sábado, 4 de janeiro de 2014

Lorotas...

Cinco resoluções para descumprir em 2014
Uma pequena lista de promessas inúteis que nós, pais, fazemos para nós mesmos


Dedico a última coluna do ano a um tema recorrente na casa de muita família com crianças. Como eu não sou diferente de ninguém, fiz uma pequena lista de resoluções que cansei de fazer em vão. Não foram promessas de ano novo, repare bem, mas decisões atiradas ao vento e na hora da tempestade.

1) Nunca mais levarei as crianças num shopping
Campeã lá em casa, a frase foi dita inúmeras vezes depois daquele passeio furada clássico em que todo mundo se chateou um pouquinho: a gente por não conseguir agradar, as crianças por não conseguirem algo que pediram.

Shopping é um lugar irresistível. Cheio de coisas bonitas, vitrines pensadas para seduzir e lojas de brinquedos. Muitas. Porque brinquedo é tudo aquilo que chama a atenção do seu filho. Pode ser um tablet sedutor na loja de eletrônicos, um tênis colorido na prateleira da sapataria ou até mesmo um vaso de cristal na loja de decoração onde você nem pensou em entrar.

O problema dessa resolução é que, mais cedo ou mais tarde, você será obrigado a ir no shopping por algum motivo e não terá ninguém com quem deixar as crianças. Ou ainda: o casal desmemoriado vai chegar à brilhante conclusão de que bom mesmo é estar junto, então vamos todos para o shopping.  
“Vai ser legal!“
“Isso, isso!“.

E lá vai a família incauta se lançar ao risco de tudo terminar em choro e ranger de dentes depois de ter dito que “nunca mais levaria crianças a um shopping novamente“ .

2) Não alugarei mais de um filme por vez
Essa é aquela promessa clássica e inútil muito comum entre casais com filhos pequenos.
Por que a gente insiste em alugar dois ou três filmes de uma só vez? - pergunto ao meu marido, antes de devolver dois sem serem vistos e um com multa.

- Não vamos mais fazer isso, ok? - ele me propõe, da boca pra fora.

Um dia, a gente volta no videoclube, encontra todos os títulos premiados que não conseguiu ver no cinema, o vendedor explica que “se levar mais um, tem mais dois dias de prazo para devolver“ e acaba levando tudo pra casa.

3) Não vou ficar repetindo o que a criança tem que fazer
Naquele dia de paciência zero, você botou a cara mais séria do mundo e vaticinou: quer saber? De agora em diante, falarei uma vez  só. Se ouviu, ótimo, se não ouviu, azar.
A regra valeria para todas as ordens diárias que somos obrigados a emitir.
- Levanta da cama!
- Acaba logo seu café!
- Vem comer!
- Escova os dentes!
- Calça o tênis.
- Faz o dever.

Promessa inútil. Recorremos a essa resolução para sermos menos chatos porque não tem nada mais chato do que ficar repetindo tudo, incluindo verbo em frase. Conselho de amiga: você não vai mais dizer isso. Sabe por que? Porque não adianta. Está para nascer a criança que fará tudo no primeiro comando. E como nós somos pais zelosos, preocupados em formar bons cidadãos, ou no mínimo pessoas com noções básicas de higiene pessoal, vamos falar quantas vezes for necessário.

Eu agora digo assim: meninas, eu só vou dizer isso mais oito vezes, hein!!! (ênfase no “hein“, com voz de brava).

Mas atenção: nenhuma estratégia pode ser repetida à exaustão. No início, elas riam, depois não mais. Eu também já usei gravador. Em vez de ficar falando, botei o troço para repetir incessantemente o que eu queria dizer. Piada de curta duração. Educar, às vezes, é como trabalhar na Apple e ter que inventar um Ipad por dia sem ter nem estagiado no Vale do Silício.

4) Se você não vier agora, vai ficar sem banho
Não, eu nunca deixei de dar banho nas minhas filhas, mas já disparei essa algumas vezes. Inutilmente.

Não me julgue. Você não tem ideia de quantas horas da minha vida eu passei sentada dentro do banheiro esperando uma das duas filhas aparecer na hora que eu chamo.
E a verdade dolorosa é que eu devo ter ganho poucos minutos a mais com essa ameaça que não cumpri. Não vale a pena.

5) Nunca mais vou à praia num feriado
Duas horas e meia foi o tempo que levamos num certo feriado para cumprir um trajeto de 30 km entre nossa casa e a praia. Ninguém tinha obrigações, o dia estava convidativo, as crianças indóceis. Vamos nessa? Cada um pegou um cocar e sentou no carro. Haja paciência, brincadeira e passatempo. 

Eu deveria ter filmado todas as coreografias que inventei com os braços para embalar música do rádio porque não vou conseguir inventar coisa melhor sob pressão. Mas, ao chegamos ao nosso destino, demos um tempo num shopping (olha ele aí, gente!) para almoçar, as crianças correram pelos corredores para desestressar, chegamos na praia na hora do sol bom e voltamos para casa quase anoitecendo. Apesar do transtorno da ida, nos divertimos à beça. Acredito que depois de boicotar uns três feriados, a gente esqueça a experiência ruim e se aventure de novo. Ora, por que não?

Receba 2014 leve, sem a ilusão de estar no controle a não ser daquilo que você pode fazer para melhorar a si mesmo. Seja mais paciente e gentil com aqueles que mais ama, a começar pelo seu filho.

Não leve a vida tão a sério e lembre-se que, quando se tem criança na área, a melhor resolução é ficar atento a si mesmo.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/isabel-clemente/

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