segunda-feira, 24 de outubro de 2016
Pertencimento e identidade embrionários...
Jogo de
asfixia: não é brincadeira
A morte de um adolescente paulista lançou luz
sobre os jogos de desmaio, praticados por quatro em cada dez jovens brasileiros
MAIS UM?
Foto de Gustavo Detter postada numa rede
social. Ele morreu no início de outubro, talvez vítima do jogo de asfixia
(Foto: Reprodução)
É difícil descrever a agonia de encontrar um
filho desmaiado dentro de casa.
A família de Gustavo Riveiros Detter, de 13
anos, deparou com cena ainda pior na noite de sábado, dia 15 de outubro deste
ano. Amarrada ao redor do pescoço do menino estava a corda que sustentava um
saco de boxe no teto do quarto.
Um tio de Gustavo declarou que o sobrinho
jogava videogame pelo computador com outros três colegas conectados pela rede.
Por perder a partida, Gustavo foi desafiado a “brincar de novo de se enforcar”,
nas palavras de um dos jogadores.
O menino não resistiu aos danos neurológicos
e morreu horas depois na UTI do Hospital Ana Costa, em Santos, cidade litorânea
de São Paulo. Foi ali no hospital, pelo médico Luiz Henrique Guerra, que a família
e os amigos souberam da existência do jogo do desmaio.
Guerra entregou à
família, impressa em duas folhas brancas, a descrição de um passatempo macabro
que se tornou “febre” entre crianças e adolescentes. O participante, em busca
de uma sensação alucinógena ou de euforia, prende a respiração com as mãos ou
com o auxílio de um acessório (lenço, cordão ou cinto) até desmaiar. A postagem
sobre o alerta com fotos do documento, feita por uma amiga da família,
viralizou no Facebook. O dado mais apavorante: só os adultos não conheciam a
brincadeira.
Em uma mensagem na rede social, um primo de
Gustavo, de 25 anos, escreveu ter se arriscado com a prática na adolescência e
pediu aos jovens que nunca mais jogassem.
Uma das enfermeiras que atenderam
Gustavo surpreendeu-se ao levar o debate para casa. Os filhos pré-adolescentes
tinham até visto colegas de escola perder o fôlego. O mesmo relato veio por uma
professora amiga da família, cujos alunos afirmaram ter participado do jogo da
asfixia.
A facilidade com que se encontra o passo a passo da prática na
internet deixa os jovens mais expostos a cometer um ato que pode terminar em
tragédia. Em 2010 eram menos de 500 os vídeos relacionados ao jogo do desmaio
no canal YouTube. No início deste ano, mais de 16 mil.
Esse é um dos resultados
preliminares de uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo e da Paris
Ouest (na França). “Não imaginava que a
prática era tão difundida entre as crianças do Brasil”, diz a psicóloga
brasileira Juliana Guilheri, coordenadora do estudo.
Alguns países já estão tomando medidas para
enfrentar o problema. Em 2002, a francesa Françoise Cochet, que perdeu um filho
na brincadeira, fundou a associação Accompagner-Prévenir-Éduquer Agir Sauver
(Apeas, ou Acompanhar-Prevenir-Educar Agir Salvar, em tradução livre).
Graças à
pressão da associação, o governo francês aprovou uma lei, em 2013, proibindo
sites com busca, como YouTube e Google, de mostrar conteúdo em francês sobre as
brincadeiras. Campanhas de prevenção miram pais, médicos, educadores e
estudantes. Inspirada em Françoise, a americana Judy Rogg criou a instituição
Eric’s Cause (A Causa do Eric, em tradução livre) depois da morte do filho.
Ela
mantém um mapa colaborativo com notificações de mortes e pessoas com sequela no
mundo todo causadas pelas brincadeiras. Já são 1.256 casos notificados, com 11%
sequelados.
No Brasil, há esforços semelhantes. O
empresário do mercado imobiliário Demetrio Jereissati, parte distante da
família dos políticos Jereissati, voltava de viagem com a mulher. Era 8 de
junho de 2014. Uma das expectativas era entregar um arco e flecha “da largura
da mala” para o filho caçula, Dimi.
“Ele
queria tanto que ligou para me ensinar a acomodar com segurança dentro da
mala”, diz. Aos 16 anos, Dimi gostava de aventura e sonhava com a faculdade de
engenharia. Mas ao chegar em casa Demetrio encontrou o filho sem vida, com um
cinto em volta do pescoço. “Não sei dizer o que passa na cabeça de um pai numa
situação dessas.
