As cinco drogas mais viciantes do mundo. Como agem no
corpo
Viciantes e letais
São Paulo – O álcool e o
cigarro podem ser drogas legais, mas você sabia que elas causam mais
dependência do que a maconha, que é ilegal no Brasil?
Existem tantas concepções
erradas com relação ao uso das drogas –- e isso dificulta o desenvolvimento de
políticas inteligentes – que David Nutt, um pesquisador britânico, resolveu
desenvolver uma escala para avaliar exatamente o quanto elas são viciantes.
Ele reuniu dois grupos de
peritos para analisar o risco de dependência de 20 medicamentos diferentes. O
estudo separou as drogas em três componentes: o grau de prazer que ela dava ao
usuário e as dependências psicológicas e físicas causadas na pessoa.
Os cientistas precisaram
avaliar cada variável numa escala de 0 a 3. Depois, os três componentes foram
reunidos no ranking. Veja o resultado encontrado por Nutt e os outros
pesquisadores na galeria a seguir:
Heroína
A heroína recebeu três de
pontuação (de um máximo de três) na análise de Nutt. Segundo o estudo, essa
droga dá a mesma quantidade de sensação de prazer que a cocaína. Porém, a
heroína causa mais dependência física e psicológica ao usuário.
Derivada do ópio e
sintetizada a partir da morfina em 1898, a heroína já foi considerada uma
solução para os viciados em morfina. Atualmente, ela é classificada como a
segunda droga mais prejudicial do mundo para os usuários e a sociedade, segundo
um estudo do Comité Científico Independente sobre Drogas do Reino Unido.
Vários fatores causam a
dependência da heroína. O primeiro está relacionado com os sistemas digestivo e
nervoso, onde os efeitos de tontura e letargia são associados, primeiramente, a
uma percepção de euforia e leveza. Aliás, esse opiáceo faz com que o nível de
dopamina no cérebro aumente em até 200%, de acordo com uma pesquisa do
Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos EUA feito em animais.
Além disso, a droga também
diminui a sensação de angústia por acionar a função depressora no sistema
nervoso central, onde chegam as informações relacionadas aos cinco sentidos
humanos e da onde partem as ordens para os músculos. Por isso, muitas pessoas
não sentem dores físicas sob o efeito da heroína.
Como é injetada diretamente
na corrente sanguínea, a heroína reage rapidamente no corpo. Geralmente, seus
efeitos duram de duas a quatro horas. Além de ser extremamente viciante, a dose
de heroína que pode causar a morte é apenas cinco vezes maior do que a
necessária para uma pessoa sentir seus efeitos.
Cocaína com nota de euro
Segundo a pesquisa de Nutt, a
cocaína é uma droga que causa dependência psicológica maior do que física.
Aliás, a vontade física de inalar, fumar ou injetar essa droga é menor do que a
necessidade de usar o tabaco, de acordo com o estudo.
Nascida nos Andes, onde o
povo da região tem o costume de mascar a folha de coca como estimulante para as
vias aéreas, a cocaína foi utilizada pelos europeus como tônico e analgésico –
a própria Coca-Cola tinha em sua composição química a coca até 1903.
Em essência, a cocaína impede
que os neurônios desliguem a dopamina do cérebro, causando uma ativação anormal
na região de recompensa. Um dos efeitos desse recebimento desenfreado é o
sentimento de euforia. Além disso, tanta dopamina no corpo pode gerar um
aumento da pressão sanguínea e, consequentemente, a parada do coração.
Para continuar a ter as
sensações agradáveis dos primeiros usos, os dependentes da cocaína necessitam
de doses cada vez maiores. O uso intenso e frequente da droga pode causar
distúrbios mentais, como mania de perseguição, e lesões cerebrais. Ademais, a
pessoa tem muita insônia e começa a perder muito peso devido à falta de
apetite.
É a partir do composto da
cocaína que é feito o crack, outra droga altamente viciante. Aliás, o crack é
classificado por especialistas como a terceira droga mais prejudicial para o
usuário e para a sociedade – a cocaína aparece em quinto lugar.
Nicotina
Segundo especialistas, a
nicotina é a quinta droga mais perigosa do mundo para os usuários e a
sociedade. Composto principal do tabaco, ela é rapidamente absorvida pelos
pulmões quando utilizada e chega ao cérebro em questão de segundos.
