terça-feira, 8 de abril de 2014

Devanear...

Leia um trecho erótico de "Obstinada"

Sylvia Day narra uma história tórrida de paixão entre Marcus e Elizabeth. Difícil de desgrudar os olhos. (Universo dos Livros)

Elizabeth estremeceu. Marcus sempre a olhava como se fosse uma refeição diante de um homem faminto. Porém agora, seu olhar parecia... desesperado. A ponta de seu pau vazava profusamente, e ela engoliu, sentindo o sabor de sua essência.

Era tão diferente do que ela esperava. Considerava a si mesma distante da inocência virginal de uma garota. Mas no momento percebia o quão pouco conhecia. Com as pulsantes veias grossas que envolviam a ereção de Marcus, ela imaginara que a sensação seria de dureza e que sentiria sua textura. Mas, em vez disso, a pele era tão macia quanto a seda mais fina, deslizando sobre sua língua num ritmo que despertava uma pulsação sincronizada entre suas pernas.

O ato não foi o que ela esperava, nem um pouco. Pensou que se sentiria usada, que não seria nada além de um receptáculo à luxúria de Marcus. Mas ele estava devastado, ela percebia e sentia isso na maneira como ele tremia. A maneira como sua voz enrouquecera. Descobriu o poder de possuir a paixão de um homem.

- Solte-me - ela ordenou sem fôlego, querendo saber o quão longe isso poderia chegar.

Ele balançou a cabeça e empurrou a cadeira até incliná-la nas pernas traseiras. Perdendo o equilíbrio, ela gritou até ele parar. Foi então que ela entendeu o que ele queria. Ao apoiar o topo do encosto da cadeira contra a parede, Marcus deixou o sexo de Elizabeth perfeitamente alinhado com seu (...). Seu sorriso malicioso a fez ofegar, cheio de promessas ousadas. Ele segurou a ereção e pressionou contra as pernas dela, dobrando seus joelhos até apoiá-lo nas nádegas de Elizabeth. Acariciando seu pênis para cima e para baixo, ele a cobriu com o sêmen que continuava a vazar da cabeça corada.

Elizabeth não conseguiu segurar um soluço causado pela antecipação. A provocação deliberada a deixou suada e sem ar. Ela ignorou a voz que implorava para que fugisse, escolhendo ficar e se aproveitar dele... ao menos desta vez.

- Seus braços estão doloridos? - ele perguntou, sem parar os movimentos, encharcando-a com a evidência de sua excitação.

- Você me deixa dolorida.

- Devo parar? - pela maneira como sua voz falhou, ela pôde ver a tortura que era esse pensamento para ele.

- Darei um tiro em você se parar.

Com um gemido, ele se posicionou e enfiou fundo, avançando lentamente. Ela se contorceu com a invasão, sentindo o tamanho dele, grande demais para sua pele tão pouco usada. Sua ponta esfregou dentro dela, alargando-a, com carícias muito melhores do que as feitas por seus dedos mágicos.

Com as duas mãos na parede, Marcus ofegou quando entrou ainda mais fundo.

- Ah, Deus ele estremeceu. - Você é quente demais e apertada como um punho.

- Marcus... - ela gemeu. Havia algo inegavelmente erótico na maneira como ele a tomava, ainda parcialmente vestido e com as botas. Isso deveria ser ofensivo. Mas não foi assim que ela se sentiu.

Passara todos esses anos consolando as mulheres descartadas por seu pai e ouvindo as fofocas de outras desiludidas pelas inconstâncias de Marcus. Como elas não puderam enxergar a própria influência? Marcus havia quase matado um homem com as próprias mãos, mas aqui estava ele, enfraquecido por sua necessidade.

Ele retirou o pênis, com a cabeça abaixada.

- Quero que me veja (...) Elizabeth suas coxas poderosas se flexionaram quando o enfiou novamente. Ela observou vidrada quando o grosso e orgulhoso membro, brilhando com seu creme, se afastou apenas para retornar deslizando com uma lentidão dolorosa.

Os braços dela doíam, as pernas se esticavam de um jeito desconfortável, e seu cóccix já estava dormente por suportar todo o peso de seu corpo, mas ela não se importava. Nada importava além do meio de suas pernas e o homem que se saciava ali.

- Isto é confiança - ele disse, impulsionando os quadris com um ritmo firme e preciso.

