Pegadinha gramatical
Gramática Online: Regência Verbal
Objetivo: estudar a regência
verbal dos principais verbos.
Regência Verbal: é o estudo
da transitividade verbal. Em outras palavras, a regência verbal ajuda a
descobrir se um verbo é transitivo, intransitivo ou de ligação.
Explicando Melhor: os verbos
podem ser transitivos diretos (quando exigem um complemento sem o uso da
preposição), transitivos indiretos (quando exigem um complemento com o uso da
preposição), intransitivos (quando não exigem nenhum complemento) ou podem ser
verbos de ligação (quando expressam estado ao invés de expressarem ação).
Exemplo 1: Comprei um livro.
O verbo “comprar” é transitivo porque exige um complemento (“um livro”) sem o
uso de nenhuma preposição.
Exemplo 2: Nós precisamos de
livros. O verbo “precisar” é transitivo porque exige um complemento (“livros”)
com o uso de uma preposição (“de”).
Exemplo 3: Joãozinho
morreu. O verbo “morrer” é intransitivo
porque não precisa de complemento.
Exemplo 4: Joãozinho está
feliz. O verbo “estar” é um verbo de ligação porque não expressa ação, mas sim
estado. Outros exemplos de verbos de ligação: “ser”, “permanecer”, “continuar”.
Agora, vamos ver a regência
de alguns verbos. Não estranhe porque alguns verbos podem ter significados que
você desconhecia.
Agradar: se o verbo tiver o
sentido de “dar agrado”, ele será transitivo indireto. Porém, esse verbo também
pode ter o sentido de “acariciar” e, nesse caso, ele será transitivo direto.
Exemplo 1: A mãe agradou o
filho. Nesse caso, o verbo é transitivo indireto (“dar agrado”).
Exemplo 2: A mãe agradou aos
cabelos do filho. Nesse caso, o verbo é transitivo direto (a mãe acariciou os
cabelos do filho, ou seja: “fez carinho” nos cabelos).
Aspirar: se significar
“inspirar” (ou “cheirar”) o verbo será transitivo direto. Se significar
“desejar” (ou “almejar”), o verbo será transitivo indireto.
Exemplo 1: Ronaldo aspirou o
perfume (verbo transitivo direto).
Exemplo 2: Ronaldo aspira ao
cargo de diretor (verbo transitivo indireto).
Assistir: se significar “ver”
ou “presenciar”, o verbo será transitivo indireto. Se significar “dar assistência”, o verbo pode
ser transitivo direto ou indireto. Se significar “morar”, será intransitivo, porém
exigirá a preposição “em” para o adjunto adverbial de lugar. Se significar
“caber” (com o sentido de “competir”), o verbo será transitivo indireto.
Exemplo 1: Joãozinho assistiu
ao jogo. Nesse caso, assistir é transitivo indireto porque tem o mesmo sentido
de “ver”.
Exemplo 2: A enfermeira
assistiu ao paciente ou a enfermeira assistiu o paciente. Nesse caso,
“assistir” significa “dar assistência” e, portanto, pode ser transitivo direto
ou indireto. Tanto faz.
Exemplo 3: Eu assisto em
Porto Alegre. Como assistir, nesse caso, tem o mesmo sentido de “morar”, o
verbo é intransitivo e exige a preposição “em” para o adjunto adverbial de
lugar (Porto Alegre).
Exemplo 4: Esse assunto
assiste ao João. Nesse caso, assistir tem o mesmo sentido de “competir” ou de
“caber” (esse assunto cabe ou compete ao João). Logo, o verbo é transitivo
indireto.
Atender: se esse verbo
significar “deferir” (ou seja: “ser favorável”), esse verbo será transitivo
direto. Agora, se “atender” significar “dar atenção”, o verbo pode ser
transitivo direto ou indireto.
Exemplo 1: O chefe atendeu o
pedido do funcionário. Nesse caso, “atender” significa “ser favorável” e o
verbo é transitivo direto (não há preposição).
Exemplo 2: A recepcionista
atendeu ao cliente ou a recepcionista atendeu o cliente. Nesse caso, “atender”
significa “dar atenção” e, portanto, o verbo pode ser transitivo direto ou
indireto.
Avisar, informar, certificar,
alertar, alarmar, advertir... : esses tipos de verbos são transitivos diretos e
indiretos (em qualquer ordem). Ou seja: eles exigem um objeto direto e outro
indireto e esses objetos podem aparecer em qualquer ordem.
Exemplos: Avisei o João do
problema ou avisei ao João o problema. No primeiro exemplo, o objeto direto
apareceu antes do indireto. No segundo, ocorreu o contrário.
Chamar: no sentido de “mandar
vir”, será transitivo direto. Porém, no sentido de “dar apelido”, poderá ser
transitivo direto ou indireto.
Exemplo 1: Chamei o João para
a festa, mas ele não veio (transitivo direto).
Exemplo 2: Chamei o João de
narigudo ou chamei ao João de narigudo (transitivo direto ou transitivo
indireto).
Chegar: o correto é dizer
“chegar a” (é errado dizer “chegar em”).
