domingo, 8 de janeiro de 2017

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Entenda o caos e possíveis soluções para o sistema carcerário do país

Massacre em Roraima

A explosão da população carcerária brasileira nos últimos 15 anos, que saltou de 233 mil presos em 2000 para 622 mil no final de 2014, segundo dados do Departamento Penitenciário do Ministério da Justiça, agravou o quadro de superpopulação no sistema penitenciário do país, que é, a um só tempo, sintoma de uma série de disfunções e causa de tantas outras.

A Folha consultou oito especialistas em segurança pública e prisões para criar um panorama dos principais problemas do sistema e mostrar como se articulam e se retroalimentam. O quadro geral aponta que não existe solução fácil nem imediata e que será preciso investimento e priorização para que as mudanças necessárias, de fato, ocorram.

Causas

PRISÃO PROVISÓRIA

Em média, 40% dos presos brasileiros ainda não foram julgados. Preso provisório é aquele que é alvo de flagrante policial, isto é, que praticou crimes passíveis de testemunho dos agentes de polícia: em geral, tráfico de drogas, furto e roubo.

O percentual de presos provisórios é o mesmo de presos que excedem o número de vagas no sistema. "A gente precisa realmente mandar essas pessoas para a cadeia?", questiona Fábio Sá e Silva, pesquisador do Ipea e ex-coordenador de ensino do Departamento Penitenciário do Ministério da Justiça.

Polônia
68
Índia
66
Paquistão
50
Peru
41
Brasil
35
Colômbia
26
EUA
20
África do Sul
14
Reino Unido
8
Polônia

DESARTICULAÇÃO

Policiais, promotores, defensores, juízes, secretários, governadores, ministros e parlamentares, além de chefes dos três Poderes, operam ou influem de alguma maneira no sistema prisional brasileiro, mas de forma descoordenada. "Cada um faz só um pedacinho do trabalho", diz Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Para ele, é por causa disso que, "quando alguém é condenado, ele some dentro do sistema, e ninguém fica responsável por ele". Faltam cooperação e monitoramento.

MOROSIDADE DA JUSTIÇA

Há lentidão do sistema de justiça criminal em responsabilizar alguém por um ato criminoso. Estudos apontam que um homicídio pode tramitar por mais de nove anos na Justiça, como apontado nos tribunais de Belo Horizonte.

Segundo o analista criminal Guaracy Mingardi, "muitos presos provisórios ficam mais tempo presos do que o tempo de suas posteriores condenações. E isso cria um sentimento de injustiça no preso, aumentando seu antagonismo com o Estado e a probabilidade de ele se aliar a uma facção criminosa."


CidadeAnosMeses
Belo Horizonte94
Belém62
Goiânia84
Porto Alegre56
Recife71

FALTA DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA

É dever do Estado garantir ao preso assistência jurídica para a defesa dos direitos e garantias do condenado às progressões e regime, livramento condicional e indulto. A falta desta orientação e o deficit de defensores públicos retêm no sistema indivíduos que não deveriam estar ali.

"Cerca de 50% dos presos provisórios, que aguardam julgamento, acabam sendo absolvidos. Outra metade, quando sai a condenação, ela é inferior ao tempo que o preso está esperando pelo julgamento", afirma Marco Antônio Severo Silva, diretor do Depen.

Sim, por ONGs
1
63
Sim, pela defensoria
23
Não
17
Sim, outros
11
Sim, por advogados conveniados
1
Sim, por ONGs
SUPERLOTAÇÃO

179.489
135.710
200.000
300.000
400.000
500.000
622.202
2000
’02
’04
’06
’08
’10
’12
2014
Presos
Vagas
308.304
179.489
2003

Há excedente de 42% entre os 622 mil presos brasileiros em relação ao número de vagas, E a tendência é de aumento dessa população sem acréscimo correspondente na estrutura já deficitária.

"Superlotação supõe instalações precárias, dificuldade de atender necessidades do preso e terreno para proliferação de facções", diz Luis Flávio Sapori, ex-secretário de Segurança Pública de MG.

Polônia
316
Filipinas
223
Peru
177
Paquistão
161
Brasil
128
África do Sul
118
Índia
103
EUA
90
Polônia

Consequências

AUSÊNCIA DE SEPARAÇÃO

A separação entre presos provisórios e condenados, e, dentre os condenados, a separação de detentos por natureza e gravidade do crime cometido, está prevista na Lei de Execuções Penais (LEP) e em tratados de direito internacional.