Confiança. Lágrimas se derramavam por seus cílios enquanto o tormento divino continuava, denunciando a inegável habilidade de Marcus. Ele sabia exatamente como entrar nela, mergulhando com as coxas dobradas, raspando no lugar perfeito para dar o deleite enlouquecedor que ela sentia. Elizabeth ofegava de prazer, e então implorou por isso. O sangue martelava nas veias, os mamilos estavam tão enrijecidos debaixo dos tecidos que até doíam.

- Por favor...

Marcus também ofegava, o peito subia e descia com tanta força que o suor em seus cabelos se desprendia e atingia o rosto dela. Elizabeth sentiu um calor no coração com essa intimidade.

- Sim - ele rugiu. - Agora - estendendo a mão entre as pernas dela, esfregou gentilmente. Como uma mola extremamente apertada, ela se liberou com um grito agudo. Suas costas se dobraram e Marcus se moveu em estocadas lentas e profundas, arrancando o prazer dela, mantendo-a excitada, sem fôlego, chorosa debaixo dele.

- Chega... - ela implorou, incapaz de suportar mais um segundo daquilo.

Ele enterrou o mais fundo que pôde e o manteve lá, deixando as últimas ondas do orgasmo dela o apertarem. Marcus inspirou profundamente e então começou a tremer com tanta força que a cadeira se debatia contra a parede. Ele gemeu longa e dolorosamente (...)
http://mdemulher.abril.com.br/amor-sexo/reportagem/contos/leia-trecho-erotico-obstinada-778819.shtml

Nada a comentar...

A presidente reprovada
O Estado de S.Paulo

"Se a eleição fosse hoje…" Pesquisas de intenção de voto são obrigadas a partir dessa premissa para que as preferências manifestadas pelos entrevistados sejam menos abstratas do que se esperaria se lhes fosse perguntado em quem deverão votar na eleição vindoura para o Executivo. Mas, se a fórmula adotada pelos institutos é dos males o menor, também é verdade que todo levantamento anterior ao período em que o grosso do eleitorado passa a prestar atenção na disputa vale o que lhe queiram atribuir as partes interessadas e os analistas que por dever de ofício se arriscam a erguer castelos no ar.

Isso explica o aparente paradoxo que emergiu da mais recente sondagem do Datafolha, realizada na semana passada e divulgada domingo, sobre a sucessão presidencial. Consiste na redução de seis pontos no voto dilmista (de 44% em fevereiro para os atuais 38%), com a estagnação do apoio aos seus principais adversários, no cenário eleitoral mais provável. O senador tucano Aécio Neves tinha 16% e com 16% permanece. O ex-governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB, foi de 9% para 10%, um grão de areia estatístico.

Pudera: enquanto 87% dos entrevistados disseram conhecer ou muito bem ou um pouco a presidente da República, 60% apenas ouviram falar de Aécio ou nem sequer o conhecem e 75% responderam o mesmo em relação a Eduardo Campos. Tão ou mais importante do que isso para que os dilmistas se guardem de dar por certa a vitória de sua candidata já no primeiro turno - que é o que a aritmética ainda aponta a meio ano do pleito - e os seus adversários não saiam proclamando que a queda da petista é o começo de um inevitável declínio é o fato de praticamente 30% dos eleitores ou rejeitarem os nomes que lhes foram mostrados ou não saberem escolher um deles.

Outra zona de sombra incide sobre o trio. Dilma convive com o espectro do "Volta Lula", que se adensa na razão inversa da popularidade de sua pupila, por mais que ele negue querer substituí-la na cédula eletrônica; Aécio tem em Fernando Henrique Cardoso o mais rejeitado dos cabos eleitorais (57% dos entrevistados disseram que não votariam em quem ele apoiasse); e Campos, para encorpar, depende de ter o seu nome associado ao da sua provável vice, Marina Silva - numa hipotética disputa em que a ex-ministra fosse a candidata do PSB, ela e não Aécio é quem levaria a eleição para o segundo turno. Em mais de um sentido, Marina está para Campos como Lula para Dilma.

De todo modo, o importante não é o que os eleitores ouvidos fariam "se a eleição fosse hoje", mas o que acham que tem sido o desempenho da presidente e o que esperam do próximo período presidencial. Nessa frente, a reprovação é inequívoca. A satisfação com o governo - que chegou ao recorde de 65% pouco antes dos protestos de junho passado, caiu a menos da metade disso no seu auge e vinha se recuperando gradativamente - tornou a embicar para baixo. Hoje, só 36% consideram a sua gestão ótima ou boa. Se ela não se recuperar de novo, talvez nem Lula consiga evitar a segunda rodada - e aí será o imponderável.

