Editorial: Crepúsculo dos ídolos
Chico Buarque e Oscar
Niemeyer, Regina Duarte e Beatriz Segall: a favor de um ou outro candidato,
artistas de variadas áreas não costumam recusar participação em campanhas
eleitorais.
Faltando quase um ano para a
disputa presidencial, o governador Eduardo Campos (PE) e Marina Silva, ambos do
PSB, já articulam contatos desse tipo. Conforme apurado pela Folha, programa-se
um evento no Rio, no qual terão oportunidade de encontrar-se com personalidades
do setor.
Estaria em pauta a discussão
de alternativas à política cultural. Ainda que esse tópico dificilmente ocupe
por mais de 15 segundos a atenção da maior parte dos candidatos, não há nada de
condenável em tais confraternizações.
A dúvida é se a presença
dessas celebridades ainda se reveste da importância que teve em momentos mais
turvos da história política.
Artistas de novela e músicos
de MPB puderam, por algum tempo, emprestar um ar de familiaridade e crédito a
candidatos que, por diversas razões, careciam de maior endosso na opinião
pública.
Num momento em que Lula, por
exemplo, inspirava certo temor na classe média pelo excesso de esquerdismo, foi
conveniente à sua candidatura o apoio de rostos bonitos e vozes maviosas. Do
outro lado, as aventuras espumantes de Fernando Collor ganhavam uma
credibilidade cosmética quando enaltecidas pelos sorrisos de alguma celebridade
inofensiva.
Atualmente, o quadro é
diverso. Ou os políticos já despertam desconfiança demais para que artistas
possam atenuá-la, ou o potencial de estranheza e perturbação já se dissolveu.
Tornaram-se, em diversos casos, mais construídos do que os próprios atores de
novela.
Além disso, as celebridades,
em especial as da música popular, veem diminuir a admiração que mereciam. Pelo
menos do ponto de vista das ideias políticas, notáveis defensores da liberdade
de expressão não se saíram bem quando a publicação de biografias a seu próprio
respeito entrou em debate.
Melhor assim, talvez;
humanizam-se todos, sensíveis ao interesse comercial ou às suscetibilidades do
estrelato. A democracia, se estimula a participação sem distinções, pode ter o
efeito de mitigar idolatrias exageradas.
Distinguem-se, ademais, os
artistas que têm constante atividade política dos que surgem como convidados de
luxo na propaganda eleitoral. Ou dos que só procuram, para benefício próprio,
converter em votos e cargos o apreço que conquistaram. Mas esses, como se sabe,
são de outra laia.
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