Jovens
que integraram protestos aproveitam exposição e viram candidatos
Movimento Passe Livre não reconhece
candidaturas; já o Copa pra Quem apoia os integrantes agora no PSOL e no PSTU
Apesar de os protestos de junho do
passado e as manifestações contra a Copa do Mundo este ano não terem revelado
uma nova grande liderança juvenil, várias pessoas que participaram dos atos
lançaram-se ou tentaram lançar-se candidatos nas eleições gerais de 2014.
Rafael Madeira, um dos coordenadores
do “Copa para Quem”, tenta uma vaga na Câmara Federal pelo PSOL. Foto: Arquivo
Pessoal/ Facebook1/6
Entre as legendas escolhidas por
alguns manifestantes identificados pelo iG, estão PSOL e PSTU. Em São Paulo,
por exemplo, uma ex-diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da
Universidade de São Paulo (USP), Gabriela Vasconcelos, que participou dos
protestos pela redução da passagem em São Paulo tenta uma vaga como deputada
federal. No interior do Estado, Alan João Orlando, coordenador dos protestos
organizados na cidade de Porto Ferreira, a 230 quilômetros da capital, ato que
reuniu 2 mil pessoas sobre a PEC 37 (que tentava tirar o poder de investigação
do Ministério Público) e de melhorias no transporte público, tenta uma vaga
como candidato a deputado estadual pelo PSOL.
Em Brasília, a militante Mácia
Teixeira, integrante do movimento feminista que ajudou na coordenação dos
protestos contra a Copa do Mundo realizados pelo movimento “Copa pra Quem”
tanto na capital federal, quanto na cidade satélite de Taguatinga, também
tentará uma vaga na Câmara Federal pelo PSTU.
Lucas de Lima Guimarães, estudante
integrante da juventude de PT, também participou das mobilizações na capital
federal contra a PEC 37 e agora se lança a uma vaga para o cargo de deputado
distrital. Ele participa da sua primeira eleição. Outro exemplo no Distrito
Federal é Rafael Madeira, advogado e estudante de Serviço Social da
Universidade de Brasília (UB), também coordenador do movimento “Copa para Quem”
que tenta uma vaga na Câmara Federal pelo PSOL.
No Rio Grande do Sul, dois estudantes
integrantes do grupo Bloco de Luta pelo Transporte Público e que chegaram a ser
indiciados pela Polícia Civil de Porto Alegre pelo crime de depredação a
patrimônio público também tentam se eleger esse ano. Lucas Maróstica, integrante
também do movimento contra a homofobia em Porto Alegre, será candidato a
deputado federal pelo Psol. Já Matheus Gomes, conhecido como “o Gordo”, também
tenta uma vaga na Câmara, mas pelo PSTU.
Contando apenas com doações de
amigos, Maróstica parte para sua primeira disputa eleitoral. Para ele, ajudar
na coordenação dos protestos de junho em Porto Alegre serviu como incentivo
ainda maior para tentar, no meio político tradicional, "atender às
demandas da população" por melhorias no transporte e nas políticas
sociais.
O candidato acredita que apesar dos
protestos terem criticado o sistema político brasileiro, ele não acha que é
contraditório um manifestante agora tentar fazer política pelos moldes
tradicionais. “A população tem toda razão quando se diz indignada com a
política”, analisa. “Agora, parto para uma candidatura para tentar atender aos
anseios da sociedade. Mas o processo de mobilização vai continuar nas ruas”,
analisa Maróstica que se diz injustiçado por ter sido indiciado pelo crime de
depredação ao patrimônio público em Porto Alegre.
Lucas de Lima também não vê
contradições em participar das mobilizações de junho. Para ele, as mobilizações
mostraram que existe um descontentamento com o jovem na política, mas que por
meio dela é possível se mudar o cenário político atual. “Eu não fui para o
protesto como militante do PT. Eu fui porque gostaria de ter uma vida melhor”,
analisa. “Os protestos não tiveram uma influência direta na minha candidatura.
Mas mostraram que o jovem quer e deve participar do processo político”, disse
Alan João Orlando, que sem financiamento privado, conta com uma vaquinha de
amigos para pagar a impressão de materiais de campanha.
Já Rafael Madeira diz que sua
candidatura nasceu de um sentimento coletivo e que a ideia dela é “trazer as
demandas dos movimentos sociais para o debate eleitoral”. “A candidatura é
coletiva. O parlamentar é uma representação para além de sua figura. Ele
precisa representar uma coletividade”, defende Madeira. “A gente se coloca ao
lado do cidadão e diz: ‘estamos construindo com vocês a luta para as soluções
na sociedade’”, analisa. O iG tentou contato com Matheus Gomes, Márcia Teixeira
e Gabriela Vasconcelos para falar sobre suas respectivas candidaturas, mas não
obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Dificuldades
Houve também pessoas que participaram
das mobilizações, ainda tentaram lançar candidaturas, mas não conseguiram por
falta de dinheiro. Um exemplo é o estudante Diego Gonçalves. Gonçalves é
militante do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) e
resolveu se filiar ao PTB justamente para tentar mudar a visão conservadora da
legenda no Distrito Federal. Convidado a integrar a legenda pelo senador Gim
Argelo (PTB/DF) após as mobilizações, Gonçalves percebeu que não teria como
financiar a própria campanha e desistiu da ideia.
Ele ganha um salário comercial de
aproximadamente R$ 1 mil e, sem promessas de financiamento, achou melhor não
disputar um cargo eletivo em 2014. “Acredito que após os protestos teria
condições de conseguir uns 5 mil votos. Mas não dependo apenas das pessoas que
me dão apoio. Dependemos também de dinheiro para uma eleição. E digo algo na
casa dos R$ 70 mil”, projeta Gonçalves.
Em São Paulo, o Movimento Passe Livre
(MPL) não reconhece candidaturas que tenham surgido dos movimentos de junho do
ano passado. Membros do MPL negaram conhecer líderes que tenham se lançado nas
eleições deste ano. Eles ratificaram o caráter autônomo e apartidário do MPL.
Em Brasília, o movimento Copa pra Quem, por outro lado, apoia as candidaturas
lançadas por membros do PSOL e do PSTU. Na visão do movimento, é importante
participar do processo eleitoral ainda que para "demarcar território em
prol dos movimentos sociais".
Hoje, pelos dados do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) apenas 2% dos candidatos à eleição de 2014 são
considerados jovens. Ao todo, de 24.899 candidaturas registradas no TSE, apenas
502 são de pessoas com menos de 25 anos. Pela classificação do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é considerada jovem qualquer
pessoa com menos de 25 anos.