Por que Dilma voltou a perder prestígio? Porque - e esse é o dado singular mais importante do levantamento do Datafolha - quase 2/3 dos entrevistados (63%) acreditam que ela fez pelo País menos do que se esperava. O pior para a presidente é que a frustração vem acompanhada (ou é reforçada) por uma onda de pessimismo que parece ter dissipado de vez o feel-good factor graças ao qual Lula fez a sua sucessora em 2010. Também 2/3 (65%) preveem mais inflação; 45%, mais desemprego; e 35%, menor poder de compra dos salários. Quanto ao próximo mandato, nada menos de 72% clamam por mudanças - e identificam em Lula, com o dobro das citações a Dilma, a figura mais preparada para fazê-las.

E não se pode esquecer de que ela está em permanente campanha, desfrutando, graças ao cargo, de acesso privilegiado à mídia eletrônica. Em menor escala, os seus adversários também fazem a propaganda antecipada assim tida pelo arbitrário - e afinal hipócrita - calendário eleitoral que inibe o debate político, tutela o público e retarda a sedimentação das preferências eleitorais, como espelham as pesquisas.

Dinheiro público entrando em bolsos privados...


Capa home - edição 827 (Foto: reprodução)

Propina na Petrobras

As empresas de fachada, as contas em paraísos fiscais, a lista de empreiteiras – e os indícios de corrupção que o ex-diretor Paulo Roberto Costa não conseguiu destruir antes de ser preso

Desde que a Polícia Federal prendeu Paulo Roberto Costa, o ex-executivo mais poderoso da Petrobras, há duas semanas, Brasília não dorme. Dezenas de grandes empresários, entre eles diretores das maiores empreiteiras do país e das gigantes mundiais do comércio de combustíveis, todas com negócios na Petrobras, também não. 

Paulo Roberto Costa era diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012. Era bancado no cargo por um consórcio entre PT, PMDB e PP, com o aval direto do ex-presidente Lula, que o chamava de “Paulinho”. Paulo Roberto Costa detém muitos dos segredos da República – aqueles que nascem da união entre o interesse de empresários em ganhar dinheiro público e do interesse de políticos em cedê-lo, mediante aquela taxa conhecida vulgarmente como propina. 

E se Paulo Roberto fosse descuidado e guardasse provas desses segredos? E se, uma vez descobertas pela PF, elas viessem a público? Pois Paulo Roberto guardou. Tentava destruí-las quando a Polícia Federal chegou a sua casa, há duas semanas. Mas não conseguiu se livrar de todas a tempo.

ÉPOCA obteve cópia, com exclusividade, dos principais documentos desse lote. Foram apreendidos nos endereços de Paulo Roberto no Rio de Janeiro, onde ele mora. Esses documentos – e outros que faziam parte da denúncia que levou Paulo Roberto à cadeia e ainda não tinham vindo a público – parecem confirmar os piores temores de Brasília. 

Paulo Roberto e o doleiro Alberto Youssef, também preso pela PF e parceiro dele, acusado de toda sorte de crime financeiro na Operação Lava Jato, eram meticulosos. Guardavam registros pormenorizados de suas operações financeiras, sem sequer recorrer a códigos. Era tudo em português claro, embora gramaticalmente sofrível. Anotavam os nomes de lobistas e empresários, quase sempre os associavam a negócios e a valores em dólares, euros e reais. 

Os registros continham até explicações técnicas e financeiras das operações. Os valores milionários mencionados nos documentos, suspeita a PF – uma suspeita confirmada por três envolvidos ouvidos por ÉPOCA –, referem-se a propinas pagas pelas empresas, nacionais e estrangeiras, que detinham contratos com a área da Petrobras comandada por Paulo Roberto. Os papéis já analisados pela PF (há muitos outros que ainda serão periciados) sugerem que as maiores empreiteiras do país e as principais vendedoras de combustível do planeta pagavam comissão para fazer negócio com a Petrobras.

 ARQUIVO Paulo Roberto Costa, ex-executivo  da Petrobras.  Ele guardava provas de suas transações (Foto: Blenda Souto Maior/DP/D.A Press)
ARQUIVO Paulo Roberto Costa, ex-executivo da Petrobras.  Ele guardava provas de suas transações

Para compreender o esquema, cuja vastidão apenas começa a ser desvendada pela PF, é necessário entender a função desempenhada por cada um dos principais integrantes dele. Como diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto fechava, entre outros, contratos de construção e reforma de refinarias (do interesse das empreiteiras brasileiras) e de importação de combustível (do interesse das multinacionais que vendem derivados de petróleo). 