A gente sai do ar, fica anestesiado.” Dias depois, Demétrio e
a mulher conheceram Françoise pessoalmente. Em dois meses, o instituto
DimiCuida nasceu. “Descobrimos que, enquanto os adultos desconhecem, os jovens
praticam. A palavra desafio tem de ser um sinal de alerta”, diz.
Demetrio em Fortaleza . Ele criou um
instituto após a morte do filho por asfixia.
AJUDA
Demetrio Jereissati em Fortaleza. Ele criou
um instituto após a morte do filho por asfixia.
Um dos obstáculos para dimensionar o problema
é a dificuldade em identificar se o jovem foi vítima da brincadeira de asfixia
ou de suicídio. É o que diz Maria de Fátima Franco dos Santos, da PUC-Campinas.
Ela é especialista em autópsia forense, uma investigação sobre a vida pregressa
da vítima em caso de morte duvidosa. A busca inclui entrevistas com amigos e
familiares, médicos e pesquisas on-line. “Poucos no Brasil conhecem as
brincadeiras perigosas e uma minoria faz autópsia psicológica. É mais fácil
dizer que foi suicídio”, diz.
A hipótese de suicídio não se encaixava no
perfil do filho de Jane do Carmo, de 50 anos, uma inglesa que morava em São
Paulo. Depois de procurar por Thomas em todos os cômodos da casa, Jane
encontrou-o sentado no vaso sanitário.
Uma ponta da faixa de caratê do menino
estava presa ao pescoço. A outra, no registro do banheiro. “Tentei tirar o nó,
mas logo vi que não adiantaria. Imaginei que ele estava tentando fazer alguma
experiência... Mas não me lembro de nada daquela noite, não quero voltar”,
continua, em longas pausas.
Nos dias seguintes, amigos e familiares aflitos
alcançaram informações sobre as brincadeiras perigosas. Só depois Jane lembrou
que Thomas tinha falado de amigos que ficavam dando socos uns no peito dos
outros para provocar desmaio. Também recordou das queixas de enxaqueca e dos
olhos avermelhados do filho.
“Eu conversava com meu filho sobre tudo, nossa
família era unida. Você não tem como proteger um filho do que desconhece. Isso
precisa mudar”, diz Jane.
A psicóloga Fabiana Vasconcelos, coordenadora
da área de educação do DimiCuida, descobriu que um argumento para sensibilizar
os jovens é falar das sequelas do jogo.
Na falta de oxigênio, funções importantes
começam a parar e neurônios morrem. Em alguns casos, o praticante que sobrevive
pode desenvolver cegueira, ficar paraplégico, perder o controle dos esfíncteres
(para evacuar e fazer xixi).
Ao ouvir essas descrições, os jovens ficam
visivelmente incomodados. Foi numa dessas conversas que a atendente Denise
Farias, de 27 anos, descobriu que a brincadeira que conhecera na adolescência
era perigosa. Denise tinha 14 anos quando começou a praticar com amigos, dentro
e fora da escola.
Ela era a responsável por pressionar o tórax dos que
desejavam desmaiar. Numa das ocasiões, uma prima, de 8 anos, voluntariou-se.
Logo após desmaiar, a menina teve convulsões. A família nunca soube da
história. “Fiquei com um medo tão grande que nunca mais brinquei”, diz. E continua:
“Eu não sabia que podia ter matado alguém”.
Mais um manual de como se comportar no meio social...
Oito perguntas
que podem medir a inteligência emocional
Numa situação de estresse, você costuma
culpar os outros, a situação ou a si mesmo? Veja perguntas que revelam muito
sobre as suas habilidades emocionais
São Paulo — A inteligência emocional é uma competência
decisiva para sobreviver à instabilidade crescente do mercado de trabalho. No
entanto, é muito difícil avaliar o grau de desenvolvimento dessa habilidade
— ainda mais se você pretende fazer isso sozinho.
De acordo com João Marcelo Furlan, sócio-fundador
da Enora Leaders, é possível fazer uma autoavaliação da inteligência
emocional, mas a taxa de acerto costuma ser baixa. “Dificilmente você tem uma
noção exata de como interage socialmente”, explica. “O ideal é que outras
pessoas contribuam com opiniões e percepções sobre você”.
Além de complementar essa análise, diz o
especialista, o próprio ato de pedir feedback a chefes, colegas e subordinados
também ajudará você a desenvolver as suas habilidades comportamentais.
