A internet livre incomoda o governo
Elio Gaspari é jornalista
Se a doutora Dilma começar
uma faxina dos softwares fechados comprados pelo governo, fará um grande
serviço, comparável ao do tucano Sérgio Motta.
Misturando ignorância,
prepotência e marquetagem, o comissariado meteu-se numa salada de iniciativas
que envolvem a liberdade da internet. Produziu ridículos, empulhações, lorotas
e, por incrível que pareça, uma boa ideia.
O ridículo: Doutora Dilma
propôs que a internet seja colocada sob algum tipo de supervisão da ONU. Se
isso acontecer, a ONU criará a ONUNet, que funcionará em Genebra, dirigida por
um marroquino, abrindo-se a quinta representação de Pindorama naquela aprazível
cidade.
A empulhação: o comissariado
quer que os provedores de conexões e de aplicações guardem seus dados no
Brasil. Disso poderá resultar apenas a criação de cartórios de armazenamento a
custos exorbitantes. Acreditar que essa medida conterá a espionagem estrangeira
é pura parolagem.
Estimula apenas a xeretagem e os controles nacionais. Toda
vez que o governo se mete com a internet, há um magano na outra ponta querendo
ganhar dinheiro com o atraso tecnológico. Gente que sonha com a boa vida dos
anos 80, quando era mais fácil entrar no Brasil com cocaína do que com um
computador.
Lorotas: os doutores falam
que estão votando um “marco civil para a internet”. De civil, ele não tem nada.
É governamental, e inútil.
A boa ideia: no meio dessa
salada, ressurgiu a proposta de não se usarem mais softwares fechados como o
Windows da Microsoft na rede pública. A Viúva migraria para sistemas abertos,
gratuitos, como o Linux. Essa ideia chegou ao Planalto em 2003, quando Lula
tomou posse. Foi abatida a tiros pelas conexões comissárias.
Nada do que os doutores
estão propondo acontecerá, simplesmente porque a internet é maior que a
onipotência de Brasília. Se a doutora Dilma começar uma faxina dos softwares
fechados comprados pelo governo, fará um grande serviço, comparável ao do
tucano Sérgio Motta, que, nos anos 90, atropelou os teletecas que pretendiam
transformar a estatal de telecomunicações num provedor exclusivo de internet.
Os Guinle querem um pedaço
de Cumbica
O repórter Juliano Basile
revelou que a família Guinle entrou na Justiça buscando uma indenização pelo
uso das terras da Fazenda Cumbica, que doou à Viúva em 1940. São 9,7 milhões de
metros quadrados onde está hoje o aeroporto internacional de Guarulhos. Coisa
de R$ 5 bilhões.
A área foi doada para
proteger a segurança nacional durante a Segunda Guerra Mundial, para a
construção de uma base aérea. Como agora a propriedade está sendo privatizada,
os Guinle querem de volta o seu.
Caberá à Justiça decidir e,
de fato, é esquisito a União ganhar um terreno para fazer uma coisa e depois
vendê-lo para que outro empresário faça outra.
Apesar disso, a guerra acabou em
1945. Os Guinle souberam disso. Segundo seus advogados, a base aérea era
necessária diante dos “receios de bombardeios no Brasil (que) se confirmaram de
fato, em 1942, com a derrubada de embarcações brasileiras na costa do Atlântico
por nazistas”.
Devagar. Os navios não foram derrubados, mas afundados por
submarinos alemães e italianos, muitos deles longe do litoral brasileiro.
Na mesma época a ditadura do
Estado Novo avançou sobre terras da Ilha do Governador, no Rio, onde está hoje
o aeroporto do Galeão. Ao contrário do que sucedeu com a propriedade dos
Guinle, que foi doada, as do Galeão foram tomadas, abrindo-se um litígio que
durou até 2011, quando o Superior Tribunal de Justiça liquidou o pleito dos
detentores de precatórios.
Eles reclamavam uma indenização de R$ 17 bilhões. A
compra e venda desses precatórios, que a essa altura não estavam mais nas mãos
dos donos originais das terras, confunde-se com grandes e tenebrosas manobras da
plutocracia carioca.
Boa notícia
O presidente da Fiesp, Paulo
Skaf, afastou-se da maldição do personal elevator. Até algum tempo atrás, o
primeiro elevador da esquerda da entrada do monolito da Avenida Paulista era
bloqueado quando ele se aproximava do prédio para subir (sem paradas) até o 14º
andar.
Candidato ao governo de São
Paulo, Skaf passou a usar os elevadores da mesma forma que os outros bípedes.
Personal elevator dá peso.
Humores
O prefeito Fernando Haddad
sabe que nunca teve a boa vontade da doutora Dilma, nem quando era ministro da
Educação, muito menos depois de ter tentado virar ferrabrás (em Paris) quando
começaram as manifestações de julho.
Agora que faz campanha para
renegociar a dívida da cidade, trata-se de medir o tamanho da má vontade.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e
entende que as polícias exijam que manifestantes mascarados mostrem o rosto. O
que o cretino não entende é que policiais escoltem delinquentes presos por
corrupção enquanto eles escondem os rostos a caminho do camburão.
O cretino acha razoável que
o larápio saia mascarado da delegacia, mas, se quiser ir a uma manifestação
contra as roubalheiras de que participou, deverá mostrar o rosto.
Amigo de fé
Roberto Carlos é um “amigo
de fé, irmão camarada”. Bloqueou a publicação de dois livros e tentou barrar um
trabalho acadêmico sobre a Jovem Guarda. Quando seu projeto de censura virou
vinagre, pulou do barco, deixando Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil
na frigideira.
Atraso e progresso
Enquanto em Pindorama meia
dúzia de artistas quer bloquear a livre publicação de biografias, e o governo
quer meter o dedo na liberdade da internet, saiu um grande livro, infelizmente
em inglês, que mexe com as duas coisas. É “The everything store: Jeff Bezos and
the age of Amazon" (“A loja de tudo: Jeff Bezos e a era da Amazon”), do
jornalista Brad Stone.
É uma grande aula de
administração de empresas e a biografia de um visionário. Conta como Bezos
construiu a maior loja virtual do mundo, quantas besteiras fez e como virou um
ícone perseguindo uma só ideia: o poder da rede.
Na parte biográfica, Stone
indica que convivem nele um Doctor Jobs e um Mister Eike. Até hoje, felizmente,
prevaleceu o lado Jobs. O livro caiu mal em casa, e a mulher de Bezos
descascou-o, apontando alguns erros factuais. Ela fez isso na seção de críticas
de leitores da Amazon, onde ele é vendido a US$ 10,99 e tem quatro estrelas
numa cotação de até cinco.
Para quem está interessado
no futuro, Stone mostra que Bezos prepara-se, em silêncio, para entrar no mundo
das impressoras em 3-D. Quando essa tecnologia estiver de pé, um sujeito em
Imperatriz, no Maranhão, poderá comprar um jogo de pratos de um designer sueco,
imprimindo as peças em casa. Fará isso baixando as louças virtuais da Amazon.
(Já se fazem revólveres para impressoras 3-D.)
Stone descobriu onde está o
pai biológico de Bezos, que deixou a família em 1968, quando o garoto tinha 4
anos. Ele luta pela vida numa loja de bicicletas. Como Steve Jobs, Bezos tambem
não quis conversa com o pai.
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