Paulo Roberto assinava os contratos, mas devia, em muitos momentos, fidelidade aos três partidos que o bancavam no cargo (PT, PP e PMDB). Paulo Roberto garantia a Petrobras; lobistas como Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, e Jorge Luz, ligado ao PT e ao PMDB, cujos nomes aparecem nos papéis apreendidos, garantiam as oportunidades de negócio com as grandes fornecedoras da Petrobras – e, suspeita a PF, garantiam também possíveis repasses aos políticos desses partidos. 

Para a PF, a Youssef cabia cuidar do dinheiro. Segundo envolvidos, essa tarefa também cabia a Humberto Sampaio de Mesquita, conhecido como Beto, genro de Paulo Roberto. Ele o ajudava nos negócios e é sócio de uma empresa que tem contrato de R$ 2,5 milhões com a Petrobras. Eram uma espécie de banco do esquema, ao providenciar empresas de fachada para receber as propinas no Brasil e nos paraísos fiscais, ao gerenciar as contas secretas e a contabilidade e ao pagar no Brasil, quando necessário, a quem de direito.

Essa divisão de tarefas funcionou por muito tempo. E, suspeita a PF, enriqueceu essa turma. Entre os documentos que serviram de base para a prisão de Paulo Roberto, ÉPOCA revela com exclusividade as planilhas com pagamentos de grandes empreiteiras brasileiras à MO Consultoria, uma das empresas de fachada de Youssef. 

Foram feitos enquanto Paulo Roberto ainda estava no cargo, celebrando ou renegociando contratos com algumas dessas empreiteiras, responsáveis por construir refinarias no Brasil, notadamente a Abreu e Lima, em Pernambuco.

Além de pagamentos da Camargo Corrêa e da Sanko, que já vieram a público, as planilhas revelam, de acordo com as suspeitas da PF, transferências milionárias de OAS, Galvão Engenharia e Jaraguá. No total, a PF identificou até o momento cerca de R$ 31 milhões em “pagamento com suspeita de ilicitude”. Algumas dessas empreiteiras ganharam grandes contratos nas refinarias enquanto Paulo Roberto era diretor. A Jaraguá, conforme revelou ÉPOCA, foi a maior doadora da campanha dos deputados do PP em 2010.

Em 2012, quando Paulo Roberto foi demitido, tudo mudou. A presidente Dilma Rousseff e a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, nunca suportaram Paulo Roberto. Segundo interlocutores próximos das duas, ambas enfrentaram dificuldades para apeá-lo do cargo. Para ter uma noção da relevância da Petrobras na política do país, Dilma e Graça não tiveram força suficiente para nomear o sucessor de Paulo Roberto. 

No lugar dele, por indicação do PMDB, ficou José Carlos Cosenza, número dois de Paulo Roberto e homem de sua confiança. Nesse momento, os documentos apreendidos sugerem que o esquema tenha começado a enfrentar problemas. Tal versão é confirmada por cinco pessoas com conhecimento dessas operações, entre integrantes desse grupo, lobistas e deputados que sustentavam Paulo Roberto.

É sob essa luz que podem ser interpretados alguns dos documentos mais valiosos apreendidos pela PF com Paulo Roberto. Trata-se dos relatórios mensais entregues por “Beto” a Paulo Roberto. Para a PF, “Beto” é Alberto Youssef. Segundo outros envolvidos, “Beto” é Humberto, genro de Paulo Roberto. 

Os documentos são uma espécie de extrato de conta-corrente preparado por Youssef, que funciona como um “banquinho”. Em vez de siglas incompreensíveis e taxas abusivas, aparecem neles não apenas valores atribuídos a depósitos e retiradas das contas, mas também o contexto das operações. Procurado por ÉPOCA, Humberto Mesquita afirmou que estava no trânsito e não poderia falar. “Não tenho nada a ver com isso, amigo”, disse.

Os relatórios de 2013 sugerem que “Beto”, seja ele o genro ou o doleiro, e Paulo Roberto gradualmente se afastavam. No mesmo momento, Youssef montava uma nova estrutura financeira para Paulo Roberto no exterior, com empresas de fachada offshore. Youssef buscava fechar contas nos paraísos fiscais que recebiam dinheiro de multinacionais. 