Embora seja difícil avaliar profundamente a
sua própria inteligência emocional sozinho, certas perguntas podem estimular
reflexões interessantes, diz Adriana Gattermayr, coach e consultora da
Gattermayr Consulting.
Veja a seguir um roteiro de questões, sem
valor científico, que pode servir como gatilho para a sua busca por
autoconhecimento:
1. Quais são os sentimentos mais frequentes
na sua rotina de trabalho? Você saberia dizer por que eles aparecem com tanta
regularidade?
Segundo Gattermayr, a resposta indicará se a
pessoa consegue perceber, diferenciar e nomear suas próprias emoções. “Quanto
maior o número de sentimentos lembrados e descritos, melhor”, diz a consultora.
Conseguir explicar por que aquelas emoções são as mais frequentes na rotina
conta pontos extras. Quando você percebe seus padrões de comportamento, tem
mais facilidade para prever e gerenciar certas reações.
2. Pense em duas situações que lhe causam
medo, duas que desencadeiam raiva, duas que trazem indignação e duas que geram
tristeza. Quais pensamentos e reações cada uma dessas situações provoca?
Uma das capacidades testadas por essa
pergunta é, novamente, a de discernir as próprias emoções. Além disso, a
questão avalia qual é o seu modelo mental. “O medo gera fuga? A raiva provoca
mudez? Se você consegue reconhecer facilmente os seus mecanismos psicológicos
mais típicos, isso significa que você tem um nível alto de inteligência
emocional”, explica Gattermayr.
3. Quais são meus pontos fortes e fracos?
Tenho confiança nas minhas próprias habilidades?
O que pretende ser medido por esse enunciado
é o seu grau de autoconhecimento. Pessoas que fazem uma boa gestão das suas
emoções geralmente sabem muito bem quais são seus diferenciais e suas lacunas.
De modo geral, costumam ser autoconfiantes. “É diferente de ser arrogante,
porque o arrogante é um autoconfiante que não sabe gerir seus próprios
relacionamentos e deixa de ser apreciado socialmente”, diz Furlan.
4. Pense em alguém que o irritou ou magoou,
sem que isso tenha se resolvido até o momento. Agora imagine que você é o
advogado de defesa da pessoa e deve argumentar a seu favor nessa situação. O
que diria?
Aqui, a resposta dará pistas importantes
sobre a sua capacidade de empatia. Se você é capaz de fazer uma boa defesa de
quem o magoou, provavelmente conta com alto nível de inteligência emocional.
“Quem consegue se colocar no lugar dos outros e sentir as emoções alheias tem
uma boa percepção social”, diz Gattermayr. Captar o que o outro está sentindo,
mesmo que ele não o diga, é uma habilidade bastante rara, mas extremamente útil
no mundo do trabalho.
5. Quando está numa situação de estresse ou
confronto, você normalmente culpa os outros, culpa a si mesmo ou culpa a
situação?
Cuidado: escolher qualquer uma das três
opções depõe contra a sua inteligência emocional. Segundo Gattermayr, uma
pessoa com facilidade para gerir emoções não perde tempo culpando ninguém.
“Qualquer situação envolve uma responsabilidade, e não culpa, do outro, sua
própria e da situação”, diz ela. “A resposta ideal é dizer que isso não
importa, e que a energia deve ser direcionada para a resolução do problema”.
6. Aceito mudanças facilmente?
A sua resposta à pergunta deve ser sincera:
você lida bem com as transformações mesmo quando elas tiram você da sua zona de
conforto? Furlan explica que a capacidade de adaptação está diretamente ligada
ao autocontrole. “Muita gente tem medo da mudança porque não sabe quais serão
os seus efeitos sobre si mesmo”, diz ele. Se você é flexível e consegue
acompanhar os movimentos da vida, causará menos sofrimento a si próprio e aos
demais.
7. Um dos seus subordinados sempre causa
brigas na equipe. Um dia, você chega ao trabalho e percebe que há outra
situação de confronto. Qual a primeira coisa que faz?
Quem tem baixos níveis de inteligência emocional
tende a rotular as pessoas, diz Gattermayr. “Em vez de imaginar diversas
hipóteses para explicar o que aconteceu, essa pessoa vai questionar o
‘briguento’ para saber que ‘besteira’ ele fez, porque já pensa que ele é o
culpado por qualquer conflito”, explica ela. Por outro lado, pessoas com uma
boa gestão das emoções são mais livres de preconceitos e consideram explicações
menos “dramáticas” para os problemas.
