PEGADINHA GRAMATICAL
Vícios de linguagem
Vícios de linguagem representam os desvios cometidos pelos
usuários da língua, às vezes por desconhecimento das normas ou por descuido.
Vícios de linguagem configuram os desvios à variante padrão.
Ao discutirmos acerca dos desvios linguísticos, devemos
analisar alguns pontos que sobressaem nessa questão. Como seres eminentemente
sociais, estamos inseridos a todo o momento nas diversas circunstâncias
comunicativas, as quais nos conduzem a agir de formas diferentes, sobretudo no
que tange ao nosso linguajar, por exemplo, quando participamos de uma conversa
informal entre os amigos, de uma entrevista de emprego, de concursos e exames
avaliativos...
Tal fato nos remete tão somente à ideia de adequação. Pensando
no nosso vestuário, cujo traje se adequa aos diferentes momentos do nosso
cotidiano, o mesmo ocorre com nosso posicionamento enquanto interlocutores.
Essa realidade se ajusta ao avanço dos estudos linguísticos, sobretudo da
Sociolinguística, que prefere trabalhar não mais com a noção de erro, mas com a
ideia referente a desvios em relação a uma variante – a chamada norma padrão.
Esses desvios, quando desprovidos de certa intencionalidade, configuram a falta
de domínio por parte do emissor ou muitas vezes em razão de um simples
descuido. Mas, afinal, quando são intencionais o que ocorre?
Tomamos, pois, como exemplos, duas ocorrências: uma relativa à
música e outra relativa a uma criação poética, ambas expressas as seguir:
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade
Inútil
A gente não sabemos
Escolher presidente
A gente não sabemos
Tomar conta da gente
A gente não sabemos
Nem escovar os dente
Tem gringo pensando
Que nóis é indigente...
[...]
Ultraje a rigor
Constatamos dois evidentes desvios, um no que tange à
concordância verbal (letra musical) e outro no que se refere ao uso do pronome
oblíquo, demarcado no início do período (poema). Diante disso, resta-nos
compreender que se trata da licença poética, concedida à classe artística de
uma forma geral, no sentido de embelezar, conferir um caráter enfático à
mensagem, bem como revelar pensamentos e posturas ideológicas por parte do
autor.
Pois bem, munidos dessas percepções, por vezes salutares,
passaremos a conhecer a partir de agora alguns casos que ilustram ocorrências
tidas como desvios:
Pleonasmo vicioso
Diferentemente do pleonasmo contido nas figuras de construção ou
sintaxe, há o pleonasmo vicioso cuja característica se refere à repetição
desnecessária de uma ideia antes expressa:
Com o barulho estrondoso, imediatamente todos saíram para
fora.
Barbarismo
Caracteriza-se pelo desvio à norma culta, manifestado nos
seguintes níveis:
1) Pronúncia
a) Silabada – refere-se ao deslocamento do acento tônico de uma
determinada palavra, como por exemplo:
No documento constata apenas a rúbrica (em vez de rubrica) do
comprador.
b) Cacoépia – configura-se como um erro na pronúncia dos
fonemas, tal como no exemplo:
Esse é um probrema (em vez de problema) que temos de resolver.
c) Cacografia – manifesta-se pelo desvio no que se refere à
grafia ou flexão de uma dada palavra, veja:
Se o delegado detesse (detivesse) todos os marginais, haveria
mais segurança.
Nós advinhamos (adivinhamos) que você viria.
2) Morfologia:
Se ele ir (fosse) conosco, gostaríamos bastante.
3) Semântica
Os comprimentos (cumprimentos) foram destinados ao vencedor do
concurso.
4) Estrangeirismos – refere-se ao emprego de palavras
pertencentes a outros idiomas quando já existe um termo equivalente na língua
portuguesa:
Comemoraremos seu aniversário em um happy hour (final
de tarde).
Como foi seu weekend? (fim de semana)
Solecismo
Configura um desvio em relação às regras da sintaxe, podendo ser
de três ordens:
a) de concordância:
Falta cinco minutos para partirmos. (faltam)
b) de regência:
Obedecemos todas as normas prescritas pela empresa. (obedecemos
a...)
c) de colocação:
Farei-te uma homenagem. (far-te-ei...)
Ambiguidade ou anfibologia
Manifesta-se pela falta de clareza contida no discurso:
O guarda conduziu a idosa para sua residência. (residência de
quem? Dela ou do guarda?). Assim, de modo a evitar tal ocorrência, o discurso
teria de ser reformulado:
O guarda conduziu a idosa até a casa dela.
Cacofonia
Manifesta-se pelo encontro de sílabas de palavras diferentes,
resultando numa terceira palavra cujo som é desagradável ou inconveniente:
Eu vi ela no supermercado. (Eu a vi no supermercado)
Beijou na boca dela. (Beijou-a na boca)
Eco
Caracteriza-se pela utilização de palavras com terminações
iguais ou semelhantes na frase, provocando dissonância:
Sua atuação causou comoção em toda a população.
Colisão
Ocorre quando há dissonância por parte da repetição de
consoantes iguais ou semelhantes:
O sabido sempre sabe.
Hiato
Manifesta-se pela sequência de palavras cujos fonemas vocálicos
produzem efeito sonoro desagradável:
Ou eu, ou ela ou outra.
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