"Esta é uma obrigação legal historicamente descumprida pelo Estado brasileiro", explica Maria Laura Canineu, diretora da ONG Human Rights Watch no país. Para ela, tal prática evita que inocentes e réus primários convivam com criminosos de carreira e facções, gerando as chamadas "escolas do crime".

DEGENERAÇÃO DE SAÚDE E EDUCAÇÃO

Estudo pela leitura
44
Ensino fundamental
16
Ensino médio
14
Alfabetização
10
Capacitação profissional
8
Estudo pelo esporte
7
Estudo pela leitura
A superlotação e a escassez de investimentos compromete o acesso a direitos básicos previstos em lei. O deficit educacional entre presos é imenso, e é grande a proliferação de doenças praticamente erradicadas fora dos presídios, como a tuberculose.

"Ao prover saúde e educação, o Estado poderia estabelecer outra relação com essas pessoas. Mas o quadro real reforça o antagonismo entre o sujeito e o Estado, que entra na vida dele para violentá-lo", avalia Fábio Sá e Silva, pesquisador do Ipea e ex-coordenador de ensino do Depen.


RJ
1
100
BA
100
DF
10
RR
1
RJ


FALTA DE RESSOCIALIZAÇÃO

Segundo a LEP, além do caráter punitivo, a sanção penal deve ter como função "reeducar" o preso e criar condições para a "harmônica integração social do condenado", o que está longe de ocorrer hoje. Para Fiona Macaulay, especialista no sistema brasileiro, o mais provável é que hoje o detento saia do sistema pior do que entrou.

"A superlotação e a falta de pessoal qualificado fazem com que não se ofereça nenhuma forma de ressocialização, o que aumenta a reincidência", diz Maria Laura Canineu, da Human Rights Watch.

PRIORIDADE E TRANSPARÊNCIA

"Governantes com recursos escassos não têm interesse em priorizar os presídios, que não rendem votos", afirma Sá e Silva, do Ipea. Outro índice do descaso com o sistema carcerário é a falta de dados atualizados sobre o sistema. O último relatório federal divulgou dados coletados até dezembro de 2014.

Para Marco Fuchs, da Conectas, a criação de lei federal que garanta e fomente a inspeção de presídios por entidades de proteção dos direitos humanos é fundamental para aumentar a transparência e o controle social sobre o sistema.

CONTROLE POR FACÇÕES

O vácuo deixado pelo Estado no provimento de direitos básicos dos presos foi preenchido pela organização das facções criminosas, criadas para coibir a violência entre os presos e os abusos eventuais de agentes penitenciários.

"As organizações criminosas colocaram ordem na bagunça, mas ganharam o poder de 'virar' a cadeia", avalia o analista Guaracy Mingardi. Para Luís Flávio Sapori, ex-secretário de MG, "a ordem interna das prisões hoje é dada pelos próprios presos, e a direção das unidades estabelece um pacto tácito com os líderes das facções".

OCIOSIDADE DOS PRESOS

Para atrair empresas, a lei determina que presos podem receber menos de um salário mínimo por mês. Um contrato entre presídio e empresa, no entanto, precisa da mediação do Estado e de espaço físico adequado ao trabalho.

Num ambiente em que mal há espaço para presos, é difícil imaginar a disposição desse local. "Não há espaço físico, e as ferramentas são consideradas ameaças à segurança, além de a mão de obra ser muito pouco qualificada, já que são pessoas que vêm de alguma exclusão do trabalho", diz Sá e Silva, do Ipea.

Em atividade externa
25
75
Em atividade interna
25
Em atividade externa
38% não recebem remuneração
7% recebem menos que 3/4 de um salário mínimo


Poder pela força...

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Os donos do crime

Os donos do crime

Quem são e como se organizam os chefes das facções criminosas que controlam os complexos penitenciários brasileiros e ameaçam levar uma guerra sangrenta para as ruas do País.

Eles espalham terror, impõem sua lei nos presídios e têm poder semelhante aos grandes grupos de mafiosos. Ao longo dos últimos trinta anos, se tornaram conhecidos e temidos pela população brasileira. 

As facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) cresceram em importância não só nos estados onde surgiram, mas em todo o País. 

