domingo, 18 de janeiro de 2015

Liberação...


Começar de novo

Este ano, quem sabe, com um pouco mais de desapego

Ontem, debaixo do chuveiro – cheio de culpa por ainda tomar banho em plena crise d'água – tentei listar as coisas que gostaria de ter em 2015. Mais água, seguramente. A graça do amor, sobre a qual escrevi na semana passada. Mas não só. Enquanto me ensaboava com a água fechada, me ocorreu que seria bom ser mais desapegado do que sou. De tudo: coisas, pessoas e situações. Gente apegada sofre muito. Cada vez que ocorre uma ruptura, o mundo vem abaixo. Cada vez que uma perda acontece, morremos. Que tal mudar isso no Ano Novo?

Já sei o que alguns dirão: não se muda isso de uma hora para outra. Um traço de personalidade desses nasce conosco, ou se desenvolve muito cedo. É, de qualquer forma, algo profundo, arraigado. Provavelmente, os apegados já choravam quando a mãe, exausta, os tirava do peito. Desde então têm trauma de separação. Ainda que o apego seja inato, quase biológico, pode ser mexido. Da mesma forma que somos a única espécie do planeta capaz de lembrar suas dores, somos também dotados do impulso irremovível da esperança. Onde há gente, pode haver mudança. Ou, pelo menos, aspiração.

Outros, assumindo que seja possível desapegar, perguntarão se é realmente desejável. Não é bonito alguém que se envolve? Não é humano e natural alguém que incorpora gente à sua volta? A resposta é: depende. Às vezes, envolver-se é uma delícia. Noutras, seria preferível ter caído num poço e quebrado a perna. Nunca pensei nisso dessa forma, mas a média entre poços e situações deliciosas talvez não seja favorável aos apegados.

Os desapegados parecem mais felizes. O sentimento acabou? Eles sofrem pelo tempo regulamentar – de 15 minutos a duas semanas –, depois retomam a rotina. Sem traumas. Em vez de, como os apegados, morar numa montanha russa em que a vida oscila entre altos e baixos terríveis, eles vivem em práticos fletes emocionais. Requisitam serviços afetivos e sexuais quando precisam, não dividem o espaço com ninguém, e tudo está sempre arrumado, no mesmo lugar, sem confusão e sem mistura. Não gostaria de morar num lugar emocional como esse, me pareceria asséptico e impessoal. Mas quem vive assim parece estar bem. Ou engana.

Independência e estabilidade afetiva parecem o ponto forte da vida desapegada. No centro dela, está um indivíduo autônomo e autossuficiente, que depende pouco – ou quase nada – do afeto alheio. Ele tem, como todos na vida, redes sociais que provêm proteção e carinho. No centro delas, não há alguém especial de quem eles dependem para garantir a paz do dia e o calor da noite. No centro da vida deles, estão eles mesmos, como indivíduos – um conceito óbvio, ainda assim estranho a quem depende da presença de um outro para ser feliz.

Como se forma gente de um tipo ou de outro? São as experiências que nos tornam menos permeáveis ao envolvimento? Ou quem adora se vincular já nasceu assim? Somos o resultado de uma mistura indecifrável, mas certamente não existe hierarquia naquilo que somos. Não há melhores e piores. Há um bocado de caráter na atitude de quem decide lidar com o mundo sozinho, assim como há enorme coragem nos atos de quem arrisca sua integridade emocional num relacionamento com estranhos – e todo ser humano é um estranho, mesmo depois de anos de convívio e de intimidade.

Sendo eu mesmo um apegado emocional, que sofre terríveis nostalgias e tem dificuldades imensas em recomeçar, não seria ruim iniciar 2015 com um grão de desapego. Não gostaria de virar uma pedra de gelo ou de me tornar um daqueles tipos indiferentes, que olham o mundo com a boca virada para baixo, num estado permanente de desagrado. Esses são infelizes. Falo de ser um pouco mais contente sozinho, de me assustar um pouco menos com a solidão, de lidar com a dor – essa que nubla o dia de amanhã e encharca o hoje de melancolia - de forma menos exasperada.

