Com
80 anos e energia para os 100
O
segredo dos octogenários que são independentes, produtivos – e felizes
Para descobrir a idade de alguém,
observe as mãos. Essa estratégia, quase sempre infalível, não funciona com Adib
Jatene, de 85 anos, o mais célebre dos cirurgiões cardíacos brasileiros. Com
poucas rugas e unhas muito bem aparadas, as mãos dele parecem 20 anos mais
jovens. Comandadas por um cérebro admirável, elas executaram 40 mil operações.
Há poucos meses, Jatene abandonou as salas de cirurgia. Tem consciência das
limitações físicas impostas pelo tempo. Isso não significa a aposentadoria. Sua
agenda continua lotada. Todos os dias, atende pacientes no Hospital do Coração
(HCor), em São Paulo. Circula pelos corredores numa cadeira motorizada ou apoiado
numa bengala. Há três meses, foi submetido a uma cirurgia de coluna. Um
estreitamento na medula provocava-lhe dores terríveis. Está em recuperação. “Se
fosse dar valor a isso, ficaria inutilizado”, diz. “Nunca me queixo.”
Sempre que pode, ele dá uma escapada
até a oficina do Instituto Dante Pazzanese, hospital cardiológico que mantém um
laboratório de equipamentos médicos. Jatene tem lugar cativo e seu nome está
inscrito na bancada. É lá que se revela uma de suas vocações mais genuínas e
pouco conhecidas: Jatene tem cabeça de engenheiro e espírito de Professor
Pardal. Trabalha, com entusiasmo, na criação de uma versão barata da caríssima
bomba implantável capaz de substituir, temporariamente, o coração de pacientes
inscritos na fila de transplante.
Jatene é um caso que a ciência quer
explicar. O que garante o alto desempenho intelectual e a produtividade na
velhice? Por que alguns octogenários mantêm o domínio das capacidades mentais,
a criatividade e o interesse pelo trabalho, enquanto tantos estão em casa ou
sofrem de depressão ou de alguma forma de demência? Por que gente ativa como
ele ultrapassa a expectativa de vida do brasileiro (71 para os homens; 78 para
as mulheres) e continua com motivação e capacidade mental para completar um
século?
O Projeto 80+, uma parceria do Centro
de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) com outras
unidades da USP, investiga se há algo de especial nos genes e no cérebro dos
octogenários saudáveis. Cento e trinta idosos doaram sangue e foram submetidos
a exames de ressonância magnética e a outras avaliações físicas e de desempenho
cognitivo. Jatene é um dos voluntários, assim como o economista Delfim Netto, a
atriz Beatriz Segall, a bailarina Ruth Rachou, a professora Cleonice
Berardinelli e o escritor Zuenir Ventura, entre outras personalidades.
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