8. Ao ser atacado verbalmente, o que você
faz?
Esta pergunta serve para checar a sua autodisciplina.
Diante de uma agressão, a reação instintiva de qualquer um é revidar ou fugir.
“Para quem tem inteligência emocional, essa resposta é mais estratégica”, diz
Gattermayr. “Primeiro escuta o ataque, usa a empatia para captar que tipo de
emoção está por trás daquilo e então procura responder a esse sentimento do
outro”.
Metade on; metade off...
Como os
pássaros conseguem dormir em pleno voo sem cair?
Cientistas acoplaram dispositivos em fragatas
de Galápagos para monitorar seu sono durante o voo
Muitas aves voam centenas de quilômetros sem
tocar a terra. E só conseguem isso porque conseguem dormir em pleno voo.
Mas como elas conseguem fazer isso?
Essa questão gerou dúvidas durante décadas até
ser finalmente respondida por um cientista alemão e seus colegas após uma
pesquisa nas ilhas Galápagos.
Niels Rattenborg, do Instituto Max Planck de
Ornitologia na Baviera, Alemanha, coordenou a equipe que demonstrou pela
primeira vez que as aves dormem quando voam e que isso ocorre por períodos
muito breves.
Às vezes elas dormem com um hemisfério
cerebral acordado e outras vezes dormem nos dois hemisférios. Mesmo assim
conseguem manter o controle aerodinâmico.
Sebastián Cruz, um biólogo equatoriano
especializado em aves marinhas, é coautor do estudo. Ele desempenhou um papel
determinante na escolha da espécie que seria estudada: a fragata de Galápagos.
Por que
fragatas?
As fragatas (fragata minor) "se
alimentam exclusivamente no mar e realizam viagens de vários dias de duração
sem parar, sempre voando", disse Sebastián Cruz à BBC Mundo, o serviço em
espanhol da BBC.
Niels Rattenborg, à dir, de Instituto Max
Planck de Ornitologia, estudou o sono em humanos por dez anos antes de se
dedicar às aves
A razão mais importante para a escolha é que
"ao contrário de outras aves marinhas, as fragatas não conseguem descansar
na superfície do mar, já que suas penas não são impermeáveis e podem absorver
água".
Elas também são grandes o bastante para
suportar o peso de um leitor de ondas cerebrais e um GPS.
As fragatas precisam percorrer grandes
distâncias para se alimentar.
Fragatas podem dormir só 42 minutos por dia.
Cruz disse que elas tentam cobrir a maior
área possível em busca de comida no mar, voando em um grande círculo para
gastar a menor quantidade possível de energia.
Dessa forma, aproveitam correntes de ar e se
beneficiam de sua morfologia peculiar: um corpo pequeno e asas muito grandes.
"Elas empregam uma estratégia de voo
lenta, mas eficaz. Ganham altitude, centenas de metros, com correntes de ar
ascendentes e depois se deslocam para a direção que querem planando de forma a
ganhar distância e perder altitude."
Partes do
cérebro
Os dispositivos mostraram que as fragatas
conseguem dormir de maneiras diferentes, segundo Niels Rattenborg.
"Um jeito é chamado de sono de ondas
lentas, porque o cérebro gera esse tipo de onda que pode ser detectada em um
eletroencefalograma", explica.
Esse tipo de sono pode ocorrer em ambos os
hemisférios cerebrais ou em apenas um. Quando ocorre em apenas um se chama sono
uni-hemisférico. Nele, o olho oposto ao hemisfério cerebral permanece aberto.
Em um estudo anterior, Rattenborg já havia
demonstrado que os patos que estão na parte mais externa de um grupo, expostos
a perigos, dormem com um um olho aberto. Aqueles que estão no centro do grupo,
mais seguros, dormem com os dois hemisférios de uma só vez.
O segundo tipo de sono que as aves podem ter
é o sono de movimentos oculares rápidos, ou REM, de ondas mais curtas e
rápidas.
Menos de
cinco segundos
"Muitos pensavam que as aves dormiam só
de forma uni-hemisférica", disse Rattenborg.
Mas os registros de ondas cerebrais mostraram
que as fragatas também podem dormir com os dois hemisférios simultaneamente.
Itinerários de fragatas.
As fragatas têm que passar muito tempo voando
em busca de alimento no mar; um dispositivo GPS registrou suas trajetórias
"Não sabemos exatamente como o fazem.