Exemplo 1: Cheguei a casa (é
errado dizer “cheguei em casa”).
Exemplo 2: Depois de chegar
ao banheiro, ela se maquiou (é errado dizer “chegar no banheiro”).
Exemplo 3: Depois de chegar à
mansão, ele foi barrado pelos seguranças (a crase é a união da preposição “a”
com o artigo “a”, como se fosse a “versão feminina” do “ao”, ou seja: depois de
chegar a + a mansão).
Custar: se o verbo significar
“valor” (custo), o verbo será intransitivo (o termo que aparece depois é um
adjunto adverbial “de valor” ou “de preço”). Se o verbo tiver o sentido de
“dificuldade”, então ele será transitivo indireto.
Exemplo 1: O livro custa
duzentos reais (intransitivo, ou seja: o verbo não precisa de complemento e
“duzentos reais” é um adjunto adverbial “de valor” ou “de preço”).
Exemplo 2: Custou ao aluno
encontrar a resposta da questão. Nesse caso, o verbo “custar” tem o sentido de
“dificuldade” (foi difícil ao aluno encontrar a resposta). Logo, o verbo é
transitivo indireto.
Observação: o verbo “custar”,
no sentido do exemplo 2, deve ser conjugado na terceira pessoa (custou a ele,
custou-lhe, custou a mim, custou-me, custou a nós, custou-nos, custou a eles,
etc). Não podemos dizer “eu custei a encontrar” ou “nós custamos a encontrar”,
por exemplo.
Lembrar, Esquecer: esses dois
verbos serão transitivos indiretos se forem pronominais. Caso contrário, eles
serão transitivos diretos.
Exemplo: Podemos dizer “João
esqueceu a resposta” ou “João se esqueceu da resposta”. Se usarmos algum
pronome (se esqueceu, nos esqueceu, esquecer-te, esquecemo-nos, etc.) nós
devemos usar a preposição “de”. Com o verbo lembrar ocorre a mesma coisa (“João
lembrou a resposta” ou “João se lembrou da resposta”).
Observação: o verbo “lembrar”
também pode ter o mesmo sentido de “avisar”, “informar”, “certificar” e, nesse
sentido, ele segue a regência desses verbos (que já foi vista anteriormente).
Namorar: o verbo “namorar” é
transitivo direto.
Exemplo: Pedro namora Paula
(é errado dizer “João namora com Paula”).
Obedecer, desobedecer: esses
verbos são transitivos indiretos.
Exemplos: Os filhos devem
obedecer aos pais. Os alunos não podem desobedecer às regras.
Pagar, perdoar: esses dois
verbos exigem dois objetos (um direto e outro indireto). O objeto direto é
usado para a coisa que é pagada (ou perdoada) e o objeto indireto é usado para
a pessoa a quem se paga (ou se perdoa).
Exemplo: Paguei um
cachorro-quente ao meu amigo.
Preferir: não podemos usar a
expressão “do que” com o verbo “preferir” (mesmo que esse uso seja comum no dia
a dia). Esse verbo é transitivo indireto e exige a preposição “a”.
Exemplos: Prefiro inverno ao
verão. Prefiro português à matemática (é errado dizer “prefiro inverno do que
verão” ou “prefiro português do que matemática”).
Querer: no sentido de
“desejar algo ou alguém”, será transitivo direto. Porém, esse verbo também pode
ter o sentido de “amar” ou de “gostar”. Nesse sentido, o verbo “querer” será
transitivo indireto.
Exemplo 1: Eu quero um
computador novo (transitivo direto).
Exemplo 2: Eu quero aos meus
irmãos (transitivo indireto, com o sentido de “eu gosto de meus irmãos” ou “eu
amo os meus irmãos”).
Responder: pode ser transitivo
indireto se tiver o sentido de “responder a alguma coisa”, pode ser transitivo
direto e indireto se tiver o sentido de “responder alguma coisa a alguém” ou
pode ser transitivo direto se estiver no sentido de “responder a resposta”.
Exemplo 1: Pedro respondeu a
todas as questões da prova (transitivo indireto).
Exemplo 2: Pedro respondeu
essa pergunta ao amigo (transitivo direto e indireto).
Exemplo 3: Pedro respondeu
que não poderá entregar o trabalho (transitivo direto).
Simpatizar: o verbo exige a
preposição “com” (transitivo indireto).
Exemplo: João simpatiza com
Pedro.
Visar: se tiver o sentido de
“mirar” ou de “dar o visto”, o verbo será transitivo direto. Se tiver o sentido
de “desejar”, o verbo poderá ser transitivo direto ou indireto (segundo Celso
Cunha), sendo que outras gramáticas afirmam que o verbo só pode ser transitivo
indireto.
Exemplo 1: Eu visei o alvo
(eu “mirei” o alvo). Nesse sentido, o verbo é transitivo direto.
Exemplo 2: O funcionário visou
os documentos (o funcionário “deu o visto”). Nesse sentido, o verbo também é
transitivo direto.
Exemplo 3: João visa um novo
emprego ou João visa ao novo emprego. Segundo Celso Cunha, “visar” no sentido
de “desejar” pode ser transitivo direto ou indireto.