Apesar da saída de Paulo Roberto da Petrobras, contribuições ainda eram pagas – pois alguns dos contratos seguiam valendo. Ao fechar as contas que comandava em nome de Paulo Roberto – e das quais, suspeita a PF, retirava uma comissão –, Youssef montava uma operação independente para Paulo Roberto, com empresas de fachada offshore e outras contas secretas.

Em maio de 2013, segundo o relatório, Youssef ainda comandava quatro contas secretas em conjunto com Paulo Roberto: uma no banco UBS de Luxemburgo; outra no banco Lombard Odier, na Suí­ça; uma terceira no banco Itaú, não se sabe em que país; e a última no banco RBC, nas Ilhas Cayman. 

O relatório não é exato sobre o valor acumulado nessas contas. Somando apenas o saldo de algumas delas com os depósitos pagos naquele momento pelas empresas com negócios na Petrobras, chega-se ao total de US$ 3,7 milhões. 

A conta com maior saldo – US$ 2,42 milhões – está no RBC das Ilhas Cayman. A conta no Itaú referia-se, segundo o relatório, à empreiteira Alusa e tinha saldo de R$ 127.400 em agosto de 2011, quando Paulo Roberto estava na Petrobras. A Alusa firmou contratos de R$ 3,5 bilhões com a Petrobras nos últimos anos. O maior deles, de R$ 1,5 bilhão, foi firmado em 2010. Em 2008, a Alusa fechara um contrato de R$ 966 milhões para fazer obras na Refinaria Abreu e Lima.

 "Extrato" e A empresa (Foto: Carlos Moura/CB/D. A Press)
"Extrato" e A empresa
Segundo “Beto” afirma nos documentos, a conta no UBS de Luxemburgo fora aberta em nome da empresa de fachada BS Consulting, com o propósito principal de receber dinheiro da GB Maritime, empresa que intermedeia o aluguel de navios para a Petrobras – área de Paulo Roberto. Naquele ano, a conta no UBS recebera US$ 560 mil da GB Maritime – o valor variava mês a mês, diz “Beto” nos documentos, em razão dos dias parados dos navios. 

“Beto” afirma que já dissera aos “gregos” que, a partir daquele momento, os depósitos na conta do UBS seriam apenas relativos à parte de Paulo Roberto; o que coubesse ainda a ele deveria ser pago em outra conta. Sugere ainda transferir a BS Consulting para o nome de Paulo Roberto. Quem são os gregos? Um é chamado de “Konstantinos”. O outro de “Georgeus”. 

A PF suspeita – e executivos da Petrobras corroboram essa suspeita – de que se trata de Georgios Kotronakis, um dos diretores da GB Maritime, que já trabalhou na Petrobras, e do pai dele, o cônsul honorário da Grécia no Brasil há mais de 30 anos, Konstantinos Kotronakis.

Konstantinos afirma que conheceu Paulo Roberto há seis anos, devido aos negócios da Petrobras com armadores gregos. “Inclusive fui muitas vezes à Petrobras tratar de navios, é tudo normal. Tenho de incentivar negócios entre Brasil e Grécia”, diz. “O diretor costumava ir a cada dois anos a um evento de armadores de navios na Grécia.”

De acordo com os registros de “Beto”, a conta no UBS de Luxemburgo também recebia dinheiro da Glencore Trading, uma das maiores vendedoras de derivados de petróleo do mundo. A Petrobras compra muito dela. Naquele mês de maio, o depósito da Glencore, segundo o relatório, foi módico: US$ 9.973,29. 

“Só houve um negócio realizado”, escreveu “Beto”. A Petrobras também compra muito do combustível vendido no Brasil da Trafigura, a maior empresa independente de vendas de petróleo e minério do mundo. Ela tem escritório em 58 países e faturou em 2013 o equivalente a US$ 113 bilhões. No ano passado, seu lucro foi de US$ 2,2 bilhões, resultado influenciado pelos bons negócios que mantém no Brasil.

Os volumes atribuídos à Trafigura no relatório são bem maiores. Na posição consolidada em maio, Paulo Roberto tinha um saldo de US$ 446.800 e € 52.800 com a Trafigura. No caso da Trafigura, a conta que aparece está no banco Lombard Odier de Genebra. Segundo as investigações da PF, o saldo deve-se sobretudo à compra de combustível da Trafigura. 

Naquele momento, o relatório diz que a Trafigura ainda tinha de pagar pelo contrato que a Petrobras tinha de aluguel de um terminal de tancagem de combustível em Suape, Pernambuco.