As atividades dos grupos, inicialmente concentradas nos complexos prisionais, venceram as muralhas das penitenciárias e ganharam as ruas em ações cinematográficas. 

Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, à frente do CV, e Marcos Willians Hermes Camacho, o Marcola, à frente do PCC, se tornaram homens procurados internacionalmente e ganharam notoriedade continental. 

Nem o mais pessimista especialista em segurança pública poderia prever tamanha expansão desse tipo de organização criminosa. Expansão esta que só tende a crescer, ancorada na omissão do Estado.

Na semana passada, o Brasil foi apresentado, de forma traumática, a mais uma representante desta seara podre da sociedade brasileira . A “Família do Norte”, conhecida pela sigla FDN, dominou o noticiário nacional e internacional depois de comandar a execução de 56 presos ligados ao PCC durante rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, no Amazonas. 

Foi o maior massacre dentro de uma prisão desde 1992, quando a Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, foi invadida durante uma briga e 111 detentos foram mortos. Em vídeo feito por um detento na parte interna do Compaj, entre corpos decapitados e muito sangue, vê-se uma bandeira da organização criminosa. “É FDN que comanda, porra!”, desafia o preso que empunha a flâmula, sem se preocupar em esconder o rosto.

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MISSÃO Bandeira do PCC pela paz não faz mais sentido; dinheiro é a força que move a facção

A FORÇA DA FACÇÃO

A FDN surgiu em 2006 da aliança entre dois ex-rivais do mundo do tráfico de Manaus. José Roberto Fernandes Barbosa, conhecido como “Compensa”, controlava a venda de drogas na região Oeste da cidade, enquanto Gelson Carnaúba, o “G”, dominava a região Sul. 

Presos, ambos cumpriram pena em presídios federais, onde tiveram contato com membros do CV e do PCC, e de lá voltaram determinados (ou orientados), segundo a Polícia Federal, a estruturarem uma operação nos moldes das facções do eixo Rio-São Paulo. Não demorou para o negócio decolar.

Em pouco tempo, a dupla dominou quase toda a rota “Solimões”, na região da fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia, e passou a escoar grandes quantidades de cocaína para vender em Manaus, distribuir pelo Brasil e exportar para a Europa. 

Já em 2006, Barbosa aparece em vídeo durante sua própria festa de aniversário, organizada para mais de duzentos convidados, em um luxuoso buffet de Manaus. Durante os parabéns, é visto rodeado por amigos em cerimônia que lembra o beija-mão dos mafiosos italianos. 

Cada convidado que o abraça entrega uma joia de ouro – seja anel, pulseira, relógio ou colar. Sorridente, o criminoso bate palma e posa para foto. Também em 2006, Barbosa funda o “Compensão”, time de futebol que viria a se tornar uma das mais populares equipes amazonenses na categoria “amador”. 

Pesadamente financiado, o time foi campeão duas vezes em sua categoria e até hoje amedronta adversários, que dizem temer as ameaças que frequentemente vêm das arquibancadas.

Mesmo com a detenção de Barbosa, em setembro de 2009, a arrecadação da FDN continuou a crescer. Os negócios nessa época iam tão bem que os cerca de R$ 1 milhão em receita mensal passou a bancar não só a operação do grupo, mas também os honorários de um time de nove advogados dedicados exclusivamente ao bando. 

À época, Barbosa e seus comparsas já respondiam por crimes como evasão de divisas, tortura, sequestro, lavagem de dinheiro, homicídio, corrupção de autoridades, e tráfico internacional de drogas e armas. Mas foi a partir do momento em que Barbosa foi preso que a FDN deslanchou. 

Na cadeia, mas com mordomias (leia quadro), sem muito o que fazer e protegido por seus aliados, o traficante pôde se dedicar aos negócios. Foi com Barbosa detido que a facção colocou no ar seu sistema digital de compra e venda de drogas e de monitoramento das ruas do tráfico. 

Foi também nesse período que reformulou o processo de seleção de novos membros. Agora, os integrantes devem passar por uma rigorosa peneira com participação de filiados de vários escalões.

EX-ALIADOS CV e PCC já foram parceiros nos negócios e comandaram rebeliões pelo Brasil  

EX-ALIADOS CV e PCC já foram parceiros nos negócios e comandaram rebeliões pelo Brasil

PROFISSIONAIS

Atualmente, a FDN é a terceira maior facção criminosa do País. O grupo nunca escondeu que, nesse esforço organizacional, suas inspirações foram o Comando Vermelho (CV) e, fundamentalmente, o Primeiro Comando da Capital (PCC), hoje seu maior rival. 