Existem dois tipos de
nicotina: a ácida e a alcalina. A primeira é ionizada e não atravessa as
mucosas da boca. Por isso, ela precisa passar pelos alvéolos do pulmão para ser
alcalizada e transportada para o cérebro. Já a segunda é absorvida pela boca,
levando a droga para o cérebro a partir da corrente sanguínea. Desse modo, ela
causa mais dependência.
Quem descobriu esse poder da
nicotina alcalina foi a Phillip Morris. Para tornar seus cigarros ainda mais
necessários para seus clientes, a empresa começou a adicionar amônia (uma
substância alcalina) ao tabaco e, com isso, produziu o cigarro Marlboro.
A crise de abstinência da
nicotina acontece quando os neurônios “notam” que ela está sendo excretada pelo
corpo e não está mais nos receptores do cérebro. Isso provoca um alto grau de
ansiedade nos usuários. Em 2002, a OMS estimou que existe mais de um bilhão de
fumantes no mundo e que o tabaco irá matar mais de oito milhões de pessoas até
2030.
Metadona (analgésicos)
A metadona é utilizada,
geralmente, no tratamento de viciados em heroína, pois ela alivia sintomas
característicos do consumo da droga, como perda de libido, diarreia, dores nas
articulações e nervosismo.
Essa droga tem uma composição
parecida com a da morfina e age nos mesmos receptores, por isso causa efeitos
similares. A principal diferença entre as duas é que a metadona dura mais tempo
no cérebro (cerca de 24h), enquanto a morfina age durante oito horas.
Além disso, a metadona causa
uma síndrome de abstinência física mais leve e prolongada. Porém, como a
heroína, ela também é um opiáceo capaz de causar dependência se usada
irregularmente.
No Brasil, a metadona é
utilizada como um analgésico poderoso contra a dor crônica – principalmente, no
tratamento de câncer. Por ser uma substância tóxica, ela deve ser extremamente
controlada. Quando misturada com sedativos ou álcool, a metadona pode ser
potencializada provocando uma overdose no usuário.
Barbitúricos (calmantes)
Inicialmente usado para
tratamentos de ansiedade e insônia, o barbitúrico pode ser injetado no músculo
ou diretamente na corrente sanguínea e também inserido via oral.
Quando consumido, ele atinge
o sistema central nervoso e interfere na sinalização de produtos químicos no
cérebro. Desse modo, ele consegue desligar várias regiões, causando dormência
nos músculos e trazendo a sensação de euforia. Porém, em doses elevadas, ele
pode ser letal, pois suprime a respiração.
Antes de existir normas e
leis que dificultam uma pessoa a obter um barbitúrico, ele era uma droga de
fácil acesso, o que causou a dependência e a morte de muitas pessoas. A
qualidade de falecimentos é alta devido ao alto risco de overdose desse
composto -- sua dose letal é próxima do nível de uma dose normal. Se misturado
com álcool ou outros tranquilizantes, a chance de sobre dosagem é ainda maior.
Alguns remédios que levam
barbitúricos em sua composição são o luminal, o veronal e o gardenal. Suas
ações variam de curta, intermediária e prolongada, dependendo do paciente.
Álcool
Apesar de ser considerada uma
droga legal, o álcool possui muitos efeitos nocivos no cérebro. Por isso, a
substância ficou em sexto lugar no ranking criado pelo estudo de Nutt.
Droga depressora que afeta o
sistema nervoso central do cérebro, o álcool causa desinibição e euforia na
pessoa que o utiliza. Isso porque ele aumenta os níveis de dopamina na região
de recompensa.
Em um experimento publicado
no Jornal de Farmacologia, animais receberam doses de álcool e seus níveis de
dopamina cresceram de 40% para 360%. Detalhe: quanto mais eles bebiam, mais os
níveis aumentavam.
De acordo com um estudo feito
pela Universidade de Columbia, nos EUA, 22% das pessoas que ingerirem bebidas
alcoólicas irão desenvolver dependência em algum momento da vida. Mais de três
milhões de pessoas morreram em 2012 devido a danos causados pelo uso exagerado
de álcool, segundo a OMS.
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/as-5-drogas-mais-viciantes-do-mundo-e-como-agem-no-corpo