No relatório, “Beto” reclama da Trafigura. “Está inadimplente em 2013”, escreveu. “Estou cobrando o Mariano. Disse que resolveu, mas ainda não tive confirmação do banco.” Mariano, segundo as investigações, é Mariano Marcondez Ferraz, um brasileiro que ascendeu velozmente na hierarquia da Trafigura ao garantir contratos da empresa na África, sobretudo em Angola. Foi recentemente alçado à diretoria da empresa.

“Beto” não cuidava sozinho das relações com a Trafigura e da conta em Genebra. Aqui, segundo ele, entram o lobista Jorge Luz e seu filho, Bruno Luz – ambos o ajudavam. Jorge Luz é um dos mais antigos lobistas da Petrobras. No governo Lula, construiu boas relações com chefes do PMDB e do PT. No PMDB, é próximo do senador Jader Barbalho e do empresário Álvaro Jucá, irmão do senador Romero Jucá, dono de uma empresa que tem contratos na Petrobras. 

Também tinha boas relações com o presidente do Senado, Renan Calheiros. No PT, é ligado ao deputado Cândido Vaccarez­za, um dos expoentes da ala conhecida como “PMDB do PT”, que inclui os deputados André Vargas, José Mentor e Vander Loubet – um grupo que ainda tem influência na Petrobras, por meio de indicações políticas na BR Distribuidora, subsidiária da empresa. O que todos esses políticos têm em comum? O medo de uma CPI da Petrobras. Por isso atuam energicamente para derrubá-la.

 Pode sobrar para eles  (Foto: Monique Renne/CB/D.A Press, Dida Sampaio/Estadão  Conteúdo/AE, Juliana Knobel/FRAME/AE e Marcelo Camargo/Folhapress)
Pode sobrar para eles 
A eficiência de Jorge Luz e “Beto” é inquestionável. Meses depois, em setembro de 2013, “Beto” informa, em novo relatório a Paulo Roberto, que a “inadimplência” da Trafigura foi resolvida. 

De US$ 446.800, o saldo da conta sobe para US$ 800 mil. “Depois de muita insistência e cobrança minha, o Mariano acertou o primeiro semestre de 2013”, escreve. “Beto” aconselha Paulo Roberto a manter Bruno Luz, que assume os negócios do pai, como responsável diante da Trafigura. 

Naquele mês, ele afirma que, de todos os negócios de que eles se desfaziam, faltavam apenas aquelas duas contas – a conta que recebia dinheiro da Trafigura e a conta que recebia dinheiro da GB Maritime. “Se fosse possível resolver este ano (as duas últimas contas) seria bom, pois acabaria esta questão de relatório e, principalmente, não teria mais nada seu comigo”, escreve no relatório.

O Range Rover que Youssef comprou para Paulo Roberto deve ser atribuído, de acordo com as investigações, a esse acerto de contas. Não se trata de um presente. Trata-se de dinheiro dele, Paulo Roberto, que tinha saldo no “banquinho” de Youssef. Apesar de liquidar as operações que tinha com Paulo Roberto, Youssef criou para ele, em 21 de abril do ano passado, uma empresa offshore no Panamá: a Sunset Global. 

Os documentos de constituição da offshore foram encontrados no escritório de Youssef e obtidos por ÉPOCA. A mulher de Paulo Roberto, Marici da Silva Azevedo Costa, representa o marido na offshore. Com Youssef, a PF também apreendeu um instrumento particular por meio do qual a Sunset Global compra uma bela casa em Mangaratiba, no Rio. A casa custava R$ 3,2 milhões. 

A PF ainda não sabe se a operação foi feita. Sabe apenas que Youssef pretendia bancá-la, com dinheiro do próprio Paulo Roberto – uma maneira de esquentar os recursos.

Em depoimento à PF, Paulo Roberto nega qualquer irregularidade. Afirmou que conhecia o doleiro Youssef “quando ainda estava em atividade na Petrobras, mas apenas após sua aposentadoria (em abril de 2012) foi procurado por Youssef para prestação de serviço de consultoria no mercado futuro”. 

Paulo Roberto insistiu ter recebido de Youssef o carrão somente por ter “prestado serviços”. E Paulo Roberto produziu, durante a consultoria, algum tipo de relatório ou documento para Youssef? Ele respondeu que “a consultoria teria se dado principalmente por meio de reuniões presenciais e debates verbais”.

Como acontece em investigações desse tipo, o essencial é seguir o caminho do dinheiro. Nesse caso, seguir o dinheiro recebido e pago por Youssef. No Congresso, Youssef é tido como “banquinho” de vários políticos. Na semana passada, o jornal Folha de S.Paulo revelou que André Vargas pegou carona num jatinho fretado por Youssef. 