No Brasil, não há exemplo maior de estruturação e planejamento do crime do que o PCC. Criado em 1993 no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, a 130km de São Paulo, o grupo surgiu com estatuto próprio e missão clara: “combater a opressão dentro do sistema prisional paulista”. 

Os anos se passaram e a missão parece se resumir a ganhar dinheiro. A facção tem hoje mais de 22 mil membros espalhados por praticamente todos os estados do País (leia quadro). 

À frente da potência que virou o PCC está Marcos Willians Hermes Camacho, o Marcola. Preso por roubo a bancos desde 1999, ele comanda com mão de ferro a estrutura fortemente hierarquizada que é a facção.

Com Marcola, o PCC expandiu e diversificou seus negócios, tidos como muito dependentes do tráfico de drogas até o final dos anos 1990. 

Hoje, sabe-se que possui times de futebol na Zona Leste de São Paulo. Também é proprietário de companhias de ônibus, forma advogados e teria feito um prefeito na Grande São Paulo. É dono de uma refinaria clandestina em Boituva, no interior de São Paulo, que, durante anos, desviou óleo da Petrobras, o refinou e o revendeu em uma rede de postos de gasolina, também de propriedade. 

E ajuda a operacionalizar a ocupação de terras na região metropolitana de São Paulo para depois exigir 25% das habitações construídas nos terrenos invadidos. Os imóveis são mais tarde entregues às famílias de detentos que estão desamparados.

Hoje, estima-se que o PCC tenha uma receita anual bruta de cerca de R$ 300 milhões – o equivalente à operação de uma indústria como a Caloi, que fabrica bicicletas desde 1948. Muito do dinheiro foi reinvestido na facção. Parte, porém, ficou para o conforto de Marcola e família. 

A mulher do traficante, por exemplo, costuma ser levada para visitá-lo por um motorista particular a bordo de uma Toyota SW4, carro que não custa menos de R$ 150 mil. Já Marcola, vaidoso, esbanja com cremes e procedimentos de beleza. Recentemente, pediu à Justiça autorização para fazer um tratamento de botox dentro da cadeia. O pedido foi negado.

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EXPANSÃO E MEDO

Embora hoje menos poderoso do que foi nas décadas de 1980 e 1990, o Comando Vermelho (CV) ainda impõe respeito. Fundado no Rio de Janeiro, o grupo surgiu em 1973 e foi pioneiro entre as facções criminosas brasileiras. 

Sob a liderança de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, o CV dominou mais de 80% do tráfico da cidade e espalhou terror com roubos a banco e violência. Beira-Mar ganhou fama no Exterior graças à visibilidade do Rio de Janeiro e tentou dar início a um processo de diversificação dos negócios do grupo já na década de 1990 – antes, portanto, do PCC. 

A iniciativa, porém, foi interrompida com a prisão, em 2001, na Colômbia. Desorganizada, a facção perdeu relevância. Hoje, porém, tenta crescer no País com alianças como a feita com a FDN.

Entre especialistas de segurança pública, é sabido que organizações criminosas surgem e crescem onde o Estado não se faz presente. Hoje, as facções cresceram de tal forma que há quem argumente que já não faz mais sentido falar em “poder paralelo” quando se está referindo a elas, mas sim em “poder de fato”. 

Em São Paulo, sabe-se que coube ao PCC mediar o acordo que promete acabar com as brigas entre as torcidas organizadas. Com isso, o grupo espera aumentar o público nos jogos, lançar um time e faturar com a nova atividade. Ainda na capital paulista, sabe-se que o PCC também trabalha para acabar com as cracolândias. Para o grupo, a droga não é comercialmente viável.

O espaço ocupado por esses bandidos profissionalmente organizados só foi possível porque há um vácuo na política penitenciária do Estado. E ele permanecerá, e se estenderá, se não forem tomadas providências pelo poder público. 

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A guerra que se anuncia a partir do ataque da semana passada não será curta. “A reação do PCC já começou”, diz o padre Valdir Silveira, coordenador nacional da Pastoral Carcerária da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Recebi ligações de familiares de presos que alertaram para o que está por vir”, afirma. Enquanto nada for feito, Beira-Mar, Marcola e Compensão continuarão apavorando o Brasil.