Talvez usem um mecanismo similar ao que lhes permite dormir quando estão
paradas. No caso das fragatas, isso significa que conseguem dormir enquanto
mantêm suas asas em posição de planar", disse o cientista alemão.
Ele disse ainda que foi uma surpresa
descobrir que as aves também têm sono REM - embora esse estado dure em média só
cinco segundos.
42
minutos de sono por dia.
Somando todos os tipos de sono, as fragatas
dormem em média 42 minutos por dia.
"Isso foi inesperado. Se conseguem
realizar tantos tipos de sono ao voar, por que dormem tão pouco?",
questiona Rattenborg.
"Neste momento realmente não temos
ideias sólidas para explicar como as fragatas se adaptaram a funcionar com tão
pouco sono, enquanto tantas outras espécies, de abelhas a humanos, sofrem
dramaticamente as consequências da falta de sono."
Estudo do sono das fragatas pode ajudar a
entender sono humano
O pesquisador destacou que uma pesquisa sobre
os mecanismos de adaptação dessas aves pode também ajudar a entender o impacto
da falta de sono em seres humanos.
"Baseando-se em nosso estudo do sono
uni-hemisférico dos patos, Masako Tamaki e seus colegas (da Brown University
dos Estados Unidos) publicaram um trabalho explicando que quando as pessoas
estão em um ambiente novo, o hemisfério esquerdo dorme de forma menos profunda
e responde mais a sons que o hemisfério direito, somente na primeira
noite", diz.
"Isso sugere que, como os patos, os
seres humanos têm a capacidade de acordar ao menos parcialmente a metade de seu
cérebro em resposta a circunstâncias potencialmente arriscadas."
Fatos da vida real...
Homem
viveu por anos acorrentado pela própria família
Um homem de 36 anos foi resgatado pela
Polícia Civil, na última quinta-feira, após passar anos preso, acorrentado, em
uma edícula com quarto e banheiro no Jardim Leblon, no bairro dos Pimentas, em
Guarulhos (Grande SP), segundo vizinhos da casa. A vítima teria sofrido
maus-tratos por quase 20 anos.
A polícia confirmou que investiga cárcere
privado e outros crimes. O pai e a madrasta da vítima, além do filho dela, não
foram detidos – eles se mudaram da casa no último sábado.
Segundo vizinhos, a vítima é Armando Bezerra
de Andrade. Eles contam que ele estudava na escola do bairro e tinha amigos,
mas “sumiu” quando tinha 16 ou 17 anos de idade. À época, já apanhava da
madrasta até na rua, dizem moradores.
Testemunhas contam que policiais civis foram
até a região por volta das 7h da quinta-feira devido a uma suspeita de tráfico
de drogas na vizinhança e encontraram o cativeiro por acaso.
Os vizinhos dizem que, após buscas pelos
traficantes, policiais entraram na casa da família (não tinha ninguém naquele
momento). Depois, foram até a edícula, onde acharam Andrade.
Os vizinhos contam que o homem estava
acorrentado a uma cama e com a barba grande (na altura do umbigo), repleta de
fezes.
Andrade ficaria na edícula em cama com colchão,
sem lençóis ou cobertores, parte do tempo preso a correntes. Vizinhos suspeitam
de que a madrasta, enfermeira, doparia o enteado para acalmá-lo. O local não
tinha mais móveis ou eletrônicos.
Religião impondo comportamentos...
STJ
condena padre que interrompeu aborto legal
O padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, de Goiás,
foi condenado pelo Superior Tribunal de Justiça a indenizar o casal Tatielle
Gomes da Silva e José Ricardo Dias Lomeu por haver impedido, em 2005, a
antecipação de parto de um feto com múltiplas deformações. (*)
Cruz é presidente do movimento Pró-Vida de
Anápolis (GO).
Ele propôs habeas corpus e obteve liminar
suspendendo procedimento médico no terceiro dia de interrupção da gravidez, apesar
de Tatielle haver obtido autorização judicial para interromper a gestação de
feto sem viabilidade de vida extrauterina.
Ele deverá indenizar o casal no valor de R$
60 mil –corrigidos monetariamente e com a incidência de juros de mora a partir
do dia que Tatielle deixou o hospital.
Ao julgar recurso especial interposto pelo
casal, a relatora, ministra Nancy Andrighi, entendeu que Cruz violou a
intimidade do casal e agiu temerariamente para “fazer prevalecer sua posição
particular”. Segundo Andrighi, o padre “agrediu-lhes a honra” ao denominar de
assassinato a atitude tomada pelo casal sob os auspícios do Estado.