O deputado se enrolou todo para explicar a relação com ele. Não é o único deputado que goza da amizade de Youssef. Segundo o depoimento de Leonardo Meireles, que trabalhava com Youssef e fez um acordo de delação premiada com a PF, Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro e deputado do PP Mário Negromonte, trabalhava no escritório de Youssef em São Paulo. Outros depoimentos confirmam o bico do irmão do ministro.

Seguindo o caminho do dinheiro de Youssef, a PF e uma possível CPI chegarão não apenas ao passado da Petrobras, mas também ao presente. Em 19 de setembro de 2012, a Investminas, do empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, conhecido como PP, depositou R$ 4,3 milhões na conta da MO Consultoria – empresa de fachada usada pelo doleiro Youssef. 

Por que isso é relevante? ÉPOCA mostrou, na semana passada, como PP, secretário de Assuntos Estratégicos no governo de Fernando Collor de Mello, intermedeia negócios envolvendo a BR Distribuidora. PP defende interesses de Collor e de políticos petistas – como o deputado André Vargas – que indicaram dirigentes para a empresa.
 DIRETO NA CONTA Trecho de laudo  da Polícia Federal. O documento mostra empresas suspeitas de ter depositado dinheiro na conta de consultoria de Alberto Youssef – entre elas, estão fornecedoras da Petrobras  (Foto: Reprodução)
DIRETO NA CONTA
Trecho de laudo da Polícia Federal. O documento mostra empresas suspeitas de ter depositado dinheiro na conta de consultoria de Alberto Youssef – entre elas, estão fornecedoras da Petrobras.

Descobriu-se, também na semana passada, que os tentáculos de PP e de seus sócios se estendem para além da área do petróleo. Em parceria com o governo federal, por meio da elétrica Furnas, empresas ligadas a PP arremataram um leilão para administrar a Usina de Três Irmãos, em São Paulo. 

A revelação dos sócios do fundo que se juntou a Furnas só ocorreu dias depois da concorrência. No dia do leilão, ninguém sabia quem estava por trás das empresas. O TCU suspendeu a assinatura do contrato atendendo a um pedido do governo paulista. Um dos sócios de PP na empreitada chama-se João Mauro Boschiero, colega de PP no governo Collor e número dois nas empresas de PP.

Todos os caminhos convergem para Youssef. As investigações da PF na Operação Lava Jato revelaram que Boschiero era próximo de Youssef. Boschiero foi flagrado em escutas telefônicas sugerindo que duas pessoas apagassem e-mail, também encaminhado a PP, sobre o laboratório Labogen, que tem Youssef como sócio oculto. “Pedro e Leonardo (além de todos os outros que receberam os e-mails abaixo). 

Deletem-no urgentemente. As citações que foram feitas derrubam nosso projeto”, afirmou. O Labogen, que contava com laranjas de Youssef, estava prestes a firmar um contrato com o Ministério da Saúde para fornecimento de remédios. Boschiero, segundo o advogado de Youssef, é diretor do Labogen.

A Sanko informou que as datas e os valores de contratos não podem ser fornecidos, por questões de confidencialidade. A MO, segundo a Sanko, foi contratada para a execução de trabalhos técnicos, e a GFD para representação comercial. “Não vendemos diretamente à Petrobras nem a empresas estatais, mas a empresas e consórcios privados, que com frequência utilizam os tubos e conexões que lhes são fornecidos para obras da Petrobras.” 

A Sanko não revela o nome de seus clientes. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Alusa Engenharia afirma que jamais fez repasses ou recebeu recursos de Paulo Roberto. “A empresa rechaça qualquer ligação com esse senhor.” Afirma, também, não ter relação comercial ou pessoal com Youssef. 

O grupo GPI, do empresário PP, informou que não se manifestaria até que seus advogados tenham acesso às informações em poder da PF. Galvão Engenharia, Jaraguá, OAS e Trafigura não responderam até o fechamento desta edição. A Petrobras preferiu não se manifestar.
Diante de um esquema dessa magnitude, como alguém em Brasília poderia dormir?

Mancha suja na história...

 

A ditadura que persiste

Países vizinhos já julgaram seus comandantes ditatoriais. Aqui, continuamos pisando em ovos

O golpe militar de 31 de março de 1964 completa 50 anos. Cada um lembrará a data segundo lhe convém. Uns poucos – ainda bem que poucos – festejarão o crime contra a democracia como se fosse um ato de heroísmo. Os demais criticarão sem piedade a quartelada que ganhou o apelido de “redentora”. Estarão por aí em seminários acadêmicos, atos partidários, ou simplesmente escrevendo a respeito, como é o caso deste colunista.