O ano que começa daqui a pouco, dizem, será mais difícil na vida pública. Em muitas vidas privadas, por diferentes razões, tampouco se anuncia mais fácil. Há que enfrentá-lo com aquela mistura de esperança e resignação que nos define como espécie desde os primórdios. A gente erra, sofre e faz de novo, um pouquinho melhor. Ou sofre, fundamentalmente, sem ter errado. Levanta-se assim mesmo – e avança. É disto que nos lembra o Ano Novo: a metáfora do recomeço. É nossa chance de pôr as coisas no lugar. Talvez, até de melhorá-las um pouquinho. De melhorar a nós mesmos. De começar de novo, com um pouco mais de desapego.


Tudo novo...


O melhor das pequenas mudanças

Em 2015, dê uma chance para a sorte

Tudo o que desejo a você em 2015 é exatamente o que quero para mim: uma vida de mudanças. Não aquelas transformações mirabolantes planejadas a cada Reveillon e esquecidas na Quarta Feira de Cinzas. Penso nas mudanças miúdas, possíveis, ao alcance da mão. Que a gente possa realizar, em 2015, grandes mudanças a partir de pequenas ações.

Se você prometeu comer melhor no ano que vem, organize-se para isso. Perca (ou ganhe) quinze minutos do sábado para planejar o cardápio da semana. Compre só o necessário. Coma só o que vale a pena.

Se deseja dormir melhor, deixe fora do quarto o smartphone, o tablet ou qualquer outro aparelho eletrônico que emita luz. Está provado que eles atrapalham o sono e acabam com a qualidade da atenção no dia seguinte. 

Se quer mais tempo para você, faça bom uso dele. Estabeleça horários para entrar nas redes sociais. Tire o melhor proveito da tecnologia em vez de ser dominado por ela. Desconecte-se mais vezes e olhe muito mais nos olhos.

Limpe as gavetas de todo tipo. Jogue fora o que não interessa mais. O emprego novo será o mesmo de sempre se você levar para ele os vícios do antigo.

Se quer encontrar o parceiro dos sonhos, dê uma chance para a sorte. Saia de casa, olhe o mundo, olhe em volta. Grandes amores e parcerias nascem do encontro de almas e interesses parecidos. Em vez de esperar pelo galope do cavalo branco, enxergue os encantos de quem está logo ali.

Fale menos. Bem menos, principalmente em lugares públicos. Esbanje emoções, economize palavras.

Consuma, mas não como uma máquina de torrar dinheiro. Valorize o belo, o relevante, o prazeroso. Aprenda, com os jovens de valor, que as melhores coisas da vida não são coisas.

Em 2015, quero para mim todos esses chavões simplórios. A vida nos leva menos a sério do que insistimos em levá-la.
Muito obrigada, queridos leitores, pela rica parceria ao longo de todo o ano. Um 2015 cheio de saúde, paz e diversão! A coluna volta a ser publicada em 16 de janeiro.


Aguardando...


O que vem por aí

O ano está tão sério que resolvi falar das coisas agradáveis que entrarão em nossa vida

O ano está tão sério, com tantas acusações, escândalos e falta de esperança que resolvi falar simplesmente das coisas agradáveis que entrarão em nossa vida. Moda e comportamento andam mais vivos do que nunca. Ainda bem.

Skeleton – Juro, sou um dos primeiros a seguir a tendência. Quando vi um relógio Skeleton, me apaixonei. A gente vê o “esqueleto” do relógio, a engrenagem se movendo. A primeira grife a lançá-lo foi a Cartier. A Roger Dubuis anuncia fantásticos modelos para este ano. Quando boto o meu, os amigos babam de inveja. Envenenar a vida alheia é um dos motivos principais de usar algo que ninguém tem. Em compensação, agora vivo rezando e fazendo novena para Nossa Senhora do Cartão de Crédito. A conta cai em janeiro, nem sei o que será.

