Por que a Dinamarca
quer acabar com moedas e cédulas de dinheiro?
Na Dinamarca,
pagamentos com cédulas e moedas caíram 90% desde 1990
Quando as primeiras
moedas foram cunhadas na Ásia, há 2,6 mil anos, foi dado início a uma
verdadeira revolução no comércio em escala mundial.
Mas cada vez mais
países e especialistas se perguntam: ainda faz sentido manter o dinheiro físico
em circulação?
Aos poucos, esse
questionamento leva a ações concretas, como na semana passada, quando o governo
da Dinamarca anunciou que pretende dar fim ao uso de moedas e cédulas de
dinheiro em lojas de roupas, postos de gasolina e restaurantes até 2016.
Seu objetivo no
longo prazo é tornar-se o primeiro país do mundo a eliminar a circulação de
dinheiro físico.
A medida foi
apresentada como parte de um pacote de propostas para fomentar a produtividade
de negócios.
"A meta é cortar
os consideráveis custos administrativos e financeiros envolvidos no uso de
dinheiro", disse o governo dinamarquês.
Novos hábitos
Futuro será dominado
pelo dinheiro eletrônico, acreditam especialistas
Mas isso é de fato
possível? No caso da Dinamarca, isso parece não só provável, como o governo
parece estar em sintonia com os hábitos da população.
Todos os adultos do
país têm um cartão de crédito, segundo a Comissão de Pagamentos dinamarquesa, e
os pagamentos com dinheiro físico sofreram uma redução de 90% desde 1990. Hoje,
apenas um quarto deles é feito desta forma.
Além disso, segundo
uma pesquisa nacional, praticamente todos os pequenos negócios aceitam
pagamentos com cartões e, em dois terços deles, isso pode ser feito com cartões
internacionais.
Algo parecido vem
ocorrendo no Equador, onde o governo do presidente Rafael Correa colocou em
prática, em dezembro de 2014, um sistema de dinheiro eletrônico.
Um dos principais
motivos era lidar com a exclusão financeira da maior parte de sua população - e
o celular tornou-se uma ferramenta para isso.
"Cerca de 40%
da população economicamente ativa não tem acesso a uma conta bancária",
explica o economista Fausto Valencia, diretor do projeto equatoriano. Mas 100%
dos domicílios tem um celular.
O sistema é
administrado pelo Banco Central do Equador e permite realizar transferências
entre usuários, compras e pagar passagens no transporte público. Em breve,
também será possível pagar taxas públicas.
Seu funcionamento é
simples. Uma conta é aberta com o celular, sem uso da internet, discando *153#.
Ela pode ser recarregada em lojas, e as transações são feitas por meio de
mensagens.
Valencia acredita
que, no futuro, o dinheiro físico estará extinto.
"Em países como
Dinamarca ou Suécia, não levará muito tempo, porque não há problemas como
pobreza e exclusão social como nós. Mas o dinheiro eletrônico é o futuro. Meus
netos viverão em uma sociedade sem cédulas e moedas", diz.
Mesmo assim, ele
reconhece que algumas barreiras ainda precisam ser superadas. "Nas áreas
pobres do Equador, temos um problema de educação financeira que vamos combater
com um processo de formação, para que os cidadãos aprendam a usar o
sistema", afirma.
Custo
Equador colocou em
prática sistema inovador de dinheiro eletrônico em dezembro
Mas quais são as
reais vantagens do dinheiro eletrônico?
Moedas e cédulas têm
um custo de produção, armazenamento, transporte, além de haver comissões para
sacá-lo do banco.
Além disso, o
Equador, por exemplo, precisa repor anualmente US$ 1,3 milhão (R$ 3,9 milhões)
em dinheiro físico que se deteriora.
Ao México, custará
quase um peso (R$ 0,20) para produzir cada um dos 1,32 milhões de cédulas que
serão necessárias neste ano, segundo a revista Excelsior.
E seus habitantes
gastarão quase 2,3 milhões de pesos com taxas relacionadas à obtenção de dinheiro
físico, segundo um estudo da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos.
Segundo os
pesquisadores Bhaskkar Chakravorti e Benjamín Mazzota, da Tuffts, cada
americano passa 28 minutos por mês sacando dinheiro de caixas eletrônicos. E,
todos os mexicanos juntos, gastam 48 milhões de horas por ano desta forma,
segundo a mesma pesquisa.
Por fim, o dinheiro
físico leva à evasão fiscal. O governo americano perde US$ 100 milhões por ano
com pagamentos em dinheiro não declarados.
O dinheiro
eletrônico ainda é mais ecológico. Valencia, do Banco Central do Equador,
alerta para o custo ambiental do dinheiro físico, não só por sua produção e
transporte, mas também por causa dos documentos exigidos pela burocracia.
Por fim, o dinheiro
físico é pouco higiênico. Em 2011, pesquisadores britânicos do Instituto
BioCote chegaram à conclusão que tirar dinheiro em um caixa eletrônico deixa
uma pessoa tão exposta a bactérias quanto usar o pior dos banheiros públicos.
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