Quem é quem

Marcola – Marcos Willians Herbas Camacho

Líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcola, 48 anos, nasceu na Vila Yolanda, em Osasco (SP). Órfão de mãe, não conheceu o pai e já roubava aos 9 anos, no Centro de São Paulo. Sua primeira condenação foi em 1987 por assalto à mão armada. Só foi preso em 1999 por participar de dois roubos a banco e cumpre pena em presídio de segurança máxima em Presidente Venceslau

Fernandinho Beira-Mar – Luiz Fernando da Costa

Nascido em Duque de Caxias (RJ), Fernandinho Beira-Mar, 49, foi criado na favela Beira-Mar e é líder do Comando Vermelho (CV). Aos 20 anos, foi preso por furtar armas do Exército. Cumpriu pena, voltou à favela e tornou-se líder do tráfico. Para fugir da polícia, já se refugiou no Paraguai e se aliou às FARC. Foi preso em 2001 e cumpre pena de 200 anos em Porto Velho (RO) e

Zé Roberto da Compensa – José Roberto Fernandes Barbosa

Compensa, 44 anos, fundou a facção Família do Norte (FDN), de Manaus. Aos 12 anos iniciou a vida no crime e já foi preso quatro vezes. Compensa é o elo dos traficantes do Peru e da Colômbia com o Brasil. Já esteve preso em Porto Velho (RO) e Catanduvas (PR). Durante uma fuga, em 2013, matou dois comparsas que se aliaram ao PCC. Cumpre pena em Catanduvas (SC).

A trajetória das facções

Saiba quando surgiram, quantos membros possuem e quanto arrecadam anualmente as maiores facções do País

Primeiro Comando da Capital (PCC)

• 1993 é o ano em que a organização criminosa surgiu, no Centro de Reabilitação Penitenciária de Taubaté, no Vale do Paraíba
• 7 mil é a quantidade de integrantes do PCC em São Paulo
• 20 a 22 mil são os membros do grupo fora de São Paulo
• R$ 300 milhões é quanto o PCC arrecada anualmente

Comando Vermelho (CV)

• 1979 foi ao ano em que o CV foi criado, na prisão Cândido Mendes, na Ilha Grande, em Angra dos Reis (RJ)
• 3 a 8 mil é a quantidade de integrantes no Rio de Janeiro
• 16 mil são os membros do grupo fora do estado fluminense
• R$ 57,6 milhões* é quanto o CV arrecada anualmente

Família do Norte (FDN)

• 2006 foi ao ano em que Gelson Carnaúba, o Mano G, e Zé Roberto Compensa, voltaram para Manaus após passarem um tempo cumprindo pena em presídios federais e decidiram criar a FDN para conter o PCC
• 200 mil é a quantidade de membros cadastrados em um sistema informatizado e com senhas
• R$ 6-12 milhões é quanto arrecada anualmente


Marcola, Beira-Mar e Compensa têm vida diferente da de outros homens presos

 

LUXO Cela no Compeja era para visitas íntimas

Os líderes das três maiores facções do País são tratados de forma diferente nos presídios. E não é com mais rigidez, como se espera. Pelo contrário. Marcola, do PCC, pode receber, em visitas, creme hidratante, condicionador e outros produtos para cuidados pessoais. 

Normalmente, esses itens só podem ser entregues pelo correio e são revistados. Até o final do ano passado, Marcola tinha um dermatologista com quem fazia consultas. O médico chegou a pedir autorização para a aplicação de botox. O pedido foi negado. 

O chefe do PCC também pode receber visitas íntimas, vive em uma cela espaçosa sozinho e pode até pedir pizza. Em maio de 2015, Fernandinho Beira-Mar viajou de helicóptero de Porto Velho (RO) ao Rio de Janeiro para acompanhar um processo. 

Os gastos com o transporte e com os honorários ficaram em, pelo menos, R$ 120 mil. Ele recebe produtos para cuidados pessoais, visitas íntimas e até o ansiolítico Rivotril, para insônia. Zé Roberto Compensa também tem suas mordomias. 

De dentro da cela, tocou o time de futebol da FDN, tem direito a visitas íntimas, ônibus especial para transporte próprio e de parentes, tolerância acima da média na cadeia, além de vigilância praticamente inexistente.


Mais uma etapa superada...