Cores – Descobri faz algum tempo que, quanto mais se envelhece, mais cor a gente deve usar. Bobagem essa história de usar pretinho. Sei que a mítica editora e colunista da Vogue americana Diana Vreeland disse: “Toda mulher tem de ter um pretinho no armário”. Mas isso é coisa de americana que sai correndo do trabalho, pega o sapato de salto que deixa guardado no escritório, nem toma banho e enfia um pretinho que trouxe na mochila. E corre para teatro, coquetel etc. 

Até os musicais em Nova York começam às 19 horas. Sejamos sinceros: quanto mais anos a gente ganha, por melhor que sejam a genética, o Botox e a plástica, nenhum de nós competirá com quem tem 20. Mulheres que tentam fazer isso ficam parecidas com peixes, tal o tamanho da boca e a pele esticada. Senhores como eu, já depois dos 60, deveriam se conformar com trajes escuros. Mas não tenho a menor vocação para ficar com cara de guarda-chuva. 

Algumas grifes internacionais, como Ermenegildo Zegna e Louis Vuitton, já perceberam isso. Fazem roupas coloridas para nós, homens pavões. Quanto mais idade, mais cor. É meu conselho. Olhem em torno nos aeroportos. Homens de calça cor-de-rosa ou verde, da Richards provavelmente, já são vistos por aí. Tomarão conta da paisagem.

Caveiras – Aparecem em roupas, anéis e, ultimamente, no mundo das artes plásticas. Talvez a humanidade esteja tomando consciência, como Hamlet, de que o futuro não é incerto. Mas certo. Todos seremos, no máximo, um resto arqueológico, exposto nalgum museu daqui a milênios, como uma espécie desaparecida da face da Terra. Botar uma caveira em casa é seguir uma sólida tendência artística. Desde que não seja a da mulher ou do marido, mesmo que em alguns momentos desperte um desejo incrível de esganar.

Insetos gourmets – Alex Atala já lançou a formiga como um dos pratos mais festejados de seu restaurante, D.O.M., considerado um dos melhores do mundo. Formigas de vários tipos são encontradas em cardápios de outros restaurantes. Daqui a pouco tempo, outro inseto começará a competir pelo nosso paladar. ÉPOCA já até pôs um gafanhoto comestível na capa. Fritos? Devem ficar bem crocantes. 

Segundo dizem, a capacidade de fornecer proteínas é bem maior nos insetos que no gado. Falta vencer o nojo atávico. Nem consigo imaginar um espaguete ao molho de moscas. Ou ir ao supermercado e pedir 100 gramas de mosquitos. Fala-se na criação de uma farinha à base de insetos. Comeríamos sem ver. Sabendo, sem sentir. No truque.

Falsidade orgânica – Cada vez se fala mais em comida orgânica, como algo melhor para a humanidade. Há quem defenda que ela deveria substituir a que conhecemos, à base de agrotóxicos e outros mimos para a saúde. Como toda postura politicamente correta, essa também parte de uma mentira. É impossível produzir alimentos para todo o planeta sem adubos químicos, inseticidas etc. A tendência? A mesma de sempre: continuaremos comendo produtos com agrotóxicos e, de vez em quando, compraremos um pé de alface orgânico para aliviar a consciência.
Detox – Passei o ano em detox e deverei continuar assim no próximo. Cada vez mais surgem dietas, livros, empresas que fornecem marmitinhas para detox, e todo um aparato para tranquilizar nossa consciência. Aí saímos, bebemos, nos fartamos de sobremesa. E nos prometemos voltar ao detox. 

A palavra estará, portanto, mais presente em nosso vocabulário.

Arte brasileira – Ela ganha espaço no mercado internacional. Já é fato. Depois de Adriana Varejão e os gêmeos, aposto em Luiz Zerbini. Ele acontece cada vez mais. Ainda bem. Tenho duas obras dele. Se vier mesmo a crise de que se fala, já tenho onde faturar uns cobres.


Mais uma etapa superada...