Lenda do Santo Graal
O Santo Graal: uma
lenda que percorreu vários séculos com diversas interpretações.
Ao longo da história do
cristianismo, a veneração por relíquias sagradas foi uma das mais corriqueiras
demonstrações de fé vinculadas ao catolicismo. Esse tipo de experiência de fé
visava reforçar materialmente a crença na história de vida dos santos e de Jesus
Cristo. Por isso, principalmente a partir da Idade Média, as relíquias se
transformaram em alvo da adoração e da constituição de várias lendas que
descreviam os grandes poderes destes artefatos sagrados.
Em meio a tantas
relíquias, o Santo Graal tem um significado especial, pois se trata de um
suposto objeto utilizado por Cristo durante a Última Ceia. Ao longo do tempo,
as interpretações e simbologias em cima desse objeto sagrado ganharam novas
versões que, inclusive, inspiraram a narrativa do best-seller “O Código da
Vinci”. Contudo, os estudos sobre o cristianismo primitivo em pouco contribuem
para que essa crença se transformasse em realidade.
No primeiro século, os
valores cristãos eram populares entre pessoas de origem humilde e que não
tinham condições de ostentar nenhum tipo de luxo material maior. Por isso, caso
o Santo Graal realmente existisse, não poderíamos imaginá-lo como um utensílio
sofisticado e valioso. Além disso, os próprios relatos sobre a Última Ceia
contidos nos evangelhos bíblicos não fazem nenhuma menção especial a qualquer
objeto utilizado na última celebração entre Cristo e seus apóstolos.
No entanto, com o
passar dos séculos, outros textos considerados sagrados foram responsáveis por
articular a lenda que se criou em torno do Santo Graal. Em um desses textos,
também conhecidos como evangelhos apócrifos, encontramos a menção de um cristão
que, durante o julgamento e a crucificação de Cristo, teve o cuidado de zelar
por utensílios supostamente utilizados pelo líder messiânico. Dessa maneira,
estariam nesses relatos a origem do mito sobre o copo da Última Ceia, o Santo
Graal.
Um dos responsáveis por
dar continuidade ao mito do Graal foi um poeta medieval francês chamado
Chrétien de Troyes. Em um de seus poemas épicos, Troyes contava a história de
Percival, um camponês que se juntou aos cavaleiros do Rei Arthur e se lançou ao
mundo em busca de aventuras. A certa altura da história, o cavaleiro Percival
se depara resignadamente com uma procissão onde alguns cristãos carregavam valiosas
relíquias, sendo uma delas “um graal”.
A história, que não
teve prosseguimento pela morte de seu autor, diz em suas partes finais que o
Graal avistado pelo cavaleiro tinha o poder de evitar várias intempéries.
Apesar de mal explicada, a história do poeta francês foi importante para que o
caráter divino do Graal fosse posteriormente explorado por outros escritores.
Segundo alguns estudiosos, o termo “graal”, primeiramente utilizado por Troyes,
faz referência a um tipo de prato raso, e não ao cálice que costuma simbolizar
a famosa relíquia.
Algumas décadas após a
morte de Troyes, a história por ele iniciada foi retomada por vários autores
que reinventaram os destinos de Percival e o valor daquele graal. Em meio às
reinvenções, os cavaleiros do rei Arthur perseguiriam o Santo Graal com o
objetivo de curar e instruir o lendário rei Arthur. Entre os cavaleiros estava
o puro Galahad, que ao encontrar a relíquia descobre importantes revelações
sobre o mundo.
Na Idade Moderna, as
famosas histórias do Santo Graal e das demais relíquias do mundo medieval se
depararam com as críticas do movimento protestante. A crença e a compra das
relíquias eram atacadas como um tipo de atividade contrária a outras mais
importantes práticas cristãs. Contudo, a lenda conseguiu sobreviver ao longo do
tempo e, no século XIX, foi relacionada com a Ordem dos Cavaleiros Templários,
ordem religiosa criada no século XII com a missão de proteger a cidade de
Jerusalém.
Essa interpretação
histórica foi fundada a partir da leitura de um poema alemão intitulado como
“Parzival”. Nessa obra, o graal é descrito como uma pedra protegida por um
grupo de guerreiros chamados de “templeisen”. Anos depois, saberiam que esses
indícios que ligavam o graal aos templários era fruto de uma interpretação errônea
dos termos encontrados no poema alemão. Contudo, essa vinculação foi tomada
como verdade durante um bom tempo.
No final do século XIX,
em meio ao “boom” das descobertas arqueológicas, um grupo de pesquisadores
resolveu imitar o fictício Percival, e assim saíram em busca do Santo Graal.
Com o início da empreitada, vários “graais” foram encontrados e posteriormente
desmascarados. No entanto, a lenda do graal ganhou um novo fôlego com o
surgimento de grupos esotéricos que compreendiam o Santo Graal como um conjunto
de textos sagrados de profunda importância religiosa.
A última e mais famosa
versão sobre esse mito tenta levantar indícios pelos quais o Santo Graal, na
verdade, faria uma truncada menção à expressão “sangue real”. Com base em tal
premissa, acreditariam que o sangue real supõe a existência de uma linhagem de
descendentes de Jesus Cristo que, segundo outras supostas fontes documentais,
teria deixado herdeiros a partir de sua união com Maria Madalena. E assim, a
lenda do graal cresce com novas, acalentadoras e instigantes promessas.