Populistas são os outros
Obama é o
personagem dos sonhos de Hollywood, mas o legado do presidente bonzinho é pífio
Dizem que Donald
Trump vai provocar uma guerra mundial. Mas ela já começou, mesmo antes da posse
do novo presidente americano. Assim como no Carnaval há (ou havia) a batalha de
confetes, o planeta vive hoje a guerra dos panfletos. É mundial, estúpida e
devastadora.
Ponha seu
crachá, decore sua cartilha e se atire no front. Hollywood está unida contra o
populista. Artistas convidados para se apresentar na posse dele, como o tenor
italiano Andrea Bocelli, foram intimidados nas redes sociais: ninguém poderá
aderir ao populismo impunemente. Não seja louco, caro leitor, de perguntar quem
é o populista. Você será fuzilado sumariamente pela patrulha democrata e
pacifista.
Mas... quem é o
populista?
Segundo o
moderno dicionário ideológico universal, populista é Donald Trump. Agora se
segure firme no cavalo e não mostre esta revista a ninguém, para não ser
executado a sangue-frio: mais populista que Trump, só Barack Obama.
O candidato
vencedor das eleições presidenciais americanas, que parecia ser apenas uma
laranjada demagógica, surpreendeu a todos, quebrou as bancas de apostas e
chegou lá. O espetáculo daquele magnata afetado fazendo comícios que mais
pareciam discussão de bar, num tom oposto à verve polida de Obama, deu ao mundo
a certeza de estar diante de um aventureiro – na melhor das hipóteses. A outra
diferença básica entre o laranja malcriado e o negro elegante é sutil: um está
chegando à Casa Branca, e o outro acaba de passar oito anos lá.
E agora? Quem é
o populista?
A resposta
proibida é a seguinte: Trump, por enquanto, não é nada. Arrivista? Demagogo?
Estadista? Picareta? Estrategista? Nem Deus sabe. Na retórica eleitoral tudo
cabe. Mas, se o objetivo é a Presidência da nação, o que importa é a
Presidência, certo? Então vamos falar de Obama – que, nesse quesito, é o único
dos dois de quem se pode falar.
Obama é um fofo.
Jogando basquete, é uma gracinha. Aquele sorriso largo combinado com a fala
pausada e o inglês perfeito arranca suspiros. Jovem, magro... E ainda dança.
Falta alguma coisa?
Basicamente,
tudo.
Obama é o
primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o primeiro a ganhar um Nobel da
Paz por antecipação – no primeiro ano de governo. Uma coisa, infelizmente, tem
a ver com a outra. E tem a ver com a obsessão da humanidade culta pela criação
e adoração de mitos. Barack é o personagem dos sonhos de Hollywood – e quem
acordar a turma de Beverly Hills vai pagar caro. Bem, como já estamos todos
pagando muito caro pelo conto de fadas dos coitados profissionais, vamos botar
o despertador na orelha deles.
O legado do
presidente bonzinho que prometeu taxar sem pena os ricos para dar aos pobres é
pífio. Mais impostos, mais burocracia, menos pujança econômica – e o final
patético de toda política que promete drenar riquezas para a salvação social:
estagnação. O único milagre dessa história é, no frigir dos ovos, o discurso
“sensível” de Obama permanecer de pé. Nem a eleição ele ganhou, mas o mito está
intacto. Sabem qual é o nome disso? Populismo.
O observador
honesto, que largar os crachás e as cartilhas para ver as coisas como elas são,
constatará facilmente que a prioridade de Obama foi o discurso. Árabes, negros,
mulheres, gays... todas elas causas nobres e urgentes – mas quem tem coragem de
dizer que o sectarismo refluiu nesses oito anos? Os Estados Unidos ainda são os
maiores líderes do planeta, e a paz no planeta não foi ao show de Obama – como
se nota, por exemplo, na escalada do Estado Islâmico. Não pode haver nada mais
populista do que governar no palanque.
Apesar de
derrotados nos Estados Unidos e enxotados do poder no Brasil por delinquência
explícita, os ases da narrativa sabem o tesouro que têm nas mãos. A plateia
adora um gigolô da bondade. Em São Paulo, um folclórico líder sem teto, que na
verdade faz política fisiológica e engordou à sombra do governo petista,
conseguiu depois de muitas tentativas ser detido pela polícia. “Atentado à democracia!
”, gritou Dilma, antiga patrocinadora, que ainda está solta.
Pois eis que
esse populismo mais vagabundo e deletério, que sugou inocentes acima e abaixo
do Equador com verniz socialista, agora vem dizer que populistas são os outros.
Segure a carteira, que a bondade dessa gente não tem limite.
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