Passado meio século da página infeliz – que contou com o apoio decisivo do empresariado, dos Estados Unidos, das ditas autoridades eclesiásticas, da imensa maioria dos meios de comunicação e de um contingente avassalador de professores de Direito em suas egrégias congregações –, ninguém mais gosta de dizer que foi a favor. Há também quem declare arrependimento, algo que não prejudica.

A ditadura militar irrompeu como sintoma e se fixou como doença. Debilitou a saúde nacional em todos os campos (por favor, não venha dizer que “a economia melhorou”, porque mesmo os índices do tal “milagre econômico” foram vilipendiados, usurpados e destroçados por um custo civilizatório superior a qualquer ganho contábil). Não temos o direito de esquecê-la. Quanto mais nos lembramos, mais nos prevenimos contra atrocidades semelhantes.

As viúvas do golpismo têm garantido seu direito de adular a memória dos que tomaram de assalto a capital federal, mas não têm mais a prerrogativa ilegítima de calar os que discordam deles. Nunca mais. O pior presidente eleito é infinitamente melhor do que o mais competente e virtuoso ditador. Em todos os sentidos.

Absolutamente todos.

O esforço de manter viva a memória do trauma também ajuda a enxergar o que resta da ditadura em nossos dias. Essa é a parte mais chata, mas talvez seja a mais imprescindível na efeméride que se aproxima. A tortura, cujas técnicas ultramodernas foram aprendidas com obediência e servilismo pelas forças de repressão já nos anos 1960, continua aí como um impávido colosso. 

Policiais intimidam ilegalmente, seviciam e matam gente indefesa em todas as margens expandidas do Ipiranga. Depois, dão sumiço nos cadáveres. Amarildo não é um só. Amarildo é o nome de uma multidão de brasileiros.

A impunidade também continua incólume, como se fosse cláusula pétrea da negociação que, dizem, permitiu a transição pacífica para a democracia. 

A impunidade dos torturadores – ou, digamos com mais clareza, a impunidade dos civis e militares de alta patente que ordenaram ou permitiram que a tortura acontecesse em instalações sob seus comandos – impera ainda hoje sob o céu da pátria. Por meio da impunidade, o presente bate continência eterna para o passado.


Países vizinhos já julgaram e condenaram à prisão os comandantes ditatoriais. Enquanto isso, as instituições daqui seguem pisando em ovos. Há coisa de duas semanas, a Comissão da Verdade divulgou o nome dos oficiais responsáveis pela tortura e pelo assassinato (seguido de ocultação do cadáver) do deputado Rubens Paiva. A acusação foi lançada, a nação ficou em choque e... nada, nenhuma reação das Forças Armadas. Nenhuma esperança de justiça.

Além da prática da tortura e da impunidade perpétua, há uma face ainda mais perversa que se mantém fulgurante no florão da América. Essa face é a herança mais caprichosa que a ditadura nos legou: a propaganda ufanista. 

É realmente incrível, mas os governos brasileiros não aprenderam, até hoje, que o ufanismo é um recurso útil apenas aos regimes autoritários, pois serve acima de tudo para inibir a divergência. Ora, a democracia se alimenta de dissenso. Logo, a comunicação social de democracia deveria estimulá-lo, pois um ambiente de obediência social favorece não a liberdade, mas a tentação totalitária.

No tempo dos militares, tivemos aquele infame “Brasil, ame-o ou deixe-o” (mal traduzido do slogan americano “Love it or leave it”). Tínhamos também o “Este é um país que vai pra frente” e o “90 milhões em ação”, uma espécie de “marcha soldado” futebolístico. 

Agora, preste atenção. Hoje é tudo igual. “Eu sou brasileiro e não desisto nunca.” Tem cabimento? Os filipinos por acaso desistem logo? Os uruguaios? Os alemães? Será que estão insinuando que o brasileiro tem mais fibra que os outros povos?

A propaganda ufanista afirma subliminarmente que o governo é sinônimo do lábaro estrelado e que quem é contra ele é contra o Brasil. Essa comunicação oficial – autoritária, ética e esteticamente antidemocrática – prossegue imutável. É espantoso. É como se o imaginário da ditadura habitasse os palácios.

Mais uma etapa superada...