Ainda no entendimento da relatora, “por
incúria ou perfídia”, o padre impôs ao casal “estigma emocional que os
acompanhará perenemente”.
Seu voto foi acompanhado por unanimidade. Da
decisão, cabe apenas embargos de declaração [recursos para esclarecer dúvidas,
omissões ou contradição, que não se prestam a invalidar ou reformar uma
decisão].
Nos autos, o padre alegou que “as
autorizações para abortamento ferem o direito básico à vida existente desde o
momento primeiro da concepção” e que “agiu na mais estrita defesa da vida, da
vida do pobre bebê, que estava em vias de ser assassinado”.
Sustentou ainda que “a decisão não foi de
Luiz Carlos Lodi da Cruz, mas do Poder Judiciário”. Essa tese não foi acolhida
por Andrighi.
“Qualquer tentativa de disrupção do nexo
causal, sob a alegação de que o recorrido apenas provocou o Estado-Juiz, e foi,
efetivamente este que determinou a interrupção da gestação, não merece guarida.
A busca do Poder Judiciário por uma tutela de urgência traz, para aquele que a
maneja, o ônus da responsabilidade pelos danos que porventura a concessão do
pleito venha a produzir, mormente quando ocorre hipótese de abuso de direito”,
decidiu a relatora.
TJ-GO
julgou ação improcedente
Em setembro de 2013, a 4ª Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), havia mantido sentença de
primeiro grau que julgara improcedente ação de indenização por danos morais
proposta por Tatielle.
Em decisão unânime, aquela Câmara seguiu o
voto do relator, desembargador Kisleu Dias Maciel Filho: “Se de um lado, os
apelantes sofreram dias de dores e angústia ao terem que aguardar o parto
natural do feto que esperavam, em razão da suspensão do alvará judicial que
autorizava a sua antecipação; por outro lado, há o interesse do apelado, como
cidadão, de utilizar-se dos meios legais ao seu alcance para ver tutelado o
direito à vida, pois as hipóteses em que se admite atentar contra ela estão
elencadas de modo restrito, inadmitindo-se interpretação extensiva, tampouco
analogia em desfavor da parte, devendo prevalecer o princípio da reserva
legal”.
O casal alegou que o padre tinha a obrigação
de compensar o dano moral pelo uso inconsequente de seu direito de ação, tanto
por ter abusado desse direito, tentando fazer prevalecer seu posicionamento
religioso, quanto pela má-fé, que se caracterizaria pela omissão, no habeas
corpus impetrado, que havia inviabilidade de vida do feto, extrauterina.
Conforme relata o Tribunal de Justiça de
Goiás, Tatielle sustentou que, em 6 de outubro de 2005, obteve na 1ª Vara
Criminal de Goiânia, alvará judicial para antecipação de seu primeiro parto,
pois o feto era portador de múltiplas deformações [Síndrome de Body Stalk].
“O cordão umbilical era muito curto e a
placenta havia ficado próxima de sua parede abdominal, que não se fechou,
deixando as vísceras expostas”, afirmou.
Segundo ela, iniciados os procedimentos para
a indução do parto, inclusive já com medicação para a dilatação do colo do
útero, recebeu a notícia, juntamente com os médicos que a assistiam, de que o
procedimento teria de ser suspenso em razão de liminar proferida pelo TJ-GO, no
habeas corpus proposto pelo padre.
“Contornos
trágicos”
Em seu voto, Nancy Andrighi registra que “o
sofrimento do casal –-e não canso de repetir, principalmente o da gestante-–
ganhou contornos trágicos com a liminar conseguida pelo recorrido [Cruz], que
obrigou a equipe médica a interromper o uso da medicação, quando já havia
início de dilatação”.
“Mais 8 dias se passaram para que a medicação
interrompida fosse eficaz a ponto de induzir o organismo da recorrente a
expulsar o feto, momento em que voltou ao hospital – mas nessa semana,
completamente desassistida, sentiu, desnecessariamente, as dores do longo
processo de adaptação do seu organismo para que levasse a cabo o processo
iniciado no hospital, período em que foi amparada, exclusivamente pelo seu esposo.
”
Ainda segundo a relatora, foi intenso o dano
moral “suportado, tanto pela recorrente [Tatielle] quanto pelo recorrente [José
Ricardo], que a tudo acompanhou, inerme, e ao final, ainda teve que
providenciar o registro de nascimento/óbito e o enterro da criança, que como
previsto, veio a óbito logo após o nascimento”.
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