveria ser, pois a luta de classe estava inserida nestes conceitos: na história e na cultura.

Curioso...


Cor de burro quando foge
Uma expressão nascida do uso equivocado de um termo mais antigo.
Como as pessoas se comunicarão daqui a algumas décadas? Essa é um pergunta bem difícil de responder quando temos a sensação de que a nossa língua foi sempre a mesma ou que as nossas formas de comunicação não precisam sofrer algum tipo de mudança. Contudo, a verdade é que muitas expressões do nosso cotidiano irão simplesmente desaparecer. Em outros casos, alguns de nossos termos serão alterados em sua forma, conteúdo e sentido.

Do ponto de vista histórico podemos ver que essas mudanças nem sempre são voluntárias, e que acontecem ao sabor de erros de difícil previsão. No caso do termo “cor de burro quando foge”, algumas pessoas acreditam que o termo tem uma significação quase que literal. Afinal de contas, a cor parda que um burro “pega”, após correr léguas e mais léguas por uma estrada de chão, pode lembrar bem aquele tom estranho de um carro, blusa ou cabelo que vemos por aí.

Mesmo sendo plausível, essa explicação nunca foi historicamente comprovada em algum livro de época, carta ou documento formal. De fato, a explicação mais aceitável desse mistério encontra-se na antiga expressão coloquial “corro de burro quando foge”. Registrada pelo gramático Antônio de Castro Lopes (1827 - 1901), o indício leva-nos a crer que o uso equivocado da expressão original acabou dando origem à “cor de burro quando foge”.

Apesar dos termos não terem nexo algum entre si, essa não é a primeira (e talvez nem a última!) que esse tipo de transformação pelo erro acontece. Investigando a origem de outros termos, veremos que a fala não se perpetua ao longo das gerações. Assim como os comportamentos, gostos e hábitos, as expressões populares assumem feições que estão ameaçadas pelo esquecimento ou pela reinvenção de alguém que escuta um dito da forma que bem entende.

Piada...


Qual a diferença entre um advogado e um abutre?
R. O advogado participa de programas de milhagem nas companhias aéreas.

Devanear...


Ou Isto Ou Aquilo - Cecília Meireles
Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Mais uma etapa superada...